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1 DESENVOLVIMENTO: CONCEPÇÃO, PROCESSO HISTÓRICO E

1.1 O termo Desenvolvimento

Para falar em desenvolvimento, é necessário entender a base das antigas interpretações, não só do termo desenvolvimento, mas também de nomenclaturas a ele vinculadas como pobreza, produção, noção de Estado e igualdade. Termos que surgiram na história moderna do Ocidente, que impôs uma forma de entender o mundo dentro de uma perspectiva ocidental em face da possibilidade de realizar mudanças substancias em estruturas desiguais e combinadas.

Na construção histórica do termo desenvolvimento, destaca-se na linguagem coloquial o desenvolvimento descrito como um processo pelo qual são liberadas as potencialidades de um objeto ou de um organismo, para que esse alcance sua forma natural, completa e amadurecida.

Assim,

Foi entre 1759 (Wolf) e 1859 (Darwin) que o desenvolvimento evoluiu e de uma concepção da transformação que a considerava como um movimento na direção da forma apropriada para o ser, passou a considerar essa transformação como um movimento na direção de uma forma mais perfeita daquele mesmo ser. Nessa época, cientistas começaram a usar evolução e desenvolvimento como sinônimos. (apud SACHS, 2000, p. 64).

A metáfora biológica foi empregada na esfera social nos últimos vinte e cinco anos do século XVIII. A palavra Entwicklung como processo gradual de alteração social foi utilizada por Jusus Moser, em 1768. O desenvolvimento histórico seria a continuação do desenvolvimento natural.

Nas teorias de Marx, desenvolvimento tornou-se a categoria central, entendido como um processo histórico, tão necessário quanto às leis naturais. A concepção hegeliana da história e a darwinista da evolução fundiram-se no conceito de desenvolvimento e adquiriu novo rigor com a aura marxiana. A palavra desenvolvimento não consegue descolar das palavras com as quais foi criado: crescimento, evolução e maturação.

Em contrapartida, no ano de 1949, o presidente dos Estados Unidos da América, Harry Truman referiu-se em seu discurso, pela primeira vez, o termo “áreas subdesenvolvidas” referente ao hemisfério sul, sugerindo para o Norte a função do intervencionismo, ou seja, a imposição e aplicação do novo modelo.

Apenas com a utilização do neologismo “subdesenvolvimento”, mais de dois bilhões de habitantes no planeta passaram a ser consideradas subdesenvolvidos. Deixaram de ser a própria maneira de conceber o mundo, cultura, sociedade e economia para ser o inverso do novo modelo de “desenvolvimento”, sua antípoda histórica e econômica.

Willfred Benson, quando atuou na Organização Mundial do Trabalho (não confundir com a Organização Internacional do Trabalho – OIT), provavelmente foi quem criou a palavra, em 1942, quando escreveu suas bases econômicas para a paz, referindo-se às “áreas subdesenvolvidas”.

Desenvolvimento, subdesenvolvimento e seu desfecho se entendiam em quatro premissas: em primeiro, os Estados Unidos e demais países industrializados alcançaram a evolução social; em segundo, a ideia de Truman oferecia aos americanos uma interpretação da ordem mundial com os Estados Unidos à frente; em terceiro, esse desenvolvimento mudaria a face do planeta e mudou, visto que, em 1960, os países do Norte eram 20 vezes mais ricos que os do Sul e, em 1980, essa distância aumentaria para 46 vezes; e em quarto, concebe-se o

medo do desenvolvimento em face à necessidade de acesso às matérias primas e produtos

agrícolas, gerando fortes desequilíbrios nas transações comerciais correntes entre os países, diante do pequeno valor agregado desses produtos exportados pelos “neófitos” países subdesenvolvidos.

O desenvolvimento criou forte competição entre sistemas político-ideológicos e garantiu a implantação de políticas intervencionistas em pró do bem comum, entretanto, tratou-se de uma política de cima para baixo que sugeria escapar da condição indigna de subdesenvolvimento.

Porém, para dois terços da população mundial, esse significado positivo da palavra “desenvolvimento” – profundamente enraizado dois séculos depois de sua construção social – é um lembrete daquilo que eles não são. Faz com que se lembre de uma condição indesejável e indigna. Para escapar dessa condição, precisam escravizar-se a experiência e sonhos alheios. (SACHS, 2000, p. 60).

