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O SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO E A EDUCAÇÃO INFANTIL

O município de Santa Maria possui Sistema de Ensino desde o ano de 1997, o qual foi criado pela Lei Municipal Nº 4.123 de 22 de dezembro de 1997 (SANTA MARIA, 1997) constituído, conforme o Artigo 2º, por:

I –Secretaria de Município da Educação; II – Conselho Municipal de Educação; III – Escolas Municipais do Ensino Fundamental; IV – Instituições de Educação Infantil mantidas pelo Poder Público Municipal e pela iniciativa privada; V – Escolas de Ensino Profissionalizante da Rede Municipal (SANTA MARIA, 1997, p. 1).

A presente Lei determina ao Sistema criado o planejamento, a organização e a implementação de políticas públicas educacionais em colaboração com os Sistemas Estadual e Nacional de Educação, conforme os fundamentos dos sistemas de ensino de assegurar “[...] autonomia e competências próprias na sua esfera de poder” (BORDIGNON, 2009, p. 33). Assim:

A criação do SME precisa ancorar-se e fundamentar-se em referenciais teóricos, normativos e da realidade nacional, regional e local. Assim, na construção do Sistema, devem estar presentes: a a) concepção de educação – expressa nos fundamentos teóricos da educação assumidos pelo município, especialmente nas especificidades das etapas e modalidades de ensino oferecidas; a b) dimensão de nacionalidade – expressa nas políticas, normas e diretrizes nacionais de educação e de cidadania; o c) contexto regional – expresso nas políticas estaduais de educação e no regime de colaboração; a d) realidade local – expressa na experiência e nas responsabilidades educacionais prioritárias do município; a e) experiência acumulada pelo município – expressa pela história e vocação educacional do município e seus movimentos sociais de participação; a f) autonomia do Sistema Municipal – expressa no dispositivo constitucional e da LDB, como fundamento da gestão democrática e da cidadania como exercício de poder (BORDIGNON, 2009, p. 40).

Estes referenciais que perpassam a criação de um sistema municipal devem estar articulados em conformidade com as políticas públicas de educação de base nacional e promover a gestão democrática, tendo em vista as demandas sociais de seus cidadãos. Com base nisso, os conselhos municipais de educação são órgãos de suma importância para articular ações democráticas na gestão do ensino municipal, na medida em que representam os processos de participação da sociedade na gestão pública, pois “Democracia e participação são dois termos inseparáveis, à medida que um conceito remete ao outro” (LÜCK, 2006, p. 54).

No ano de 1999, a Secretaria Municipal de Educação (SMED) de Santa Maria passa a ser responsável pelas instituições de educação infantil, a partir da Resolução CMESM Nº 2, de 30 de junho de 1999 (SANTA MARIA, 1999), que "Fixa normas para a EDUCAÇÃO INFANTIL no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria", e define que:

Art. 21 - Cabe ao Sistema Municipal de Ensino, através do Conselho Municipal de Educação realizar acompanhamento, controle, avaliação e assessoramento às instituições de Educação Infantil [...] Art. 25 - As instituições de Educação Infantil da rede pública, em funcionamento na data de aprovação desta Resolução, deverão integrar-se ao Sistema Municipal de Ensino, até 23 de dezembro de 1999 [...] (SANTA MARIA, 1999, p. 7-8)

O Art. 25 define definitivamente a integração das instituições de educação infantil ao Sistema Municipal de Ensino, tornando-se um ganho para esta etapa à nível municipal, pois abrange tanto as instituições públicas quanto privadas no cenário de normatização de sua oferta.

No Art. 2º, a Resolução institui que é compromisso das instituições adequarem-se às normas municipais de funcionamento, tanto em relação aos aspectos físicos descritos na Resolução quanto à sua equipe de trabalho e documentação pedagógica.

