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A obra Ontologia do ser social: o trabalho, de Györg Lukács, é referência básica para as discussões relativas à centralidade do trabalho na constituição do ser social. Para o autor húngaro, o modelo de toda práxis social encontra-se no trabalho. É na relação entre homem e exterioridade material (a ação reguladora da objetividade externa) que o ser social surge. O processo de trabalho concreto inclui a projeção de fins e a organização de meios. O homem afasta-se do animal à medida que reconhece as cadeias causais e atua na natureza em busca de fins. É o ser teleológico e autônomo em relação à natureza e a seus instintos que vemos nascer.

Nessa relação com o meio, a consciência do homem é formada. Para Lukács, enfim, a humanização do homem passou pelo trabalho. É aos primórdios que Lukács se dirige para compreender a atividade laboral, e não a partir dos pressupostos econômicos da sociedade industrial de sua época. O autor busca o processo mais fundamental da humanização e idealiza a figura de trabalhador, associando-a ao surgimento do próprio homem.

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A tese desenvolvida por Lukács não deixa dúvidas de que ele dialoga diretamente com Marx e Engels na tentativa de construir uma versão prática e teórica do glorioso trabalho central e essencial na vida humana. O projeto de escritura da ontologia, que se delineia na década de 1960, faz parte de um objetivo maior do autor: escrever um volume sobre “O lugar da ética nas atividades humanas”25

. Para esse propósito, havia a necessidade de reconhecer e definir o sujeito que deve assumir o comportamento ético, e isso ocorreria somente no processo de trabalho. O autor húngaro pretendeu construir um sistema filosófico, apoiado nos grandes clássicos do passado, como Aristóteles, Hegel e Marx, mas não sem tecer críticas ao caráter metafísico da teoria hegeliana, bem com questionar a noção abstrata da Economia Política, enquanto força produtiva, muitas vezes assumida pelos marxistas ortodoxos e dogmáticos. Ele pretendeu, portanto, fugir às abstrações e resgatar para a atividade do trabalho seu caráter de essência, lugar onde ele, o trabalho, existiria sem contestações. Lukács intenciona tratar o trabalho fora dos pressupostos econômico-mecanicistas, para entendê-lo como protoforma das atividades humanas, num processo de humanização do homem. Na trajetória da Ontologia, o autor destaca o papel central das teorias de Hegel, quem reconheceu primeiramente a importância do processo do trabalho como atividade essencialmente humana, embora sua formulação idealista tivesse bases no plano abstrato, diferentemente de Karl Marx, que compreendeu o trabalho enquanto ação humana concreta no mundo.

Além das referências no campo da Filosofia, Lukács, homem de seu tempo, encontra-se diante de grandes avanços e descobertas das ciências naturais e biológicas, principalmente pesquisas em paleontologia e antropologia, que visam a resgatar os primórdios da vida e desenvolvimento humano. Nesse contexto, o caráter biológico, orgânico é reconhecido como uma das forças atuantes na complexidade do gênero humano e que, embora não possa ser menosprezado, pouco responde a respeito da questão ontológica para o autor. De qualquer forma, a nossa realidade biológica suscita no autor o desafio de enfrentar a complexidade que envolveu a transformação do animal em ser social partindo do biológico. O discurso científico biológico teria o poder de justificar e autenticar qualquer

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Informações iniciais extraídas da Introdução, de autoria de Antonio Infranca e Miguel Vedda, à 1ª edição da Ontología del ser social : El trabajo em espanhol, publicada pela Editora Herramienta, em Buenos Aires, Argentina, em 2004.

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argumentação que recorresse às suas teorias já então bem fundamentadas e pouco questionadas.

