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Mapa 1 Unidade de Ensino do IFPI após o processo de expansão 2015

1 TRABALHO E FORMAÇÃO HUMANA NO CONTEXTO DA MUNDIALIZAÇÃO

1.4 Reestruturação produtiva, degradação do trabalho e a formação profissional

1.4.2 O Sistema Toyotista (Ohno): flexibilidades e competências

O novo período de desenvolvimento do capitalismo mundial representa um salto de qualidade na expansão do capitalismo. Na verdade, estamos diante de um novo regime de

acumulação capitalista, um novo patamar do processo de internacionalização do capital, com características próprias e particulares se comparado com etapas anteriores do desenvolvimento do capitalismo (ALVES, 1999, p.53).

A mundialização do capital caracteriza-se por uma reconfiguração da produção, reprodução e expansão do capitalismo em escala mundial com vistas à superação da crise que se inicia por volta dos anos de 1970. Representa, portanto, uma rearticulação de suas formas de organização e dominação política e ideológica. A nova forma de organização do trabalho neste contexto histórico, econômico, social e político vem atravessada pela reestruturação produtiva, o neoliberalismo, assim como as novas tecnologias inseridas no mundo do trabalho.

A mundialização impulsiona um conjunto de processos que afetam o mundo do trabalho, centralmente via reestruturação produtiva, ensejando transformações antes não vivenciadas pelos trabalhadores. O modelo toyotista de produção flexível9 reconfigura a produção com novos padrões de organização, gerenciamento e exigências para a qualificação geral. Os paradigmas do trabalho no capitalismo mundializado articulam um processo de superexploração, como indica Valência (2009), cujo esforço demonstra a atualidade da lei do

valor, assim como sua importância para o capitalismo em escala global, de forma que seria impossível eliminar o trabalho vivo do processo de produção das mercadorias. Cabe destacar que está em jogo a insaciável necessidade do capital de aprofundar os níveis de extração de mais-valia dos trabalhadores.

A reestruturação produtiva representou uma mudança no processo produtivo em escala internacional, compondo um novo cenário da relação entre capital e trabalho. O modelo taylorista-fordista foi visto como saturado pelo capital e foi sendo substituído nas últimas décadas por um novo modelo que ficou conhecido como toyotismo, baseado na produção flexível, cujas características são diferentes, pois originam-se mudanças também na relação trabalho e formação profissional, estabelecendo uma nova concepção formativa dos jovens e trabalhadores. Como parte dessa nova proposta formativa ocorre a substituição da noção de qualificação pela noção de competência, bases essenciais da nova pedagogia do capital.

Para Alves (1999), esse novo período capitalista se desenvolve no contexto de uma profunda crise de superprodução que pode ser explicada por Brenner (1999), de uma produção destrutiva caracterizada por Mészáros (1997) ou ainda pela acumulação flexível de Harvey (1993). Interessa, portanto, compreender como se incorpora ao trabalho as formas de produção e reprodução do capital na atualidade, sob o olhar da teoria do valor.

Segundo Alves (Ibid, p.59), foi [...] na virada da década de 70 para 80, no bojo da

ofensiva do capital na produção (o complexo de reestruturação produtiva) e da ofensiva do capital na política (a política e a ideologia neoliberal) que se dá o “ponto de partida” para a mundialização do capital.

Os fundamentos da mundialização atual são tanto políticos como econômicos. É apenas na vulgata neoliberal que o Estado é ‘exterior’ ao ‘mercado’. É preciso recusar as representações que gostariam que a mundialização fosse um desenvolvimento natural. O triunfo atual do “mercado” não poderia ser feito sem as intervenções políticas repetidas das instâncias políticas dos Estados capitalistas mais poderosos, os Estados Unidos assim como os outros países membros do G7. Graças a medidas cujo ponto de partida remonta a ‘revolução conservadora’ de Margaret Tatcher e de Ronald Reagan dos anos 1979-1981, o capital conseguiu fazer soltar a maioria dos freios e anteparos que comprimiram e canalizaram sua atividade nos países industrializados. O lugar decisivo ocupado pela moeda no modo de produção capitalista deu à liberalização e à desregulamentação um caráter e consequências estratégicas (CHESNAIS, 2008, p.10).

