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6.1 AGRICULTOR SILVA

6.1.2 O objetivo produtivo

Em setembro de 2011, o agricultor Silva criava em seu lote 38 cabeças de gado (tabela 1). Contudo em outubro do mesmo ano houve alterações significativas na estrutura do rebanho em virtude da venda de alguns animais. Visando obter recursos financeiros para realizar reformas na casa de moradia da família e em áreas de pasto, o agricultor vendeu: um (1) reprodutor e dez (10) novilhas (Figura 16). Ainda, para efetuar a reforma do pasto, o agricultor decidiu retirar todos os animais do lote e colocá-los em pasto alugado de outro

agricultor do próprio assentamento Belo Horizonte I, permanecendo apenas com uma matriz para fornecimento do leite de consumo diário da família.

Figura 16. Variação na estrutura do rebanho em 2011.

Categoria Animal Quantidade (cabeças) Setembro Outubro Matrizes 22 22 Reprodutor 2 1 Novilhas 10 0 Novilhos 0 0 Bezerros 3 3 Bezerras 1 1 Total rebanho 38 27

Fonte: pesquisa de campo.

O padrão racial do rebanho no lote do agricultor Silva é heterogêneo, proveniente de vários cruzamentos entre raças zebuínas e européias, principalmente entre a raça nelore x holandês e gir x holandês, resultando o chamado gado cruzado ou mestiço (Figura 17), que se caracteriza pela: i) rusticidade dos zebus; ii) aptidão leiteira das raças européias; iii) boa adaptação ao clima tropical amazônico; iv) produção de dupla finalidade. Apesar das vantagens oriundas desta heterozigoze, como por exemplo, a adaptação ao clima e a rusticidade, em termos de produtividade esses animais, em geral, não podem ser comparados com aqueles de raças de aptidão leiteira ou para corte, visto que apresentam índices inferiores.

Figura 17. Exemplares de gado mestiço leiteiro: reprodutor (esquerda), matriz e bezerro (direita).

Entre março e setembro de 2011 foram ordenhadas no total 18 matrizes. O registro mínimo foi de 10 e o máximo de14 matrizes lactantes, sendo 12 matrizes ordenhadas em média por mês (Figura 18). Esta flutuação do efetivo ordenhado reflete a desigualdade entre os períodos de lactação das matrizes durante o período do registro zootécnico da produção de leite24. O período de lactação das matrizes dura em média 8 meses e varia entre 5 e 10 meses.

Figura 18. Matrizes ordenhadas em 2011.

FONTE: elaborado pela autora.

Este conjunto de matrizes apresentou capacidade média de produção de 45 litros/leite/dia, mas cada matriz teve capacidade produtividade média diferenciada (Tabela 1). De forma geral, os valores iguais ou próximos entre a média, mediana e moda, em relação à amplitude produtiva (mínimo e máximo), indicam que a produtividade das matrizes ao longo do período de lactação registrado apresenta homogeneidade. Entretanto, como sugere o desvio padrão, houve matrizes que apresentaram importante variabilidade na produtividade durante o período de lactação, como ilustra os casos de matrizes com valores acima de 1,5l de leite (Tabela 1).

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Durante o período que foi realizado o registro zootécnico da produção de leite, somente 28% das matrizes foram acompanhadas do inicio ao fim da lactação, 33% encerraram a produção durante o período acompanhado e 39% iniciaram lactação 0 2 4 6 8 10 12 14

mar abr mai jun jul ago set média

M at ri ze s o rd en h ad as

Tabela 1. Resumo descritivo da produtividade das matrizes relativo ao período de lactação registrado. Produtividade média (l) Mediana (l) Mod a (l) Mínimo (l) Máximo (l) Desvio padrão (l) Lactação (meses) 2,2 2 - 1 3,5 1,3 2 2,4 2 3 1 4 0,9 8 2,6 3 3 2 3 0,9 6 2,8 2,8 - 2,5 3 0,4 2 2,9 3 3 2 3,5 1,4 8 2,9 3 3 1,5 4,5 1,5 5 3,1 3 3 2,5 4 0,6 2 3,8 4 2 2 6 1,6 8 4 3,5 3 3 5,5 2,2 5 4 4 - 2,5 6 1,4 2 4,1 4 5,5 2 6 1,5 8 4,2 4 3 2 6,5 2,1 10 4,2 4 5 1,5 7 1,8 10 4,4 4 4 3 7 2,1 9 4,7 5 5 1,5 7 1,9 9 5,1 5 5 4 6 2,3 9 5,3 5 5 4 7 1,3 3 7 7,3 7,5 6 7,5 0,7 3

FONTE: elaborado pela autora.

A partir do recorte metodológico definido para o terceiro mês de lactação, as matrizes foram classificadas em três estratos de produtividade (Tabela 2). De acordo com os resultados da ANOVA existem diferenças significativas entre as médias de produtividade entre os estratos e o teste de Tukey indica que as três médias se diferenciam (Tabela 2).

