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2.3 O TURISTA ESTRANGEIRO NO CARNAVAL DE OURO PRETO

Ouro Preto sempre foi repleto de turistas. Desde as épocas barrocas, já há depoimentos de estrangeiros a respeito das festas de Reisado. Johann Moritz Rugendas (1802/1858), um dos mais famosos desenhistas de imagens pictóricas brasileiras do século XIX, vai a Ouro Preto, depois de se separar da Expedição Langsdorff e retrata uma festa de Congado, onde há a representação da festa, da Igreja de Santa Ifigênia, dele mesmo e de Chico Rei.

Em 1924, Mario de Andrade faz sua primeira viagem a Minas Gerais, a histórica "Viagem da descoberta do Brasil". Durante a Semana Santa, Mário visita Belo Horizonte, Congonhas do Campo, Sabará, Ouro Preto e Mariana, em companhia de Oswald e seu filho Noné, Tarsila do Amaral, D. Olívia Guedes Penteado, René Thiollier e Godofredo da Silva Teles, ciceroneando o poeta Blaise Cendrans. Conhece jovens escritores mineiros ligados ao modernismo, entre eles, Carlos Drummond de Andrade, iniciando com este sua longa série de correspondência.

Na década de 1920, Mário de Andrade e outros intelectuais realizaram uma série de viagens culturais com o intuito de “redescobrir” o Brasil. Nesse processo, a “redescoberta” da cidade de Ouro Preto adquiriu significado especial para os modernos como a autêntica expressão da cultura brasileira. A redescoberta de Ouro Preto é um dos grandes feitos do modernismo. Mário de Andrade esteve lá. Oswald de Andrade escreveu os famosos versos sobre os profetas de Aleijadinho. De Manoel Bandeira é a crônica “De Villa Rica de Albuquerque a Ouro Preto dos Estudantes”, primeiro núcleo daquilo que será mais tarde o indispensável Guia de Ouro Preto. Vieram as páginas de Carlos Drummond de Andrade. Vieram os serviços de Rodrigo Melo Franco de Andrade e basta este caro nome para revelar o sentido profundo dessa (...) descoberta: em Ouro Preto conquistou o Brasil Moderno sua consciência histórica”.

94 Nas primeiras décadas de sua atuação nos centros tombados, a SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico Nacional) elegeu o colonial como marca e a cidade de Ouro Preto - monumento nacional desde 1933 - como padrão para o patrimônio nacional. O “barroco” foi usado como uma espécie de sinal totêmico da identidade cultural brasileira a partir da “redescoberta” de Ouro Preto e foi interpretado pelos intelectuais como predecessor do estilo “moderno”, por ser considerado detentor de valores “universais” como o movimento moderno.

O Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, que vai assumir a representação do seu país na França a partir de 2009, disse à imprensa que gostaria de levar no coração a cidade de Ouro Preto, como lembrança de seu período de três anos no país. Ele visitou Ouro Preto diversas vezes e recebeu do prefeito Ângelo Oswaldo de Araújo Santos a Medalha de Aleijadinho, que evoca o patrono das artes no Brasil. Quando a jornalista Christina Lemos, da TV Record, lhe perguntou “que pedacinho do Brasil o Sr. levava”, Francisco Seixas da Costa disse: “Sem a mais pequena dúvida, Ouro Preto. Eu sou um “mineiro adotivo”... Em Ouro Preto está um Portugal que já não temos, uma memória daquilo que nós fomos. Ouro Preto ajuda-me a perceber Portugal. Aliás, eu, para perceber Portugal, precisei viver no Brasil”.