Estes governos iniciaram as mediadas práticas para reconfigurar o capitalismo a partir dos anos 1980, através de políticas que se expandiram por quase todos os países em menor ou maior grau de desigualdade. O capital assume a mais plena liberdade de explorar

todos os continentes e subordinar as economias periféricas e de terceiro mundo, que vão se tornando qualitativamente mais dependente. Isto é, a burguesia, segundo Marx e Engels (2001), não pode continuar a existir se não modificar incessantemente os instrumentos de produção, as relações de produção e todas as relações sociais. Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante é que faz a diferença com todas as outras épocas anteriores ao capitalismo.

O capital deve ser considerado como uma categoria complexa, com múltiplas expressões. É o valor em movimento, cujo processo de reprodução, ritmo frenético e desesperado, cria e recria a sociabilidade moderna. Ou seja, assume uma forma social, à primeira vista mística, que transforma o conteúdo concreto da produção da riqueza social, como mercadoria, numa forma abstrata de riqueza, a forma dinheiro (ALVES, 1999). Cabe observar, ainda conforme o autor que:

A mundialização do capital é, antes de tudo, decorrente de determinações políticas. É essencial levarmos em consideração, ao mesmo tempo, o político e o econômico, para que possamos compreender a sua verdadeira natureza. Na verdade, uma acumulação predominantemente rentista, reflete mudanças qualitativas nas relações de força política entre o capital e o trabalho, assim como entre o capital e o Estado, em sua forma de Estado de Bem-Estar (p.56).

Entretanto, esse processo só teve êxito à medida que se combina simultaneamente com dois outros também de dimensões globais. O primeiro se deu a partir das novas descobertas técnico-científicas, com a introdução de novas tecnologias na base produtiva, uma reengenharia da produção completamente diferente das vistas anteriormente. Todas estas mudanças têm fortes implicações na organização do trabalho. Simultaneamente se desenvolve a ideologia do progresso técnico, cujo papel é cultuar as novas tecnologias utilizadas pelas corporações transnacionais, através de um novo complexo de reestruturação produtiva, que modifica suas relações com os trabalhadores e as organizações sindicais (Id. Ibid.).

São muitas as mudanças que ocorrem concomitantemente, todavia, pelos objetivos da reflexão proposta neste capítulo, convém concentrar esforços para compreender em específico as mudanças que ocorrem na formação humana dos jovens e trabalhadores (ponto de partida da presente investigação) no contexto da mundialização, para assim chegarmos ao entendimento do significado das transformações decorrentes da reestruturação produtiva e suas múltiplas determinações no padrão de formação humana da atualidade.

A mundialização do capital impulsiona um novo complexo de reestruturação produtiva, uma ofensiva do capital na produção que visa a constituir um novo patamar de

acumulação capitalista em escala planetária e que tende a debilitar o mundo do trabalho, promovendo alterações importantes na forma de ser (a subjetividade) da classe dos trabalhadores. De tal modo, o novo padrão de acumulação surge da necessidade do capital reconstituir sua base de valorização abalada nas décadas do Walfare State, bem como o aumento da concorrência mundial (ALVES, 1999).

Paralelamente, mudanças na base tecnológica oferecem margem ao capital, para se reproduzir em melhores condições que antes. Essas novas tecnologias, tais como a microeletrônica, aplicadas à produção possibilitaram ainda, no interior de novos tipos de organização, no plano material, a constituição de novos níveis de flexibilidade (Id. Ibid.). No entanto, não se trata apenas de determinações tecnológicas, mas de escolhas políticas que se dão no cenário da correlação de força entre as classes. O autor menciona a diversidade das inovações que ocorrem no processo de produção que, na essência, traduzem um método flexível:

Os anos 80 podem ser considerados a década das inovações capitalistas, da flexibilização da produção, da especialização flexível, da desconcentração industrial, dos novos padrões de gestão da força de trabalho, tais como just– in–time/Kan–ban, CCQ’s e Programas de Qualidade Total, da racionalização da produção, de uma nova divisão internacional do trabalho e de uma nova etapa da internacionalização do capital, ou seja, de um novo patamar de concentração e centralização do capital em escala planetária. Na verdade, foi a década de impulso da acumulação flexível, do novo complexo de reestruturação produtiva, cujo ‘momento predominante’ é o toyotismo. (ALVES, 1999, p.80, grifos do autor).

