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3. O TEMA NO ENTENDIMENTO DA ADVOCACIA PÚBLICA E DA

3.1. O tema na interpretação da advocacia publica: AGU e PGE-RJ

Na busca pelo entendimento da Advocacia Geral da União1, a pesquisa foi realizada no sítio eletrônico da AGU, com o uso da expressão “declaração inidoneidade”, onde foram encontrados 21 registros, sendo somente 1 (um) documento pertinente ao tema, o parecer CONJUR/MTE/nº 064/2010 (Processo Administrativo nº 00405.002515/2010-71).

De acordo com o parecer, “a Administração Pública é uma só, um todo”, de modo que as sanções dos incisos III e IV, do art. 87, da Lei nº 8.666/93, aplicadas por determinado ente federativo, teriam seus efeitos estendidos a todos os demais.

Dessa forma, é possível concluir que a Advocacia Geral da União entende que os efeitos de ambas as penalidades não se restringem ao órgão sancionador, devendo se estender a todas as esferas da Administração. Este é o posicionamento da “terceira corrente”.

1 BRASIL. Advocacia Geral da União. Parecer CONJUR/MTE/Nº 064/2010. Disponível em:

<http://www.agu.gov.br/pareceres?busca=declaração+inidoneidade&nr_documento=&tipo_data=1&mes=&ano =&id_orgao=&submit=Pesquisar&DS_TIPO_FILTRO=PARECERES&ID_TIPO_ATO=66&as_sfid=AAAAA AVU0M7PqucRdD5GiTY6i80tH99E0U1gcvJNgELO4yGa9DO3HKzClZDH-

7YBgAwUFx9qd08G6QeWlbWrrAhmSdiPaGssX_iQOTYvCLsuyDr9JVzUuDce8ap-

No âmbito da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, por sua vez, foram analisados os pareceres 42/2012 - FAG (Processo Administrativo nº E-14/8440/12), 01/2009 – DAMFA/SECT (Processo Administrativo nº E-12/3142/08) e PE nº 07/2014 (Processo Administrativo nº E-03/001/10.646/2014), anexo parecer nº 16/RCG de 22/12/2014. Estes foram os únicos encontrados sobre o tema a partir de uma pesquisa objetiva com as chaves de busca supramencionadas.

No primeiro deles, parecer 42/2012 - FAG (Processo nº E-14/8440/12), Flávio Amaral sustenta que ambas as penalidades se restringem à Administração que a aplicou, por força do princípio federativo, previsto no art. 18 da Constituição Federal.

O segundo, parecer 01/2009 – DAMFA/SECT (Processo nº E-12/3142/08), segue o mesmo entendimento. Para a Procuradora do Estado Denise A. M. Feres Aua, “a declaração de inidoneidade só produz efeitos na esfera de governo que aplicou a sanção”, sob risco de afronta ao princípio federativo.

Entretanto, anexo a ele há visto do também Procurador do Estado Flavio Willeman, se manifestando pela não aprovação do parecer 01/2009 – DAMFA/SECT. Para Willeman, tanto a declaração de inidoneidade como a suspensão temporária de licitar devem ser observadas por todos os entes federativos.

De maneira oposta ao que foi defendido nos dois primeiros pareceres, o Procurador sustenta não haver qualquer ofensa ao pacto federativo ao extrapolar os efeitos da declaração de inidoneidade dos limites territoriais daquele ente federativo que a aplicou. Muito pelo contrário. Nos seus dizeres, “a federação resta fortalecida, na medida em que a penalidade evita que empresas ímprobas, assim declaradas por uma entidade da federação, venha a celebrar contratos com outros entes da federação”2. Continua: “respeita-se, com isso, os princípios constitucionais impostos à Administração Pública pela Constituição, em especial o principio da moralidade”3.

Em que pese a manifestação de Willeman propondo a revisão do posicionamento adotado pela Procuradora do Estado Denise A. M. Feres Aua – e, àquela época, adotado pela PGE/RJ – o Parecer DAMFA/SECT nº 01/2009 foi aprovado.

O terceiro e último parecer, PE nº 07/2014 (Processo nº E-03/001/10.646/2014), não tem como tema principal a abrangência dos efeitos da declaração de inidoneidade. Entretanto,

2

BRASIL. Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro. Visto FAW/2009 do Parecer 01/2009 DAMFA/SECT, p. 17.

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no decorrer da manifestação, o Procurador do Estado Paulo Enrique Mainier faz um breve relatório, abordando o antigo entendimento defendido pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, consolidado no Enunciado nº 21-PGE, que restringia a eficácia das sanções de suspensão temporária de licitar e contratar com a Administração e declaração de inidoneidade ao ente político que as aplicava, em razão da autonomia das entidades federadas.

Conforme mencionado no parecer, em 2014 foi editada a Resolução PGE nº 3.6114, que ao modificar a cláusula que trata das sanções nas minutas-padrão de Edital e Contratos de serviços, compras, seguros, serviços técnicos de advocacia e obras, atribuiu às sanções de suspensão temporária de participar em licitação e impedimento de contratar e de declaração de inidoneidade os mesmos efeitos, isto é, sua aplicação, por qualquer Ente ou Entidade da Administração Federal, Estadual, Distrital e Municipal, ambas terão o condão de obstar a participação do licitante no certame que a Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro realizar.

Assim, o Enunciado nº 21-PGE restou revogado, fazendo emergir a presunção de que a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro passou a alinhar o seu entendimento àquele defendido por Flávio Willeman e, conforme será visto adiante, à jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Essa conclusão é corroborada pela Resolução PGE supracitada.

Pode-se afirmar, portanto, que, atualmente, o entendimento tanto da Advocacia Geral da União como também da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro é no sentido de que os efeitos da declaração de inidoneidade devem ser observados na esfera de todos os entes federativos, independentemente de qual tenha sido o ente sancionador.

4 A Resolução PGE nº 3.611 dispõe que:

“Art. 1o - O item X.12.1 aprovado pela Resolução PGE no 3.424/2013, de 12 de setembro de 2013, que trata das cláusulas de sanções administrativas e demais penalidades nas minutas-padrão dos editais e dos contratos de serviços, compras, seguros, serviços técnicos de advocacia e obras, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, passa a vigorar com a seguinte redação:

X.12.1 Os licitantes, adjudicatários e contratantes que forem penalizados com as sanções de suspensão temporária da participação em licitação e impedimento de contratar e a declaração de inidoneidade para licitar e contratar por qualquer Ente ou Entidade da Administração Federal, Estadual, Distrital e Municipal ficarão impedidos de contratar com a Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro enquanto perdurarem os efeitos da respectiva penalidade.

Art. 2o - Eventuais dúvidas ou esclarecimentos em relação aos dispositivos constantes desta Resolução deverão ser formalmente encaminhados à Coordenadoria Geral do Sistema Jurídico (PG-15).

Art. 3o- Esta Resolução deverá ser divulgada às Assessorias Jurídicas da Administração Direta e Indireta e, ainda, na página da internet da Procuradoria Geral do Estado.

Art. 4o - Caberá́ à Coordenadoria Geral do Sistema Jurídico promover as alterações determinadas por esta Resolução na respectiva minuta-padrão disponibilizada na página da internet da Procuradoria Geral do Estado. Art. 5o - A presente Resolução entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”

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