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UUTG UIGG0-

19. Net lending(+)/net borrowing(-) (budget balance) (15-

1.3. Objectivos e Metodologia

Este trabalho visa estimar, com o rigor possível, o impacto das pensões mínimas na distribuição do rendimento e dos índices de pobreza. Os dados a utilizar para a análise serão retirados do Inquérito aos Orçamentos Familiares de 2000.

Note-se que na medida em que as pessoas vivem inseridas em agregados familiares há uma partilha conjunta do orçamento. Dada a inexistência de informação sobre a distribuição do consumo intra-agregado, temos que a única forma de estudar estatisticamente a situação de pobreza é aceitá-la como uma característica do agregado e não como uma característica onde possa existir heterogeneidade individual dentro de cada agregado. As fontes de rendimento de cada indivíduo do agregado são somadas e é o total que conta. Isso significa, por exemplo, que quando um pensionista recebe uma pensão mínima que faz o rendimento total do seu agregado passar para lá da linha de pobreza então essa pensão mínima teve um impacto não só no nível de pobreza do pensionista como no de todos os outros membros do agregado em que o pensionista está inserido.

A metodologia consistiu em definir um esquema de imputação que, para cada pessoa na base de dados e para cada agregado familiar, define se são ou não recipientes de pensões mínimas e em caso positivo quais os montantes anuais envolvidos. Uma vez resolvido o problema anterior, será calculada uma bateria de indicadores de despesas e redistributivos (despesas com pensões mínimas, índices de desigualdade, índices de pobreza, % do montante gasto em pensões mínimas que foram para agregados pobres, etc.).

Seguidamente criaremos um cenário contrafactual simulando um aumento das pensões mínimas e identificando o impacto em termos de despesas e efeitos na distribuição do rendimento e níveis de pobreza. Em todos estes casos assumimos irrealisticamente que não há reacções comportamentais por parte dos trabalhadores e pensionistas às políticas públicas. Isso significa que os efeitos por nós identificados podem ser vistos apenas como sendo uma primeira aproximação, sendo necessário explicitar e modelizar o comportamento dos agentes envolvidos para obter estimativas mais rigorosas dos efeitos das políticas públicas.

2. A Distribuição do Rendimento, a Desigualdade e a Pobreza

A fonte dos dados usados neste trabalho é o Inquérito aos Orçamentos Familiares de 2000. Ao nível dos agregados domésticos privados (ADP) usamos dados para os rendimentos totais e por fonte de rendimento, juntamente com algumas características do agregado, incluindo a sua dimensão, quer em número de pessoas quer em termos da escala de equivalência. Uma característica importante de cada ADP é o seu ponderador, o qual reflecte a taxa de amostragem usada pelo INE na construção dos dados. Estes ponderadores indicam grosso modo quantos agregados da população portuguesa são representados por cada observação (ou seja são o inverso da taxa de amostragem). Todos as estatísticas e cálculos apresentados neste trabalho usam estes ponderadores pelo que os resultados não são comparáveis com quaisquer outros resultados já publicados onde esses ponderadores tenham sido ignorados. Todos os montantes foram convertidos para Euros.

A distribuição do rendimento que melhor permite aferir das condições de vida das populações é a distribuição individual do rendimento por adulto equivalente. Para tal, torna-se necessário proceder à transformação da distribuição inicial do rendimento de forma a considerar simultaneamente a construção do rendimento equivalente e a consideração de cada indivíduo como unidade de análise.

O rendimento equivalente é obtido, dividindo o rendimento total de cada agregado pela sua dimensão em termos de “adultos equivalentes”, utilizando a escala de equivalência modificada da OCDE. Esta escala atribui um peso de 1.0 ao primeiro adulto num ADP, 0.5 aos restantes adultos e 0.3 a cada criança. O rendimento equivalente permite ter em conta

as diferenças na dimensão e composição dos diferentes agregados na análise da distribuição.

De forma a passarmos da distribuição do rendimento por agregado para a correspondente distribuição individual, e assim obtermos uma mais apropriada medida do bem-estar de cada pessoa na sociedade, o rendimento equivalente do agregado é atribuído a cada indivíduo que o constitui. Os resultados apresentados utilizando a distribuição individual do rendimento por adulto equivalente são, assim, definidos em termos do número de pessoas e não de agregados.

O Quadro 1 apresenta os indicadores para a distribuição individual dos rendimentos equivalentes anuais. O rendimento individual equivalente médio é de 8851€. As distribuições individuais foram construídas combinando os ponderadores de cada agregado familiar com o número de membros do agregado.

Quadro 1

A distribuição individual do rendimento equivalente Percentis 5% 2833 Observações 10 020 25% 4863 Pessoas representadas 10 106 339 50% 7164 Média 8851 75% 10335 Desvio Padrão 6711 95% 21498 Variância 45038180

Fonte: cálculos dos autores usando os dados do Inquérito aos Orçamentos das Famílias de 2000 com inclusão dos ponderadores amostrais. Valores do rendimento em euros.

A partir dos dados é possível calcular indicadores que permitem quantificar os níveis de desigualdade da distribuição do rendimento bem como os níveis de pobreza.

Na abordagem da desigualdade, serão utilizadas diversas medidas de forma a ilustrar não só a assimetria existente em diferentes partes da distribuição, como os fundamentos dos diferentes juízos normativos na avaliação da desigualdade.

