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2.2 O turismo e o espaço rural

2.2.2 O turismo inserido na discussão da sustentabilidade

A discussão sobre a sustentabilidade no desenvolvimento de atividades turísticas surge mais fortemente na década de 1980, quando o modelo “turismo de massa”, desenvolvido intensamente nas décadas de 50, 60 e 70 começa a ser questionado.

Segundo Brüggmann (2001), no final da década de 80, os estudantes de cursos superiores e profissionais da área de turismo, influenciados pelo “Relatório Brundtland”, começaram a incluir nas suas atividades a discussão da sustentabilidade.

De acordo com a Global Conference on Business and the Environment (Globe’92), citado por Ruschmann (1994), o turismo sustentável prevê:

“a gestão de todos os ambientes, recursos e comunidades receptoras, de modo a atender às necessidades econômicas, sociais, vivenciais e estéticas, enquanto que a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais e a diversidade biológica dos meios humanos e ambiental são mantidos através dos tempos.”

Dantas (2000) destaca que a atividade turística possui relações próprias que integram todos os setores produtivos, caracterizando-se como um sistema. Desta forma, atualmente, o turismo é estudado principalmente sob o enfoque

sistêmico para descrever tanto o fenômeno como os seus componentes. Já para Acerenza (1991), o turismo é um fenômeno eminentemente social, dando origem a várias atividades como transportes, alojamento, alimentação e outras, que geram uma série de efeitos econômicos, sociais, culturais e ecológicos sobre o ambiente. Uma vez que os efeitos econômicos são os mais evidentes, o turismo acaba, contudo, sendo entendido como um fenômeno econômico.

Tourism Concern (1992) define o turismo sustentável como aquele turismo que, juntamente com infra-estruturas associadas, pode – tanto no presente, como no futuro – operar dentro da capacidade natural para possibilitar a regeneração e produtividade dos recursos naturais; reconhecer a contribuição das pessoas e da comunidade, costumes e estilos de vida para a experiência turística; aceitar que estas pessoas devem receber uma parte eqüitativa dos benefícios econômicos do turismo; e ser guiado pelas necessidades da população e comunidades receptoras.

Segundo Manning & Dougherty (1996), a realização da Conferência Global sobre negócios e meio ambiente (Globe’92), em Vancouver (British Columbia), em 1992, originou uma declaração contendo os passos para que o turismo se torne ambientalmente sustentável. São eles:

“ - criar uma organização nacional institucional para o turismo sustentável, incluindo uma estratégia de desenvolvimento em longo prazo e a criação de uma política mais segura e estruturas de planejamento;

- proteger os recursos centrais de base para o sucesso da indústria; - estabelecer associações de fornecedores do turismo com as comunidades locais e com a iniciativa privada para a construção de um turismo sustentável;

- desenvolver um melhor inventário e sistemas de monitoramento para ambos os recursos de base e as ações de turistas;

- utilizar melhores tecnologias e “design” para minimizar os impactos negativos;

- tirar vantagens do mercado a favor de um produto turístico “verde”; - desenvolver padrões para a indústria e encorajar a colaboração, em todos os níveis, no desenvolvimento e na implementação de efeitos mecanismos reguladores”.

Segundo o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) 1994, o turismo sustentável é um modelo de desenvolvimento econômico que foi concebido para assegurar a qualidade de vida da comunidade; proporcionar satisfação ao turista e manter a qualidade do ambiente do qual dependem tanto a comunidade como o turista. O PNMT (1994), através do Guia para Oficinas de Treinamento dos Agentes Multiplicadores e dos Monitores, apresenta alguns benefícios do turismo sustentável, sendo eles:

“- incentiva a consciência em relação aos impactos sobre o meio ambiente natural, cultural e humano;

- assegura uma justa distribuição dos custos e benefícios;

- proporciona a criação de empregos, quer diretamente no setor turístico, quer nos diversos setores de apoio e de gestão dos recursos;

- estimula a criação de empresas domésticas lucrativas: pousadas e outras instalações de hospedagem, restaurantes e outros serviços de alimentação, meios de transporte, produção de artesanato, serviços de informação e guias;

- gera a entrada de divisas estrangeiras no país e a injeção de capital e de dinheiro na economia local;

- diversifica a economia local, principalmente em áreas rurais onde o emprego agrário pode ser esporádico ou insuficiente;

- estimula melhorias nos meios de transporte locais, nas comunicações e na infraestrutura básica da comunidade;

- cria instalações recreativas que podem ser utilizadas tanto pela comunidade local como pelos turistas nacionais e estrangeiros;

- estimula e ajuda a custear a preservação dos locais arqueológicos, dos bairros e dos edifícios históricos;

- pode estimular a utilização produtiva dos terrenos marginais;

- melhora a auto-estima da comunidade local e fornece oportunidade para uma maior;

- compreensão e comunicação entre pessoas de diversas origens;

- supervisiona, avalia e administra o impacto que tem sobre o ambiente e desenvolve métodos confiáveis para definir responsabilidades e combater quaisquer efeitos negativos”.

Todas as definições anteriores levam em conta a necessidade do estabelecimento de limites de utilização de espaços turísticos: a "capacidade de carga". A identificação deste aspecto em relação ao meio ambiente é extremamente relevante na discussão do turismo sustentável. O PNMT (1994) considera que capacidade de carga é a utilização máxima de qualquer lugar sem efeitos negativos nos recursos naturais; sem o comprometimento da satisfação do turista e sem

impactos adversos sobre a sociedade, a economia e a cultura local. Os limites da capacidade de carga podem ser difíceis de determinar, mas são essenciais para o planejamento do turismo e da recreação. A capacidade de carga do turismo inclui aspectos físicos, biológicos, sociais e psicológicos.

Segundo o PNMT (1994), existem três tipos distintos de limitação na capacidade de carga:

“- biofísico (ecológico) – referente ao meio ambiente natural;

- sócio-cultural – que se relaciona principalmente com os impactos na comunidade anfitriã e respectiva cultura;

- equipamentos e serviços que se relacionam com a experiência do turista”.

Além disso, o PNMT (1994) também afirma que a capacidade de carga varia conforme a estação do ano e a fatores, tais como:

“- comportamento dos turistas;

- projeto e a gestão de estabelecimentos turísticos; - uso adequado dos recursos;

- caráter dinâmico do ambiente ;

- mudança de atitude da comunidade anfitriã”.