O livro Ontologia do ser social: o trabalho apresenta-se dividido em quatro partes: introdução; o trabalho como posição teleológica; o trabalho como modelo da práxis social; e, por fim, a relação sujeito-objeto no trabalho e suas consequências. Nessa obra, Lúkacs propõe uma teoria da práxis humana baseada no processo do trabalho concreto, de onde emerge o ser social, e não mais o animal que respondia instintivamente às demandas de adaptação ao meio natural. Esse ser é aquele capaz de projetar fins, alcançados graças à organização de cadeias causais postas por ele, para agir com mais autonomia e liberdade sobre a natureza e ver, assim, numa relação dialética26, surgir uma consciência não mais epifenomênica, mas essencial nessa mudança de si, pois resultado das ações concretas dos homens em sua prática cotidiana.

Por outro lado, como qualquer grande obra que ousa instaurar novas perspectivas de conhecimento sobre nossa humanidade, alguns dos argumentos e conclusões do autor inquietam-nos e merecem uma discussão crítica, ainda mais quando tratam de questões como a natureza e constituição da consciência e a fragmentação da complexidade da condição humana ao eleger o trabalho, um único elemento, como atuante maior na promoção do ser social. Embora Lukács afirme sua preocupação metodológica em analisar o ser social em seu caráter de complexidade, atribui à linguagem, e consequentemente à consciência, e também ao fator biológico, um papel coadjuvante na trajetória evolutiva do homem.

A primeira grande discussão nos remete ao fator biológico e sua importância como categoria ontológica. Lukács destaca o biológico, embora, mais tarde, coloque-o numa esfera inferior da evolução. Os saltos na evolução do homem dependem dos traços biológicos, afirma o autor, mas eles só podem expressar os estágios de transição e não o salto mesmo, aquilo que provocou a mudança qualitativa na espécie humana. Por isso, para o autor, os estudos darwinistas foram

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O método dialético apresenta-se para Lukács como procedimento universal para a constituição do ser e da realidade material. Para o autor, há relação entre uma continuidade que já tem sua existência (ser) e uma descontinuidade sempre dada pela prática, cujo processo faz surgir uma complexidade cada vez maior, e não uma síntese acaba e final. Essa visão sobre dialética em Lukács combate uma perspectiva mecanicista da história e das relações sociais. Mesmo com essa ressalva, já apresentamos no capítulo anterior nossa perspectiva cautelosa quanto a esse método.

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vãos. No entanto, entendemos que cada estágio da evolução do ser é um complexo de fatores indissolúveis que conta com a articulação entre diversas atividades, como linguagem, sociabilidade, cooperação, divisão do trabalho e imposições (limitações?) de caráter biológico. O próprio Lukács irá afirmar, mais ao final da obra, que não se pode anular o biológico no homem, posto que é fato ontológico imodificável. (p. 155)

São recorrentes também, na obra, os exemplos e comparações entre o comportamento dos homens primitivos e dos animais superiores. Diferentemente dos humanos, os animais trabalham, mas não com ferramentas criadas por eles. Além disso, não há, no contato entre animal e natureza, a constante construção de uma consciência capaz de reconfigurar as etapas da cadeia causal posta a determinado fim e empregá-las em outro contexto; nem mesmo há uma capacidade biológica própria aos animais, como no homem primitivo já havia, de perceber as características latentes de cada objeto para uma futura adequação aos fins postos no processo de trabalho. Segundo Lukács, os exemplos que por vezes tentam contrariar esse argumento referem-se às experiências com animais em ambientes artificiais, nos quais eles estariam fora do contexto de sobrevivência e de perigos naturais de seu habitat e que, por isso, poderiam desenvolver uma consciência primitiva. A sedução desse argumento não nos afasta de algumas questões: teria o biológico do homem alguma característica ontológica não encontrada em nenhum outro animal? Em Lukács, essa dúvida aparece no embate entre os discursos científicos biológico e social, que ora se confrontam, para vermos exaltar-se o aspecto social sobre o biológico que é primitivo e esclarece pouco sobre a humanidade do homem; ora se inter-relacionam para explicar melhor nossas necessidades e predisposições biológicas exclusivas próprias ao desenvolvimento de uma consciência capaz de planejar.

