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O objectivo do presente estudo é compreender as expectativas profissionais dos futuros médicos de Portugal. Deste, espera-se posteriormente a construção de um questionário que possa ser aplicado a todos os estudantes de medicina, com o objectivo de perceber quais serão as suas escolhas e atitudes futuras, permitindo aplicar algumas estratégias e gerir com maior eficiência e eficácia os RHS.

Mais especificamente pretende-se:

I. Compreender quais os aspectos da vida profissional futura que preocupam os futuros médicos.

II. Identificar problemas emergentes e possíveis estratégias para lidar com os problemas identificados relativos às expectativas profissionais futuras.

III. Compreender algumas das atitudes face à vida profissional futura e o seu enquadramento social, económico e politico.

Este estudo constitui a parte exploratória de um estudo mais abrangente, de métodos mistos que visa o desenvolvimento de um instrumento que permita a caracterização e monitorização das expectativas dos futuros médicos.

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4 - MATERIAL E MÉTODOS

4.1 - Tipo de estudo

Trata-se de um estudo qualitativo, uma vez que tem como objectivo compreender e explorar qual o significado que indivíduos atribuem a um determinado problema social ou humano, neste caso, pretende-se verificar quais as expectativas face à vida profissional futura (Creswell, 2009). A abordagem metodológica utilizada é um estudo de caso (Creswell, 2009; Flick, 2009). O estudo de caso é uma estratégia utilizada quando se pretende responder a questões de “como” ou “porquê”, quando o investigador tem algum controle sobre o evento e quando o tema abordado é um fenómeno contemporâneo (Yan, 1994). O objectivo principal de um estudo de caso é descrever ou reconstruir um caso, que pode ser um individuo uma comunidade ou organização, como sujeito de análise (Flick, 2009). A partir do estudo de caso pretende-se retirar uma conclusão mais geral. A limitação que poderá surgir com a utilização deste tipo de estudo é que a concentração da investigação num único caso, poderá dificultar a generalização dos resultados (Flick, 2009).

4.2 - Amostra

No presente estudo pretende-se estudar o grupo de internos do AC e IE, que estão a realizar o seu estágio na Administração Regional de Saúde do Alentejo, mais precisamente na cidade de Évora.

Optámos por uma amostra intencional por conveniência, selecionada por questões de proximidade e acessibilidade da autora (Creswell, 2009). De acordo com a bibliografia, este tipo de estratégia de amostragem garante a realização da investigação em estudos cujo autor apresente recursos limitados no tempo e em recursos humanos (Flick, 2009). Para a nossa amostra foi escolhido este tipo de estratégia de amostragem porque era a forma mais fácil de garantir a realização do estudo.

30 Definimos como critérios de elegibilidade para a participação no estudo:

 Ser Interno do Ano Comum (IAC) ou IE.

 Ser interno no Hospital Espirito Santo de Évora ou em qualquer uma das Unidades de Saúde Familiares da cidade de Évora.

 IE com um máximo de dois anos de frequência do internato da especialidade.

Sendo assim, a nossa amostra (figura 7) foi constituída por IAC e IE provenientes de várias Escolas de Medicina de Portugal e Estrangeiro, que se encontravam a realizar o estágio no Hospital Espírito Santo de Évora ou nas Unidades de Saúde Familiar da cidade de Évora. A dimensão da amostra foi determinada por saturação teórica (Krueger & Casey, 2009), tendo-se apenas determinado que cada Grupo Focal (GF) teria no mínimo 4 participantes. A saturação teórica foi alcançada ao quarto GF tendo participado no estudo, 19 indivíduos.

Figura 7 – Desenho explicativo da amostra para o estudo.

4.3- Colheita de dados

Os dados para este estudo foram colhidos através da técnica do GF. Em ciência do comportamento é a forma de recolha de dados mais comum (Stewart et al., 2007). Permite determinar percepções, sentimentos, pensamentos sobre o tema em

Amostra Internos Ano Comum Internos Esp. MGF Internos Esp. Hospitalar Internos Ano Comum

31 investigação, e optar por escolhas mais informadas. O grupo focal envolve um grupo homogéneo de pessoas em interação social, com o objectivo de recolher dados qualitativos de uma discussão focada num tema. São úteis para a construção de questionários. Os indivíduos são selecionados de acordo com determinadas características que tem em comum, relacionadas com o tema a pesquisar com o GF (Krueger & Casey, 2009). Neste caso, os indivíduos foram selecionados por terem em comum as seguintes características:

 Estarem a realizar o internato médico na cidade de Évora.

