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O stress e o trabalho da equipe de enfermagem em oncologia

O stress no ambiente de trabalho não é algo novo, mas é tema de recentes estudos, uma vez que está associado a diversas doenças como hipertensão, úlceras, doenças cardíacas, entre outras, repercutindo em agravos à saúde do trabalhador e à sua qualidade de vida (STACCIARINI; TRÓCCOLI, 2000). No entanto são poucas as pesquisas nacionais e internacionais sobre stress e coping entre enfermeiros oncológicos. Em estudo exploratório, bibliográfico, realizado em bases de dados on-line, quais sejam: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Banco de Dados de Enfermagem (BEDENF), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Revista Brasileira de Cancerologia, cujos trabalhos foram publicados no período de 1997 a 2007, observou-se que as pesquisas que envolvem stress e câncer de mama destacam a relação do stress e a qualidade de vida da paciente, bem como a resposta neuroendócrina e imunológica aos estressores. A partir desse levantamento bibliográfico, percebeu-se uma lacuna de estudos que relacionem o stress e a qualidade de vida entre enfermeiros que assistem a pacientes oncológicos, especialmente, mulheres com câncer de mama.

Alguns estudos nacionais têm enfatizado os estressores entre enfermeiros que atuam em unidades oncológicas, bem como o sofrimento psíquico desses trabalhadores (PAFARO, 2002; RODRIGUES, 2006; FARIA; MAIA, 2007) o que também foi observado por Rodrigues (2006), mas não analisam o nível de stress quantitativamente. Também focalizam as condições de trabalho, a qualidade de vida no ambiente ocupacional e a repercussão dessas variáveis na qualidade da assistência.

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Algumas pesquisas na literatura internacional (HINDS et al., 1998; MEDLAND, HOWARD-RUBEN; WHITAKER, 2004; ISIKHAN; COMEZ; DANIS, 2004; QUATTRIN, et al., 2006; EKEDAHL; WENGSTRÖM, 2007) afirmam que os enfermeiros que atuam em oncologia estão mais vulneráveis ao stress. Pafaro (2002) estudou os sintomas de stress entre enfermeiros de oncologia pediátrica e percebeu que grande parte dos enfermeiros se encontrava com médio nível de stress com predominância de sintomas psicológicos. Em vista disso, a implantação de programas que visem ao bem-estar psicológico e social, uma vez que o stress é um fenômeno natural na oncologia, é importante para a promoção da qualidade de vida no trabalho de enfermeiros oncológicos (MEDLAND; HOWARD-RUBEN; WHITAKER, 2004).

Meirelles (2002), que estudou o stress entre enfermeiros cirúrgicos oncológicos, identificou que esses profissionais não têm preparo para o controle do stress, tornando-se mais vulneráveis a ele. Esses resultados sugerem que os gestores e gerentes em saúde devem incentivar programas que permitam ao enfermeiro acesso a informações referentes ao processo de stress, a fim de enfrentá-lo com maior efetividade.

Campos (2005), em revisão integrativa da literatura a respeito de burnout, apontou para a necessidade de uma reflexão sobre o gerenciamento da saúde dos trabalhadores em enfermagem oncológica, e destaca que o investimento em saúde e qualidade de vida desses profissionais representa investir na qualidade da assistência ao paciente oncológico. Por essa razão, o enfermeiro e a equipe de enfermagem atuante em oncologia, especialmente no cuidado da mulher com câncer de mama, necessitam de atenção no que se refere à saúde e qualidade de vida ocupacional. Profissionais cientes da dinâmica de stress e conhecedores de seu processo de trabalho poderão enfrentar os estressores na esfera profissional, social ou pessoal de maneira adequada.

Recentes estudos analisaram o stress no trabalho de enfermeiros oncológicos. Na pesquisa brasileira de Pafaro e De Martino (2004) sobre nível de stress entre enfermeiros de unidade de oncologia pediátrica, os resultados evidenciaram a predominância de sintomas psicológicos de stress entre esses profissionais. Esses achados sugerem que os enfermeiros precisam enfrentar demandas estressantes em sua rotina de trabalho na área oncológica para não entrarem em burnout.

Corroborando com essa premissa, o estudo escocês de Isikhan, Comez e Danis (2004) identificou que enfermeiros e médicos que atuam em unidades oncológicas desgastam-se física e psicologicamente, e o nível de stress é influenciado pelas variáveis: estado civil; carreira profissional; oportunidade de promoção relacionada ao cargo que se ocupa; impasses

entre trabalho e responsabilidades; conflitos interpessoais no trabalho; condições de trabalho e equipamentos inadequados; e experiências vividas com pacientes. Esses fatores podem repercutir, significativamente, na qualidade de vida no trabalho desses profissionais, como também no desempenho de suas atividades assistenciais.

Destaca-se, também, o trabalho desenvolvido pelos americanos Medland, Howard- Ruben e Whitaker (2004), no qual se constatou que enfermeiros oncológicos podem ter sua saúde e qualidade de vida ocupacional beneficiadas pela implantação de programas cujo objetivo seja o bem-estar psicológico e social, uma vez que consideram que o stress é um fenômeno natural na oncologia.

Rodrigues (2006) identificou que perceber o óbito do paciente, situações de emergência em oncologia e relacionamento interpessoal (tanto com a equipe multiprofissional quanto com o paciente e sua família) foram pontuados como os principais estressores enfrentados pelo enfermeiro oncológico.

Mais recentemente, Fenga et al. (2007) correlacionaram stress ocupacional, burnout e características da personalidade entre um grupo de enfermeiros oncológicos. Os resultados demonstraram uma relação estatisticamente significativa entre nível elevado de stress e estado de burnout, bem como nível elevado de stress e doenças infecciosas no grupo estudado. Os autores observaram, também, que algumas características da personalidade podem predispor o profissional ao burnout. Por isso, concluíram que o suporte psicossocial no ambiente de trabalho de enfermeiros oncológicos é importante para prevenir doenças psicossomáticas associadas ao stress ocupacional.

Estudos como este, reafirmam que o trabalho do enfermeiro e da equipe em oncologia é desgastante. Da mesma forma, indicam que seria importante a implantação de programas que oportunizem um espaço de apoio, informação, discussão e orientação quanto ao stress, visando à melhor interação da equipe entre si e seus estressores. Além disso, tais pesquisas são importantes ao considerar o stress como um processo dinâmico, inerente ao ser humano, presente na atividade profissional do indivíduo e entre enfermeiros oncológicos e equipe de enfermagem, em especial.

Por essa razão, julga-se relevante colocar em perspectiva a qualidade de vida no trabalho desses profissionais, bem como o auxílio na identificação das estratégias de coping de que eles dispõem. Sabe-se que essa iniciativa representa um desafio necessário, uma vez que irá repercutir de forma expressiva na qualidade da assistência prestada aos pacientes com câncer, em especial, à mulher com câncer de mama.

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