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O tratado de Maastricht

No documento MAJ João Domingos (páginas 30-33)

CAPÍTULO III – A UNIÃO EUROPEIA

III.2. A EVOLUÇÃO RECENTE DA U NIÃO E UROPEIA

III.2.1. O tratado de Maastricht

Com a entrada em vigor, em 1 de Novembro de 1993, do Tratado da União Europeia (TUE), assinado em 7 de Fevereiro de 1992 em Maastricht, a construção europeia ganha uma nova dimensão. A Comunidade Económica Europeia, transforma-se numa União Europeia, ganhando dimensão política, e é doravante baseada em três pilares. O pilar comunitário (Apd F – O Pilar Comunitário), regido pelos procedimentos institucionais clássicos, faz intervir a Comissão, o Parlamento, o Conselho e o Tribunal de Justiça; gere essencialmente o mercado interno e as políticas comuns. Os outros dois pilares envolvem os Estados-membros em domínios caracterizados até então como sendo da competência exclusivamente nacional: a Política Externa e de Segurança Comum, (PESC), e a Justiça e Assuntos Internos (JAI), tais como a política de imigração e de asilo, a polícia e a justiça. Com o tratado de Maastricht, estão criadas as condições para se atingir o “objectivo real e imediato” dos tratados comunitários iniciais, e dá-se o primeiro passo para o objectivo “virtual ou potencial” dos mesmos tratados.

Deste tratado destaca-se o seguinte (Hen, 2002):

- O alargamento das competências comunitárias, podendo assim a UE, definir políticas para a indústria, redes transeuropeias de infra-estruturas, saúde, educação, cultura e cooperação para o desenvolvimento, respeitando o princípio das identidades nacionais;

- Definição de uma PESC, na qual se prevê, a prazo a definição de uma política de defesa comum, compatível com a OTAN, sendo a UEO9 utilizada para a elaboração e concretização das decisões da UE;

- O reforço da cooperação entre os Estados Membros nos domínios da JAI;

- A criação de uma União Económica e Monetária (UEM), correspondendo a esta uma política monetária única, gerida pelo Banco Central Europeu (BCE);

As negociações que antecederam este tratado, foram realizadas de maneira considerada célere, mas as tradicionais rivalidades e tendências definidoras de uma linha continental oposta a uma

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Na década de 90 esta organização sofre uma grande transformação. Portugal e Espanha aderem à UEO em 1990, a Grécia em 1995. Como Membros Associados aderem em 1992: Islândia, Noruega e Turquia; em 1999, Rep. Checa, Hungria e Polónia. Como Membros Observadores, em 1992, Dinamarca, e Irlanda; em 1995 Áustria, Finlândia e Suécia. Como Parceiros Associados, em 1994, Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia, Eslováquia e Eslovénia em 1996.

linha atlantista, fizeram-se sentir, quando as disposições relacionadas com a PESC se negociavam.

Ao aproximarmo-nos do final dos anos oitenta, as mudanças a Leste foram as circunstâncias a marcar o ritmo da integração europeia. Com a implosão da URSS, os EUA afirmam-se como única superpotência. O final da guerra fria trouxe as ilusões de uma paz duradoura, e concretizam-se as mais drásticas mudanças no sistema internacional, que vão desde a reunificação da Alemanha à democratização dos países de Leste. A viragem histórica da política soviética vai claramente obrigar os doze a acelerar o processo de integração política e económica, uma vez que era necessário dar resposta adequada à nova situação do sistema político internacional. “A necessidade de ancorar a Alemanha na CEE, passou então a surgir com grande frequência como elemento justificativo de toda esta aceleração” (Silva, 1993, 125).

A Guerra da Golfo e mais tarde a guerra civil Jugoslava, vão dar mais dois impulsos ao aprofundamento político, uma vez que fizeram emergir de forma dramática a debilidade da CEE, e vão influenciar decisivamente o debate sobre a PESC, nomeadamente em matéria de segurança. A segurança da Europa, que tinha estado na génese das Comunidades, surge novamente como questão central no debate sobre o futuro. ”Uns pretendiam uma entidade europeia de defesa subordinada à União Europeia, outros defendiam a preservação do papel da OTAN, e consideravam fundamental a presença das tropas americanas na Europa, advogando o desenvolvimento do papel da UEO como entidade autónoma, mas fazendo a ponte entre a OTAN e a UE”(Silva, 1993, 129).

