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4. A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, EDUCAÇÃO NO CAMPO E A

4.1 O Trabalho como atividade da existência humana

Antes de tudo, para expor as relações que constituem os fundamentos do trabalho como princípio educativo, com a Educação no Campo e Educação por Alternância, é preciso compreender, em linhas gerais, a relação que essa categoria possui com a história humana.

Para início desse processo de compressão, fazemos alusão ao apontado por Marx e Engels:

[...] a primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a constatar é, sobretudo, a organização corpórea desses indivíduos e a relação por isso existente com o resto da natureza. Não podemos entrar aqui, naturalmente, nem na constituição física que os próprios homens encontraram - as condições geológicas, oro-hidrográficas, climáticas e outras. Toda historiografia tem de partir dessas bases naturais e de sua modificação ao longo da própria história pela ação humana dos homens (MARX; ENGELS, 2009, p. 24).

Nesse prelúdio, é preciso antes de tudo compreender a constatação da existência humana e que esta se relaciona com a natureza em geral. Assim, a categoria trabalho deve ser entendida a partir desses fundamentos no lapso da história. E a ação do homem nesse contexto é uma das formas que o diferencia dos animais, justamente quando começa a produzir seu meio de existência – o trabalho.

O trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele se confronta com a matéria natural como com uma potência natural [Naturmacht]. A fim de se apropriar da matéria natural de uma forma útil para sua própria vida, ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporeidade: seus braços e pernas, cabeça e mãos. Agindo sobre a natureza externa e modificando-a por meio desse movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas forças a seu próprio domínio (MARX, 2013, p. 327).

Segundo Marx (2013), o primeiro pressuposto para a existência humana e de toda história são as condições de viver e fazer histórias, e que por sua vez se constitui no trabalho, dado que para viver o sujeito precisa suprir as necessidades básicas, como: comida, moradia, vestimentas dentre outras. Ademais, o autor menciona também que essas relações da história material do homem, suas relações entre si e com a natureza, se dão por meio do trabalho, sobretudo, porque é a partir dele que se estabelece a conexão da forma da estrutura e da superestrutura de determinada sociedade (MARX, 2013).

Nesse sentido, Marx e Engels ressaltam que a existência humana está condicionada a algumas questões:

O modo como os homens produzem os seus meios de subsistência depende, em primeiro lugar, da natureza dos próprios meios encontrados e a reproduzir. Esse modo da produção não deve ser considerado no seu mero aspecto de reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se já, isto de uma forma determinada de exteriorizarem a sua vida, de um determinado modo de vida dos mesmos (MARX; ENGELS, 2009, p. 24, grifos dos autores).

A produção é algo como inerente à atividade humana, uma vez que ela se constitui,

[...] consciente e intencionalmente, aplicando a sua capacidade física e intelectual, visa adaptar e transformar os recursos naturais ou os criados pelo próprio homem com o fim de satisfazer as suas necessidades, interesses ou desejos sociais. A sociedade não poderia existir nem progredir sem a produção. É inimaginável que pudesse cessar a produção, mesmo por um breve prazo. A produção é uma condição permanente da vida da sociedade. Uma particularidade importante consiste no facto da satisfação das necessidades humanas suscitar, por sua vez, a aparição de novas necessidades, interesses sociais ou estímulos, que influem na produção. Na sociedade estabelece-se assim uma correlação entre as necessidades e a produção (GOMES, 2008, p. 23).

Assim sendo, o trabalho é a condição de existência da vida humana, não se tratando de uma escolha, mas de um processo inerente à existência, dado a necessidade da produção e reprodução da vida material para satisfazer as necessidades que estabelecem relações entre si. E, como bem pontua Marx, em O capital:

[c]omo criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência humana, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e a natureza e, portanto a vida humana (MARX, 2013, p. 120).

