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2. SENSIBILIDADES A UM PENSAR ESTÉTICO

2.1 O SUJEITO INTERDISCIPLINAR CRIATIVO

No plano econômico, a informação é um produto, um bem diferenciado dos demais. Seu uso não faz com que se acabe ou seja consumido, sendo a sua produção realizada nos domínios culturais dos espaços interdisciplinares que destaca o importante valor social, ético e cultural da informação e das formas de sua geração e transmissão. Ao mesmo tempo, estabelece elos e modos de vinculação que configuram movimentos na sociedade. Afinal, a informação:

[...] designa uma pluralidade de produtos, insumos, relações e dispositivos constituídos nas mais longas e complexas cadeias das atividades científico-tecnológicas e de todas as outras cadeias decisórias, as heurísticas e as disseminadoras que compõem o tecido social. (GÓMEZ, 2003, p.62, grifo nosso)

A interdisciplinaridade consiste em explorar e abordar um conjunto de conhecimentos, de fatos, de teorias, de conceitos, de constructos e ideias não apenas de uma única área do conhecimento, mas de várias disciplinas, sobretudo, sem adotar uma única perspectiva para as coisas. Portanto, assume e percebe a sensibilidade cognitiva e subjetiva de outros posicionamentos possíveis. (FAZENDA, 1994).

Os primeiros estudos na Europa, publicados na década de 1960, inseriam a interdisciplinaridade nas preocupações do mercado e da academia quanto à adoção de políticas de formação intelectual do profissional produtivo. Posta em xeque a sua competência de agir nas cadeias competitivas de produção do mercado, as capacidades e valores flexíveis desse profissional, necessitaram demonstrar ações de colaboração, cooperação, integração, criatividade e interação.8 (BELLUZZO, 2011).

O sujeito interdisciplinar é alguém que busca ultrapassar as barreiras do conhecimento e criar, propiciando a inovação. Ele precisa desenvolver, com o auxílio da perspectiva interdisciplinar, uma visão do conjunto do processo produtivo para se adaptar às flutuações da produção com flexibilidade, agilidade e eficiência. (ANTUNES, 2005 apud BELLUZZO, 2011, p.63.)

É quanto aos conhecimentos, competências e habilidades, que convém destacar a criatividade na aprendizagem do sujeito interdisciplinar. Em visão sócio-cognitiva tanto o pensar, o sentir e o agir dos indivíduos constroem-se na captação de informações nas dinâmicas interacionais com o ambiente exterior. (VYGOTSKY, 1998; PIAGET, 1997)

8 As questões sobre a interdisciplinaridade surgiram no Brasil no final da década de 60 e inicio dos anos 70 envolvendo principalmente a área da educação. (PINHEIRO, 2006 apud BELLUZZO, 2011).

O aprimoramento de seu desenvolvimento cognitivo faz-se através de estímulo interdisciplinar, em dinâmicas interacionais e sócio-cognitivas, no qual a criatividade passa a ser atributo e processo.

Verificando-se que o nível intelectual do indivíduo se desenvolve e se amplifica, algumas observações são levantadas por Igor Pinheiro (2009) quando elabora a proposta de um modelo geral para a criatividade, por percebê-la carente de uma definição consensual. Tem-se o mesmo cuidado em outros autores: BAXTER, 1995/2000; GARDNER, 1996/1999; KHUN, 1962/1992; DE MASI 1967/2002; OSTROWER, 2002 apud PINHEIRO, 2009. Constata Pinheiro em seus estudos que:

 Na área da metodologia de projetos, a criatividade relaciona-se com as soluções que seriam encontradas por meio da reorganização de informações;

 Como fenômeno, a criatividade independente- mente de uma conceituação a ela atribuída, apesar de inata, está intimamente relacionada a fatores culturais, socioeconômicos, educacionais e pessoais;

 A manifestação da criatividade aconteceria no indivíduo dotado de especialização em domínio de determinado campo do saber, concorrendo para isto uma forte dependência da sua postura de aprendizagem ou experiência para a realização criativa. Face ao universo tão difundido e pouco delimitado, se pondera então, um "único construto que unifica o trabalho de 

Leonardo da Vinci e Marie Curie, de Vincent Van Gogh e Isaac Newton, de Toni Morrison e Albert Einstein e de Wolfgang Mozart e Nicolaus Copernicus [e de Charles Darwin]?" (STERNBERG, 2000, p.332, grifo nosso). Tarefa difícil pois é como querer empreender um pareamento entre as obras, inventos e descobertas tanto da criatividade artística e da científica, como os traços de personalidade destes indivíduos criativos. (PINHEIRO, 2009).

