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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 O uso de agroquímicos como uma QSC

Autores como Aikenhead (1985) e Conrado (2017) defendem a abordagem no ensino de temas que façam sentido no cotidiano dos estudantes, tornando esse ensino mais real e palpável para eles. O uso de agroquímicos apresenta-se como uma QSC ligada ao cotidiano dos estudantes, a qual possibilita discussões de aspectos ambientais, econômicos, sociais entre outros no tratamento desta questão.

Os agroquímicos são substâncias de origem natural ou sintética que podem matar diretamente um organismo indesejável ou controlar o processo reprodutivo, em áreas como a agricultura, pecuária e domicílios (PEIXOTO, 2007). Os agroquímicos abrangem os inseticidas (controlar insetos), os acaricidas (ácaros), os nematicidas (nematoides), os fungicidas (fungos) e os herbicidas (plantas daninhas).

A primeira utilização de agroquímicos se concretizou no Egito antigo, mas foi a partir da Segunda Guerra Mundial que se iniciou a constituição de um setor industrial dedicado à fabricação deles. Nos anos 60, com a ‘Revolução Verde’ sua exportação foi

crescente com o objetivo de se alcançar os altos rendimentos da produção agrícola (MARTINS, 2000).

Durante a Segunda Guerra Mundial utilizou-se amplamente o agroquímico DDT (Dicloro Difenil Tricloroetano) para controle de pulgas e doenças como a malária e o tifo. Seu uso desordenado acarretou a contaminação das águas, a mortalidade de pássaros e outros problemas ambientais causados pela sua persistência (BORGES, 2011).

Em razão da persistência no ambiente e da toxicidade, agroquímicos organoclorados, como o DDT, tiveram seu uso e comercialização proibidos no Brasil a partir de 1985, sendo autorizados apenas nas campanhas de saúde pública (PEIXOTO, 2007).

Os agroquímicos podem contaminar o solo, a água e o ar, através das perdas na aplicação do produto ocasionadas pelos ventos e pela evaporação. Além disso, o descarte inadequado das embalagens pode contribuir para essa contaminação. Quando presentes no meio ambiente, os agroquímicos podem se degradar e acumular em diversos locais. Quanto à saúde humana, os efeitos podem ser agudos, que causam danos aparentes; ou crônicos, que resultam na exposição contínua a doses baixas dos produtos (PEIXOTO, 2007).

O uso de agroquímicos vem crescendo a cada ano, como consequência do aumento da população e da consequente necessidade de aumento da produção alimentícia. Além dessa finalidade principal, os agroquímicos também são usados como alternativas para controlar a transmissão de doenças pelos insetos. Um estudo realizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (SINDAG) apontou que, em 2003, foram gastos em torno de 3,136 bilhões de dólares na comercialização de agroquímicos no país, o que corresponde a 160 toneladas lançadas no meio ambiente.

No Brasil no ano de 2015 houve grande incidência de surtos de doenças como a dengue, zika e febre chikungunya que são transmitidas pelo mesmo mosquito Aedes aegypti. O Ministério da Saúde (MS, 2016) em seu Boletim Epidemiológico5 informou que foram registrados 41.264 casos de dengue; 146.914 casos confirmados de febre chikungunya; 128.266 casos confirmados de Zika em todo o país. Campanhas de mobilização para controlar a proliferação ao mosquito têm sido promovidas por esse órgão.

O mosquito Aedes aegypti é originário da África e se adapta bem ao ambiente urbano, pois utiliza-se, para o desenvolvimento de sua fase larvária, de recipientes diversos com água parada. Essa espécie é antropofílica e tem hábitos diurnos, alimenta- se e deposita seus ovos ao amanhecer (BRAGA; VALLE, 2007).

Embora sejam recomendadas medidas preventivas como: manter a residência limpa; eliminar possíveis criadouros como garrafas, pneus e vasilhames que possam deixar água parada –, medidas paliativas como o uso de repelentes e inseticidas também são corriqueiramente adotadas pela população. Além dos problemas já mencionados com o uso de agroquímicos, no caso da opção por essa alternativa no controle do vetor de doenças como a dengue, existe o problema da seleção de indivíduos da população do mosquito mais resistentes aos inseticidas (GARCEZ et al., 2013).

Os agroquímicos Malathion e Diclorvos, da classe dos organofosforados, são utilizados no controle do mosquito da dengue. A Cipermetrina, da classe dos piretróides, também é um agroquímico utilizado no controle do vetor (CAMPOS; ANDRADE, 2001). Os organofosforados incluem todos os agroquímicos que contém em sua composição o átomo de fósforo (P). Estes possuem toxicidade aguda elevada aos seres humanos e outros mamíferos. A intoxicação por meio desses compostos pode ocorrer via inalação, ingestão ou absorção através da pele, podendo levar imediatamente a problemas sérios de saúde. Eles são lipossolúveis e decompõe-se dentro de dias ou semanas. Com exceção do Diclorvos, possuem baixa volatilidade. A dispersão desses agroquímicos ocorre por pulverização, podendo se espalhar pelo vento por uma área de 1km a 2km. Eles podem contaminar o meio aquático por meio dos resíduos industriais, da infiltração no solo ou do seu escoamento superficial (LOPES et al, 2011).

Os piretróides são compostos que apresentam ação rápida, eficiência em baixa dose, baixo poder residual no ambiente, são praticamente atóxicos para mamíferos se comparados a vários outros agroquímicos, são instáveis na luz e no ar, mas podem exercer efeitos neurotóxicos e cardiotóxicos nos vertebrados, causando paralisia nos insetos (MONTANHA; PIMPÃO, 2012).

Outra alternativa para controlar a transmissão de doenças pelo mosquito Aedes aegypti, é o uso dos óleos essenciais. Autores como Furtado, Lima, Neto, Bezerra e Silva (2005) e Garcez, Garcez, Silva e Sarmento (2013) apontam essa alternativa como uma estratégia promissora no controle das larvas dos mosquitos, pois eles apresentam grande eficiência, além de baixa toxidade ao homem e ao meio ambiente.

Diante dos aspectos expostos aqui, a proposta de uma SD centrada na discussão do uso dos agroquímicos, suas ações e consequências e de alternativas para controlar a transmissão de doenças pelo mosquito Aedes aegyti, mostra-se de grande importância quando o ensino de Ciências tem como intuito promover a formação de cidadãos críticos, responsáveis e preparados para tomadas de decisão individual e coletiva.