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O trabalho docente nas publicações científicas

CAPÍTULO III A Significação da docência EBTT nos institutos federais

3.2 O trabalho docente nas publicações científicas

Segundo MANCEBO (2007), trabalho docente passa a se apresentar como objeto de estudos no Brasil a partir dos anos setenta, quando as temáticas com orientação marxista focavam, prioritariamente, a natureza da docência, sua organização e gestão. Nos anos oitenta, houve uma mudança de foco e de orientação, passando grande parte dos estudos a adotar fundamentos culturalistas. Dos anos noventa em diante, o interesse passa a ser mais direcionado para o “fazer docente”.

A autora deste texto observa esse caminho de pesquisa com base em análises de trabalhos publicados sobre o tema trabalho docente em publicações da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Trabalho Docente (REDESTRADO/CLACSO) e em anais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED).

MANCEBO (2007) indica que as políticas educacionais na América Latina tiveram grandes influências no direcionamento dos olhares de pesquisa e, no contexto dos anos 90, os temas mais recorrentes na produção acadêmica giraram em torno do trabalho docente, em especial: i) da sua precarização; ii) de sua intensificação; iii) da sua flexibilização; iv) da descentralização gerencial; e v) da avaliação.

As principais críticas sobre o tema, conforme a citada autora, abordavam questões como: o empobrecimento da noção de conhecimento, a excessiva valorização da prática docente e o engrandecimento das competências.

A referida autora (2007) atenta que, nesse movimento de pesquisas, há críticas ao momento histórico (anos 90), quando o papel da produção de conhecimento e as demandas para a ciência e tecnologia são revistos em um contexto de reestruturação

do mundo produtivo, repensando-se a divisão internacional do trabalho e o papel das nações centrais e periféricas.

Além dessa abordagem sobre temas e problemas referentes ao objeto trabalho docente, MANCEBO (2007) faz questão de destacar questões relacionadas à metodologia utilizada mediante uma reflexão sobre duas delas, que considera importantes: o demasiado foco na totalidade que acaba limitando qualquer possibilidade de se perceber resistências à hegemonia imposta na totalidade ao trabalho docente e o foco que supervaloriza as subjetividades e singularidades momentâneas que no limite da empiria acaba por desprezar a teoria.

MORAES e SOARES (2005), ao tratarem do empobrecimento do conhecimento e do trabalho docente, observam que esse movimento de supervalorização de subjetividades e singularidades momentâneas, descrito por MANCEBO (2007), consiste numa tendência de desqualificação e desvalorização da formação docente cuja formação profissional se articula diretamente ao desenvolvimento de competências e não mais com saberes ou conhecimentos, passando o professor a ser o centro do processo de formação em detrimento de sua formação.

Segundo ela, essa forma de tratar a relação conhecimento & trabalho docente é resultado de reajustes na base de produção capitalista em um contexto de crescente divisão do trabalho, de separação entre as tarefas de concepção e de execução,de tendência de rotinização de tarefas mais qualificadas e de crescente controle sobre as etapas do processo de trabalho.

Ressalte-se que, segundo MORAES (2003, 2004), o ceticismo epistemológico tem relação com a agenda pós-moderna e tem implicações no trabalho educativo. Esse ceticismo ataca a ideia de sujeito moderno, afirmando que não existe mais um indivíduo com um núcleo essencial de identidade e sim a fragmentação das individualidades em constante dissolução. Mediante esse ataque, critica categorias como: sujeito, humanismo, desenvolvimento, progresso, conhecimento de mundo, historicismo, razão, universal e verdade, ao compreender que elas não se sustentariam no crivo do real.

Assim sendo, a ideia de um sujeito capaz de conhecer e dominar a realidade não se faz possível, uma vez que essa possibilidade se limitaria à apreensão do imediato, remetendo valor para a prática imediata e espontânea como processo

construtor da realidade. Todavia, essa forma de pensar interfere na compreensão do papel do conhecimento, da escola e do trabalho docente. Além disso, ao realizar a crítica a esse movimento, a autora defende o resgate da teoria, alegando que sua importância e necessidade são mais que atuais.

AVILA (2011), ao buscar apreender “As Transformações do Trabalho Docente mediante a produção escrita da ANPED (1996-2009)”, observa que grande parte dos textos questiona a formação docente e o decorrente desempenho profissional centrados na experiência do professor em detrimento do conhecimento, da teoria e da formação pedagógica. Além de analisar a intensificação do trabalho e a prosperidade do mercado liberal e o modo como esse processo reforçou a exploração dos trabalhadores, a perda de direitos sociais, a desigualdade social e a alienação. A citada autora observa, ainda, que, nos referidos textos, há uma preocupação com o processo de privatizações e de terceirização presente nas políticas educacionais e na condução do trabalho docente para a intensificação e para a precarização por debilitarem as ações coletivas e de solidariedade.

Em “A Pesquisa em Trabalho Docente na ANPED: um estudo sobre a produção do GT 09 no período de 2005-2008”, MOTA JÚNIOR e TAVARES (2010) observaram que a produção científica sobre trabalho docente se apresentava pequena no contexto observado. Embora demonstrasse interessante rigor teórico-metodológico, revisitando temas, categorias e abordagens, ela foi perdendo espaço com a crise de paradigmas durante aos anos de 1980 a 1990. Além disso, ao mesmo tempo, novos estudos se faziam presentes como consequência das problemáticas trazidas pelas políticas públicas resultantes de reformas de Estado e de reestruturação produtiva do capital.

