• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4: Apresentação dos Resultados

4.2 O Trabalho Desenvolvido na CPCJ

No âmbito do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na CPCJ, importa saber a opinião das entidades que atuam a montante e a jusante, algumas representadas nas duas modalidades (Restrita e Alargada), de forma livre, acerca deste trabalho, pois desta perceção também depende o sucesso da intervenção.

Iniciámos este tópico com a questão – “O que entende por risco e por perigo?”, tendo em conta que, o risco é parte integrante da condição humana, constitui uma dimensão universal e transversal da existência, na área da infância e juventude, este constitui, obrigatoriamente, por parte dos técnicos, um olhar especifico sobre a criança e/ou jovem, as famílias e todos os sistemas circundantes, que interferem direta ou indiretamente na sua organização.

De um modo geral, constatou-se, nas respostas abaixo indicadas, que os entrevistados partilham uma perspetiva do risco e do perigo bastante semelhante:

“Entendo por risco toda a situação de vulnerabilidade em que a criança/jovem se encontre que, se não for afastada, pode vir a desencadear no futuro perigo ou dano para a segurança, a saúde, a formação, a educação ou o desenvolvimento integral da criança/jovem.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

“(…) o risco, remete à conduta de várias situações negligentes e inapropriadas de forma continua que poderão desencadear perigo.”

44 Ademais, trata-se de um perigo potencial, que coloca as crianças e os jovens numa posição de vulnerabilidade, exigindo, como indicado por alguns dos entrevistados, a aplicação de medidas preventivas que visem evitar esse mesmo perigo.

“Numa situação de risco, o trabalho passa mais pela prevenção de situações de perigo. O risco é algo mais geral, mais abrangente, o perigo requer a aplicação de uma medida de proteção e reparação de eventuais traumas na criança.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

“Numa situação de risco, há a possibilidade de uma determinada situação acontecer, havendo ainda possibilidade da mesma poder ser trabalhada para evitar o perigo.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Assim, o risco é essencialmente entendido como sendo uma situação que ainda pode vir a ser trabalhada pelas entidades de primeira linha, com o objetivo de findar com esta condição. No caso de não ser possível e se verifique que os fatores de risco estão “instalados” passa de uma situação de risco para uma situação de perigo, como refere o Entrevistado 4:

“(…) A manutenção ou a agudização dos fatores de risco poderão, em determinadas circunstâncias, conduzir a situações de perigo, na ausência de fatores de proteção ou compensatórios.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Relativamente ao que entendem por perigo, os entrevistados têm, como mencionado anteriormente, um entendimento idêntico, sendo este considerado como o resultado da prevalência e agudização de situações que põem em causa a satisfação das necessidades básicas das crianças e dos jovens, pelo que exige a capacidade de intervir, protegendo a criança/jovem e impedindo o surgimento e/ou desenvolvimento de traumas.

“Perigo são todas as situações em que haja violação direta dos direitos das crianças e jovens, colocando a descoberto todos os fatores de proteção, sendo de caracter urgente a tomada

45 de medidas por parte dos indivíduos responsáveis e/ou entidades com competência decidir a intervenção necessária á reversão da situação em causa.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ) De acordo com um dos Entrevistados,

“[O perigo é uma] Situação em que a criança ou jovem está já a vivenciar uma situação de perigo, isto é, quando os pais ou seus representantes legais não têm capacidade de assegurar a sua segurança, saúde, formação, educação, ou desenvolvimento, ou quando esse perigo resulte da ação ou omissão de terceiros ou da própria criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo adequado a removê-lo”

Esta definição vai ao encontro do nº1, do artº3, da Lei147/99 de 1 de setembro. Relativamente ao trabalho desenvolvido na CPCJ, e às situações de Risco e/ou perigo, o que se constata, muitas vezes, é uma pirâmide invertida, onde a Modalidade Restrita trabalha situações de risco, seja pela falta de capacidade de resposta das entidades de primeira linha ou pela falta de interesse e especialização dos membros, não se fazendo cumprir com o princípio da subsidiariedade.