No âmbito do preparo para o trabalho, surgem novas demandas educacionais decorrentes dessas profundas transformações da produção capitalista e com o advento do toyotismo. Ocorrem também mudanças, em particular, referentes ao processo de qualificação dos jovens e trabalhadores. Com isso, muitas modificações se efetivam no âmbito da profissionalização, principalmente com o advento da noção da qualificação por competências que adentra agora o mundo da educação.

As novas modalidades de organização do trabalho, alternativas ao taylorismo- fordismo, foram conceituadas como especialização flexível, no início da década de 1980, por economistas dos Estados Unidos e sociólogos da Alemanha. A especialização flexível representaria o estímulo às inovações organizacionais e tecnológicas, a descentralização e a abertura dos mercados internacionais. Essa visão proporciona uma verdadeira mudança na relação da produção capitalista com o espaço e o tempo, oferecendo à fábrica flexível trabalhadores temporários e a possibilidade de variação do emprego no espaço e no tempo de

trabalho em função da conjuntura. E teria como corolário a volta a um trabalho na forma artesanal qualificado e uma relação de cooperação entre management (equipe dirigente de uma empresa) e operários multifuncionais, numa nova lógica de utilização da força de trabalho. Um impulso para a formação e para reprofissionalização da mão de obra nasceria da automação da produção, especialmente no ramo da indústria, conforme Hirata (1994).

Na argumentação da autora sobre e velho e o novo modelo produtivo, constatamos uma nova relação entre trabalho e educação, estabelecida pelo paradigma da produção flexível. Vinte anos depois dos primeiros estudos sobre as consequências da introdução das novas tecnologias sobre a divisão do trabalho e a qualificação, novos estudos indicam a origem da requalificação e da reprofissionalização com o aprofundamento da automatização de base microeletrônica nas indústrias. A nova lógica de produção exigiria assim novos conhecimentos e atitudes por parte dos trabalhadores, diferentes das qualificações formais e processos de trabalho característicos do taylorismo-fordismo.

De acordo com Hirata, a noção de competência, oriunda do discurso empresarial entre os anos de 1980 e 1990 na França, foi retomada em seguida por economistas e sociólogos. O conceito de competência para alguns autores ainda era uma noção bastante imprecisa, comparada ao de qualificação. Noção marcada política e ideologicamente por sua

origem, e da qual está totalmente ausente a ideia de relação social, que define o conceito de qualificação para alguns autores (1994, p.132). Esse conceito decorre da necessidade de

avaliar e classificar novos conhecimentos e novas habilidades gestadas a partir das novas exigências de situações concretas de trabalho, associadas, portanto, aos novos modelos de produção e gerenciamento. É uma proposta substitutiva à noção de qualificação ancorada nos postos de trabalho e às classificações profissionais que lhes eram correspondentes.

Segundo Deluiz (2001), na década de 1990, o aprofundamento da globalização das atividades capitalistas e a crescente busca de competitividade atrelaram em definitivo as políticas de recursos humanos às estratégias empresariais, ligando a prática organizacional ao conceito de competência como modelo de gerenciamento de pessoas, consideradas como novos elementos para a gestão do trabalho (com eficiência).

A obra A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? de Ramos (2002), promove uma discussão sobre a ressignificação dos conceitos de qualificação e competências. A autora esboça como se dá o deslocamento conceitual e como o mesmo se insere no campo das relações educacionais, agora marcado pela negação do conceito de qualificação. A ascensão do conceito de competência ocorre no sentido de postular-se como um regulador das práticas e projetos educativos. É um deslocamento que estabelece o plano da individualidade

como ponto de partida e de chegada para a explicação das questões sociais e educacionais. O conceito de competência seria, por assim dizer, um mecanismo ideológico estruturante e contributo para o avanço de uma nova cultura de cunho neoliberal na educação.