Esse procedimento de comparação entre homem primitivo e os demais animais geralmente desemboca no problema do “retrocesso dos limites naturais”, já apontado por Marx, e que entende ser impossível voltar ao início da evolução humana, pois o caráter histórico do ser social é irreversível; apenas caberia à experimentação intelectual e não à experimentação real. Portanto, Lukács se propõe a resgatar e assumir o método marxiano dos dois caminhos: decompor a complexidade do ser de forma analítico-abstrata e depois retornar à totalidade real para verificação, a fim de evitar permanecer no plano da abstração.

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Nessa decomposição, o trabalho assume o papel de fenômeno originário, modelo do ser social, no qual o homem se constitui. Enfim, o salto na evolução humana, portanto, está no processo do trabalho. Mais do que isso, segundo Marx, o trabalho é o primeiro intercâmbio do homem com a natureza. Também Engels considerou o trabalho central para o homem, quando destacou a função vital das mãos na produção de ferramentas. O desenvolvimento do homem não se enquadra numa dialética mecanicista, pois há rupturas, ressignificações e reestruturações em cada estágio de desenvolvimento do homem, que não é linear e não é simples sucessão de saltos. A ontologia do ser é assimilar cada acréscimo de maneira qualitativa, de forma a reorganizar suas potencialidades.

Nesse ponto da argumentação, Lukács descreve o trabalho humano como posição teleológica. Significa reconhecer que o homem, antes de executar o trabalho, faz um planejamento do fim, colocado pela consciência, e organiza os meios mais adequados para alcançá-lo. Essa capacidade é própria do homem. O trabalho é modelo de toda práxis social, pois há posições teleológicas de ordem material, ou seja, a passagem do ideal ao real. Segundo o autor húngaro, outros autores, como Aristóteles, Hegel, pensaram a teleologia de forma abstrata, ou procuraram responder às questões ontológicas de forma epistemológica, como Kant, para quem o ato de conhecer estaria no sujeito, não em algo exterior a ele. Somente Marx, segundo Lukács, considerou o trabalho como o único ponto em que se pode demonstrar ontologicamente uma posição teleológica – todo trabalho é impossível se não for precedido de uma posição tal que determine o processo e as suas etapas. Só existe ser social, para Marx, porque a posição teleológica exerce nele um efeito real.

A teleologia e a causalidade, apesar de heterogêneas, não se excluem, segundo o autor húngaro, no processo do trabalho. O pensamento de Aristóteles considera essa relação: o trabalho apresenta dois componentes: pensar (projeto intelectual) e produzir (realização material). O ser em si dos objetos dispostos no mundo material não faz, por si só, deduzir o que podemos deles fazer e a partir de que meios conseguir utilizá-los. Quem faz isso é o homem, com seu projeto intelectual, com seus meios e fins. O trabalho é mais evoluído quanto mais o homem percebe as propriedades do objeto, dadas de maneira causal natural, e o transforma graças a um planejamento que prevê meios e fins. A força da água, por

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exemplo, que utilizada ordenadamente pelas civilizações, pode ser transformada em energia canalizada. Ainda que a força das águas já esteja presente na natureza, sem necessidade de atuação humana, a utilização e administração dessa potência dependem do trabalho humano que, por sua vez, é um agir teleológico. Na compreensão de Lukács, tanto o fim quanto os meios são etapas imprescindíveis para a realização do trabalho real. No entanto, o autor, baseado nos argumentos de Hegel, enxerga nos meios um papel diferenciado na construção do ser social porque os considera ligados ao conhecimento e domínio da natureza. O meio também é mais importante porque é a chave para explicar as fases da evolução humana e suas escolhas voltadas à práxis.

Além disso, a investigação dos objetos, dos meios para um fim, seria a gênese da ciência, ou seja, as abstrações e generalizações surgem no trabalho, na práxis social. No processo de trabalho concreto e individual o fim domina e regula os meios, pois está diretamente relacionado às necessidades do homem. Mas, para o autor húngaro, parece haver uma inversão no processo de trabalho real pensado na continuidade da história do homem, sua evolução e complexidade histórica: o conhecimento adequado dos meios tem mais durabilidade que a satisfação dos fins. É a partir da tendência de investigar os meios na preparação e realização do processo do trabalho que surge o pensamento cientificamente orientado. Por isso, para Lukács, a ciência tem ligação com o trabalho há muito tempo.