Quanto à pergunta sobre os aspetos que consideram colocar as crianças/jovens do concelho de Elvas em situação de risco e perigo, os entrevistados apresentaram diferentes opiniões: enquanto uns destacaram as condições socioeconómicas e de habitabilidade,

“Situações-problema de ordem socioeconómica, precárias condições de habitabilidade, fraca assunção das responsabilidades e competências parentais.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

outros enfatizaram o mau planeamento familiar,

"Um mau planeamento familiar, os elevados casos de famílias reconstituídas; e aceitação por parte de certas famílias de Formação Parental.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

46 “A negligência dos seus pais, aos mais variados níveis, e a inoperância de alguns serviços da comunidade que, poderiam, articulando adequadamente, tentar obstar adequadamente às situações.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

De acordo com Barnett (1997), citado por Maia e Williams (2005:92), afirma que “nenhum outro fator de risco tem uma associação mais forte com a psicopatologia do desenvolvimento do que uma criança maltratada, ou seja, o abuso e a negligência causam efeitos profundamente negativos no curso de vida da criança.”

Deste modo, podemos constatar que são alguns destes fatores de risco, acima mencionados, que muitas vezes perpétua de geração em geração, que têm vindo a ser associados a uma grande variedade de distúrbios físicos e mentais, por parte das crianças e jovens, assim como das suas famílias, com os quais os Técnicos se têm vindo a deparar no âmbito da sua intervenção, de acordo com a resposta do entrevistado abaixo identificado:

“A maior parte das situações que eu tenho acompanhado enquanto entidade de primeira linha, são casos cujo risco decorre de negligência. Na minha atividade profissional enquanto pediatra, tenho observado grande prevalência de Perturbação do Desenvolvimento Intelectual, não só nas crianças, mas também nos seus progenitores. Esta parece-me ser uma das razões bastante frequentes que conduzem a situações de risco e/ou perigo, não só pela incapacidade de perceber situações graves a que os seus filhos possam estar a ser submetidos, como pela fragilidade e facilidade de rutura das relações interpessoais, desde logo nas relações do casal e deste com os seus filhos, e ainda na grande dificuldade de organização das suas vidas familiares e profissionais. Tudo isto contribui para grande instabilidade e propensão para a desestruturação na vida destas crianças e jovens.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Um dos fatores de risco que também é salientado por um dos entrevistados é a violência intrafamiliar, à qual cada vez mais as nossas crianças e jovens vêem sendo submetidas, no seio dos seus lares, verificando-se um prejuízo para o seu desenvolvimento.

47 “Violência no seio familiar, falta de responsabilidade parental, sujeição a situações de negligência, sujeição a situações de maus tratos, dificuldades económicas, etc..”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Malgrado a variabilidade das respostas, a falta de responsabilidade e de competências parentais foi um fator referido por 7 dos 9 entrevistados que compunham a amostra, que segundo Masten e Curtis (2000) e Waters e Soufre (1993), citado por Amen, Soares, Tavares, Caldeira e Carvalho, 2015:10) competências parentais define-se pelo conjunto de capacidades que permitem aos progenitores, proporcionarem um desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social, fundamentais para o desenvolvimento de uma criança e/ou jovem.

Com a inexistência destas capacidades, deparamo-nos comummente com situações de risco, cada vez mais recorrentes, entendidas pelas famílias como situações “normais”.

Quando confrontados com a pergunta sobre as práticas de intervenção utilizadas junto de crianças e jovens em risco enquanto representantes de entidades de primeira linha, os entrevistados deram respostas distintas. Assim sendo, 4 dos 9 entrevistados referiram a importância de estar sensibilizado para identificar situações de risco e de perigo e de as sinalizar, de acordo com um dos entrevistados:

“Sinalização da CPCJ e comunicação de factos ao Ministério Público”

e a procura de apoios, destacando um trabalho articulado, com o objetivo de apoiar as famílias, dotando-as de recursos sociais, intelectuais e emocionais de modo a salvaguardar os direitos das crianças e dos jovens,

“(…) apoio a famílias em situação de carência socioeconómica a saber: apoio no âmbito da ação social escolar, assegurar a articulação entre a CPCJ e o acompanhamento social de famílias carenciadas.”

48 O estabelecimento e reforço das parcerias e a colaboração em rede tendo em vista a articulação de respostas de apoio foram, igualmente, práticas mencionadas como fatores fundamentais para a prevenção de situações de perigo.

