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CAPÍTULO II PERCURSO METODOLÓGICO

2.4 O TRABALHO DE CAMPO

A coleta dos dados foi iniciada após ter sido autorizada previamente pela Secretária Municipal de Saúde da Serra, pela diretora do Departamento de Assistência Ambulatorial (DAAM), pela coordenadora da Unidade de Saúde da Família de Jardim Carapina e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFES (ANEXO A).

Uma questão importante foi a forma de montagem dos grupos. Uma possibilidade seria utilizar o conhecimento dos funcionários da USF, como os ACSs, para acessar e convidar os possíveis participantes. Entretanto, tendo em vista que haveria um viés decorrente do fato de as pessoas convidadas serem aquelas que estariam vinculadas à UBS (um dos temas a serem avaliados pela pesquisa), optamos por buscar diretamente um contato na comunidade. Dessa forma, após pedir sugestão a alguns funcionários da USF, sobre quem poderia ser nosso informante-chave, fomos colocada em contato com um morador do bairro, engajado nos movimentos sociais da comunidade e que fazia parte da Pastoral Operária.

Ao ser abordado, primeiro por telefone, para pedir permissão para que eu pudéssemos ir pessoalmente à casa dele, colocou-se à disposição em ajudar, e foi escolhido como informante-chave e ponto inicial de uma rede de contatos com os moradores do bairro.

Esse informante-chave foi um dos primeiros proprietários de terreno no bairro, onde mora há nove anos. Aposentado, foi anteriormente tesoureiro e presidente da Associação de Moradores do bairro, hoje ainda é participante. É coordenador da

Pastoral Operária, onde tem convênio com o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH). Entre outras atividades, na Pastoral, envolveu-se na criação de várias cooperativas como a dos pescadores de Jacaraípe,18 e com o SINDIPESCAS. No bairro, a Pastoral encaminha pessoas desempregadas para o CDDH, realizando, também, cursos de capacitação de pedreiros, eletricistas e domésticas.

Solicitamos ao informante-chave que montasse uma lista com cerca de 25 nomes de pessoas pertencentes aos grupos ocupacionais escolhidos. Entretanto, para a lista das mulheres, ele indicou uma moradora pertencente à Pastoral da Criança que, ao ser contatada, também se disponibilizou a ajudar.

Diante da necessidade de testar o instrumento de coleta de dados, aproveitamos um evento da pastoral da criança na Igreja Católica do bairro, ocorrido no dia 16 de dezembro de 2007. Mesmo imaginando as dificuldades que teríamos pela frente – o local não havia sido escolhido para essa finalidade; as pessoas (mulheres) seriam convidadas na mesma ocasião do grupo e seriam pegas de surpresa, provavelmente haveria muitas pessoas no local e com isso barulho, as mães certamente não teriam com quem deixar seus filhos – resolvemos topar o desafio.

Elaboramos um primeiro roteiro com quatro questões-chave tendo como eixo a Taxonomia de Necessidades de Saúde de Matsumoto (1999), quais sejam: necessidade de boas condições de vida; garantia de acesso a todas as tecnologias; necessidade de ter vínculo com um profissional ou equipe de saúde (sujeitos em relação); necessidades de autonomia e autocuidado na escolha do modo de “andar a vida”, na construção do sujeito.

Ao chegar ao local, juntamente com duas colegas que nos ajudaram, fomos, imediatamente, acolhidas pelos organizadores do evento. O único local disponível para a realização do grupo era uma sala com uma janela, que permitia que as mães pudessem olhar seus filhos. No local havia aproximadamente 18 mães e, após explicarmos os objetivos da pesquisa e como funcionaria o encontro, 14 delas concordaram em participar. Dessas, 12 eram exclusivamente donas de casa, e duas também trabalhavam fora.

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Esse grupo de teste da metodologia foi fundamental para determinar o recorte de categorias de trabalhadores que seriam os sujeitos do estudo. Além disso, optamos por readequar o roteiro, utilizando a Taxonomia supracitada como um apoio referencial para a análise dos dados. Esse novo roteiro (APÊNDICE D) foi dividido em quatro momentos: o primeiro se referia ao acolhimento do grupo; o segundo trazia questões referentes à relação do trabalho com o processo saúde-doença; no terceiro, às questões eram referentes às necessidades de saúde e a utilização dos serviços de saúde, em especial, a USF do bairro; e o quarto consistia do fechamento, um momento para que sugerissem como a USF poderia ajudar a resolver as necessidades de saúde deles

Com ajuda dos informantes-chave, pensamos em um local onde os encontros poderiam ser realizados. Inicialmente, foi sugerida a escola do bairro, mas, como haveria dificuldades para marcar os grupos à noite e durante os finais de semana, esse local foi destacado.

Outro lugar que foi sugerido por um funcionário da USF foi uma Igreja Batista do bairro, a qual se mostrou adequada. A responsável pelo local foi muito atenciosa, disse que, se necessário, poderia ser usado à noite e nos finais de semana. Era um local de fácil acesso (na rua principal do bairro) e neutro (pois não era dentro da USF), onde as pessoas poderiam ficar mais à vontade para falar.