Lukács ainda destaca que, para Marx, a supremacia do meio se impõe justamente pela sua conexão com o social. O homem transforma a natureza e isso provoca nele uma mudança essencial para sua constituição de ser social: a consciência do homem deixa de ser um epifenômeno27, no sentido ontológico, com o trabalho. A consciência nos animais é factual, mas é débil e auxiliar, biologicamente direcionada. Há diferenças entre a consciência do animal e do homem na relação com o seu entorno. Quando o animal se relaciona com o meio, responde às necessidades biológicas apenas. Não há alternativas para ele. Já no homem, ser social, a consciência percebe a realidade e tem características de possibilidade.

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Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o termo epifenômeno, no contexto, pode significar: 1. Produto acidental, acessório, de um processo, de um fenômeno essencial, sobre o qual não tem efeitos próprios; ou ainda 2. (FIL PSIC) na reflexão de alguns cientistas, psicólogos behavioristas e certos filósofos materialistas ou positivistas, a consciência humana, fenômeno secundário e condicionado por processos fisiológicos, e, portanto, incapaz de determinar o comportamento dos indivíduos. (Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 2001)

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Mais adiante em seu texto, Lukács procura compreender a relação entre realidade e seu reflexo na mente do homem. O homem é capaz de representações, de perceber visualmente as propriedades das coisas e a pensar alternativas para o seu agir final. O reflexo (representação) tem uma realidade própria na consciência, e é premissa da presença de fim e de meio no trabalho. Reflexo passa do não- ser ao ser ativo e produtivo ; “realidade” na consciência é uma nova objetividade e não a própria realidade, e não uma idealização. A consciência, com isso, não pode ser entendida como uma abstração. Ela é capaz de antecipar alternativas e, nesse processo, impor às coisas uma causalidade social, não apenas natural, ao instaurar cadeias causais pensadas para o trabalho. O que o autor não responde, mesmo porque não se trata de seu objetivo, é como sustentar uma consciência que planeja meios e fins, pelo reflexo da realidade, sem que haja uma relação simbólica dada pela linguagem. Qual a substância dessa consciência?

Para Lukács, enfim, o modelo de práxis social é o trabalho e o modelo de ser social é o trabalhador. Ao defender seu posicionamento, ousamos indicar uma idealização construída pelo autor da figura do trabalhador como aquele que é autofundado pela superação das barreiras naturais, que domina seus afetos e vícios, como a preguiça, e que facilmente pode ser reduzido, embora essa não seja a pretensão do autor, a um mero produtor de ferramentas, sozinho em sua relação com o objeto de sua atenção. Onde estariam os outros homens? O ser social não deveria passar pela interação intersubjetiva? Qual o papel da linguagem, do simbólico na ontologia do ser social? Preparar a ação no pensamento, como entende Lúkacs com a teleologia do trabalho, é possível sem linguagem?

Entendemos que estas questões estão longe de serem respondidas de forma simplista, e nem pretendemos chegar a uma conclusão definitiva. Mas carece indicar que, contrariamente ao que afirma Lukács, a linguagem não se resume à expressão adequada dos fenômenos da realidade, nem mesmo pode seguir no espaço limitado entre sujeito e objeto, posto que a realidade fundamental da linguagem, como bem definiram os filósofos da linguagem Bakhtin/Voloshinov28, é dada pela interação entre os homens. Ainda que o autor da Ontologia atribua importância à linguagem no salto do ser natural para o ser social, entende-a derivada do processo de trabalho,

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posterior à dinâmica do ser social, quando assume o papel de fixar a práxis pela representação.

