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O ver a História da Arte e o Fazer Artístico

Capítulo 2 – Um relato de experiências e as contribuições de Gardner

2.4 O ver a História da Arte e o Fazer Artístico

De acordo com Gardner, a Inteligência Espacial está muito ligada à Inteligência Linguística e estas duas são as mais utilizadas na maioria das tarefas dos psicólogos experimentais. São as que mais fornecem fontes de armazenamento e solução, a questão de armazenamento interessa muito a esta pesquisa, pois trata da aprendizagem em Artes Visuais. No caso aqui pesquisado, um relato sobre as diferentes linguagens artísticas pode ser trabalhado para ensino sobre um determinado tema da História da Arte. A Arte a ser mostrada é, especificamente, uma Arte Visual e, por consequência, a criança fará um trabalho que também usará essa Inteligência. Como o mostra a Figura 10, a criança para trabalhar determinado assunto ou artista nas Artes Visuais utiliza a Inteligência Espacial para observar, reter e reproduzir uma imagem gráfica.

A razão pela qual iniciei o trabalho de ensino de História da Arte com a música foi ter na classe uma aluna portadora de deficiência visual. Nas aulas, eu propunha momentos de apreciações e contextualizava historicamente as obras mostradas. Sobre a relação de espacialidade no caso dos sujeitos cegos Gardner afirma:

A questão dos indivíduos cegos surge imediatamente. Algumas experiências –como cor – encontram-se para sempre fechadas para o indivíduo cego de nascença, enquanto muitas outras – como apreensão de perspectiva – podem ser captadas apenas com a maior dificuldade. Mesmo assim, pesquisas com sujeitos cegos indicam que o conhecimento espacial não depende totalmente do sistema visual e que os indivíduos cegos podem até mesmo apreciar determinados aspectos de quadros ( GARDNER, 1994, p. 143).

A respeito do desenho da criança cega, Gardner cita:

As crianças cegas apresentam em seus desenhos muitas das mesmas características e problemas apresentados por crianças mais novas com visão. Por exemplo, as crianças cegas mostram-se incertas quanto a onde e como colocar objetos numa tela. Inicialmente elas não conhecem como representar o corpo em duas dimensões, nem como alinhar figuras na parte inferior da página e que determinadas experiências conhecidas pelo tato podem ser efetuadas por esta linha, seus desenhos vêm a assemelhar-se aos de sujeitos com visão (GARDNER, 1994, p. 143).

A capacidade dos artistas de transpor a realidade de maneira bi ou tridimensional chama atenção do autor. Sobre esse assunto comenta: “Os artistas com frequência sobressaem por seus poderes espaciais. Assim, Rodin era capaz de representar diferentes partes do corpo como projeções de volumes interiores” (GARDNER, 1994, p. 146). Na Figura 11, observamos o desenho coletivo de alunos de 7 anos do CFP XII e podemos perceber um exemplo de perspectiva no desenho com o gênero Natureza Morta.

FIGURA 11 – Exemplo de desenho coletivo de crianças de 8 anos CFP XII

No trabalho sobre Inteligências Múltiplas do autor, observa-se uma valorização à Inteligência Espacial e como esse pensamento (espacial) pode ajudar no processo científico. Nesta pesquisa que aqui se apresenta, também damos grande importância a essa Inteligência. Haja vista que a Obra de Arte é visual, e o campo Espacial é muito utilizado e basta o visual para a aprendizagem em Arte, mas esse relato é importante e veremos que outras linguagens inseridas nas aulas contribuem para a aprendizagem.

O conhecimento espacial pode servir para uma variedade de finalidades científicas, como uma ferramenta útil, um auxílio ao pensamento, uma maneira de captar informações, uma maneira de formular problemas ou como o próprio meio para resolver o problema (GARDNER, 1994, p. 149).

Ao trabalharmos com o ensino de Artes Visuais, exploramos a tridimensionalidade dos objetos, sobretudo nas esculturas e instalações. Gardner afirma que, para muitos, “pensar em três dimensões é como aprender uma língua estrangeira” (GARDNER, 1994, p. 149). Para crianças pequenas, além de argila e da base glicerinada, também trabalhamos com Atadura Gessada para o exercício da 3ª dimensão, como mostra a Figura 12.

FIGURA 12: Trabalho coletivo dos alunos do CFP XII com Atadura Gessada

O trabalho com a espacialidade é focado nas aulas de Arte. O desempenho das atividades envolve suscetibilidade. É comum propormos aos alunos exercícios para o desenvolvimento da observação e perspectiva, mas a noção de espacialidade é vinda de dentro para fora de cada indivíduo.

Embora possa-se subestimar o componente do pensamento espacial nas ciências, a centralidade do pensamento espacial nas artes visuais fica evidente. A pintura e a escultura envolvem uma sensibilidade apurada para o mundo visual e espacial, assim como uma capacidade de recriá-lo ao modelar uma obra de arte. Algumas outras competências intelectuais como facilidade no controle de movimento motor fino, também contribuem; mas o

sine qua non do talento gráfico é inerente ao domínio espacial (GARDNER,

1994, p. 151).

Gardner cita algumas frases que o pintor espanhol Pablo Picasso em diferentes situações tece uma relação com as “Picasso alega: a pintura é poesia, e ela é sempre escrita em verso e prosa com ritmos plásticos, jamais em prosa... Os ritmos plásticos são formas que

rimam entre si ou fornecem assonâncias quer com outras formas, quer com o espaço que as cerca”(GARDNER, 1994, p. 153).

Ainda Picasso fazendo ironia: “As pessoas dizem, ‘eu não tenho ouvido para música’, mas elas jamais dizem, ‘eu não tenho olhos para pintura’” (PICASSO in GARDNER, 1994, p. 154). É uma comparação que me surpreendeu, já que tenho ao propor duas linguagens nas aulas de Arte. Cantamos as músicas que compomos coletivamente, desenhamos, pintamos e esculpimos imagens plásticas. Ao abranger as duas linguagens é incomum ouvirmos, “não sei desenhar”, “não sei cantar”, pois, o desenho e a canção surgem naturalmente construídos de modo coletivo, sem pretensões grandiosas em fazer um supertrabalho ou obra de Arte, apenas exercícios de aprendizagem.

CAPÍTULO 3