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CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA:

3.4 O UNIVERSO DA PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada em duas escolas públicas, sendo uma municipal, aqui caracterizada como escola A e outra estadual, caracterizada como escola B, localizadas no Estado do Paraná.

A escolha de tais escolas teve o objetivo de identificar na trajetória dos alunos, percorrida em ambas as escolas, aspectos que favoreceram seu desenvolvimento, que contribuíram para a inclusão e para a aprendizagem dos alunos sujeitos da pesquisa.

Esta percepção foi possível por se tratar de duas escolas que, embora sendo administradas por entes federativos diferentes (estado e município), ocupavam espaços muito próximos. Sendo assim, as comunidades atendidas são as mesmas, ou seja, os alunos que frequentam os anos iniciais do Ensino Fundamental na escola A, em sua maioria frequentarão os anos finais do Ensino Fundamental da escola B.

Quanto ao município, no qual as escolas estão inseridas, o mesmo está localizado a cerca de 150 km da capital Curitiba, na região sudeste do estado. A população é formada pela mescla de diferentes etnias, predominando os poloneses e ucranianos. Possui uma população de 56.207 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013).

A Rede Municipal de Ensino de Irati é composta por vinte e cinco escolas, que atendem do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, tendo aproximadamente 4.000 alunos. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica12 (IDEB) é de 6.3, superior ao índice brasileiro que é de 5,3. Já a Rede Estadual de Ensino de Irati é composta por dezesseis escolas, que atendem os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Possui 7072 alunos matriculados, divididos em 321 turmas. A distorção idade/série é de 16,4%, sendo que o índice paranaense é 21%. No Ensino Médio, a distorção é de 18,3% e do Paraná, de 23,7%. O IDEB das escolas estaduais de Irati é de 4.8, sendo que o estado do Paraná tem o IDEB de 4,3.

A escola A tem um total de 144 alunos divididos em uma turma de Educação Infantil e cinco turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Neste universo, atualmente, há apenas uma aluna com deficiência, matriculada. Esta aluna não recebe mais atendimento na SRMs da escola A, mas foi remanejada para atendimento em outra escola, porém, a mesma professora que atendia na SRMs, acompanhou a aluna. Este remanejamento ocorreu por falta de alunos com deficiência na escola A, sendo a SRMs da escola A foi desativada temporariamente.

É importante esclarecer que, de acordo com a legislação nacional vigente (BRASIL, 2008), e do estado do Paraná (PARANÁ, 2011), são considerados alunos público alvo das SRMs, somente aqueles que passam por avaliação médica e possuem laudo médico com Código Internacional de Doenças (CID), indicador da área de deficiência do aluno ou avaliação psicoeducacional realizada no contexto escolar. Estes alunos devem ser identificados no censo escolar, bem como no Sistema Estadual de Registro Escolar (SERE). Apesar da exigência, o Ministério da Educação (MEC), por meio da SECADI, emitiu nota técnica (BRASIL, 2014), reafirmando que o trabalho da SRMs é pedagógico, sendo o laudo médico, utilizado apenas para conhecimento dos comprometimento do aluno e para assegurar que o direito de suporte pedagógico do aluno com deficiência seja respeitado.

Assim, ainda que a professora da SRMs tivesse um cronograma de atendimento bastante significativo, os alunos sem laudo médico não poderiam ser

12 Índice que refere-se a aprendizagem, evasão e repetência, sendo que a aprendizagem é aferida por meio da Prova Brasil. A avaliação ocorre de dois em dois anos.

contados para efeito de matrícula e frequência, o que resultou em suspensão temporária de funcionamento.

Os docentes da escola A são sete e uma diretora. A escola não conta com coordenação pedagógica tendo em vista o número reduzido de alunos, desta forma, a diretora acumula as funções administrativas e pedagógicas da escola.

