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No ano de 2001, metade das terras apossadas por Carlos Fernandes correspondentes a 250 m de frente e 2000 m de fundo, foi comprada por Sebastiana França e Alfredo Gregório de Melo (conhecido por Padrinho Alfredo) pelo valor de R$ 4.000,00. Ambos os compradores são missionários da doutrina do Santo Daime e, na época de aquisição das terras, tinham interesse na realização de projetos sociais, mais precisamente ligados à saúde, para o Croa. Apoiados por grande parte dos moradores, fundaram a Igreja Nova Era que ficou conhecida como a sede da comunidade Croa e abriram uma filial do Centro de Medicina da Floresta, que funcionou por aproximadamente quatro anosna fabricação de remédios para atendimento da comunidade e arredores.

Com apoio do Governo do estado do Acre, Sebastiana França ministrou cursos de capacitação de moradores para a produção de fármacos. Permaneceu na comunidade por cinco meses consecutivos conduzindo expedições na floresta para identificação e coleta de matéria- prima, construção de canteiros para cultivo de plantas medicinais, preparação e distribuição de medicamentos entre os habitantes do Croa e comunidades vizinhas entre outras atividades.

Naquela época, alguns moradores já haviam bebido ayahuasca com os índios, mas a religião do Santo Daime era ainda desconhecida pelo povo. Com a fundação da Igreja e do CMF, alguns passaram a seguir a doutrina, freqüentando hinários e bailados realizados também nas Igrejas de Cruzeiro do Sul e de Rodrigues Alves.

Desde sua fundação, a Igreja Nova Era funcionou como espaço de trabalhos oficiais de concentração, realizados nos dias 15 e 30 de cada mês. O espaço esteve sempre associado à casa de feitio, onde eram produzidos os fármacos no âmbito do CMF e o chá do Santo Daime pelos moradores do Croa e de Rodrigues Alves. Aos poucos, o uso da bebida passou a fazer parte do cotidiano de famílias de agricultores e extrativistas do Croa.

Sebastiana França e Padrinho Alfredo, no entanto, se retiraram da região por motivos particulares e como frente missionária da doutrina emergiu Francisco Feijó e Januário da Costa Freire. O primeiro é nascido na cidade de Cruzeiro do Sul e filho do seringueiro Paulino Feijó que foi ator fundamental para a criação da Reserva Extrativista do Alto Juruá. O segundo é membro da doutrina há mais de 15 anos quando acompanhou Sebastião Mota de Melo, pai de Padrinho Alfredo, em suas peregrinações pelo Juruá.

Ainda assim, a expansão da doutrina prosseguiu pela comunidade e em agosto de 2006 foi realizado no Croa pelo Centro Eclético da Fluente Luz Universal Antonio Gomes da Silva (Cefluags) com apoio da Asaebrical o 1º Encontro de Cultura Ecológica para a Nova Era (Vivência Amazônica). O encontro, com duração de 11 dias, reuniu diversas lideranças xamânicas, comunidades daimistas e turistas do Brasil e do mundo. Esse evento foi um dos marcos de apresentação da região do Croa como um pólo de turismo para recebimento de pessoas interessadas na conservação da floresta e, principalmente, na vivência espiritual ligada ao chá do Santo Daime.

A proposta é que o encontro ocorra anualmente, incentivando atividades turísticas, incrementos na fonte renda dos moradores e valorização da diversidade étnica regional (CEFLURIS 2000). Em agosto de 2007 foi realizado o segundo encontro de cultura ecológica, paralelamente à fundação do Centro Livre Flor da Jurema com Francisco Feijó na presidência e Januário Freire na coordenação. A partir de então os trabalhos oficiais de concentração e hinários de cura assim como a produção do chá do Santo Daime passaram a ser realizados nesta Igreja. Com a mudança de local para os encontros religiosos, a Nova Era permanece apenas como sede da comunidade, onde se realizam reuniões e aulas para adultos no turno da noite entre outras atividades.

O Centro Livre Flor da Jurema está localizado em uma antiga posse comprada por Francisco no ano de 2005. Além da Igreja, foram construídas cinco casas ao seu redor, uma cozinha, banheiros e a casa de feitio do chá. As construções foram feitas com madeiras retiradas de dentro do Croa e em terras ao norte da BR-364, serradas por membros da própria comunidade. Os financiadores da construção são os presidentes das Igrejas que recebem o daime produzido no Croa.

Por ser um Centro Livre, o órgão não está vinculado ao Centro Eclético da Fluente Luz Universal (Cefluris), entidade de âmbito nacional responsável pela institucionalização e consolidação do uso legal do chá do Santo Daime no Brasil, por meio da criação de estatuto próprio (CEFLURIS 2000). Sendo assim, o cultivo e manejo de rainha e jagube assim como a produção e distribuição do chá pelo Centro Livre não são atividades que dependem do Cefluris. A Igreja funciona então como uma entidade de pequeno porte que deverá seguir regimento interno para legalização de suas ações.

Desde que a nova Igreja foi fundada, foram realizados quatro feitios, com quantidades variadas de daime produzido a partir de jagube e folhas de rainha, colhidos preferencialmente no Croa. Mas nos casos em que o feitio exige uma grande quantidade de matéria-prima, as folhas de rainha são trazidas de Rio Branco, uma vez que as plantações e ocorrências espontâneas do vegetal na área do Croa não suprem as altas demandas. O jagube, no entanto, é extraído na própria comunidade, onde o cipó ainda ocorre em abundância nas florestas. O produto final, o chá do Santo Daime, é feito exclusivamente no Croa, seja a partir de matéria- prima importada (folhas) ou extraída no local (folhas e cipó). O daime consumido é, portanto, produzido de forma interna e não há registros de importação do chá para realização de trabalhos oficiais no Croa.