“As práticas enquanto entidade de primeira linha deverão ser sempre dentro das suas competências articular respostas de apoio à criança e/ou jovem, e conjuntamente com outras entidades de intervenção na população alvo supramencionada promover ações de prevenção e sensibilização nos diferentes contextos em que estas se inserem, e junto a todos os intervenientes (pais, familiares, professores, etc.) e comunidade.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Também foi referido por alguns dos entrevistados a importância de alertar as famílias para as situações de risco, com o intuito de promover a autonomização das mesmas, bem como a sua consciencialização para a necessidade de proteger as crianças e jovens a seu cargo.

“(…)é importante estar atenta à postura dos pais ou outros cuidadores, à relação mãe/filho, à atitude de proteção dos cuidadores, ao cumprimento das indicações dadas, nomeadamente não faltar de forma injustificada às vacinas ou consultas, aos cuidados de alimentação, de higiene, de estimulação, a capacidade de cuidar da criança, concretamente em situações de doença. É importante avaliar o bom estado geral da criança, a sua evolução estaturo-ponderal e o seu desenvolvimento psicomotor, estes são marcadores indiretos do seu bem-estar. Alertar os pais para situações potenciais de risco, tentar que eles compreendam as situações que podem colocar a criança em risco, encontrar em conjunto formas de colaboração e maior vigilância do seu filho. Em situação de risco mais grave é necessário elaborar um plano de acompanhamento, sinalizando e pedindo o apoio do NHACJR.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Relativamente à questão sobre a sua contribuição para o trabalho da CPCJ, os entrevistados integrantes da Modalidade Restrita consideram, de um modo geral, que a esta está sobretudo associada à gestão de Processos de Promoção e Proteção, isto é, ao acompanhamento dos casos de crianças e jovens em risco, através do fornecimento de apoio técnico e do desbloqueamento de constrangimento dentro dos serviços.

49 “Considero que o trabalho desenvolvido pela modalidade restrita é fulcral nas CPCJ, sendo o seu “coração”, e o elemento que permite a execução de apoio e acompanhamento a casos de risco e perigo de crianças e jovens em cada cidade do nosso País.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ) A par da intervenção direta, alguns técnicos da Modalidade Restrita salientaram também o seu contributo para o desenvolvimento e promoção de atividades de sensibilização sobre comportamentos de risco junto da comunidade em geral. De igual modo, os técnicos integrantes da Modalidade Alargada centraram as suas respostas na realização de ações de prevenção de situações de risco, por meio do esclarecimento e consciencialização dos diversos elementos da sociedade, com um papel importante na formação e proteção das crianças e jovens.

“(…) A modalidade alargada deve desenvolver um trabalho muito importante principalmente na comunidade, sendo a equipa responsável pela sensibilização e prevenção de temáticas importantes de alerta para comportamentos de risco, contribuindo para a diminuição dos mesmos.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Quanto à opinião dos Comissários relativamente ao facto de as CPCJ funcionarem com os recursos humanos disponibilizados pelas entidades de primeira linha em matéria de infância e juventude, 6 dos 9 entrevistados, salientaram que o contacto direto que as entidades de primeira linha têm com as crianças/jovens permite obter um conhecimento mais detalhado da situação em que estas se encontram, assim como identificar precocemente situações de risco.

“Parece-me bem, porque as entidades de 1ª linha estão numa posição que lhes permite detetar situações de risco. Por exemplo, as escolas têm um lugar privilegiado na deteção inicial de casos. Uma vez sinalizada a criança e porque só trabalhando em rede se consegue sucesso, faz todo o sentido trabalhar em articulação com as entidades.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

A multidisciplinaridade das equipas técnicas e a sua especialização em diferentes áreas são também entendidas pelos entrevistados como pontos positivos da existência de recursos humanos de entidades de primeira linha na CPCJ.

50 “Faz-me todo o sentido que na Comissão se encontrem elementos de várias entidades de 1ª linha, cada um trará sabedoria, sensibilidade e especificidades da sua área o que só poderá enriquecer a equipa.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Embora compartilhem, globalmente, uma visão positiva a respeito deste ponto, alguns entrevistados destacam a importância de existir funcionários e técnicos dedicados de forma exclusiva ao trabalho levado a cabo pela CPCJ. De facto, grande parte dos entrevistados considera que os recursos humanos das entidades de primeira linha nem sempre podem disponibilizar o tempo necessário para garantir o bom funcionamento da CPCJ.

