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3. MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

3.1 O Taylorismo-Fordismo

Segundo Lipietz (1991), o modelo de desenvolvimento hegemônico após a Segunda Guerra Mundial foi o fordista. Nele há uma nítida separação entre os que planejam e os que executam. Uma pequena cúpula (engenheiros e técnicos) era responsável por descobrir os melhores métodos e difundi-los junto ao restante, que devia pensar somente em sua tarefa. No modelo de desenvolvimento adotado pelos EUA no pós-guerra, houve um grande esforço para equilibrar a demanda crescente à oferta crescente, tal fato ficou conhecido como o compromisso fordista – que prega a subordinação dos trabalhadores ao enquadramento e à máquina em troca de um emprego estável e poder de consumo crescente (LIPIETZ, 1991). Para Harvey (2009, p. 121), o que havia de especial em Ford era seu reconhecimento de que produção em massa significava consumo em massa, “um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma

nova psicologia”.

O fordismo era o acoplamento das teorias de racionalização do trabalho de Taylor associadas à mecanização. Antunes (2008) informa que, apesar de fordismo e taylorismo terem sido movimentos distintos, eles realizaram uma união feliz para o capitalismo, já que o controle do cronômetro e a gerência científica taylorista fundiram-se e iniciaram a produção em massa

fordista. Antunes (1998, p. 17, grifo do autor) dá uma definição mais abrangente acerca do fordismo:

[...] entendemos o fordismo fundamentalmente como a forma pela qual a indústria e o processo de trabalho consolidaram-se ao longo deste século [XX], cujos elementos constitutivos básicos eram dados pela produção em massa, através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; através do controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro taylorista e produção em série fordista; pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho; pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário- massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões.

Se antes havia o mestre-artesão que dominava todos os saberes necessários ao seu ofício, na fábrica moderna o novo modelo previa que as tarefas deviam ser divididas de modo a torná- las o mais simples possível. A separação que Taylor popularizou com livros e palestras entre planejadores e executores foi levada a termo. Aos trabalhadores cabia fazer aquilo que lhes foi designado, eles não tinham o menor controle ou ciência sobre o que acontecia antes ou depois de executarem seu trabalho. Wood Jr. (1992, p. 10) faz uma distinção entre o fordismo e o sistema de produção manual – no qual os trabalhadores eram altamente especializados:

Em contraste com o que ocorria no sistema de produção manual, o trabalhador da linha de montagem tinha apenas uma tarefa. Ele não comandava os componentes, não preparava ou reparava equipamentos, nem inspecionava a qualidade. Ele nem mesmo entendia o que seu vizinho fazia. Para pensar em tudo isto, planejar e controlar as tarefas, surgiu a figura do engenheiro industrial.

Wood Jr. (1992) aponta que já a partir de 1955 o fordismo começa a dar sinais de esgotamento. Já para Lipietz (1991), na década de 1970, o modelo, como um todo, chega a seu esgotamento. Europa e Japão já haviam emergido como ferrenhos competidores dos EUA e os lucros e produtividade das empresas estadunidenses começavam a declinar. Em decorrência disso houve as crises econômicas (inflação, estagnação, choques do petróleo) e a

revolta dos trabalhadores contra o sistema que não lhes garantia dignidade. “A profunda

recessão de 1973, exacerbada pelo choque do petróleo, evidentemente retirou o mundo

capitalista do sufocante torpor da „estagflação‟10

[...] e pôs em movimento um conjunto de

processos que solaparam o compromisso fordista” (HARVEY, 2009, p. 121). Antunes (2006,

p. 40) diz que:

10

A estagflação ocorre quando há uma diminuição da atividade econômica com aumento do desemprego e alta da inflação.

Já no final dos anos [19]60 e início dos anos [19]70, deu-se a explosão do operário- massa, parcela hegemônica do proletariado da era taylorista/fordista que atuava no universo concentrado no espaço produtivo. Tendo perdido a identidade cultural da era artesanal e manufatureira dos ofícios, esse operário havia se ressocializado de

modo relativamente “homogeneizado”, quer pela parcelização da indústria

taylorista/fordista, pela perda da destreza anterior ou ainda pela desqualificação repetitiva de suas atividades, além das formas de sociabilização ocorridas fora da fábrica.

Dessa forma, quando o fordismo entra em crise, faz-se necessário outro modo de regulação para substituí-lo. Tudo o que antes dava certo no fordismo passa a ser criticado, é necessário um sistema mais flexível, que leve em conta as contingências do mercado. São necessárias taxas variáveis de emprego, produção e consumo, novas modalidades de contratação da mão- de-obra, de produção tanto de bens quanto de serviços além dos investimentos de capital, com vistas a garantir a lucratividade, que agora não é mais estável como antes (PAES DE PAULA, 2002). Chama a atenção do Ocidente a produção flexível, que preconiza maior flexibilidade das empresas, dos trabalhadores e a diminuição do Estado. A regulação do Estado, antes benéfica, agora volta a figurar como um entrave à acumulação. O Estado Providência (Welfare State)11, que havia sido desenvolvido em maior ou menor escala nos países capitalistas centrais, vai sendo paulatinamente desarticulado; assim como perdem também força os sindicatos, que passam a ter menos capacidade de mobilização, de modo que os trabalhadores têm diminuído seu poder de resistência (KREMER; FARIA, 2005). Paes de Paula (2002) explica que a regulação do mercado de bens, serviços e mão-de-obra, antes realizada pela legislação estatal, torna-se um entrave à acumulação, de forma que desregulamentar se torna a meta, sendo o Estado mínimo o ideal.