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O surgimento dos experimentos em contabilidade financeira

Como Libby et al. (2002) explicam, nem sempre experimentos em contabilidade financeira foram necessariamente bem vistos. Dentre as críticas elaboradas no começo, Maines (1995) e Berge, Dickhaut e McCabe (1995) citam:

 A crença da irrelevância no comportamento individual nos mercados, nas quais as forças competitivas eliminariam esses “erros individuais”;

 A falta de teoria econômica ou psicológica que previsse os efeitos e os mecanismos nos quais elas ocorrem;

 O fracasso em capturar aspectos relevantes das decisões, em especial os atributos do tomador de decisões e as características institucionais.

Libby et al. (2002) explicam que foi no meio dos anos 90 que ocorreu um renascimento dessa modalidade de pesquisa. Na visão dos autores, os seguintes fatores contribuíram para esse fenômeno:

1. Mudanças na visão da eficiência dos mercados: baseados majoritariamente em Fama (1970), muitos pesquisadores passaram a ter a crença de que se uma pequena fração de investidores são suficientemente sofisticados para responder apropriadamente à informação contábil, eles irão competir entre eles mesmos para colocar o preço de ativos mobiliários igual a seus valores esperados. Nesse sentido, o mercado se tornaria um “jogo justo”, onde mesmo os investidores não sofisticados estariam protegidos pela eficiência informacional dos preços. Contudo, Libby et al. (2002) explanam que mesmo nos anos 1980 e 1990, vários estudos começaram ilustrar ineficiências no mercado. Dentre os exemplos, podem-se citar Sloan (1996), Frankel e Lee (1998), Swaminathan (2000), DeBondt e Thaler (1990), dentre vários outros. Indubitavelmente, conforme os autores explanam, parece que há um número cada vez maior de pesquisadores que duvidam da hipótese de eficiência do mercado, mesmo em sua forma mais fraca (onde o mercado responde eficientemente para informações contidas em preços passados);

2. A vantagem comparativa dos experimentos em contabilidade financeira: de acordo com Libby et al. (2002), experimentos são adequados para a tarefa de determinar sob quais situações e processos fenômenos específicos surgem. Tal fato acontece, pois em um cenário de pesquisa construído, um indivíduo pode manipular as variáveis independentes, controlar outras variáveis influenciadoras mantendo-as constantes ou criando cenários aleatórios, além de mensurar o processo de intervenção que afetam os resultados finais; 3. Avanços teóricos em psicologia, finanças e economia: de acordo com Libby et al. (2002),

os experimentos em contabilidade financeira podem se assentar em teorias psicológicas bem desenvolvidas em julgamento e tomada de decisão. Sem dúvida, a ideia de que os tomadores de decisão possuem uma capacidade limitada de retirar, manter e processar as informações, colabora a visão de que seus julgamentos estão longe de serem racionais (Simon, 1957). Os autores comentam que o papel das heurísticas na tomada de decisões

(Kahneman e Tversky, 1974) tiveram grande papel no desenvolvimento teórico da área, assim como os modelos psicológicos de risco (Kahneman e Tverskt, 1979) e ambigüidade (Einhorn e Hogarth, 1986) que mostram que os indivíduos respondem aos riscos e recompensas em vários modos que desviam da teoria da utilidade esperada. Libby et al. (2002) relatam vários trabalhos que surgiram. Dentre alguns exemplos, pode- se citar os de Gervais e Odean (1997) e Odean (1998) que incorporam o excesso de confiança em modelos de trading, o de Barberis et al. (1998) que usam modelos psicológicos para verificar quão bem as pessoas percebem sequências de passeio aleatório em um modelo com investidor representativo;

4. Aspectos institucionais chaves que influenciam na contabilidade financeira: segundo Libby et al. (2002), a pesquisa experimental mais recente em contabilidade financeira tem considerado os aspectos institucionais que permeiam o ambiente, isto é, tem também se focado nas interações entre os indivíduos e as características do ambiente, analisando o conhecimento e as motivações dos usuários e divulgadores de informações.

De modo geral, Libby et al. (2002) criaram uma taxonomia de trabalhos comportamentais em contabilidade financeira a ser explorada adiante. Assim sendo, os trabalhos se dividem nas seguintes categorias de perguntas:

1. Como os incentivos dos auditores e administradores e a regulação da contabilidade financeira determinam como os eventos são divulgados? Esta pergunta, alvo de pesquisas também em estudos archival, busca identificar como a subjetividade da medida contábil propicia aos administradores uma maneira de gerenciar resultados. Essa tese não está seguindo essa linha de pesquisa;

2. Como os usuários das informações contábeis interpretam as demonstrações financeiras divulgadas, dado seus conhecimentos da regulação que os governa e de seus incentivos? Esta pergunta pode ser avaliada de diversas maneiras diferentes. Pode- se investigar como o uso de um método contábil, em detrimento de outro, influencia as estimativas dos investidores. Pode-se adicionalmente analisar como os investidores respondem à divulgação de informações voluntárias ou mesmo às previsões de analistas, ou mesmo como os investidores e analistas usam as propriedades das séries de ganhos para prever ganhos futuros. Contudo, é na subcategoria de questões gerais que subscrevem a fixação funcional que essa tese se enquadra. Nesta categoria de estudos, há indícios de que a divulgação de informações financeiras em uma seção específica ao

invés de outra, ou mesmo se estará descrita em uma nota explicativa ou outra, influencia na forma como os agentes tomam decisões;

3. Como as respostas dos indivíduos às informações disponíveis afetam o mercado? Esta linha de pesquisa explora como os indivíduos afetam os preços de mercado, investigando até que ponto os preços podem simplesmente serem definidos como a média da crença dos investidores. Essa tese também não segue essa linha;

4. Como as interações estratégicas entre os divulgadores de informações financeiras e os usuários das mesmas afetam o processo de divulgação e os resultados de mercado? Esta vertente de pesquisa busca, fazendo uso principalmente da teoria dos jogos, observar as interações entre os elaboradores e os usuários das informações financeiras. Novamente, não há relação da mesma com essa tese.

A seguir, se encontra uma revisão de literatura de artigos mais recentes publicados que nutrem relação com este trabalho.

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