Na América Latina, o combate à pobreza e o caminho para o progresso social fixaram a noção de subdesenvolvimento na percepção da população e na mente dos dirigentes. Desenvolvimento foi compreendido como o crescimento da renda per capita nas áreas economicamente subdesenvolvidas, proposta encaminhada por Lewis, em 1944, e refletida na estrutura da Carta das Nações Unidas, em 1947, sobre essa questão: “Primeiramente é preciso observar que nosso tema é crescimento e não distribuição”, configurando a máxima de Lewis

(1955), ou seja, não se pode ignorar ou subestimar um rápido crescimento econômico. (apud ESTEVA, 2000)

O Relatório da situação social mundial, publicado em 1952, tratava das condições sociais existentes, mas pouco tratava de programas de melhoria. Entretanto, serviu de inspiração e apoio para criação de medidas imediatas que aliviassem a pobreza mundial, e desenvolvesse países “subdesenvolvidos”. O “social” e o “econômico” eram considerados realidades distintas, o ideal seria o equilíbrio entre elas, mas, no fundo, o econômico era o determinante.

Em 1962, O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas – ECOSOC recomendaria a interação dos dois aspectos, social e econômico. Contudo, no final da década, ficou evidente que crescimento econômico operava paralelamente com o aumento da desigualdade.

A conjunção social e econômica se processou a partir da resolução das Nações Unidas que estabelecia desenvolvimento e planejamento em conjunto e articulado: inserção da economia e dos componentes sociais em políticas públicas e programas. Com o objetivo de não excluir nenhum setor da população das oportunidades de mudança e desenvolvimento; efetuar mudanças estruturais que favoreçam ao desenvolvimento nacional e encorajar todos os setores da população a participarem do processo de desenvolvimento; buscar a igualdade social, incluindo a realização de uma distribuição justa de renda e riqueza no país; dar alta propriedade ao desenvolvimento do potencial humano e a provisão de oportunidades de emprego e satisfação das necessidades da população infantil.

A ONU inicia-se uma abordagem única do planejamento do desenvolvimento, simultaneamente, a interação social, espacial e regional, ou seja, “desenvolvimento participativo”.

Em 1974, a Declaração de Cocoyoc insistiu no propósito é desenvolvimento voltado para o desenvolvimento humano. Com maior participação do povo, e segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, um desenvolvimento integrado, “um processo total, multirelacional, que inclua todos os aspectos da vida coletiva, de uma relação com o resto do mundo e sua própria consciência.

Na sétima sessão especial da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1975, foi pedida uma abordagem mais específica, do que daquela adotada, em 1970. A Conferência sobre Emprego, Distribuição de Renda e Progresso Social, organizada pela Organização Internacional do Trabalho, em 1976, apontou uma resposta ao desafio do desenvolvimento: a abordagem das necessidades básicas, com o objetivo de obter o mínimo padrão de vida, antes

do final do século XX. Esses processos reconheceriam, contraditoriamente, que o desenvolvimento não acabaria com a fome e a miséria; ao contrário, cresceria o quadro dessas mazelas.

O Banco Mundial considerou a proposta como uma “sequência natural” de experimentos com “grupos alvos”, iniciado em 1973. Em 1976, a satisfação das necessidades básicas da população de cada país ocupou a preocupação principal do Programa de Atividades da Conferência Mundial Triparti sobre Emprego, Distribuição de Renda, Progresso Social e Divisão Internacional do Trabalho.

Paralelamente, os especialistas da UNESCO atuaram sobre outro prisma, de certa forma inovador, o da inserção do conceito de desenvolvimento endógeno, que rejeitava a necessidade ou a possibilidade de “imitação mecânica” das sociedades industriais. Propunha levar em consideração as particularidades de cada país. Entretanto, como brotaria o desenvolvimento do cenário que era considerado “subdesenvolvido”? Em 1978, a UNESCO reconheceria a impossibilidade de impor um modelo cultural único.

Os anos 1990 geraram um novo ethos desenvolvimentista. No Norte rico, clamou-se por re-desenvolver o que já era obsoleto do modelo keynesiano. No Sul, o re-desenvolvimento também incluiria a demolição do que sobrou do “processo de ajuste estrutural” dessas economias dos anos 1980, e que foi obstáculo pelas décadas de encantamento (ou a era do ouro do capitalismo de Estado – 1945-1973).

Em termos conceituais e políticos, o re-desenvolvimento passa a adotar a forma de

desenvolvimento sustentável, termo utilizado pela primeira vez em 1987, segundo a prescrição

da Comissão Brundtland. Ou seja, a interação entre social, econômico e ecológico. Sendo que, a relação entre ecológico e social deve se pautar no suportável, a relação entre o social e o econômico deve ser equitativo, a relação entre o ecológico e o econômico deve ser o viável. A interação dos três resume-se em propostas sustentáveis, que se dividem em três componentes: a sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e sustentabilidade sociopolítica.

No Relatório Brundtland, documento intitulado: Nosso Futuro Comum (Our Common

Future), publicado em 1987, há a definição de desenvolvimento como meio que procura

satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso racional dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.

A Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, em 1995, aprovou um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável, com o intuito de servir como referência para os países em desenvolvimento ou na revisão de indicadores nacionais de desenvolvimento sustentável, que foram aprovados em 1996, e revistos em 2001 e 2007.