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O C URSO COM OS P ROFESSORES NA P LATAFORMA M OODLE

Ao longo da semana após o primeiro encontro do curso, recebi as primeiras mensagens de e-mail solicitando a inclusão no AVA. Três professores solicitaram a participação na Plataforma Moodle, PAB, que é bióloga, filha de uma professora de Educação Física da ETEC Orlando Quagliato, PNB e PIA, que estiveram no primeiro encontro. PAQ me enviou uma mensagem de e-mail dizendo que não poderia participar dos encontros presenciais, pois leciona aos sábados, mas que gostaria de participar do curso pela Plataforma Moodle. Uma aluna (PLB) da ETEC Orlando Quagliato me enviou um e-mail dizendo que se formou em Biologia em uma universidade da cidade de Brasília, onde atuou em projetos de EA e há pouco tempo tinha mudado para Santa Cruz do Rio Pardo. Disse também que viu a circular afixada nos murais e anotou o contato, porém, só o viu novamente depois que o curso começou. Além disso, ela foi professora de ciências por um ano em Brasília.

Já passada a semana do encontro, mais uma professora (PBAs) solicitou participação no grupo. Ela afirmou que aos sábados faz o Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes do CEETEPS em Marília-SP, portanto, não poderia participar dos encontros presenciais. Com todos os participantes que não compareceram no primeiro dia, enviei o tutorial, slides da aula e do vídeo, a fim de que fosse feita uma atividade para inteirar os professores sobre os assuntos discutidos. Contatei PRG por telefone pois percebi que as mensagens não haviam chegado. No total, seis pessoas se inscreveram para o curso de formação que ofereci. Dessas seis pessoas, quatro eram professores da escola (PNB, PIA, PAQ e

PBAs), uma era filha de uma professora (PAB) e a ultima era aluna da escola,

graduada em biologia (PLB).

Criei no Moodle um tópico chamado Discussões Introdutórias e pedi aos professores PAB, PAQ, PLB e PBAs para que postassem a atividade referente à primeira aula neste espaço, e que posteriormente, fosse discutido. Não foi estipulado um prazo para cumprimento desta atividade visto que se tratava de uma discussão simples, introdutória aos temas posteriores. Um dia depois de o tópico ser criado, uma professora já iniciou a atividade em relação ao vídeo Pink Floyd – The Wall. Sobre o conteúdo da atividade, PAB comenta sobre o behaviorismo, sob a forma de conceito, basicamente como estudo do comportamento observado. Os demais

professores expressaram-se sobre o conteúdo do vídeo: “O vídeo e a música mostram uma tendência de décadas atrás, (a musica faz uma) critica o sistema autoritário das escolas” (PAQ), ou “estas características (...) foram orientadas para as escolas oficiais durante os anos 60, porém até hoje existem cursos com manuais didáticos, técnicos e instrumentais (PAB)”.

A partir destas discussões, provoquei a reflexão sobre em quais aspectos esta abordagem da Psicologia foi adotada por fins políticos e educacionais. Em linhas gerais, os professores assimilaram o conteúdo do vídeo no que diz respeito ao behaviorismo, como a previsão e controle do comportamento para o controle ideológico. Um exemplo disso é a fala de PAB:

(Controlando o comportamento) pode-se levar outra pessoa a fazer algo contra sua vontade, limitando o comportamento e chegando a uma objetividade, controlando também as respostas de acordo com os interesses da época.

Todos os professores afirmaram a necessidade de buscarmos alternativas a esse modelo, isto é, os professores acreditam no processo educativo sem autoritarismo e imposição. De acordo com PBAs, “devemos desenvolver maneiras diferenciadas para lidar com nossos alunos, respeitando a individualidade e o ritmo de cada um”.

Ao pensarmos nesta fala de PBAs, notamos que sua argumentação segue pelo viés construtivista, que apesar da grande influência na educação brasileira, não há seu domínio por parte dos professores. Desta forma os professores assumem determinados discursos repetitivos, sem ao menos identificar o significado dos próprios termos empregados na discussão.

Apesar de todos os professores apontarem a necessidade da superação de uma educação “autoritária e impositiva”, percebi que não houve nenhuma proposta por parte deles, ou seja, nenhum dos participantes deste Fórum levantou a discussão sobre as possibilidades desta superação, ou a partir de que elementos pode-se construir uma “nova” proposta pedagógica para encarar e superar o tradicional modelo autoritário. Isso tem ressonância no discurso da PNB logo no primeiro encontro, quando ela afirma não sentir vergonha em mostrar suas dificuldades, e que o professor deve se apoiar em teoria, nos conhecimentos já

produzidos, isto é, ela afirma que o professor necessita de um amparo para desenvolver sua atividade de ensinar, e conclui, (...) “você está lá na universidade, você está lá buscando os problemas (...) os conhecimentos em pesquisas, você pode nos ajudar bastante, esse é o verdadeiro motivo que eu vim até aqui”.

É certo que não há manuais de como o professor deva encarar a sala de aula, porém, percebe-se que não há esforço nenhum por parte dos professores em procurar textos acadêmicos para aprimorar aspectos didáticos em suas aulas. Tampouco pela coordenação pedagógica este trabalho é feito, não há indicação de leituras, não há reuniões onde propostas pedagógicas são discutidas.

Embora não se trate de concluir análises sobre esses dados, é importante registrar essas impressões: o que percebi naquele momento é que o professor não busca a superação das adversidades na teoria, atrelada à sua prática profissional, mas somente em sua prática, o que por vezes lhe frustra, tudo indica que ele busca a superação de suas dificuldades na ação pela ação. Um forte indício desta impressão foi um trecho da fala de PRG:

“(...) o professor era o modelo (referindo-se ao professor tradicional), né? E eu busquei um modelo que eu acho que hoje eu vejo que, infelizmente fracassou, por que eu tentei ser tudo aquilo ao avesso daquilo (professor tradicional), do modelo que tinha; Busquei valorizar o aluno, não consegui por muitas vezes o apoio de vários alunos, né?”

O professor em questão, afirma que tentou ser “o avesso” daquele modelo de professor que ele teve; porém, essa possibilidade de superação não foi concretizada, pois os alunos não o valorizavam como ele os valorizava. Neste sentido, para completar seu raciocínio, o professor apontou sua “desorientação” quanto à sua prática:

PRG: “Então eu acho o seguinte, agora eu tô numa fase que eu estou tentando ponderar as coisas, né, mesmo porque a vida da gente é uma experiência, (...) infelizmente a gente está passando por uma transição muito problemática também (...)”.

PRG deixa claro que a experiência e a vivência do professor são elementos

importantes mas não menciona a teoria. Os professores parecem perceber que houve o rompimento com o modelo autoritário e disciplinatório no ensino, mas não

houve sua superação; não foi apontado um caminho, isto é, algo que sua experiência pudesse traçar. Sobre este ponto de vista, este foi o fator comum entre todos os professores; a não interpretação/construção de sua prática docente como principio da busca da emancipação.

Os professores demonstraram ter “esperança” em romper com algumas situações de sua prática docente, mas o que percebi é que há uma tentativa de ruptura com o modelo tradicional, e quando há essa ruptura, o professor sofre com inúmeras dificuldades, mas principalmente, por não saber qual caminho seguir.