• Nenhum resultado encontrado

Como já ressaltado, este trabalho utiliza dados das Pesquisas de Orçamento Familiares (POF) de 1995-1996; 2002-2003 e 2008-2009. Essas pesquisas, realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, constituem em pesquisas domiciliares por amostragem, que investigam informações acerca das características dos domicílios, famílias e moradores, bem como seus respectivos rendimentos e gastos. Por meio de dados detalhados acerca dos itens adquiridos, permite conhecer o perfil de consumo de alimentos no domicílio.

A POF de 1995-1996 foi a terceira pesquisa realizada, sendo que as duas primeiras foram o Estudo Nacional da Despesa Familiar – ENDEF em 1974-1975 e a POF 1987-1988. A primeira possuiu abrangência nacional, com exceção da área rural da região Norte e parte da região Centro-Oeste. Já a segunda, assim como a POF 1995-1996, foi realizada nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza,

54 Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, além do município de Goiânia e no Distrito Federal.

As duas últimas POF’s, de 2002-2003 e 2008-2009, dão igual prioridade às aplicações das pesquisas anteriores, para que a comparação entre elas seja permitida. No entanto, essas apresentam abrangência nacional, com a inclusão da pesquisa em áreas rurais além da investigação das aquisições não monetárias.

No que se refere ao plano amostral, na POF de 2002-2003, adotou-se basicamente a mesma concepção que foi empregada na POF de 1995-1996. A amostra da POF 2008-2009 também manteve as características do desenho aplicado à POF 2002-2003.

O plano amostral adotado utiliza um desenho com estágios de seleção e com estratificação das unidades do primeiro estágio de seleção. As unidades do segundo estágio, que se referem aos domicílios, são selecionadas sem reposição e com equiprobabilidade. Assim, há uma estratificação geográfica e estatística. A primeira tem como objetivo espalhar a amostra geograficamente, garantindo a participação das diferentes regiões do território nacional. Nas regiões metropolitanas em 2002- 2003 e 2008-2009, manteve-se a estratificação geográfica das POFs passadas, de núcleo e periferia para efeito de comparação entre as pesquisas. O núcleo constitui no município da capital, enquanto que o restante da região metropolitana refere-se à periferia.

A estratificação estatística em 1995-1996 foi feita com base nos rendimentos investigados pelo Censo Demográfico de 1991. Em 2002-2003 utilizou-se como

proxy dos rendimentos para a estratificação estatística, os anos de estudo do

responsável pelo domicílio obtidos por meio do Censo Demográfico de 2000. Esse mesmo Censo foi utilizado para a estratificação estatística da pesquisa de 2008-2009, utilizando a variável renda do responsável.

Diante do fato de que essas pesquisas não acompanham os mesmos domicílios ao longo do tempo, têm-se três cross sections independentes. Conforme Wooldrigde (2010) ressalta, existem dois tipos de dados que possuem dimensões temporal e de corte transversal. Esses dados são primeiro proveniente de agrupamentos independentes de cross sections (independently pooled cross sections – IPCS) e os dados longitudinais, ou painéis.

55 Segundo Rafferty e Walthery (2011), pesquisas desenhadas para uma nova amostra de entrevistados em sucessivos pontos do tempo constituem nas cross

sections independentes. Os dados podem ser analisados em um dado ano da

pesquisa, ou essas podem ser combinadas para uma análise ao longo do tempo. Conforme Cameron e Trivedi (2005), a independência dessas amostras está no fato de que cada indivíduo, ou unidade de corte transversal aparece em apenas uma das pesquisas.

Assim, de acordo Wooldridge (2010), o uso do agrupamento de cross

sections possui algumas vantagens. Ao elevar o tamanho da amostra, estimadores

mais precisos e estatísticas de testes mais poderosas podem ser obtidos. Além disso, essa agregação não leva a nenhuma correlação dos erros das observações ao longo do tempo.

Wooldridge (2010) destaca, entretanto, que o agrupamento é útil em relação à elevação da precisão dos estimadores e estatísticas de teste caso as relações sendo estimadas sejam temporariamente estáveis. Em geral, para refletir o fato de que a população pode ter distribuições diferentes em períodos de tempo diferentes, permite-se uma variação do intercepto ao longo dos períodos, por meio da inclusão de variáveis dummies de tempo. Dummies anuais também podem interagir com variáveis explicativas para investigar se o efeito dessa variável mudou ao longo de dado período.

Rafferty e Walthery (2011) ressaltam que esses dados podem ser utilizados quando se objetivam verificar mudanças e, ou, comportamentos agregados. No entanto, as diferenças ao longo do tempo em relação a comportamentos individuais são melhores analisadas em dados em painéis genuínos.

De acordo com Yee e Niemeier (1995) o uso desses dados é indicado para estudos cujo objetivo seja o de investigar modificações na variável de interesse do estudo, como resultado de efeitos agregados, tanto sociais quanto demográficos, que podem variar de acordo com o objeto pesquisado. Caso o interesse recaia sobre o efeito transitório, no qual se procura investigar a modificação na variável de interesse devido a mudanças individuais ao longo do tempo, os dados em painéis são mais indicados.

Na medida em que este trabalho procura investigar a relação entre os ganhos de produtividade e a segurança alimentar, tem-se uma análise agregada, que indica

56 de forma geral a maneira pela qual o crescimento dos rendimentos das culturas alimentares se relacionam com a menor ou maior probabilidade de segurança alimentar dos domicílios

Essa agregação de cross sections repetidas tem sido utilizada particularmente por alguns autores, dada suas vantagens em termos de análise e precisão. Carvalho Filho e Chamon (2007) utilizaram a agregação das Pesquisas de Orçamento Familiares de 1987-1988, 1995-1996 e 2002-2003 para a análise do crescimento da renda real familiar e do consumo, verificando a evolução da demanda por alimentos. Kolondinsky e Goldstein (2011), também utilizam dados agregados de cross

sections independentes para estimar a influência dos padrões de gastos alimentares,

de utilização do tempo e características pessoais na obesidade entre mulheres, utilizando um modelo de escolha qualitativa.

Diante dessas observações, procede-se à análise do método empregado por este trabalho para análise da influência dos ganhos de produtividade sobre a segurança alimentar, considerando o uso de cross sections repetidas.