O convite às trabalhadoras para participar da pesquisa contou também com a colaboração de uma outra moradora19 e foi realizado nos domicílios, durante três noites. Algumas vezes, a própria trabalhadora nos acompanhava quando íamos convidar outra moradora. Optamos por percorrer o bairro à noite, pois era o horário em que elas eram encontradas mais facilmente em casa. Foram convidadas 19 pessoas.

Durante esses convites, pedíamos que indicassem um horário mais adequado à reunião e solicitávamos um telefone para confirmar o dia e o horário. A maioria indicou sábado à tarde. Assim, o grupo foi agendado para as 16h30min, do dia 26 de janeiro. Como uma das informantes-chave se empenhou muito nos convites e quis

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Solicitamos a ajuda de uma auxiliar de serviços gerais que trabalhava conosco na Secretaria de Saúde para nos ajudar a formar uma rede de contatos.

participar, foi permitido que fizesse parte do grupo, mesmo não seguindo o critério da ocupação.

No dia do encontro, por telefone, reinteramos o convite e confirmamos quem poderia ir. Esse procedimento se mostrou adequado, visto que algumas disseram que tinham esquecido e outras afirmaram que se esforçariam em ir, diante do nosso interesse.

Nessa etapa, contamos com a ajuda de uma relatora. Utilizamos os seguintes recursos materiais: uma filmadora, três gravadores de som (que foram colocados em pontos separados da sala). Na sala havia um quadro-de-giz (para o caso de que se fizesse necessária alguma anotação).

Fizemos um lanche para recepcionar as pessoas e ir “quebrando o gelo”. A princípio, pareciam muito acanhadas e quase não comeram. Participaram 13 mulheres, com média de idade de 34 anos. O APÊNDICE E traz informações acerca da idade, tempo de moradia no bairro e ocupação.

Depois da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), as discussões duraram aproximadamente uma hora e trinta minutos. Durante esse tempo, elas foram se soltando e a participação foi muito intensa.

Fizemos o relatório da reunião, após o encontro, com auxílio das anotações feitas pelo relator. Nesse momento, foram anotadas também as reflexões acerca da dinâmica apresentada pelo grupo, nos aspectos que sucitaram atenção da equipe técnica.

O convite aos homens (dezenove)20 também foi realizado à noite, durante dois dias. Alguns foram feitos em domicílios, outros em bares do bairro, onde fomos acompanhada do nosso informante-chave. Foi permitida, também, a participação do informante-chave no grupo, tendo em vista ser elemento fundamental na rede de relações que se formou. Muitas vezes, o compromisso da participação foi firmado diretamente com ele.

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Repetimos os mesmos procedimentos já adotados. Durante as visitas, pedimos uma sugestão de dia e horário e telefone para confirmação. O dia e horário sugerido foi uma terça feira, após as 19h30min.

Assim, esse grupo se reuniu no dia 29 de janeiro. Também contou com a presença de um relator e os mesmos recursos materiais utilizados no primeiro encontro. Fizemos um lanche para recepcioná-los. Chegaram um pouco atrasados e juntos, o que fez com que achássemos, por alguns minutos, que não compareceriam. Participaram 15 trabalhadores, com média de idade de 40 anos. O APÊNDICE E traz informações a cerca da idade, tempo de moradia no bairro e ocupação.

Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciamos a reunião. Para nossa surpresa, aparentavam estar muito à vontade, dispostos e animados com a oportunidade de falar. As discussões duraram cerca de duas horas. Fizemos o relatório com auxílio do relator.

A transcrição das fitas foi feita e as filmagens realizadas mostraram-se muito úteis. Após a primeira leitura dos dados apreendidos (relatório dos grupos e transcrição das fitas) e algumas reflexões, achamos importante fazer mais um grupo, misto (trabalhadoras domésticas/diaristas e trabalhadores da construção civil) e com menos pessoas, para aprofundar alguns pontos.

Para esse terceiro encontro, não foi possível contar com a colaboração dos informantes-chave anteriores, tendo em vista a premência de encerrar o trabalho de campo. Dessa forma, o informante-chave foi um ACS, que pode nos acompanhar no primeiro dia de visitas para convidar os participantes. Diante de imprevistos no seu trabalho, passamos a realizar as visitas sozinha. Foram convidadas 15 pessoas, mas sentimos que a rede formada estava bem mais fraca.

Os mesmos passos descritos anteriormente foram seguidos. O grupo foi reunido no mesmo local, às 16h, do dia 1º de março, tendo durado 1h30min. Também contou com a presença de um relator e com os mesmos recursos materiais utilizados nos encontros anteriores.

Participaram do grupo quatro trabalhadores e três trabalhadoras, com média de idade de 48 anos. O APÊNDICE E traz informações acerca da idade, tempo de moradia no bairro e ocupação. Não houve a participação do informante-chave neste grupo. Após o encontro, foi elaborado um relatório com a síntese do mesmo, com auxílio do relator.

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