Quanto à análise do PPP da escola, ele aponta para uma perspectiva democrática de gestão, expressa na forma colegiada na tomada de decisões e na forte articulação entre a família e a escola. A linha teórica está alicerçada na pedagogia histórico-crítica e na abordagem histórico-cultural. Os autores indicados como sustentadores de tais teorias, são: Dermeval Saviani, João Luiz Gasparin e Lev Vygotsky.

Quanto à avaliação afirma-se no PPP, que a mesma funda-se na pedagogia histórico-crítica, segundo a qual a prática social do indivíduo origina o conhecimento, e nos processos de transformação do meio por ele realizados, tendo como ponto de referência a realidade concreta do sujeito, sua história e sua relação com o mundo que o cerca. Pressupõe, a transformação social a partir da aprendizagem. Assim, a avaliação é compreendida como ponto de partida para a efetivação de novas práticas que atendam as dificuldades dos alunos. É possível afirmar que, de acordo com a redação do PPP da escola A, a inclusão é reconhecida, todos os alunos têm acesso ao conhecimento e os professores reavaliam suas práticas a partir da avaliação da aprendizagem aplicada aos alunos.

A escola B, possui 390 alunos, divididos em seis turmas dos anos finais do Ensino Fundamental. Estas turmas estão organizadas em dois sextos anos, dois sétimos anos, dois oitavos anos e dois nonos anos. O Ensino Médio está organizado em dois primeiros anos, um segundo ano e um terceiro ano. Também funciona na escola a SRMs, Sala de Apoio Pedagógico, em contraturno escolar e o Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (CELEM), de língua espanhola, no período da tarde. O corpo docente é formado por trinta e três professores, sendo que, três deles atuam na equipe gestora escolar, uma professora na SRMs, duas professoras na Sala de Apoio Pedagógico e vinte e sete professores nas salas de aula, nas suas disciplinas específicas.

O PPP da escola B aponta para uma gestão democrática, com ênfase na relação família-escola e na participação de toda a comunidade escolar na construção e efetivação do PPP e nas demais ações da escola. A qualidade da

educação também é citada várias vezes no documento, bem como a superação do fracasso escolar, por meio de uma prática pedagógica transformadora. A avaliação é tratada no documento como diagnóstica, investigativa, formativa. O texto traz indicativos da necessidade de investigar tanto a aprendizagem do aluno quanto à prática pedagógica do professor. A investigação e a intervenção são tratadas como ações indissociáveis e necessárias para melhoria dos resultados de aprendizagem.

O ato de avaliar, de atribuir valor a alguma coisa, não pode limitar-se à simples verificação da aprendizagem de conteúdos através de provas e de notas. Embora tais instrumentos possam ser parte do processo, a avaliação tem um significado mais amplo, uma vez que envolve a formação de juízos e a apreciação de aspectos qualitativos dificilmente representáveis em uma escala numérica. A escola não pode eximir-se de apreciar, o desenvolvimento integral do educando, ou seja, seu crescimento afetivo, social e ético (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO – Escola B, 2012).

O quadro de metas da equipe gestora, é composto de três indicadores pedagógicos: gestão dos resultados educacionais, gestão participativa democrática e gestão de inclusão/socioeducacional. Contudo, a inclusão escolar é tratada superficialmente no documento, apontando para o cumprimento da legislação quanto à inclusão de todos no espaço escolar, a garantia da permanência e aprendizagem de todos os alunos, conforme indica o documento:

Propiciar um ensino de qualidade, oferecendo um ambiente favorável para o desenvolvimento pleno do educando, respeitando as diferenças individuais, valorizando o potencial de cada um e incluindo educacional e socialmente os alunos portadores de necessidades especiais, conforme deliberação 002/2003 da Educação Especial (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO – Escola B, 2012).

De acordo com o apontado no quadro de metas, é possível vislumbrar uma escola que caminha na perspectiva democrática e inclusiva, o que nem sempre se concretiza, conforme se aponta na pesquisa.