• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III A Investigação

3. Enquadramento teórico

3.4. O uso do computador no processo de escrita

Os investigadores também se têm debruçado na utilização do computador, nomeadamente o processador de texto, quando se trata do processo de ensino e aprendizagem da escrita. “A utilização do processador de texto deve situar-se por dentro do processo, potenciando-o pela

80

conquista de novas finalidades para a expressão escrita dos alunos, encarada como exteriorização, e não consistir apenas numa ferramenta facilitadora das tarefas de transcrição” (Kochan, 1990, citado por Barbeiro, L. 1999).

O processador de texto tem a vantagem de que, mesmo depois de o texto estar escrito, é possível alterá-lo, sem que fique qualquer tipo de marcas da reformulação que foi feita. O aluno não tem que voltar a escrever as partes do texto que não sofreram modificação, o que torna o momento da revisão mais fácil e apelativo. Este é, portanto, o momento do ciclo de escrita que mais beneficia com a utilização do processador de texto (Barbeiro, 1999). Essa maior facilidade de reformulação é um benefício para todos os alunos, mas especialmente para aqueles que têm maiores dificuldades ao nível da escrita71 (Dalton e Hannafin, 1992, citados por Barbeiro, L. 1999).

Barbeiro, L. (1999) afirma que a maioria dos estudos realizados por diversos autores, como Bangert-Drowns (1993) e Cochran-Smith (1991), apresentam como tendência dominante que a utilização do processador de texto potencia o crescimento do número de reformulações realizadas no momento da revisão, leva à elaboração de texto com uma maior extensão, melhora a qualidade dos textos elaborados (nomeadamente nos textos dos alunos que apresentam maiores níveis de dificuldades). Segundo o mesmo autor, há uma adesão positiva à utilização do processamento de texto para a atividade de escrita.

De acordo com Hartley (1993)72, o computador tem diversas utilizações, no que toca à atividade de escrita. A utilização do processador de texto, como já havia sido referido, facilita o processo quando pretendemos apagar, substituir, movimentar partes do texto ou imprimir de uma forma mais atraente; possibilita a utilização de programas que auxiliam na verificação da ortografia e outras correções do texto e de programas que ajudam na planificação e organização do texto.

Tavares, C. e Barbeiro, L.73 advogam que o computador pode ser utilizado como instrumento de comunicação. Este aspeto mostra também a evolução deste recurso, uma vez que a ligação à Internet permite o acesso a informação, a partilha de muitos produtos escritos e a existência de situações de interação.

No caso específico da planificação, o computador pode ser uma forma de busca e construção de conhecimento. Segundo Sardinha, M. (2005) através do computador, os alunos podem participar ativamente na construção de conhecimento e podem até fazê-lo coletivamente, desempenhando o professor um papel de orientador e mediador.

Tavares, C. e Barbeiro, L. salientam o acesso à informação, na fase de planificação, que é procurada no sentido de, depois, ser integrada nos textos que os alunos elaboram, principalmente quando se trata de textos de caráter expositivo, inseridos em projetos temáticos. O possível acesso a um grande conjunto de informações permite a participação em novos desafios que fazem parte das competências de escrita e que se prendem com seleção de informação, a sua organização e posterior integração das mesmas em textos efetivamente

71 Conclusão de estudos realizados por Dalton e Hannafin (1987) no âmbito da importância da utilização do processador

de texto no processo de ensino e aprendizagem da escrita.

72 Hartley, J. (1993). Writing, Thinking and Computers. British Journal of Educational Technology.

73 As informações que têm aqui como referência os autores Tavares, C. e Barbeiro, L. não se encontram datadas, uma vez

81

elaborados pelos alunos (o que não se poderá confundir com a simples tarefa de copiar a informação que foi elaborada e escrita por outros indivíduos). Se os alunos forem capazes de responder a esses desafios, serão também capazes de transformar as informações em conhecimento, que, como vimos, é também uma ideia defendida por Sardinha, M. (2005).

Muitas vezes, as escolas publicam textos, tanto de literatura tradicional, como de autor, que poderão ser um dos pontos de partida para a elaboração de novos textos, quando se trata, por exemplo, de textos com os mesmos assuntos que os alunos se encontrem a estudar (Tavares, C. e Barbeiro, L.)