“Todas as CPCJ deveriam conter funcionários e técnicos só para esse efeito, uma vez que todos os membros possuem outras funções que por vezes não permitem disponibilizar todo o tempo que seria necessário para o funcionamento correto da Comissão.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Ao contrário daquilo que era a intenção da lei, que previa a disponibilidade de tempos e recursos por parte das entidades locais, com o objetivo de promover o funcionamento da Modalidade Alargada, o que se verifica é uma desresponsabilização dos serviços, que alegam motivos como a falta de recursos, que outrora diziam poder disponibilizar mas que na prática não se verifica.

“(…) a constituição da equipa técnica está muitas vezes dependente da vontade dos dirigentes das várias entidades que, por défice de recursos humanos tomam decisões que prejudiquem o normal funcionamento da CPCJ.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Acabando por ser a Modalidade Restrita da Comissão que, apesar dos seus tempos de afetação reduzidos e o elevado volume processual, são obrigados a dinamizar as ações de prevenção que estão previstas no Plano de Ação.

51 De acordo com alguns entrevistados a profissionalização e redefinição dos tempos de afetação seria extremamente benéfica para a concretização do objetivo da Comissão: salvaguardar o bem-estar e a segurança das crianças e jovens em situações de risco e perigo.

“Insuficiente. Na minha opinião as Comissões deveriam ter técnicos próprios (com prestação de serviço ou a contrato) consoante o volume processual. Caso o volume processual fosse reduzido prestariam serviço a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens limítrofes.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

“Acho que o espírito da Lei foi a responsabilização e o envolvimento do Estado e da própria comunidade nestas questões, no entanto, considero que a intervenção no âmbito da modalidade restrita poderia beneficiar com a profissionalização dos recursos.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

De acordo com os artigos 12º, 14º, 15º, 16º, 17º, 19, a 22º, 25º, 26º, 27º e 28º da LPCJP, a consagração legal das CPCJ teve em conta as disposições gerais relativas à sua natureza, composição, apoio logístico e competências através da mobilização de recursos da comunidade territorial. Apesar da comunidade territorial ser imprescindível para prevenir e minimizar problemas societários locais, a verdade é que a mesma comunidade territorial apresenta uma postura individualista, centrada nos objetivos inerentes à sua área de intervenção, descurando com o compromisso assumido, vigente na lei, no âmbito da promoção e proteção dos direitos das crianças e jovens. Esta ideia egocêntrica dos serviços, gera uma lacuna nas CPCJ no que concerne à área da prevenção.

Quando questionados sobre a sua opinião relativamente ao trabalho desenvolvido pelos comissários da Modalidade Restrita e da Modalidade Alargada, 2 dos 9 entrevistados consideram que os técnicos da Modalidade Alargada nem sempre se demonstram sensíveis ao trabalho efetuado pela Modalidade Restrita. Além disso, para estes entrevistados, os técnicos da Modalidade Alargada desconhecem as suas obrigações e negligenciam o seu papel no âmbito da promoção de ações de sensibilização, asseguradas, muitas vezes, pela equipa técnica da Modalidade Restrita.

52 “Relativamente ao trabalho da Modalidade Alargada considero que, os serviços de origem não se mostram, em regra, sensíveis ao trabalho desenvolvido pelos elementos que integram a Modalidade Restrita da CPCJ de Elvas, notando-se, no entanto, uma evolução positiva nos últimos tempos. Competindo à Comissão Alargada desenvolver ações de promoção dos direitos e de prevenção das situações de perigo para a criança e jovem, tem sido maioritariamente a equipa técnica da Modalidade Restrita a desenvolver atividades do âmbito da prevenção.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Passados onze anos do Estudo de Diagnóstico e Avaliação das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens realizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa (Torres, 2008), onde se constatava que as Modalidades Alargadas tinham um funcionamento muito deficiente, realçando em tom geral, a falta de mobilização e iniciativa por parte dos seus membros, estando assim o trabalho dependente dos membros da Modalidade Restrita, podemos constatar que pouco evoluímos, pois continuamos a depararmo-nos com esta quase total inoperância.