Tabela 2. Estrutura das matrizes segundo os estratos de produtividade. Estrato de produtividade Médias de produtividade Número de matrizes Baixa 2,6a 6 Média 5b 4 Alta 7c 3

Fonte: elaborada pela autora. Resultados que apresentam letras distintas se diferem ao nível de significância de 5%.

De acordo com o agricultor, o leite e o bezerro constituem a principal fonte de renda da família, nesta ordem de importância, mas em termos de funcionamento do sistema de criação cumprem funções diferenciadas. A renda do leite é utilizada para manter: 1) a família: com suprimentos e gastos pessoais; 2) o rebanho: com remédios e sal mineral; e 3) a pastagem: pagamento de diárias para roço do pasto. A renda do bezerro é utilizada: 1) em investimentos no lote, como ilustra o caso, para reforma dos pastos e da casa; 2) em casos emergenciais, como viagens ou em casos de doença.

Até chegar à venda, os bezerros grandes passam por práticas de manejos diferenciados a partir dos 7 meses em média (período em que os bezerros são apartados), quando então ocorre uma sub-divisão no lote 1 (bezerros grandes) de acordo com o conformação corporal e o sexo do animal: A) independente de tamanho e idade todas as fêmeas são incorporadas ao rebanho; B) machos com conformação corporal próximo ao padrão nelore entre 6 e 7 meses (150 kg a 200 kg), são vendidos para fazendeiros vizinhos no valor de R$ 500,00; C) machos que não atendem ao padrão nelore aos 7 meses permanecem no lote até atingirem peso e tamanho aceito pelo mercado. Para isso, após a desmama com 8 meses eles são integrados ao lote 2 para crescimento e engorda através do pastejo. Entre 9 e 12 meses são vendidos a preços que variam de R$ 400,00 a R$ 500,00.

Análise sobre os elementos: qual é o objetivo produtivo?

A partir dos estratos anteriormente definidos no percurso metodológico, a estrutura do lote de matrizes ordenhadas em 2011 apresenta: 1) 33% com produtividade baixa, 2) 22% com produtividade média; e 3) 17% com produtividade alta. Dos 28% restantes não foi possível fazer a leitura da produtividade em função do recorte metodológico definido para o terceiro mês do período de lactação.

Segundo esta estrutura, o perfil produtivo das matrizes do agricultor Silva caracteriza- se como finalidade produtiva predominante para corte e de dupla finalidade, assim pode-se desfrutar da produção de leite e ainda ter bezerros com desenvolvimento corporal que em maior ou menor grau se aproximam ao padrão nelore. Com este tipo de produção mista, o agricultor produz leite para consumo da família e vende diariamente para o laticínio do município de São Domingos do Araguaia e ainda vende os bezerros para fazendeiros vizinhos ao assentamento.

A renda obtida com venda retorna ao sistema de criação de duas formas, no caso do leite, caracteriza-se pelo retorno através de gasto frequênte com objetos de valor baixo,

enquanto que para o caso do bezerro, caracteriza-se pelo retorno por meio do gasto pontual e substancial com benfeitorias ou situações críticas.

Se por um lado a produção mista diversifica o desfrute do produto pecuário, por outro ela define a estrutura do rebanho e o tipo de manejo de cada categoria animal. Como já foi descrito, o agricultor Silva faz práticas de agrupamento no rebanho, formando, principalmente, dois lotes. No lote 2, categoria dos reprodutores, matrizes e novilhas, não há diferenciação dos manejos, mesmo entre as matrizes em lactação e em período de serviço. No lote 1, categoria dos bezerros grandes, o manejo é igual para todos os animais até os 7 meses em média, período em que os bezerros são apartados, quando então ocorre uma sub-divisão no lote de acordo com o conformação corporal e o sexo do animal: A) independente de tamanho e idade, todas as fêmeas são incorporadas ao rebanho; B) machos com conformação corporal próximo ao padrão nelore entre 6 e 7 meses (150 kg a 200 kg), geralmente cria das matrizes de finalidade produtiva predominante de corte, são vendidos para fazendeiros vizinhos no valor de R$ 500,00; C) machos que são cria das matrizes de dupla finalidade permanecem no lote até atingirem peso e tamanho aceito pelo mercado. Para isso, após a desmama com 8 meses eles são integrados ao lote 2 para crescimento e engorda através do pastejo. Entre 9 e 12 meses são vendidos a preços que variam de R$ 400,00 a R$ 500,00.

Esta diferenciação das práticas de manejo intra e inter categorias, justifica a estruturação do rebanho em setembro de 2011 (Figura 16). A ausência de novilhos é explicada pela venda dos bezerros, visto que permanecem no lote no máximo um ano. Por outro lado a incorporação das bezerras ao rebanho conduz ao acúmulo de novilhas que se tornarão matrizes.

Sob a luz dos argumentos apresentados, podemos inferir que o objetivo produtivo estabelecido pelo agricultor Silva que estrutura e orienta o funcionamento do sistema de criação é a produção mista, da qual obtém como produtos o leite e os bezerros (Figura 19).

Figura 19. Modelização do sistema de criação do agricultor Silva.

Fon te: Elabor ado pela autora.