Há que ter-se em conta que uma boa utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação envolve o conceito de literacia digital. Literacia digital implica o domínio de várias competências que visam a utilização das potencialidades que as TIC nos podem oferecer. Uma dessas potencialidades é saber usar as TIC para a seleção de informações, construção de conhecimentos e desenvolvimento de um espírito e pensamento criativos e críticos.

O tratamento da informação multimodal exige que o indivíduo que lê tenha a capacidade de gerir as várias informações encontradas (Tavares, C. e Barbeiro, L.) A informação multimodal é apresentada de uma forma simultânea e não apenas de forma sequencial, tal como acontece num livro ou numa aula, o que implica vários processos de tratamento da informação e uma certa flexibilidade por parte do leitor.

Relativamente a uma “escrita não sequencial”, Nelson, T. (1965, citado por Silva, L.; 200674) apresenta-nos o conceito de hipertexto75 e diz-nos que se trata de um texto com um caráter aberto que estabelece relações entre textos. Essas relações são favorecidas pela possibilidade de ser armazenada informação, de a mesma poder ser recuperada e pelas formas de consultar vários textos simultaneamente. O hipertexto não oculta as relações com outros, muito pelo contrário, exibe-as (Levy, P.; 1990)76. A possibilidade de a informação ser armazenada e recuperada, e de se poderem consultar vários textos simultaneamente, são formas de alargarem e evidenciarem as redes intertextuais.

Tavares, C. e Barbeiro, L. advogam que as características dos textos apresentados em formato digital têm a capacidade de influenciar a nossa forma de escrever. E a sua leitura tem que ser sempre realizada com alguns cuidados, pois os textos, na Internet, nem sempre estão identificados relativamente ao seu autor e aos seus fins, o que muitas vezes leva situações de ausência de credibilidade.

Para estes autores, quando planificamos um texto, podemos usar a leitura eletrónica apenas para saber pequenas informações ou mesmo para estudar e pesquisar um assunto de forma aprofundada. Em diversas situações a leitura no computador pode substituir a leitura em papel e ser uma forma de aceder a informações e conhecimentos que se poderão mostrar muito úteis na elaboração de um texto. Mas, para que este processo aconteça de uma forma eficaz e sem a inclusão, nos textos, de informações que poderão não estar corretas, são necessários processos de manipulação, interpretação e apropriação da informação pesquisada na internet

74 Silva, L. (2006). Os diários generalistas em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte.

75 Este autor diz-nos que o hipertexto se trata de uma escrita não sequencial e que permite melhores escolhas e uma

melhor leitura em ecrãs interativos. Existe uma série de blocos de texto, que têm ligação entre si e que permitem diferentes percursos para os indivíduos que os leem.

82

e não uma rápida e simples leitura. A própria dimensão estética da página da internet onde se encontra determinada informação pode ter influência na forma como é compreendida e interpretada.

Levar os alunos a pesquisar e organizar informação através do computador, implica que eles tenham desenvolvidas as competências relacionadas com a sua manipulação do equipamento, pois, é necessária a utilização do rato e do teclado, as mudanças de página, a descoberta e utilização de hiperligações, barras, botões, ícones…

Rouet (2001)77 diz-nos que muitos alunos não desenvolvem as competências necessárias às ações de pesquisa de informação, que estão relacionadas com a capacidade de compreensão de textos. São necessárias estratégias de pesquisa, recorrendo a sumários, índices, títulos, sublinhados, que nos dão orientações muito úteis para que não sejam realizadas leituras extensivas que não levam a nenhum fim. Os alunos não nascem com este tipo de estratégias desenvolvidas, pelo que é necessário que se realizem tarefas de aprendizagem que levem os alunos a saberem utilizá-las.

A própria pesquisa de informação, que faz parte da planificação de um texto, pode ter também um processo de preparação, por exemplo, com a construção (por parte dos alunos) de um esquema ou um quadro com registos sobre os conteúdos que irão procurar na internet. Esses registos podem ser relacionados com, o que os alunos já sabem, o que pretendem saber e a forma como irão proceder para encontrar as informações. Trata-se de um projeto de pesquisa que não leve ao desperdício de tempo na procura de elementos úteis à elaboração de um texto (Tavares, C. e Barbeiro, L.). Em alguns casos pode ser realizada uma leitura em zapping, ou seja uma leitura rápida, sem um fim muito específico, mas onde se fique com uma ideia global sobre um determinado assunto ou se retirem rapidamente certas informações necessárias.

83