 Jovens internos a frequentar o internato no máximo há dois anos.

A opção pela recolha de dados através da realização de GF permite utilizar a dinâmica de grupo como uma vantagem para gerar ideias. É menos dispendiosa que uma entrevista individual e mais acessível monetariamente (Bowling, 2009). De acordo com Richie & Lewis (2003) os grupos focais são uteis para pesquisar atitudes e perspectivas sobre determinado assunto. Sendo a técnica ideal a utilizar no nosso estudo, tendo em conta o objectivo principal.

Um grupo focal deve ter no mínimo 4 indivíduos presentes e no máximo 12. Pequeno o suficiente para que todos os indivíduos possam dar a sua opinião, mas com uma dimensão que permita obter opiniões diversificadas, sem tendência para a dispersão, em relação ao tema abordado na discussão (Krueger & Casey, 2009). Neste estudo optou-se por estabelecer um número mínimo de 4 e máximo de 8, tendo em conta o número total de internos da Administração Regional de Saúde na cidade de Évora, que tem uma dimensão mais reduzida quando comparada, por exemplo, com a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo.

O convite foi realizado a 20 internos através de uma carta personalizada, entregue pessoalmente pela investigadora (em anexo I). Os internos que aceitaram participar, foram divididos pelos grupos focais de acordo com as características estabelecidas pela investigadora.

Os grupos foram organizados de acordo com a fase do internato (IAC vs IE) e dentro dos IE foram divididos por grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar (IMGF) e um outro grupo de IE Hospitalares (IEH). Cada GF teria que ter no mínimo 4 internos e

32 dois investigadores, o autor do trabalho e um investigador convidado. Ao fim do 3 GF se fosse atingida a saturação não haveria necessidade de realizar mais nenhum GF. Sendo a saturação atingida quando as opiniões e perceções obtidas são constantemente repetidas e não se está a obter novas informações (Caneron, 2005; Krueger & Casey, 2009). O investigador, devido às características dos sub-grupos, optou por realizar os 4 GF mesmo que fosse atingida a saturação no terceiro GF. Dois GF com IAC (GFIAC), e dois grupos focais de IE (GFIE), um grupo focal de IMGF (GFIMGF) e um último GF com IEH (GFIEH) (figura 8).

Figura 8 – Grupos focais utilizados para recolha de dados do estudo.

O investigador conduziu a discussão através de perguntas abertas e fechadas, que servirão como guia da conversa (Anexo II- guião para grupo focal). A reunião teve um máximo de 2 horas de discussão e foi realizada na biblioteca da Unidade Saúde Familiar Salus de Évora, durante os meses de Janeiro e Fevereiro, de acordo com a disponibilidade de horários dos convidados a participar no estudo.

Para garantir o anonimato dos indivíduos e antes do início do grupo focal, foi entregue um questionário com perguntas de caracterização sociodemográfica, aos quais foi atribuído um código numérico (anexo III).

Grupos Focais

n=20

GFIAC

1 4<n<8

GFIAC

2 4<n<8

GFIE

GFIMGF

3 4<n<8

GFIEH

4 4<n<8

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4.4 - Método de análise de dados

Foi feita uma breve caracterização dos sujeitos que participaram no grupo focal, no que diz respeito ao género, idade, nacionalidade e Faculdade de Medicina de origem, usando contagens e frequências relativas. Segundo Schatzman & Strauss cit in Creswel, J., 2009, a análise de dados qualitativos deve avaliar e classificar os indivíduos que participaram no estudo. Os grupos focais foram gravados em suporte áudio que, posteriormente, foi transcrito, usando o programa Word.

Os dados recolhidos durante a realização dos grupos focais foram sujeitos a análise de conteúdo. De acordo com Bardin (2008), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de investigação através de uma descrição objectiva, sistemática e quantitativa do conteúdo das comunicações, tem por finalidade a interpretação e descrição das mensagens.

A análise dividiu-se em 3 fases (Bardin, 2008; Trindade & Vieira, 2009):

a) Pré-análise, em que se sistematizaram as ideias iniciais de forma a desenvolver um plano de análise, tendo em conta a homogeneidade e representatividade (temas, semelhanças entre si, temas, etc.)

b) Exploração do material, em que se aplicaram regras previamente estruturadas ao conteúdo das comunicações e formação de categorias. Temas agrupados por relevância e repetição.

c) Tratamento dos resultados com exposição dos resultados de forma a serem significativos e possível inferência.

