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1 A GESTÃO ESCOLAR E O PARADOXO DA SOCIEDADE: O

1.1.2 O uso de drogas em idade escolar e os fatores agravantes

O norte-americano W. J. Bukoski realizou diversas pesquisas que contribuíram para uma base de dados durante investigações a respeito das origens do uso de drogas e os caminhos seguidos pelos usuários (SLOBODA, 2004).

Sendo assim, os possíveis fatores de risco diferenciam-se em: pessoais (primeira infância), pessoais (segunda infância) e ambientais. Entre os fatores referentes a primeira infância estão o histórico familiar envolvendo o consumo de drogas, carência de vínculo com pais e de monitoramento familiar, conflitos familiares, rejeição pelos colegas e até mesmo alguma pré-disposição fisiológica.

Com relação aos fatores presentes na segunda infância estão as manifestações comportamentais associadas a agressividade, rebeldia e repulsa

social, insucesso escolar, fraca ligação com a escola e convivência com colegas já usuários de drogas (SLOBODA, 2004).

Os fatores ambientais relacionam-se com privação econômica e social, disponibilidade e facilidade ao acesso às drogas, momentos difíceis de transição durante o desenvolvimento, escasso vínculo com a comunidade onde mora (SLOBODA, 2004).

Por outro lado há fatores de proteção ao jovem que incluem: relação com familiares e principalmente com a mãe, estabilidade psicológica familiar, bons modelos familiares, sucesso acadêmico, relações prazerosas e saudáveis com amigos e comunidade, monitoramento parental, envolvimento de familiares no cuidado quanto ao bem estar do jovem, forte vínculo com colegas e escola, além de limitação quanto a possibilidades de acesso ao álcool, tabaco e demais drogas (SLOBODA, 2004).

Abramovay; Castro (2005) apontam relatos de estudante que afirmam que a entrada de drogas nas escolas, na maioria dos casos, está associada ao fato da presença destas nos arredores da escola. Embora os gestores consigam impedir o uso dentro da instituição, do lado de fora, bem próximo o acesso é facilitado, pois existem traficantes rondando as escolas. Entretanto, em muitos casos, professores/gestores escolares não presenciam o uso de drogas dentro das instituições, mas depoimentos citados por Abramovay; Castro (2005) sugerem que os alunos presenciam colegas usando drogas dentro do perímetro escolar. Normalmente trata-se de maconha, que é usada dentro dos banheiros, sendo este o local preferido para se esconder.

Abramovay; Castro (2005) consideram que é importante que a gestão escolar esteja atenta quanto a possibilidade do tráfico dentro das escolas. Diante disso, relatam um fato ocorrido em uma escola pública de Vitória/ES, onde havia um aluno que lá permaneceu durante 5 anos. Durante este período, o menino passou de ano apenas duas vezes, reprovando nos demais e, enquanto isso, ele vendia drogas para os demais alunos, até que foi descoberto. Abramovay; Castro (2005, p. 104) consideram o seguinte depoimento: “para alguns seguranças e inspetores, existem alunos que preferem reprovar e que o intuito deles não é estudar, mas ser ponto focal no repasse da droga”.

Assim, o uso de drogas em idade escolar é uma questão a ser analisada e monitorada com cuidado, para que se possa adotar as medidas eficazes para a

proteção da escola e principalmente para a proteção dos alunos. Abramovay; Castro (2005) afirmam que uma das principais conseqüências do uso de drogas está no rendimento escolar.

Berman et al (2001, apud ABRAMOVAY; CASTRO, 2005, p. 112) revelam que “quanto mais altas as notas do aluno, menor é o risco de experimentar drogas”. Desta forma, pesquisas realizadas pelo CEBRID mostram que há uma associação entre o uso de drogas, principalmente ilícitas, e a freqüência de reprovações. As pesquisas revelam que a proporção de alunos que reprovam e que já usaram ou usam drogas é relativamente maior do que a taxa de alunos que reprovam, mas que não fizeram o uso de drogas (ABRAMOVAY; CASTRO, 2005).

Contudo, o desinteresse pela escola, pelos estudos também pode estar estimulando os alunos a buscar o envolvimento com as drogas. (ABRAMOVAY; CASTRO, 2005). Já Mager; Sivestre (2004) consideram que metodologias pedagógicas adequadas e diferenciadas na escola poderão atuar de forma muito eficaz diante de tal situação. Entre as ações que poderiam contribuir está “um projeto pedagógico discutido e estabelecido em consonância com a política de direitos, onde cada escola pode elaborar um regimento interno baseado em regras saudáveis de convivência" (MAGER; SIVESTRE, 2004, p. 87).

Tendo em vista tais considerações (SERRAT, 2006, p. 74) afirma que “discutir o uso abusivo de drogas é estar diante de problemas éticos, filosóficos, metodológicos, políticos e psicológicos, e de uma questão fundamental ligada à investigação científica em prol de uma sociedade mais sadia”.

Dessa forma, elencar os fatores agravantes relacionados ao uso de substâncias psicoativas em idade escolar é uma tarefa menos complexa do que o planejamento de ações que minimizem estes fatores, considerando as especificidades de cada indivíduo e da realidade a qual cada um se insere. Se por um lado há casos onde a família praticamente causa a exclusão e, conseqüentemente, proporciona momentos difíceis ao jovem, a escola pode vir a ser o local de refúgio para este jovem, onde buscará a compreensão, carinho e apoio de que necessita. Entretanto, a escola está preparada para esta tarefa? Por outro lado, observa-se que, por se tratar de uma tarefa complexa, que exige muito dos envolvidos, há quem possa estar agindo de forma negligente, fechando os olhos para um problema que está gerando uma sociedade doente, e conseqüentemente,

uma geração escolar desassistida? Neste caso, quem estaria sendo negligente? Os gestores escolares ou as políticas públicas educacionais?

Refletir sobre quem está deixando de atuar é importante, entretanto, talvez o mais importante seja planejar e pôr em prática ações e programas em benefício de uma geração de jovens sadios, livres das influências catastróficas provocadas pelas drogas de abuso.

1.2 O papel da escola diante da presença de substâncias psicoativas entre os

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