Portanto, a circunscrição da criatividade nestas condições imprecisas, é fixada na sugestão do modelo de Pinheiro (2009), no campo neurológico do pensamento criativo. Para o estabelecimento do estado de criação, é essencial, para a manifestação do momento de inspiração (a chamada criatividade ou

insight), que seja alcançado determinado equilíbrio

entre os vários estados mentais da pessoa. Não importa qual o estado mental que o indivíduo tenha como característica preponderante à sua facilidade de construir pensamentos sejam eles reflexivos, analógicos, sintéticos, intuitivos, lógicos, ou extrovertidos, ou ainda de que forma demonstre possuir atitudes como controle das emoções, rápidas tomadas de decisão e exatidão de informações. Um indivíduo criativo deve agir em busca da complementaridade, da condição interna e equilibrada da sua mente a lhe oferecer momentos de ampla superação, compreensão e clareza para os símbolos e sentidos do mundo. O instante simultâneo da ocorrência deste equilíbrio consistiria em uma condição neuronal de extrema criatividade (PINHEIRO, 2009), e seria esta uma motivação para um comportamento interdisciplinar de cruzar e avançar limites além da área de domínio do sujeito.

Ao fazê-lo, cognitiva e neurologicamente, ele forçaria ligamentos e religamentos na configuração e no tipo de formação da rede neuronal (ligação entre neurônios) — a base do pensamento humano — modelando outros níveis e simetrias aos pensamentos que culminariam com um novo estado de produção criativa em si.

Este movimento de busca à complementaridade não reside nas condições, conhecimentos e posturas opostas às já preponderantes no indivíduo, mas sim, apenas àquelas que complementam as que ele tem existentes em si. (KANDEL, 2001; NICOLELIS, 2011; PINHEIRO, 2009). Em busca de sua complementaridade, e não a de um conhecimento oposto, Edward de Bonno, comenta por exemplo, sobre o pensamento criativo em Einstein que ele:

[...] adicionou intuição à tão lógica física, ao olhar para todas as informações da estrutura newtoniana e reorganizá-las, concebendo um novo arranjo para as partes já existentes. (DE BONNO, 1967, p. 24).

Ter um pensamento antecipado, adiante de seu tempo, é um dos consequentes benefícios reais de um esforço neuronal que o indivíduo promove a si próprio, com novas experiências de aprendizagem, a exemplo de se visitar ideias, conceitos e visões de outras disciplinas do saber. Atitudes que estimulam captações de informações por processos de aprendizagem que cognitivamente afetam o desenvolvimento cerebral, traduzindo-se em maiores exercícios aos circuitos cerebrais, que estimulados, florescem. (KANDEL, 2001; PIAGET, 1977; RIDLEY, 2008).

Portanto, considerando tais alcances cognitivos do indivíduo criativo, faz-se a seguinte reflexão: a

Ciência da Informação sabe do perfil criativo de seu

agente interdisciplinar, como condição para sua atuação no mundo simbólico das realidades contemporâneas construídas pelas tecnologias computacionais cada vez mais sofisticadas. Sendo esta uma conscientização da área, ainda assim, é uma questão problematizante para ela, mesmo na consideração de que o processo de aprendizagem de base criativa, seja a referência com a qual seus profissionais atuam. Questiona-se, portanto, a necessidade de se estimular uma sensibilidade para potencializar a apropriação e conscientização dos profissionais da área, sobre suas formas de trânsito no mundo simbólico.

Onde encontrar modelos sensíveis ao tato intelectivo, ou à aquisição de conhecimento ou até mesmo à cultura profissional do sujeito interdisciplinar que transita em mundo simbólico e lida com questões ligadas ao conhecimento?

Trazer à tona, o processo de autoformação criativa das produções estéticas de heranças culturais dos artistas do universo das artes plásticas, pode ser visto nessa sensibilidade. A referência, para a questão está na pernambucana Ladjane Bandeira, em sua obra

Biopaisagem. Artista singular cuja trajetória pessoal

enfatiza um intenso processo autoformativo em suas atividades.

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