Após a transcrição dos grupos focais procurou-se definir os temas centrais dentro de cada grupo, tendo como base o guião utilizado durante o GF, através de uma análise vertical (Bunchaft &Gondim, 2004). Classificando unidades de análise. Posteriormente, foi feita uma análise horizontal, comparando os temas entre os grupos e a sua relevância entre eles (Trindade & Vieira, 2009)

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4.5 - Implicações éticas e legais

O presente estudo obteve aprovação da Comissão de Ética do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Foi garantido o anonimato dos sujeitos estudados através da atribuição de um código numérico a cada um. Apenas a investigadora tem a chave desse código. Foi respeitado durante o decorrer dos GF os direitos, necessidades, valores e desejos dos participantes. Em que qualquer participante tinha o direito de pedir esclarecimentos e de desistir da sua participação no estudo até duas semanas após a realização do GF.

Os sujeitos do estudo foram informados acerca dos objectivos do estudo e convidados a participar. Ao concordarem em participar foi pedido a assinatura do consentimento informado (anexo IV).

4.6- Conflitos de interesse

A autora torna pública a responsabilidade pelo conteúdo do estudo não existindo conflitos de interesse.

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5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 - Caracterização dos participantes

Dos 20 internos convidados a participar no estudo, compareceram 19, realizando-se, ao todo 4 Grupos Focais (GFs), entre os meses de Janeiro e Fevereiro.

No GFIAC1 e GFIAC2 participaram 10 internos, 5 elementos em cada grupo respectivamente. No GFIMGF3 compareceram 4 internos e no último GFIEH4 participaram 5 elementos (figura 9).

Figura 9- Identificação dos grupos focais, códigos atribuídos e o número de participantes.

Grupos Focais GFIAC GFIAC GFIMGF GFIEH

Total Identificação Grupos Focais GF1 GF2 GF3 GF4 Identificação do participante Código/GF

Código/GF1 Código/GF2 Código/GF3 Código/GF4

Nº participantes 5 5 4 5 19

Os IAC que participaram apresentaram uma média de idade de 27 anos, com idades compreendidas entre os 25 e os 30 anos de idade. Ao contrário do grupo de IMGF, cujo o intervalo de idades era maior, o mais novo apresentava 32 anos e o participante mais velho 56 anos de idade, com uma média de 40 anos. O GFIEH apresentou idades mais homogéneas com um intervalo entre os 26 e os 29 anos e uma média de idades de 27 anos.

Dos 19 participantes, 16 nasceram em Portugal, os outros 3 elementos nasceram em países diferentes, na Bélgica, Alemanha e um último no Luxemburgo.

Relativamente às Escolas de Medicina que frequentaram verificamos que 26,5% realizou o curso em escolas estrageiras. Nomeadamente, em Espanha (Universidad de

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Extremadura-Campus Badajoz; Universitat de Barcelona e Universidad de Córdoba) e Républica Checa (Masaryk University).

Em Portugal a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (9 internos), Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2 internos) e Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (3 internos) foram as escolas médicas Portuguesas frequentadas pelos internos que participaram nos GFs.

5.2 - Análise das expectativas profissionais futuras

De acordo com a leitura e análise vertical e horizontal de todos os grupos focais, os assuntos de maior relevância e repetição são as expectativas gerais do seu futuro profissional, planos para sua vida profissional e carreira médica, problemas e oportunidades futuras e o numerus clausus vs capacidade formativa.

5.2.1 - Expectativas gerais do futuro profissional

Relativamente a esta categoria a consternação e preocupação é unânime. A actual situação económica e financeira do país é um tema que provoca inquietação e suscita grande preocupação sobre o futuro do SNS:

“… não sei se haverá no futuro Serviço Nacional de Saúde …”03/GF2;

“… eu receio o futuro do sistema nacional de saúde (…) não sei se vamos ter serviços a funcionar como estão hoje …” 04/GF3;

“… a questão principal é como vai ficar o sistema nacional de saúde …” 05/GF4.