Com relação ao papel assumido pelos outros sujeitos no processo primário da teleologia do trabalho, vale destacar que para Lukács somente na forma ulterior da práxis social parece haver cooperação entre os indivíduos, e não nas formas primárias de teleologia. Contrariamente entendemos que o processo instaurador do ser social é um complexo que inclui as posições teleológicas do trabalho, mas também as construções e trocas simbólicas entre os homens que não estão fora do mundo real, e que nem todas elas podem ser facilmente subsumidas às posições teleológicas tais como aparecem no processo do trabalho. As relações e manifestações de afeto, por exemplo, não poderiam estar fora do modelo de práxis social pelo trabalho? Parece-nos que não seria possível na compreensão do autor, uma vez que a consciência é gerada para o, no e pelo trabalho. É certo que através do trabalho o homem modifica a realidade; mas só há trabalho com posição teleológica, com planejamento. E a consciência sem linguagem não parece ter substrato para planejar a ponto de construir possibilidades para a ação humana, a não ser que possamos considerar que é possível separar pensamento e linguagem, no que, definitivamente, não acreditamos exatamente por repudiar a concepção de que a linguagem seria mero veículo para o pensamento.

A questão teleológica no processo do trabalho remete ainda à preocupação de Lukács, em sua obra, em definir o dever-ser em contraposição à visão idealista que Kant desenvolveu sobre esse tema, como um imperativo categórico universal sobre a moral a ser alcançada por sujeitos abstratos. O dever-ser tem caráter ontológico e precisa ser entendido na práxis, diante das alternativas dadas em contexto real. Como as coisas devem ser? Como devo agir? São perguntas cujas respostas, para Lukács, encontram-se na objetividade externa, nas possibilidades apresentadas pela posição teleológica do trabalho.

O exterior, o objetivo, o material (a ação reguladora da objetividade externa) ganham uma proporção assustadora em Lukács, a ponto de anular qualquer subjetividade singular que não seja resultado do processo de trabalho na práxis social. Deveria ser possível concluir que, pela opção materialista tomada pelo autor, o trabalho real fosse discutido e desmascarado em suas formas de exploração e precariedade, insatisfação e mecanização. Deveria trazer à luz questões do

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desemprego, das desigualdades sociais geradas pela sua submissão ao assalariamento e pela sua condição de desgaste físico e moral quando afastado da dignidade no trabalho. Ao contrário, vemos construída uma imagem idealizada do processo de trabalho que, embora seja a “máquina a mover a sociedade capitalista produtora de bens” que garante nossa subsistência (e nossas extravagâncias), parece-nos não mais coincidir com a posição teleológica do trabalho que propiciou à humanidade o salto para a realidade do ser social. Embora o autor tenha demonstrado uma real participação do trabalho na constituição do ser social, sua proposta de elevar o trabalho à condição de protoforma de todas as demais atividades humanas também contribuiu para o discurso das naturalizações, que pretende justificar atos e vontades humanos e torná-los indiscutíveis. Assim, a tentativa de resgatar uma visão positiva do trabalho tornou-o destinação humana, a verdade maior dos últimos três séculos em nossa sociedade.

No Brasil, sob forte influência das teorias de Engels, Marx e Lukács, os estudos sobre a centralidade do trabalho na atual sociedade encontram no pensamento do professor Ricardo Antunes uma força ainda viva. Partindo da afirmação da existência de uma classe-que-vive-do-trabalho, o professor contrapõe- se a algumas teses que defendem o fim do trabalho vivo (2010, p. 200). Apesar de reconhecer as profundas mudanças ocorridas no mundo do trabalho ao longo das últimas décadas – desemprego, precarização do trabalho, flexibilização das atividades, exploração, introdução de novas tecnologias, desmobilização sindical – a proposta do autor é reafirmar a permanência do trabalho, uma vez que persistem as bases econômicas próprias de uma sociedade produtora de mercadorias e serviços. Antunes defende o trabalho concreto como aquele que “cria coisas socialmente úteis” e que, ao mesmo tempo, “transforma o seu próprio criador”. Assim o autor pressupõe a possibilidade de emancipação humana pelo trabalho, desde que ele seja pensado fora da lógica do sistema produtor de mercadorias, num “processo de

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