O índice de Gini é, provavelmente, a medida de desigualdade mais utilizada. Se representarmos por

i

y

o rendimento de cada indivíduo, e ordenarmos estes de forma crescente com o rendimento, o Índice de Gini pode ser calculado como:

n i 2 i=1

1

2

G = 1 +

-

(n - i +1)Y

n

(n

μ)

⎛ ⎞

⎜ ⎟

⎝ ⎠ ⎝

⎠∑

(1)

onde μ representa o rendimento médio da distribuição. Este índice é particularmente sensível a transferências efectuadas no meio da distribuição. O decréscimo na desigualdade resultante de uma transferência regressiva será tanto maior quanto mais perto da moda da distribuição os agentes envolvidos se encontrarem.

( )

1 1 1 1

1

1

1

n i i

A

y

n

ε ε

μ

− − =

⎛ ⎞ ⎡⎛ ⎞

= − ⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎢⎝ ⎠

⎝ ⎠

(2)

onde ε é um parâmetro de aversão à desigualdade. A sensibilidade do Índice de Atkinson a diferentes partes da distribuição depende do valor atribuído ao parâmetro de aversão à desigualdade ε. Quanto maior ε, maior o peso atribuído aos rendimentos de menor magnitude.

Na apreciação das famílias e indivíduos em situação de pobreza colocam-se duas questões de natureza metodológica: a primeira é a identificação da linha de pobreza, isto é, do limiar de rendimento abaixo do qual uma família pode ser considerada pobre. A segunda questão prende-se com as medidas de pobreza. Embora a quantificação da proporção dos pobres existentes numa dada sociedade seja um indicador importante do seu nível de bem- estar, é igualmente relevante dispor de informação que nos permita avaliar das condições de vida da população pobre.

No que concerne à determinação da linha de pobreza, utilizaremos neste trabalho o valor correspondente a 60% do rendimento mediano como limiar de pobreza. Esta é a abordagem corrente seguida nos diferentes países da União Europeia e recomendada pelo Eurostat.

As medidas de pobreza adoptadas neste trabalho, são as medidas de Foster-Greer- Thorbecke (FGT), dadas pela expressão:

1

1

1

q i i

y

P

n

z

α α =

⎛ ⎞

= ⎜ ⎟ ⎜⎝ ⎠

(3)

onde

z

é a linha de pobreza, i

y

é o rendimento da unidade de observação i, n é o número de unidades de observação na amostra, q é o número de pobres e α é um parâmetro de aversão à pobreza. O valor do parâmetro α determina o tipo de índice estimado.

Se α=0 apenas o número de pobres conta, pelo que Pα = q/p. O índice consiste no

rácio entre o número de pobres e a população total, ou seja, temos a prevalência da pobreza ou, usando uma terminologia mais consagrada, a taxa da pobreza.

Quando α=1 o indicador de pobreza corresponde à soma, para todos os pobres, das diferenças entre os seus rendimentos e a linha de pobreza, expressa como percentagem da linha de pobreza. Trata-se de uma medida da intensidade da pobreza, já que maiores níveis individuais de pobreza, na forma de rendimentos mais baixos, conduzem a maiores valores para o índice agregado.

É também tradicional na literatura calcular a medida de pobreza admitindo que, a gravidade da situação de privação cresce mais do que proporcionalmente com a distância a que o rendimento está da linha de pobreza. Trata-se de uma tentativa de medir a severidade da pobreza. No caso particular de α=2, admite-se que a gravidade cresce com o quadrado da distância proporcional do rendimento à linha de pobreza.

O Quadro 2 apresenta os valores para os índices de Atkinson com parâmetro de aversão à desigualdade de 1 e de 2 e para o índice de Gini.

Quadro 2

Indicadores de desigualdade

Distribuição Individual do Rendimento Equivalente

Índice Valor Atkinson2 0.3131 (0.0066) Atkinson1 0.1802 (0.0047) Gini 0.3469 (0.0052)

Nota: Erros Padrão das estimativas entre parêntesis

O Quadro 3 apresenta os valores estimados para os três indicadores de pobreza da família de Foster-Greer-Thorbecke (taxa de pobreza, défice de recursos relativo dos pobres (intensidade) e severidade da pobreza). Os valores baseiam-se numa linha de pobreza relativa igualmente apresentada. Como já referido, esta linha de pobreza segue a convenção usada pelo Eurostat para modificar o critério primeiramente sugerido por Fuchs (1967) construímos a linha de pobreza como sendo 60% do rendimento equivalente mediano.

Quadro 3 Indicadores de pobreza

Distribuição Individual do Rendimento Equivalente

Índice Valor Linha de Pobreza 4298.7 € (46.27) Taxa de Pobreza: F0 0.1855 (0.0056) Intensidade da Pobreza: F1 0.0461 (0.0019) Severidade da Pobreza: F2 0.0168 (0.0010)

Nota: Erros Padrão das estimativas entre parêntesis

De acordo com os padrões adoptados as estimativas apontam para que 18.6% da população portuguesa seja pobre, ou seja tenha um rendimento equivalente abaixo de 4299

€. As características da distribuição dos rendimentos dentro da sub-população pobre são

importantes e a literatura recente sugere a utilização de medidas destas características de através dos índices de intensidade e severidade da pobreza (cf. entre muitos outros Jenkins e Lambert (1997)).

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