Um profissional necessita de ter esperança e de elementos motivadores de comportamento, só assim se conseguem criar expectativas pessoais. Sem esses estímulos poderá não existir confiança para obter resultados e consequentemente ausência de expectativas (Rosa, 1994). Foi esta ausência de esperança e de atitude que encontramos quando questionamos todos os GFs sobre as suas expectativas

37 profissionais gerais. É um tema que provoca apreensão em todos os participantes dos grupos focais.

Encontramos estadios diferentes de acordo com a fase do internato. Para os GFs realizados com os IEMGF e IEH a ausência de pensamentos futuros e expectativas profissionais é geral. Para os GFs realizados com os IAC, o futuro depende de uma grande questão, qual a nota que terão no PSN. Na altura da realização do GF todos os IAC estavam na expectativa de receber a qualquer momento a nota do exame realizado para o acesso à especialidade. A classificação irá decidir qual o lugar que irão ocupar na lista nacional e a escolha da especialidade médica. Os indivíduos estavam muito concentrados e focados na nota do exame de admissão à especialidade. As suas expectativas futuras estavam dependentes de um único resultado o que dificultou a sua capacidade de pensar para além deste futuro próximo. Tal evidencia, que a escolha de especialidade é determinante na construção da futura vida profissional condicionando-a:

“Neste momento expectativas futuras é esperar pela nota do exame para a especialidade …” 01/GF1;

“Expectativas futuras (…) é um assunto que não interessa, quando tudo depende da nota que estou à espera, não posso pensar no futuro …” 02/GF1;

“… não sabemos se conseguimos a especialidade que queremos!” 01/GF2;

“… a indecisão e o desconhecido não sabemos o que vai acontecer, nem o que pensar (…) nem sei se terei lugar para tirar a especialidade …” 01/GF2.

Com estes GFs, GF1&2 percebeu-se que a escolha da especialidade é um dos momentos decisivos para a sua futura vida profissional. No entanto, as vagas disponíveis para o internato da especialidade são limitadas e refletirão, em última análise, as necessidades do SNS. Será sempre uma fase crucial, porque marca o início real da vida profissional, já que não conseguirão exercer sem a especialidade.

38 A escolha da especialidade é uma etapa profissional importante para estes futuros médicos especialistas, é onde se constroem as suas expectativas profissionais. Este será um dos momentos onde se poderá conseguir medir as suas expectativas, sendo que estas e a consequente motivação, são factores cruciais para um bom desempenho. (Franco et al, 2004)

Para os participantes dos GF3&4, futuro é uma “pergunta sem resposta”. Em ambos os grupos não existem grandes perspectivas profissionais e referem, inclusive, incapacidade em pensar e prever o futuro profissional. Portugal tem sido sujeito a grandes alterações desde a entrada da Troika com constantes reestruturações e cortes (estruturais e financeiros) (Conceição et al., 2011). Este ambiente de mudança provoca ansiedade e incertezas profissionais futuras:

“ A perceção que tenho é que está mal e cada vez pior …” 01/GF3;

“… hoje não se pode fazer planos a 2 anos (…) não dá para programar porque as coisas mudam a toda a hora.” 04/GF3;

“… costumo pensar se foi uma escolha correcta, onde vamos ficar (…) as condições em que vamos ficar …” 05/GF4.

O futuro para estes internos da especialidade é um misto de indecisões e incertezas. Não conseguem definir os resultados e as condições ideias de trabalho que pretendem devido à instabilidade que se vive no sector saúde. Esta ausência de expectativas provoca uma falta de motivação geral (Rosa, 1994).

Segundo Ferreira e colegas (1986), as expectativas profissionais necessitam de regras claras, que possam relacionar o desempenho e a recompensa. Permitindo ao individuo conhecer com clareza o que se espera do seu trabalho e como será avaliado. É esta clareza e ausência de regras bem definidas, que são necessárias a estes jovens internos, para conseguirem ultrapassar o momento de indecisão e dúvidas sobre o seu futuro profissional.

Porém, no GF3, existe ainda uma esperança no grande papel que os médicos de família terão no futuro SNS. A necessidade de diminuir os custos com tratamentos e

39 internamentos hospitalares e o número de médicos de família em idade de pré-reforma aumentam as expectativas dos internos de MGF em relação à sua carreira médica:

“… na nossa especialidade ainda estou optimista!” 02/GF3;

“… custa menos pagar 1242€ que me pagaram este mês para fazer prevenção (…) na nossa especialidade daqui a 7 anos nesta USF está quase tudo reformado.” 04/GF3

Na verdade a preocupação e a incapacidade de pensar e planear o futuro é comum a todos os grupos. Existe uma desmotivação generalizada, com uma pequena esperança observada no GF3. O que poderá ter consequências num futuro próximo. De acordo com Dussault & Fronteira (2010) é necessária motivação para que se possa produzir serviços em quantidade com qualidade adequada.

