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1. RETERRITORIALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO

2.2 O TERRITÓRIO

2.2.2 O TERRITÓRIO COMO MEIO INOVADOR

A emergência ou declínio de produtos e processos que contracenam nos territórios depende, em grande medida, da capacidade que cada território apresenta em inovação. Num contexto global de constantes mudanças e avanço rápido no campo das tecnologias de informação e comunicação, adquirem relevância as linhas de reflexão que consideram o território como um meio propício à inovação ou ele mesmo um meio inovador (AYDALOT, 1986, GREMI – Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs).

A inovação deve caminhar junto com o conhecimento (aprendizagem), sendo ambos etapas centrais à constituição de um meio inovador, envolvendo a combinação de conhecimentos: tecnológicos, de mercado e organizacionais. Quanto a este último aspecto, Lawson & Lorens (1999, apud BOISIER, 2001) apontam três quesitos fundamentais à aprendizagem organizacional: i) a aprendizagem depende do compartilhamento de conhecimentos; ii) um novo conhecimento surge a partir da combinação de diversos conhecimentos pré-existentes; iii) há inércia organizacional.

Percebe-se que o processo de aprendizagem relaciona-se diretamente à reorganização das parcerias (alianças, cooperações). Ele não se torna real somente mediante a otimização dos recursos inovadores, mas a partir da criação cognitiva dos atores por meio da diversificação de tipos (processos) de aprendizagem – aprendizado interativo, institucional, organizacional. Matteaccioli (2004) salienta que o aprendizado deve ocorrer em todas as ocasiões organizacionais: by doing, by using, by searching.

A possibilidade da existência de territórios “inovadores” foi desenvolvida a partir do questionamento das condições externas necessárias ao nascimento de uma empresa em determinado local, e quais seriam as condições essenciais para a adoção da inovação. Aydalot (1986) enfatiza que a empresa não pré-existe aos meios locais, ao contrário, é segregada por eles.

O conceito de Meio Inovador foi desenvolvido pelo GREMI – Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs, por autores como Aydalot, Camagni, Maillat, Perrin, entre outros. No cenário europeu é notória a presença de “meios inovadores”, por exemplo, a região da Terceira Itália. Portanto, o GREMI buscava compreender esta realidade, sua permanência e desenvolvimento, além de desvendar as possibilidades de reprodução, considerando-se as peculiaridades de cada região, em outras localidades, mesmo fora da Europa. Isto poderia ser possível porque consideravam o meio inovador como uma extensão da organização territorial inovadora e não da empresa. O território enquadra-se como o real propulsor deste “meio inovador”, mas este somente se efetiva mediante a consolidação e emergência de novas formas organizacionais no local. O ciclo de “desenvolvimento” e “inovação” estaria completo.

Aydalot (1986) afirma que o meio inovador não é o espaço onde se localizam empresas inovadoras, mas uma formação sócio-econômica territorializada no seio daquele espaço emergente de novas formas de organização territorial à base de colaboradores, que através de meios enriquecedores de aprendizagens propiciam a criação tecnológica e a criação de empresas inovadoras. “Une des caractéristiques des milieux innovateruss, c’est leur puissance créatice” (MATTEACCIOLI, 2004, p.250), De forma bastante peculiar, este autor conclui “A empresa inovadora não cai do céu, é o meio que a faz nascer” (AYDALOT, 1986).

E para se gerar uma capacidade de inovação, primeiramente é necessário um comportamento autônomo do território, o que subentende controle de sua articulação global. Num segundo momento, a condição estrutural do território deve permiti-lo adaptar- se, viabilizando a criação da “força inovadora”. Perrin (1997, apud MATTEACCIOLI, 2004, p.251) conceitua o meio inovador como uma formação sócio-econômica territorializada capaz de dominar ele mesmo sua evolução e de gerar sua própria estrutura.

“...le ‘milieu innovateur’ apparaît comme ‘une formation socio-économique territorialissé’ que se construit et émerge au fur et à mesure que des interactions et des interdépendances étroites se céent entre entreprises, innovantes et l’environnement d’apprentissage. Em même temps qu’il innove, il se crée lui-même. Le développement, ici, a le sens de ‘maîtrise’ par le milieu local ‘ de sa propre évolution’, de son ‘autogénèse’”.

