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Objectivos do estudo e questões de investigação

OBJECTIVOS E METODOLOGIA DO ESTUDO

1. Objectivos do estudo e questões de investigação

A presente investigação teve como finalidade a compreensão da relação entre

alguns factores psicossociais e a adesão terapêutica no doente com diagnóstico de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

Deste modo procurou-se atingir os seguintes objectivos:

• Traduzir e adaptar para português o instrumento de avaliação da adesão terapêutica na infecção VIH/SIDA - "Cuestionarío para la Evaluación de la

Adhesion al Tratamiento Antirretrovirat' (CEAT-VIH), da autoria do

Professor Doutor Eduardo Remor (2002a; 2002c) que será apresentado no capítulo seguinte.

• Estudar a relação existente entre a adesão terapêutica e:

o Variáveis sociodemográficas (género, idade, nível de escolaridade, ocupação e classe social)

o Variáveis clínicas (tempo de diagnóstico, início da terapêutica anti-retrovírica, marcadores biológicos da doença, esquema terapêutico, efeitos secundários, adesão aos levantamentos da TARV na Farmácia do hospital)

o Sintomatologia psicopatológica

Adesão Terapêutica na Infecção VIH/SI DA

Sendo o objecto de estudo a adesão terapêutica em portadores de VIH, pretendeu-se compreender quais os factores que a promovem ou dificultam. Esta questão constitui-se de suma importância no momento actual, uma vez que a adesão à TARV promove a supressão viral, a diminuição de resistências do vírus aos fármacos, a diminuição das infecções oportunistas com consequente número reduzido de internamentos, favorecendo uma melhor percepção da qualidade de vida, como foi exposto nos capítulos anteriores.

As variáveis estudadas encontram-se articuladas no modelo conceptual esquematizado na Figura 3.

Variáveis psicossociais Qualidade de vida (segundo avaliação do WHOQOL-Bref)

Variáveis clínicas Via de transmissão do VIH Tempo de infecção pelo VIH/SIDA Linfócitos T CD4/mm3

Carga vírica Estádio da doença

Início da terapêutica anti-retrovírica Esquema terapêutico

Efeitos secundários do tratamento Adesão aos levantamentos da terapêutica

Interrupção do esquema terapêutico Acompanhamento em consulta de Psicologia

Variáveis Psicopatológicas Sintomatologia emocional (segundo avaliação do BSI)

Figura 3 - Modelo conceptual das relações entre as variáveis estudadas no estudo empírico

Tendo por base a literatura recolhida e face aos objectivos inicialmente definidos colocam-se as questões de investigação que a seguir se referem.

Devido à dificuldade em avaliar a adesão terapêutica ao tratamento anti-retrovírico recorrendo a um instrumento específico, espera-se que a tradução e a adaptação do CEAT-VIH em Portugal possa constituir uma boa medida de adesão terapêutica na infecção pelo VIH/SIDA.

A literatura parece não apresentar uma postura consensual relativamente à relação entre as variáveis sociodemográficas (género, idade, nível de escolaridade e classe social) e a adesão à TARV. No entanto, de acordo com os estudos realizados, verifica-se que existem características sociodemográficas comuns nos indivíduos que apresentam menor grau de adesão, como baixa escolaridade, baixo nível socioeconómico, em mulheres e jovens e sem morada fixa. Procurar-se-á deste modo, analisar se estas variáveis podem estar associadas à adesão terapêutica à TARV nesta amostra de portadores de VIH/SIDA.

Os indivíduos portadores de VIH/SIDA, ao iniciar a TARV e durante a sua continuidade, podem desenvolver determinados quadros psicopatológicos que parecem contribuir para a fraca adesão às terapêuticas. Sabe-se também que indivíduos portadores de doença mental, de estados depressivos e com quadros de ansiedade aderem de forma inadequada aos tratamentos. Concomitantemente, indivíduos dependentes de substâncias também apresentam níveis baixos de adesão. Deste modo, pretender-se-á analisar a relação entre a presença de indicadores psicopatológicos (depressão, ansiedade, hostilidade, etc.) e a adesão terapêutica à TARV.

A qualidade de vida assume-se como um importante construto, sobretudo quando falamos de saúde. Uma vez que, com as terapêuticas anti-retrovíricas combinadas actuais assistimos a um aumento na esperança de vida, importa compreender se os indivíduos portadores de VIH/SIDA percepcionam a sua qualidade de vida como boa, em função da adesão ao tratamento.

O tempo de infecção pode estar também relacionado com o grau de adesão. Estudos sugerem que os indivíduos infectados há mais tempo aderem melhor à prescrição anti-retrovírica devido à diminuição de infecções oportunistas, mas não há consenso junto dos autores. Outras investigações realizadas sugerem o contrário, ou seja, que os indivíduos com menor tempo de diagnóstico aderem melhor às terapêuticas devido ao medo da progressão da doença.

Vários são os factores que influenciam o processo de adesão à TARV na infecção VIH/SIDA descritos na literatura. Com a realização deste estudo procurou-se compreender que factores estão mais presentes e como condicionam todo o processo de adesão.

Adesão Terapêutica na Infecção VIH/SIDA

2. Método

2.1. Participantes

A população alvo deste estudo é constituída por 125 utentes portadores de VIH/SIDA que frequentam a consulta externa de Infecciologia do Hospital de Joaquim Urbano, no Porto.

Os critérios de inclusão na amostra foram os seguintes: ■ Sujeitos com idade superior a 18 anos

■ Aceitação do consentimento informado

■ Diagnóstico de infecção pelo VIH em qualquer estádio da doença ■ Prescrição da TARV há pelo menos três meses

■ A frequentar regularmente a consulta externa de Infecciologia (foram excluídos os utentes internados durante o período de recolha da amostra)

2.1.1. Caracterização dos participantes em função das características sociodemográficas

A caracterização sociodemográfica dos sujeitos foi realizada com base numa análise descritiva das variáveis. Relativamente à variável idade, tratando-se de uma variável quantitativa, são apresentados os valores da média, desvio-padrão e limites mínimo e máximo.

Pela análise do Quadro 2 podemos observar que se trata de uma amostra heterogénea, com um intervalo de idades situado entre os 20 e os 68 anos, com uma média de 39,9 anos e um desvio-padrão de 9,8.

Relativamente à variável género, verificamos que a amostra é constituída maioritariamente por sujeitos do sexo masculino, correspondendo a 80,8% do total sendo apenas 19,2% do género feminino.

Quanto à variável estado civil, é de salientar que a maioria dos sujeitos é solteira (44%), seguida dos casados (23,2%) ou a viver em união de facto (16,8%).

Quadro 2 - Caracterização dos participantes em função das características sociodemográficas

Idade M DP Min Máx Idade 39,9 9,8 20 68 N (%) Género Masculino 101 80,8 Feminino 24 19,2

Estado civil Solteiro (a) 55 44

Casado (a) 29 23,2

União de facto 21 16,8

Separado (a) 5 4

Divorciado (a) 10 8

Viúvo (a) 5 4