5.2.2 - Planos para a vida profissional e carreira médica

Relativamente às opções futuras os grupos estão e fases diferentes. Os GF1&2 ainda necessitam de realizar a escolha da especialidade. Enquanto o GF3&4 já estão a realizar o internato da especialidade, estão numa fase mais avançada, onde necessitam de pensar que tipo de trabalho e onde pretendem exercer no futuro como especialistas.

No entanto, em todos os GFs foi mais um momento de insatisfação. Ficou demonstrado que neste momento limitam-se a viver o presente e apresentam grande receio de pensar e estruturar planos para o futuro:

“… até posso tirar 100, mas se não abrir a especialidade eu não entro no que quero (…) é desanimador.” 04/GF1;

“… há falta de oportunidades de trabalho e de especialização …” 03/GF2;

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“… neste momento não tenho planos nenhuns (…) todos os anos surgem coisas novas.” 04/GF4;

“Não podemos desejar ir para aqui ou para acolá, não sabemos se isso poderá acontecer.” 02/GF4.

No GF1&2, não conseguiam pensar no futuro porque tudo dependia da nota do exame de admissão. Alguns dos elementos do GF1 afirmavam inclusive que nunca tinham pensado sobre a área de especialização que mais gostavam e qual será a sua opção de escolha. Inicialmente apresentaram alguma dificuldade em definir quais as opções, com grandes momentos de indecisão, que demonstram a falta de motivação e de perspectivas futuras:

“… gosto de todas as áreas, não sei …” 02/GF1;

“… nunca pensei muito nisso, mas imagino-me a trabalhar numa unidade de saúde familiar …” 03/GF1.

Após um momento de descontração conseguiu-se em ambos os grupos (GF1&2) prospetar o que todos ambicionam. De acordo com Santana e colegas (2013) entre os anos 2001 e 2011, 78% dos médicos especialistas formados pertencem a especialidades hospitalares. Tal como é referido na literatura, as especialidades médicas hospitalares são as que apresentam maior atractividade, para estes internos. A maioria dos IAC pretende especialidades cirúrgicas, sendo também referidas a especialidade de Otorrinolaringologia, Psiquiatria, Radiologia.

Só um dos 10 participantes referiu que gostava de trabalhar como médico de família. Também se observou nos GF1&2 a falta de atractividade da especialidade de MGF. É uma especialidade que tenderá a perder rapidamente profissionais no futuro (Santana et al., 2013). A carreira médica de MGF parece não ter capacidade de reposição dos efectivos, 74% do total dos médicos pertencentes a esta carreira tem mais de 50 anos. Os escalões mais jovens parecem ser ainda em número insuficiente, para substituir os médicos que se irão retirar de funções nos próximos anos na especialidade de MGF (Santana et al., 2013). É necessário tomar algumas medidas que tornem a escolha da

41 especialidade MGF mais atractiva. Estudos realizados sobre quais as razões da escolha da especialidade de medicina familiar, revelam que o contexto escolar, a proximidade do doente e a necessidade de manter o equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho são algumas das causas apontadas (Belladi, 2004; Hutt, 2014). Seria interessante tentar perceber em Portugal, quais as principais razões que condicionam a escolha de MGF, para se adoptarem as devidas medidas, que tornassem MGF, uma especialidade mais atractiva. Neste trabalho, só foi possível identificar uma das principais razões para a escolha de MGF, o reconhecimento que os doentes apresentam pela dedicação do seu médico de família. Foi um dos grandes estímulos, que os participantes no GF3 apresentaram como factor motivador ao seu trabalho diário.

Apesar dos dados apresentados relativamente às especialidades que pretendem frequentar, 20% dos internos ainda não apresentou uma ideia definida. A carreira de investigação clínica só foi referida por um elemento. Porém, este afirmou que seria difícil conciliar com a carreira médica que gostava de exercer:

“Gostava de investigação (…) investigar e prática clinica não permite vida privada.” 01/GF1.

Relativamente às opções futuras após a realização do internato da especialidade

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