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Com base em uma visão funcionalista da língua, especialmente voltada à mudança via gramaticalização, pretendemos descrever e analisar o uso do item linguístico mesmo, elencando suas categorias funcionais, por meio da análise de uma amostra escrita sincrônica específica (composta por Trabalhos de Conclusão de Curso – TCCs), com vistas a contribuir com os estudos da área voltados à gramaticalização de itens de natureza pronominal.

1.3.2 Objetivos específicos

i. Mapear as funções desempenhadas pelo item mesmo numa amostra de escrita acadêmica atual;

ii. Distribuir as categorias funcionais mapeadas em termos de frequência de uso, visando a verificar quais são as mais recorrentes na escrita acadêmica;

iii. Analisar e descrever os contextos linguísticos e extralinguísticos de ocorrência de mesmo na amostra estudada;

iv. Traçar uma provável trajetória funcional de mudança do item mesmo, com base em uma perspectiva de gramaticalização.

1.3.3 Questões e hipóteses

As quatro questões a que nos propusemos responder foram construídas com base em nossos objetivos, e as hipóteses, como já explicado, formuladas a partir da perspectiva teórica funcionalista que embasa esta pesquisa e das referências consultadas que tratam do mesmo – sobretudo Amorim (2009) –, além de um exame preliminar dos dados. Salientamos que as hipóteses serão apresentadas nesta seção em caráter geral, sendo retomadas e detalhadas, respectivamente, no capítulo reservado à explanação dos Procedimentos Metodológicos.

Questão 1: Que funções o item mesmo desempenha na escrita acadêmica atual?

Por ser uma amostra de modalidade escrita em registro formal, acreditamos que as funções de caráter conectivo (ex.: conjunções), assim como as que estabelecem relações anafóricas, como os pronomes (principalmente o “pronome demonstrativo polêmico”), por exemplo, serão encontradas em nosso córpus. Ademais, é possível que se apresentem empregos de mesmo com função de advérbio, operador argumentativo e articulação textual.

Acreditamos que, além desses, variados usos de mesmo brotarão nos textos dos indivíduos que compõem nossa amostra, considerando que tal item está presente em praticamente todas as esferas comunicativas e apresenta um amplo leque de possibilidades funcionais.

A fim de identificarmos essas funções e outras em nosso córpus, utilizaremos como base as seguintes questões:

(a) Essa função de mesmo retoma algo?

(b) Essa função de mesmo estabelece uma relação de concomitância?

(c) Essa função de mesmo reforça algo? (d) Essa função de mesmo conecta algo? (e) Essa função de mesmo inclui/exclui algo? (f) Essa função de mesmo articula o texto?

Questão 2: Quais são as funções mais recorrentes de mesmo na escrita acadêmica do córpus analisado?

Acreditamos que as categorias anafóricas de mesmo serão as mais recorrentes em nosso córpus, porque, de um modo geral, elas têm sido bastante utilizadas em meios formais para retomar antecedentes sem lhes atribuir juízos de valor (como, por exemplo, o “demonstrativo polêmico”, um mecanismo neutro de retomada).

Já as funções de caráter reforçativo (como a classe dos advérbios) provavelmente não serão tão recorrentes, devido à modalização presente nas situações comunicativas acadêmicas – a não ser que haja uma transcrição de fala no texto analisado, o que nos direciona sempre a dar um olhar mais qualitativo aos resultados quantitativos.

Questão 3: Como se configuram os contextos linguísticos e extralinguísticos de uso de cada uma das funções de mesmo?

Acreditamos que as diferentes funções mapeadas para o mesmo correspondam a diferentes contextos linguísticos com particularidades de natureza morfossintática. O detalhamento desses contextos será feito adiante, ao retomarmos essa questão/hipótese. Com base nos resultados de Amorim (2009) e dada a especificidade da amostra desta pesquisa, supomos que os fatores extralinguísticos (sexo/gênero dos indivíduos, data de publicação dos trabalhos e sujeito-autor do texto) provavelmente não influirão no uso de um ou outro tipo de mesmo. Todavia, acreditamos que é possível encontrar marcas estilísticas na escrita de cada indivíduo, além de contextos linguísticos (morfossintáticos e semântico-pragmáticos) comuns a certos tipos de mesmo.

Questão 4: Qual seria uma possível trajetória funcional do mesmo com base em uma perspectiva da gramaticalização?

Em termos gerais, acreditamos que seja possível delinear um percurso de mudança para o mesmo que siga o cline de gramaticalização proposto por Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991):

Mais especificamente, em consonância com essa direcionalidade, as diferentes categorias funcionais a serem

mapeadas deverão se distribuir em uma (ou mais) trajetória(s) que indique(m) a(s) rota(s) de gramaticalização pela(s) qual/quais o vocábulo mesmo pode ter passado e estar ainda passando na língua portuguesa.

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Com nossos objetivos, questões e hipóteses delineados, passemos à revisão teórica das obras que embasaram a pesquisa – sobretudo às voltadas à vertente funcionalista e relacionadas à gramaticalização – e das pesquisas linguísticas que se dedicaram ao item mesmo ou a um de seus usos específicos.

2 REFERENCIAIS PARA A ANÁLISE

Neste capítulo, fazemos uma breve contextualização aos estudos de base funcionalista e apresentamos alguns pressupostos e conceitos da abordagem do funcionalismo linguístico que ancora este trabalho, com foco no paradigma da gramaticalização e seus princípios, bem como em mecanismos de mudança semântica. Expomos, ainda, algumas noções sobre anáforas e mecanismos de retomada; e, por fim, apresentamos alguns trabalhos voltados à análise do vocábulo mesmo em (pelo menos uma de) suas possibilidades na língua.

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