Em relação à formação de professores e equipe de gestão, destaca-se os Art. 13 e 14, os quais estabelecem que a direção das instituições deve ser exercida por pedagogos ou pós-graduados em "administração escolar"; e os docentes devem ter formação superior em Pedagogia ou na modalidade Normal (SANTA MARIA, 1999). Ainda, em Parágrafo Único, orienta que as mantenedoras que possuem docentes sem a formação mínima exigida devem viabilizar a complementação da escolaridade.

Em 2011, a Resolução CMESM Nº 2/1999 é revogada pelo Art. 41 da Resolução CMESM Nº 30, de 21 de novembro de 2011, que Define Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria – RS e caracteriza-se como política pública de educação infantil. As atuais Diretrizes objetivam "[...] articulação do processo de organização da Educação Básica, a [re]estruturação dos projetos político pedagógicos das escolas, bem como a adequação e o cumprimento da legislação educacional" (SANTA MARIA, 2011b).

A política de definição de normas e regulamentos para a oferta da educação infantil reitera o direito das crianças de 0 a 5 anos de idade por uma educação de qualidade, fruto de um histórico de lutas no cenário mundial e nacional.

Os processos de gestão das políticas de universalização da pré-escola e expansão das creches são muito diferenciados em todo o Brasil, nesse contexto é pertinente destacar a pesquisa cujo objetivo foi “[...] conhecer a situação da infância, das políticas de educação infantil e da formação dos profissionais nos municípios do

estado do Rio de Janeiro [...]” (KRAMER; TOLEDO; BARROS, 2014, p. 12), realizada com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), e teve seus resultados publicados em um artigo na Revista Brasileira de Educação.

A pesquisa foi desenvolvida em 24 municípios, através de entrevistas com as equipes gestoras das secretarias municipais de educação, e apresentou como principal questionamento a situação dos municípios referente à cobertura da educação infantil, sua organização e funcionamento, contemplando questões referentes aos aspectos físicos, curriculares, quadro de recursos humanos e as dificuldades perante as demandas por vagas nas escolas de educação infantil.

A análise dos autores aponta para muitos aspectos que constituem a gestão educacional como, por exemplo, a forte relação entre a expansão do atendimento às crianças e qualidade das condições dessa oferta (KRAMER; TOLEDO; BARROS, 2014). Ainda, referente aos resultados apresentados, a opção das secretarias municipais por ofertar vagas de educação infantil em escolas de ensino fundamental e a substituição de vagas de turno integral por vagas de turno parcial surge como uma estratégia de ampliar o atendimento na rede. Esta foi uma das hipóteses do projeto de pesquisa apresentado a ser desenvolvido em Santa Maria, levando em consideração a falta de escolas no município para atender à demanda das crianças de 4 e 5 anos de idade até o próximo ano. Além disso, um resultado apontado na pesquisa com as secretarias do estado do Rio de Janeiro é a ampliação das redes através de aluguéis de prédios e o convênio com escolas de educação infantil do setor privado, como é o caso do município de Santa Maria que, em 31 de agosto de 2015, assinou um convênio para a aquisição de vagas em uma escola privada.

Concorda-se com Kramer et al. (2014), que sistematizaram os resultados da pesquisa realizada com as secretarias municipais de educação fluminenses quanto às marcas que a gestão imprime na organização das escolas e nos sistemas de ensino (KRAMER; TOLEDO; BARROS, 2014). Acredita-se que suas ações e estratégias na gestão das instituições educacionais estão carregadas de sentidos políticos, que muitas vezes configuram-se como ações político-partidárias em detrimento da organização das secretarias por meio de indicações ou realocações conforme cada ciclo de gestão pública. Esse descompasso acaba por gerar um rompimento brusco de um governo para outro e afeta diretamente as escolas, o

trabalho pedagógico que os profissionais desenvolvem nestes espaços e na vida escolas de crianças, jovens e suas famílias.

Os Sistemas Municipais de Ensino e, consequentemente, as respectivas Secretarias de Educação que realizam a gestão desses sistemas, mostram-se muito heterogêneos, apresentando dificuldades e realidades muito semelhantes quanto aos desafios impostos perante as políticas de ampliação e universalização da educação infantil.

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