Os referidos autores analisam, também, a retomada da perspectiva marxista, recolocando, no campo de discussão, a centralidade do trabalho como elemento fundante das relações sociais e a necessidade da categoria das classes sociais e das análises macrossociológicas. Em síntese, essa perspectiva coloca em xeque todo o arcabouço teórico do pós-modernismo, definido como a lógica cultural do capitalismo tardio (JAMESON, 2002)21.

Do mesmo modo, apontam como relevante a produção recente da ANPED sobre o trabalho docente, indicando a urgência de prosseguir na disseminação de mais pesquisas e produções científicas acerca das suas condições de realização na atualidade. Da mesma forma como se fazem necessários estudos sobre os impactos que as políticas públicas e as transformações no mundo do trabalho trazem para esses sujeitos determinantes para o processo educativo, que são os docentes.

Em “Representações do Trabalho Docente na ANPED: análise da produção científica” Leda, Ribeiro e Ávila (2010) observaram que, ao se discutirem os conceitos de profissão, profissionalidade, profissionalismo e desenvolvimento profissional, muitos trabalhos apresentaram preocupação com a formação e o desempenho profissional no magistério, questionando o direcionamento das atividades pedagógicas. Alertaram, então, sobre a valorização da prática em detrimento da teoria e sobre a preocupação com o particular no incremento do individualismo e da fragmentação. Para elas, muitos trabalhos não faziam uma articulação tão ampla que considerasse a influência das dimensões estruturais e históricas na desvalorização do conhecimento e do saber pedagógico.

Além do mais, as autoras observam que, em trabalhos com um perfil marxista mais crítico, as temáticas foram: as transformações no mundo do trabalho e seus reflexos no trabalho docente; a intensificação das forças produtivas e a prosperidade do mercado liberal; o modo como esse processo tem reforçado a exploração dos

trabalhadores; a perda de direitos sociais, a exclusão e a alienação; a ideologia da competência, o individualismo, a competitividade e a exploração subjetiva.

Igualmente importante é observar que ambos os textos apresentados por ÁVILA (2010, 2011) corroboram as críticas realizadas por MANCEBO (2007) em relação a temáticas e metodologias em comum nos trabalhos analisados sobre trabalho docente. Reservadas as devidas proporções de análise, diante da não coincidência entre os objetivos e anos analisados, ao aprovarem o apresentado por MANCEBO (2007), divergem do apresentado por MOTA JÚNIOR e TAVARES (2010).

Nos trabalhos analisados por esses autores, ressaltam a retomada da perspectiva marxista e a recolocação no campo de discussão da centralidade do trabalho como elemento fundante das relações sociais e a necessidade da categoria das classes sociais e das análises macrossociológicas, colocando em xeque todo o

arcabouço teórico do pós-modernismo. Para a autora desta tese, isso parece destoar do alertado por ÁVILA (2010, 2011).

De acordo com os autores citados, há um processo de minimização do estado social de forma distinta no Brasil em governos com um viés abertamente liberal (Fernando Henrique Cardoso) e com um viés autodenominado social (Lula e Dilma), trazendo consequências diretas à atuação docente nas instituições de ensino federal. Como resultado disso, faz-se constante a denúncia da mercantilização do ensino, da

precarização, da intensificação e da desvalorização do trabalho docente.

Questões diretamente relacionadas à regulamentação desse trabalho, no que tange à organização da carreira, da profissão, da estrutura de trabalho, dos salários e da avaliação docente.

Em relação ao trabalho docente nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, o texto “Complexidade do Trabalho: Aportes sobre a Atividade Docente nos Institutos Federais” de SILVA e MELO (2014), ao discutirem o enredamento desse trabalho, eles destacam algumas transformações havidas nas últimas décadas (anos 1990 e 2000) e abordam as especificidades existentes no contexto dos institutos federais (IFs).

Analisam o movimento geral de transformações sofridas pelo trabalho docente na história desde a tomada, por parte do Estado, da organização da escola, incluindo os distintos papéis e funções da escola e da docência. Com isso, procuram compreender a natureza e as especificidades do trabalho docente no âmbito dos IFs, observando que, nesse contexto, o trabalho docente acumula funções antes exercidas em dois ambientes distintos: o da universidade e o do ensino básico.

Ressaltam, ainda, um aspecto peculiar que é o de aproximar o trabalho

docente ao desenvolvimento dos arranjos produtivos locais (de onde as instituições estão localizadas), visto por alguns estudiosos, de acordo com as

autoras, como flexibilização e intensificação do trabalho docente, além de sua proximidade com um movimento de privatização da educação profissional.

Ao concluir o texto, as mencionadas autoras alertam para a necessidade de aprofundamento de estudos sobre a temática “trabalho docente nos IFs”: “Sugere-se a abertura de novos estudos, que busquem retratar e analisar essa problemática como

objeto de estudo, dando voz, sobretudo, aos próprios trabalhadores docentes que atuem nessas instituições e suas organizações sindicais (SILVA e MELO, 2014).

Em levantamento em bancos (Capes, USP e BDTD) de teses e dissertações sobre o tema, verificou-se que, atualmente, essa tarefa tem sido realizada. Entretanto, ao se executar a busca, nesses bancos, utilizando-se do termo “significação da docência EBTT”, não se obteve retorno relativo a qualquer trabalho sobre esse tema, ocorrendo o mesmo, ao se refazer a busca com o termo “docência EBTT”. Por outro lado, encontram-se alguns trabalhos relacionados a essa questão, quando se pesquisa o termo “EBTT”, que será tratado no próximo tópico.

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