Isso porque,

[o] primeiro ato histórico é, pois a produção dos meios necessários para satisfação dessas necessidades, produção da própria vida material, é este é, sem dúvida, um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história [...]. A primeira coisa a fazer em qualquer concepção histórica é, portanto, observar esse fato fundamental em toda a sua significação e em todo o seu alcance e a ele fazer justiça. [...] segundo ponto é que a satisfação dessa primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades- e essa produção de novas necessidades se constitui o primeiro ato histórico. A terceira condição que já de início intervém no desenvolvimento histórico é que os homens, que renovam diariamente sua própria vida, começam a criar outros homens, a procriar a relação entre homem e mulher, entre pai e filhos, a família. Essa família, que no início constitui a única relação social, torna se mais tarde, quando as necessidades aumentadas criam novas relações sociais e o crescimento da população gera novas necessidades [...] (MARX; ENGELS, 2009, p. 33-4).

Os autores ainda argumentam que a produção da vida em sua totalidade se organiza desde o início como uma relação dupla em que de um lado aparece a relação natural, e de outro uma relação social que, por sua vez, nessa última, já se percebe uma cooperação entre os indivíduos em várias situações. Nesse sentido, a história da humanidade deve ser sempre estudada de maneira contextualizada desde o princípio, com vistas em “uma conexão materialista dos homens entre si”.

Para Gomes (2008, p. 17),

[o] trabalho é um processo entre a natureza e o homem, realizado em condições históricas que se modificam, inclusive dentro do mesmo sistema económico, pois o imobilismo não existe na actividade social. Ao trabalhar o homem põe em movimento uma série organizada de acções directas ou indirectas sobre a natureza de modo a separar alguns dos seus elementos das suas conexões com as condições naturais de existência. Os elementos separados tornam-se úteis quer na sua forma natural quer após

as várias mudanças de configuração e de estado que os conduzem à forma final sob a qual são utilizáveis, ou seja, consumíveis.

O conceito de trabalho é, portanto, bastante amplo e complexo, justamente pelas relações que essa categoria envolve. De acordo com Marx e Engels (2007), para estudar a categoria trabalho é importante entender o processo histórico de uma forma concreta, real e objetiva em que os pressupostos não podem ser arbitrários, dogmáticos, nem se pode fazer abstrações a não ser nas reflexões. Isso porque, é realizada por sujeitos reais, e “sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já encontradas quanto as produzidas por sua ação” (MARX, ENGELS; 2007; 86-7), no caso o trabalho, sejam compreendidas.

Tonet (2009, p. 14) também sublinha que:

[e]ntender a história é também apreender as relações contraditórias que vão se configurando entre os homens a partir das formas concretas da produção; como essas contradições vão dar origem a divisão de trabalho, ao surgimento da propriedade privada, à exploração do homem, às classes sociais e a tuta entre elas, ao problema da alienação, bem como a determinadas instituições jurídicas e políticas necessárias a reprodução de cada forma de sociabilidade.

Desse modo, o estudo da categoria trabalho não pode ser realizado de forma descontextualizada, e sim em sua totalidade, compreendendo como se estabelecem as relações com essas categorias ao longo do processo histórico humano. Nas palavras de Tonet (2009, p. 14), “compreender a história é, pois, apreender em cada momento, a articulação que existe entre essas relações materiais de produção e as variadas formas de ideias, valores, normas, relações e instituições que os homens criam no decorrer do processo”.

Segundo Marx e Engels (2007, p. 55-6),

[e]sta concepção da História consiste, pois, em expor o processo real de produção, partindo da produção material da vida imediata; e em conceber a forma de intercâmbio conectada a este modo de produção e por ele engendrada (ou seja, a sociedade civil em suas diferentes fases) como o fundamento de toda a história, apresentando-a em sua ação enquanto Estado e explicando a partir dela o conjunto dos diversos produtos teóricos e formas da consciência - religião, filosofia, moral, etc. - assim como em seguir seu processo de nascimento a partir desses produtos; o que permite então, naturalmente, expor a coisa em sua totalidade (e também, por isso mesmo, examinar a ação recíproca entre estes diferentes aspectos). [...] Tal concepção mostra [...] que, portanto, as circunstâncias fazem os homens assim como os homens fazem as circunstâncias