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o l ugar de t roca coMo criador de i Nteração

2. l ugar de t roca

2.1. o l ugar de t roca coMo criador de i Nteração

“Todo o tema de arquitetura corresponde a um elemento da forma da cidade, cada um tem uma função própria que está estritamente ligada à vida da coletividade, e é esta que o propõe de novo com base no conhecimento e memória do tema”.20

A conjugação de determinados elementos singulares, bem como a sua relação com a malha urbana, perfazem o lugar, sendo que a organização do espaço do Mercado compreende as várias raízes antropológicas intrínsecas que possibilitam a sua regeneração. O que inicialmente se definia como um espaço elementar dominado pelo homem vai, progressivamente, estruturando-se e estabilizando-se através da formalização de atividades, resultando no lugar de troca, apoiado pelos objetos e elementos que definem o espaço.

O lugar de troca elementar nasce, portanto, da organização dos elementos construídos e da limiaridade de uma atividade cuja ritualização temporal aviva os lugares, definindo o ciclo de vida das comunidades.

Considera-se, por isso, que o lugar de troca se define como espaço aberto à atividade económica, mas também à comunicação, à permuta de vivências e ideologias. Um espaço fundamental para a estrutura da cidade que em muito se aproxima à noção de praça. Um espaço que ultrapassa a dimensão física, criado para dar lugar à sociabilização e ao manifesto cultural e político. Um lugar que contribui para a articulação entre o edificado, espaço público e território.

Foram vários os autores que estudaram o tema da praça mas importa sublinhar a análise da professora Madalena Silva21 que começa por fazer uma separação, a

nível morfológico e estrutural, entre a praça aberta, relacionada com a ágora grega, e praça fechada, associada ao fórum romano. Estabelece, por conseguinte, outros grupos referenciais, fundamentados em campos estruturais distintos: praça de centro/ praça de transição, que enfatizam a ideia de centro e que aludem à noção de porta; praça fachada/praça volume, que têm que ver com edifícios de exceção e que são elas próprias edificadas; e praça sequencial/praça isolada, que incorporam o sistema articulado de composição viária ou que são desenhados como elementos isolados da paisagem. Esta categorização contribui para a definição de três carateres de praça que, segundo a autora, são aplicadas às “praças para a cidade contemporânea portuguesa – 20 MONESTIROLI, Antonio, La arquitectura de la realidade, Ediciones del Serbal, Barcelona, 1993, p.16.

Mercado Municipal de Amarante: Diálogo entre Arquitectura e Cultura

Fig 3. Dia de Mercado, Amarante, década de 1970

2. o lugarde troca

a praça geográfica, a praça estrutural e a praça relacional” 22.

A praça - ou lugar de troca – surge na história da cidade como um espaço cívico, ao serviço da cidadania - das pessoas - concebido como lugar de estar, assumindo funções nas cerimónias civis e religiosas, mas que ultimamente se transforma em lugar de transição/atravessamento, devido, sobretudo, ao ritmo frenético do crescimento das cidades. A praça deve ser considerada como lugar projetado, informado por diferentes fatores de caráter social e filosófico, um lugar com um sentido mais intimista e qualificador do espaço. Para tal qualificação, torna-se impreterível este campo pluridisciplinar, pois “se é fatal a participação de todos os homens na organização do espaço, tal participação só conduzirá à harmonia na medida em que ela se transforme em colaboração e colaborar significa agir em comum, com uma mesma intenção, com um mesmo sonho” 23.

A praça constitui, então, um modelo de espaço de particular interesse pela sua especificidade, diversidade, mas também pela forma como provoca sensações e emoções, classificando-se como imagem marcante das cidades em que se insere. Abordar a tipologia torna-se necessário, neste estudo e ainda que sucintamente, como enquadramento do tema enquanto questão e problemática do projeto no campo da teorização arquitetónica. Para Carlos Martí24, o mercado surge como forma urbana e como espaço que equaciona a forma, utilidade e rito, estabelecendo esta tipologia, juntamente com os espaços religiosos, como um lugar de expressão de uma cultura. O autor refere-se ao mercado como exemplo para demonstrar como um tipo construído se torna reflexo e caracterizador do uso/função do edificado. Já Pevsner enquadra-o na secção dos edifícios para trabalho organizado. Na História das Tipologias Arquitectónicas25, Pevsner dedica um capítulo aos Mercados mas

associa-os às estufas e edifícios de exposições. Posteriormente, faz nova abordagem à história dos Mercados com um capítulo sobre lojas, armazéns e grandes armazéns. Através destas incursões na História, Pevsner apresenta dois grupos de Mercado: um influenciado pelo mercado romano, com praça encerrada definida por edifício-recinto cobertos que se organizam em espaços aproximadamente retangulares, e outro 22 Idem, p. 217.

23 TÁVORA, Fernando. Da Organização do Espaço, Porto, FAUP Publicações, 1999, p.88.

24 MARTÍ ARÍS, Carlos. Las Variaciones de la Identidad – Ensayo sobre el Tipo en Arquitectura, Ediciones Serbal,

Barcelona, 1993, p.80.

25 PEVSNER, Nicolaus. História de las topologias arquitectónicas. Biblioteca de Arquitectura. Editorial Gustavo Gili,

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2. o lugarde troca relacionado pelo mercado oriental que se funde com a cidade através de estruturas lineares de loggias cobertas ou de rua26. Carbonara27 classifica os mercados como objeto edificado e integra-os na mesma categoria de exposição e feiras. Decorrentes da forma e uso/função, os mercados são para Carbonara um bom exemplo para se perceber, da melhor forma, a conjugação dos vários elementos que perfazem o projeto de arquitetura, isto é, as distribuições internas, a dimensão, a iluminação, entre outros. Embora as observações sejam distintas, os autores chegam a classificações caracteristicamente semelhantes, salientando que o tema não é escasso, dando ênfase à relação com o comércio e o consumo. A ligação entre as várias tipologias é igualmente abordada por Roberto Secchi28 que conclui que o mercado resulta do ritual do evento e o que outrora não apresentava forma nem tipologia própria, nos séculos XIX e XX, o tipo ganha definição.

Apesar de ter surgido de um único propósito, a verdade é que o mercado abrange um vasto corpo de valências e ações. O ato de mercar, a troca de vivências, a interação com o outro, fazem do mercado um espaço fundamental, pois ele próprio faz cidade e constitui cidade.

26 Idem.

27 CARBONARA, Pasquale. Architettura pratica, Volume 4, Tomo secondo, Composizione degli edifici, Unione

Tipográfico-Editrice Torinese, Torino, 1954.

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