Foi no Carnaval de 2006 a visita a Ouro Preto. A cidade já demonstrava seu clima de festa desde nossa chegada, na quarta-feira anterior ao carnaval. Fomos eu e Simone acompanhados de nossa filha, Lais, que tinha na época apenas 3 anos. Ficamos hospedados no Famoso Restaurante Boca da Mina, de propriedade de Dona Mariazinha e sua filha, Bia Lima. A família tinha um apartamento para receber convidados, nos deixando a vontade. A grande vantagem para a pesquisa, foi estar ao lado do restaurante, que na verdade trata-se da entrada da famosa Mina de Chico Rei. Como a visita à Mina é parada obrigatória para turistas, principalmente estrangeiros, as entrevistas no local eram realizadas diariamente. O horário de

95 funcionamento do estabelecimento era das 11 da manha as 17 horas. Os turistas chegavam, visitavam a mina e depois almoçavam no agradável restaurante. Antes do almoço, era obrigatório os turistas tomarem uma caipirinha ou uma cachaça pura, com torresmo ou outra iguaria mineira. Nesse âmbito boa parte das entrevistas foram feitas. Este foi o local onde os turistas podiam responder as perguntas com mais tempo, por escrito, pensando nas respostas. Isso possibilitou também uma boa abordagem na variedade de turistas, já que todos os tipos visitam a Mina de Chico Rei.

Além desse, a cidade nos reserva outros locais onde havia possibilidade de entrevistas. Os turistas chegam diretamente na Praça Tiradentes. Os guias, em sua maioria nativos que não tiveram treinamento profissional, abordam todos os forasteiros, sejam eles brasileiros ou estrangeiros. A primeira abordagem é sobre local para estadia. Hotel? Pousada? O que o Senhor precisa? Vai um guia? Essas são as primeiras palavras que turistas escutam a respeito da cidade. Na Praça Tiradentes também há uma grande quantidade de turistas durante o dia todo. Muitos de passagem, outros sentados ao pé da estátua de Tiradentes, observando o movimento.

O terceiro lugar onde foram feitas entrevistas foi na Praça da Reitoria, mais conhecida como a Prainha, ao Lado do Centro de Convenções. O próprio local do Centro de Convenções esta agora sendo usado para um Carnaval de Salão, chamado Espaço Folia. Este espaço contempla os que saboreiam o Axé, sendo este um Carnaval fechado, com a compra de Abadás. As perguntas a que foram submetidos os entrevistados foram as seguintes:

1.Esta é a primeira vez que você vem ao Brasil? Como foi feita sua escolha de vir para cá? Porque para o Brasil?

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2.Qual a imagem que você tinha a respeito do Brasil antes de vir para cá? 2. Qual a impressão que você tem do Brasil agora?

4. Quais as coisas que mais o surpreenderam até agora?

3. Descreva e comente aspectos de sua vivência como turista no Brasil, durante o Carnaval, que considere mais significativos e marcantes.

Os depoimentos integrais estão em anexo. As Unidades de Sentido encontradas nos depoimentos dos turistas estrangeiros em visita a Ouro Preto foram os seguintes:

1- Brasil Tropical

2- Surpresa com Ouro Preto e o Barroco 3- Presença predominante de jovens 4- Tamanho do Brasil

5- Tamanho do Carnaval

A seguir apresenta-se as Categorias de Unidades de Sentidos discriminadas por depoimento: 1. Brasil Tropical - A – B – D – F – G - I

2. Surpresa com Ouro Preto e o Barroco D – E – F – G - J 3. Presença predominante de jovens - A – C – E – F - H - J 4. Tamanho do Brasil A - C – D – K

5. Tamanho do Carnaval - B - H – I – J

Dando continuidade, foram destacados fragmentos dos depoimentos relacionados com as unidades de sentido com significado para o investigador, seguido de interpretações – Unidade Modificada (U.M.).

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1. BRASIL TROPICAL

Relato A – “A imagem que tinha do Brasil estava muito ligada ao calor e a praia, mas queria

conhecer um pouco mais do país”.

Relato B – “A primeira vez que vim para o Brasil foi para Florianópolis, no verão”. Relato D - “Pensava que era maioria de selva”.

Relato F - “ A imagem que tinha do Brasil era mais da Amazônia, porque em nosso país a principal

questão hoje é a ambiental”.

Relato G - “A imagem que tinha do Brasil antes de vir para cá era de um país alegre, com muita

praia e calor”