Nesse contexto de mudanças, a qualificação tem sido tensionada pela noção de competência, em razão do enfraquecimento de suas dimensões conceitual e social, em benefício da dimensão experimental. A autora vê duas razões que sustentam tal proposição:

A primeira porque os saberes tácitos e sociais adquirem relevância diante dos saberes formais, cuja posse era normalmente atestada pelos diplomas. A segunda porque, em face da crise do emprego e da valorização de potencialidades individuais, as negociações coletivas antes realizadas por categorias de trabalhadores passam a se basear em normas e regras que, mesmo pactuadas coletivamente, aplicam-se individualmente. A dimensão que se sobressai nesse contexto é a experimental. A competência expressaria coerentemente essa dimensão, pois, sendo uma noção originária da psicologia, ela chamaria a atenção para os atributos subjetivos mobilizados no trabalho, sob a forma de capacidades cognitivas, socioafetivas e psicomotoras (RAMOS, 2000, p.402).

Nos diversos países do mundo ocorre um movimento bastante generalizado de reformulação de seus sistemas de educação profissional a partir de diretrizes internacionais que mobilizam agentes públicos com vistas a instituir mudanças que buscam criar os novos códigos que crie uma aproximação cada vez mais acentuada entre a educação e o sistema produtivo. A noção de competência vem sempre associada às noções de empregabilidade, laborabilidade e até inclusão social.

Na atual organização das fábricas de automóveis e aparelhos eletrônicos, principalmente desses aparelhos fabricados em larga escala como smartphone, iPhone, iPad e netbook, mercadorias estas essenciais para a manutenção do capitalismo atual, há uma transformação da engenharia dos locais de trabalho, embora, para alguns autores, modelos distintos ou novos possam conviver no mesmo espaço produtivo. As novas tecnologias alimentam o modelo de produção flexível com maior controle, intensidade de tarefas e velocidade na fabricação.

Mas esse novo modelo não prescinde de mais-trabalho, pelo contrário, intensifica-o, uma vez que, conforme Lucena (2009), o tão importante caráter duplo do trabalho contido na mercadoria do qual falava Marx n’O capital, será o eixo em torno do qual gira a compreensão da economia política. Deste modo, a flexibilização não desconsidera o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção do valor. Em todas as revoluções industriais este fator foi central para articulação das mudanças tecnológicas (mais recentemente a informática e a

robótica), para a redução do tempo e aumento da produtividade. Para tanto, o controle social e político sobre o trabalho no sentido de dissolver os conflitos sempre foi necessário.

Nesse novo sistema, o trabalho sofre os impactos da desregulamentação, da informalização, precarização, intensificação, sendo mais polivalente e multifuncional. Seguindo critérios e metas, exigindo competências, sendo realizado em equipes promovendo uma disputa terrível entre os trabalhadores. O toyotismo precisa do envolvimento e da expropriação do intelecto do trabalhador. Diferentemente de Taylor, o engenheiro fundador desta concepção não vê o trabalhador como um gorila amestrado. Contudo, não deixa de ser uma forma de alienação mais interiorizada que exige o envolvimento, tratando o trabalhador agora como colaborador, cliente e consultor. A alienação ou estranhamento é aparentemente menos despótico e mais interiorizado porque busca o envolvimento. Numa planta flexível procuram transformar o trabalhador num déspota de si mesmo (ANTUNES, 2012).

Na discussão sobre o toyotismo e as novas formas de acumulação de capital, percebe- se que o capital investe em um projeto de recuperação da sua hegemonia ideológica, através do culto a um subjetivismo e, ao mesmo tempo, a um ideário fragmentador que justifica o individualismo exacerbado contra as formas de solidariedade e de atuação coletiva e social. O capital responde à sua crise estrutural pelas reestruturações implantadas no próprio processo produtivo, lança mão de diferentes formas de produção flexíveis, da inovação científico- tecnológica e de novos modos de gerenciamento da organização do trabalho e dos conhecimentos tácitos dos trabalhadores e mira na retomada de seu patamar de acumulação, mas também projeta a recuperação da hegemonia do capital, na esfera da produção da sociabilidade humana, articulando condições para estabelecer uma nova correlação de forças entre as classes (Id., 2007).

Segundo Ferreti (1998), a área educacional apropria-se do conceito de competência, no marco de uma inflexão das discussões entre qualificação, formação geral e formação profissional nos anos de 1990 e emerge como modelo que ganha influência nas propostas de qualificação para o trabalho. Consequentemente, o modelo de competências torna-se, em certo sentido, hegemônico na atualidade. Por isso, a importância de compreendermos os fundamentos que estruturam essa concepção.