Em outras palavras, o meio inovador favorece o desenvolvimento de uma aprendizagem coletiva dos processos de negociação (estabelecimento de uma convenção) entre os atores sócio-econômicos locais.

Maillat (1996) caracteriza o meio inovador como um conjunto territorializado no qual as redes inovadoras se desenvolvem a partir do processo de aprendizagem que seus atores executam mediante as transações multilaterais geradoras de externalidades específicas à inovação e a partir da convergência das aprendizagens para formas cada vez mais competitivas de criação tecnológica.

E num cenário de globalização, a abertura externa é um imperativo para que o meio inovador renove (importe) conhecimentos, por meio da consolidação de suas redes. Assim sendo, o meio inovador é aquele capaz de desenvolver vantagens comparativas, ou seja, recursos materiais e imateriais, tais como know-how, capital relacional, confiança, cooperação, estratégias eficazes frente às transformações velozes na economia global (MAILLAT, 1996).

Segundo Vásquez-Barquero (1999, p.111, apud BOISIER, 2001, p.16), o meio inovador caracteriza-se por três aspectos essenciais, que, por sinal, confundem-se, em alguns pontos, com a própria noção de território, tão debatida no tópico anterior:

“a) en primer lugar, hace referencia a un territorio sin fronteras precisas pero que forma una unidad que es el lugar en que los actores se organizan, utilizan los recursos materiales e inmateriales y producen e intercambian bienes, servicios y comunicaciones; b) los actores locales forman, además, una red a través de relaciones y contactos, con lo que se establecen los vínculos de cooperación e interdependencia; c) un entorno local contiene, por último, procesos de aprendizaje colectivo, que le permiten responder a los cambios del entorno a través de la movilidad del trabajo en el mercado local, los intercambios de tecnología de producto, proceso, organización y comercialización, la provisión de servicios especializados, los flujos de información de todo tipo o las estrategias de los actores”

A noção de meio inovador apresenta outras denominações por outros autores. BOISIER (2001) enumera outras conceituações que designam territórios “inovadores” ou que se destacam por algum aspecto diferencial: a) Learning Region – nomenclatura mais utilizada pela literatura inglesa (Michael Storper, Allen Scott, Kevin Morgan, James Simmies, entre outros).

Refere-se a regiões com vantagens econômicas sustentadas pela criação de conhecimento que embasa a estrutura das redes produtivas, a tecnologia local, entre outros aspectos. Estes territórios fazem uso das destrezas locais e buscam construir uma cultural regional de negócios. Nesse conceito, apresentam pouca importância as infra-estruturas físicas, sobressaindo-se o aporte humano e as redes constituídas.

b) Regiões Inteligentes – apesar de pouco precisa e bastante parecida conceitualmente à anterior, esta denominação adquire popularidade entre os autores. Trata- se do território que concentra certo tipo de locais inovadores, criativos e que “aprendem”. Engloba, em sua definição, os fatores que determinam a dinâmica econômica local e, em particular, a natureza dos processos inovadores e os fatores que os estimulam. Esta denominação atrela-se diretamente à própria conceituação de inteligência humana: capacidade de aprender por meio da interação com o entorno.

A despeito de quaisquer outros termos e denominações, o “Meio Inovador” parece apreender melhor, de forma clara e objetiva, a noção de territórios que se destacam por apresentarem características inovadoras e que, portanto, tornam-se locais preferenciais para o desenvolvimento de atividades específicas. Nessa mesma linha de pesquisa, alguns estudos direcionam suas abordagens para a teoria da organização industrial, enquanto outros pendem para a análise de distritos industriais (MAILLAT e PERRIN). Outros autores caminharam no sentido de uma reflexão que considera o território como espaço que oferta recursos gerais e específicos, sendo que justamente estes últimos representariam a inovação (BENKO E PECQUEUR).

O desenvolvimento deste alicerce teórico em torno do meio inovador parece-nos importante para se pensar a região apresentada nesse trabalho, o Aglomerado Metropolitano de Curitiba. Isto porque, este território emerge como nova possibilidade locacional industrial, reproduzindo, em certa medida, algumas características apontadas para o Meio Inovador. Especialmente porque este novo território que se constrói, o AMC, apresenta aportes inovadores que o tornam atrativo aos investimentos que por ora se concretizam.

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