É em Novembro de 1991, quando a OTAN revê o seu conceito estratégico, que se vai conseguir encontrar o compromisso consignado no tratado de Maastricht. Este reflecte a procura de um equilíbrio entre as vertentes Europeísta continental e atlântica, na definição da nova arquitectura de defesa. A vertente continental procura quebrar os laços com os EUA e levar os europeus a encarregarem-se da sua própria segurança. A corrente atlantista considera que, apesar de ter desaparecido a ameaça soviética, subsistiam riscos, pelo que a manutenção do laço transatlântico continuava a ser essencial. “Reconhecendo-se a necessidade de reforçar a identidade europeia em matéria de segurança e a prazo também de defesa, estabelece-se a UEO como componente de defesa da UE, e garante-se a compatibilidade com a OTAN. A UEO é o pilar europeu dentro da OTAN, e o reforço da UEO significa o reforço da Aliança” (Silva, 1993, 129).

Em relação à política externa, ao serem definidas áreas de definição comum, não significa que cada estado membro perca o seu direito de iniciativa, ou que sejam postas em causa as tradicionais vocações neste domínio. As acções comunitárias serão cumulativas e não substitutas das políticas externas dos Estados. Ou seja, haverá, se for decidido por unanimidade, uma

política externa comum, não uma política externa única. O tratado de Maastricht, vem ao encontro das pretensões Portuguesas (Silva, 1993).

Aquando da assinatura deste tratado, agendou-se para Março de 1996 uma primeira revisão, que se concretizou numa Conferência Intergovernamental (CIG), cujos trabalhos terminaram na Cimeira de Amesterdão, tendo sido adoptado um novo texto que revia o Tratado da União Europeia. Assinado em Outubro de 1997, o tratado de Amesterdão entra em vigor em Maio de 1999. No ano seguinte reúne-se uma nova CIG com a finalidade de modificar as instituições europeias, preparando-as para o alargamento a Leste. A conferência terminou na Cimeira de Nice, tendo o tratado com o mesmo nome sido assinado em Fevereiro de 2002, entrando em vigor em 2005 (Costa, 2002).

Nenhum destes tratados traz modificações fundamentais ao tratado de Maastricht. Constituem o desenvolvimento lógico das opções ali tomadas, tendo neste sentido, implementado importantes mecanismos que permitiram concretizar a UEM, desenvolver a PESC, e adaptar a tomada de decisão da UE, de modo a esta estar apta a acolher novos membros (Suécia, Finlândia e Áustria em 1995), e a proceder ao maior alargamento de sempre em 2004.

III.2.1.1. A Política Externa e de Segurança Comum

Desde o Tratado de Roma, a Comunidade Europeia pode estabelecer relações internacionais com países terceiros. Possui personalidade jurídica internacional, ou seja, a possibilidade de assinar Tratados. Mas até ao Tratado de Maastricht, essa capacidade só se manifestava no plano económico. Inscrevia-se normalmente no quadro da política comercial comum, com vista a concluir acordos com países terceiros relacionados com direitos aduaneiros, acordos de associação, ou acordos de cooperação económica e de ajuda ao desenvolvimento. Porém, embora não possam ser separados dos objectivos da política internacional, todos estes acordos continuam a ser, acima de tudo, de natureza económica. O Tratado de Maastricht tenta acabar com esta situação, no âmbito da PESC. Apesar da política externa ser do domínio de cada estado membro, a UE deve chegar tanto quanto possível a estratégias comuns, posições comuns, acções comuns, decisões e declarações (Anexo A –Os Instrumentos Específicos da PESC). Estes são os instrumentos que a UE dispõe, e que lhe permitem agir a uma só voz, no âmbito da cena internacional, tomando posição sobre conflitos armados, sobre os Direitos do Homem, ou acerca de qualquer outro assunto ligado aos princípios fundamentais e aos valores comuns em que a UE assenta os seus alicerces e que se comprometeu defender. Conforme iremos detalhar, o processo de tomada de decisão instituído, cuja regra é a unanimidade, raras vezes permite à UE tomar uma posição acerca de qualquer assunto. Por isso é voz corrente afirmar que a UE é um “gigante económico e um anão político”. Seja como for, dificilmente se pode imaginar o estabelecimento

de uma Política Externa sem a instauração de uma Política de Defesa e um Instrumento Militar credíveis.

No documento MAJ João Domingos (páginas 30-33)

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