Antunes e Pinto (2017), na obra A fábrica da educação: da especialização taylorista

à flexibilização toyotista, traçam algumas indicações que expressam parte do que as pesquisas

de muitos autores têm concluído. No atual contexto, as instituições têm procurado adaptar seus currículos a um contexto em que os trabalhadores devem ser mais flexíveis, polivalentes na manipulação de equipamentos cada vez mais avançados nas tecnologias digitais e de

informação. A educação requisitada hoje pelo capital deve ser ágil, flexível e enxuta, a exemplo de como são as empresas que operam neste módulo.

A pragmática da educação nos dias atuais comporta um núcleo básico para nivelamento de competências, bastante generalista e com menor custo. O ensino a distância através de métodos tutoriais é a forma preferencial, pois oferta uma formação técnica de caráter esporádica e profissionalizante, além de cursos em outros níveis. Estes cursos esporádicos de formação profissional se generalizaram como uma espécie de qualificação

profissional intermitente, parafraseando o termo muito utilizado por Antunes para caracterizar

a tendência do trabalho nos dias atuais. Essa pragmática caminha para o que se denomina de liofolização e flexibilização multifuncional, alcunhada, generalista, sob o comando da empresa flexível e da hegemonia financeira.

Kuenzer (2005) sustenta que, no âmbito da pedagogia toyotista, as capacidades mudam e são chamadas de competência. Não exige mais as habilidades psicofísicas e fala-se em desenvolvimento de competências cognitivas complexas. Ao buscar uma crítica à pedagogia toyotista reconhece que a capacidade incorpora algumas demandas dos trabalhadores, contudo esse reconhecimento se faz através do estabelecimento de uma nova dialética entre o mundo do trabalho e a educação, a partir das macrocategorias que configuram o regime de acumulação flexível. A esta lógica, que a autora chama de exclusão

includente, corresponde outra lógica, equivalente e em direção contrária do ponto de vista da

educação, chamada de inclusão excludente. Ou seja, as estratégias de inclusão nos diversos níveis e modalidades da educação escolar pelo novo modelo formativo representam, na prática, uma exclusão do processo educacional.

O capital nos dias atuais exige mais submissão do trabalho aos seus objetivos, com as jornadas extenuantes, a extensão do expediente ao lar, confusão entre espaço de trabalho e lazer, promovendo uma façanha inédita de colocar sobre os ombros dos trabalhadores a responsabilidade por todo o processo de produção, controle de qualidade e circulação das mercadorias. Talvez Byung-Chul Han (2015), no livro Sociedade do Cansaço, teve a felicidade de colocar um forte indício do estado de existência psicológica dos trabalhadores no início do século XXI, marcado pela perspectiva patológica neural, considerada uma das mais letais das enfermidades: a depressão e a síndrome de Burnout. O mundo do trabalho flexível é o mundo da neurose, da gestão pelos olhos e da gerência pelo estresse.

Decorrente da introdução da microeletrônica no processo produtivo, particularmente no setor fabril e no setor terciário, constatou-se o aumento do desemprego, a desqualificação profissional e o aumento do controle do capital sobre os ritmos do trabalho. Os ganhos de

produtividade que as novas tecnologias permitiram, pela universalidade da sua aplicação nos diversos ramos, foram inéditos. Enquanto os processos operacionais se simplificaram de forma significativa, ao tempo em que as tarefas permanecem repetitivas e monótonas, pressionaram pela qualificação aligeirada, intermitente ou mesmo precarizada.

Apresentamos até aqui elementos em busca das primeiras aproximações da relação trabalho e a formação humana no contexto da mundialização do capital e da reestruturação produtiva. Assim, percebemos a totalidade das relações que envolvem trabalho e educação na sociedade capitalista na atualidade, marcada por um processo de crise que estabelece novos contornos para a educação escolar dos jovens e trabalhadores.

Os aspectos relacionados às transformações do mundo do trabalho e como parte dessas transformações, a flexibilização, a precarização e a intensificação também marcam esses contornos. Somados a uma profunda exploração da individualidade, das singularidades e