“De uma forma geral o trabalho dos comissários da CPCJ de Elvas tem vindo a ser desenvolvido com grande profissionalismo e afinco, no entanto, existe ainda muito trabalho por fazer, primordialmente no âmbito da Modalidade Alargada. Acredito, que os Técnicos quando são designados pelas suas entidades para pertencer à Comissão, desconhecem quais as suas obrigações e competências, acreditando muitas vezes que a sua nomeação visa apenas a mera comparência em reuniões, e não mostrando motivação para contribuir para uma verdadeira cultura de prevenção primária.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Apesar da CPCJ de Elvas reunir com periodicidade superior à prevista na lei, as reuniões, na maioria das vezes, não excedem o caráter informativo/expositivo do trabalho desenvolvido pela Modalidade Restrita.

No entanto, esta opinião a respeito da Modalidade Alargada não é partilhada na totalidade pelos restantes entrevistados, que reconhecem um esforço por parte dos técnicos que a compõem em desenvolver atividades no âmbito da prevenção.

53 “(…) Relativamente à comissão alargada, considero que está a ser desenvolvido o trabalho bom naquilo que é a competência desta modalidade, nomeadamente a prevenção.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Um dos entrevistados volta a reforçar a ideia de que acaba por ser a Modalidade Restrita o motor para o desenvolvimento de ações de prevenção/ sensibilização, previstas na lei, devido à inoperância dos membros da Alargada, retirando tempo crucial para o desenvolvimento dos processos de promoção e proteção.

“Os comissários presentes nas duas modalidades, restrita e alargada, acabam por gerir processos e promover ações de prevenção, retirando tempo e dedicação à gestão dos casos. Relativamente aos comissários da Modalidade Alargada que têm como principal dever desenvolver ações no âmbito da prevenção, caberá a cada representante das entidades promover ações preventivas.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

A verdade é que é da competência da Modalidade Alargada assumir o papel de catalisador de uma cultura de promoção e proteção dos direitos das crianças e jovens, na organização e mobilização de recursos da comunidade, na divulgação, na prevenção e na promoção desses mesmos direitos, partindo do relatório anual disponibilizado pela Modalidade Restrita em reunião. O que se verifica, muitas das vezes, é que poucos são os temas submetidos a debate e à organização de trabalho conjunto, com o objetivo de criar respostas preventivas para as crianças e jovens assim como para os seus cuidadores.

No que concerne ao trabalho da Modalidade Restrita, todos os entrevistados, em maior ou menor grau, consideram que esta tem desenvolvido um trabalho de grande qualidade, dentro das suas possibilidades, garantindo o acompanhamento e aplicação das medidas de promoção e proteção e fomentado a articulação com outras entidades.

“Acho que o trabalho desenvolvido pela Comissão Restrita, no âmbito da proteção das crianças e jovens, é muito importante. Na verdade, são estes comissários quem, a seguir às

54 entidades de primeira linha, intervêm na proteção dos direitos das crianças e dos jovens, apreciando as situações de que tenham conhecimento, instaurando processos, fazendo o atendimento das pessoas intervenientes, solicitando pareceres técnicos, informações escolares e sociais para decidirem pela aplicação, ou não, de medidas de promoção e proteção. Trata-se, enfim, do braço operacional da estrutura de promoção e proteção.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

“Os comissários da Comissão na sua Modalidade Restrita têm desenvolvido um trabalho de grande qualidade.”

(Entrevistado, Membro da CPCJ)

Um dos entrevistados, apesar de reconhecer o bom trabalho desenvolvido pela Modalidade Restrita, destacou a falta de fiscalização do Ministério Público como um ponto negativo para a garantia qualidade dos serviços prestados.

“Relativamente ao trabalho da Modalidade Restrita considero que tem existido da parte da equipa técnica um esforço empenhado na gestão dos processos com grande preocupação numa intervenção articulada (nem sempre concretizada) em sintonia com as várias entidades implicados assim como no respetivo acompanhamento na execução das medidas aplicadas. Considero, no entanto, que, não existe da parte do Ministério Publico um acompanhamento efetivo da atividade

Documentos relacionados