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NO SETOR ELÉTRICO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRAS E INTERNACIONAIS

6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS

1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

Diante do problema de pesquisa explicitado acima, essa tese tem como objetivo geral analisar os impactos derivados da internalização das emissões de GEE de uma distribuidora de energia elétrica no resultado econômico da empresa e na tarifa de energia elétrica. Para dar conta de atingir a esse objetivo, foram estabelecidos objetivos específicos citados abaixo, que neste trabalho representam 4 etapas.

1. Identificar as iniciativas adotadas pelas distribuidoras de energia elétrica brasileiras para enfrentar as mudanças climáticas;

2. Elaborar inventário de GEE para uma distribuidora de energia elétrica e comparar com inventários de GEE das distribuidoras de energia elétrica nacionais e internacionais; 3. Mapear e comparar ações de mitigação adotadas por distribuidoras de energia elétrica

4. Avaliar os impactos da precificação interna do carbono em uma distribuidora de energia elétrica brasileira no resultado econômico da empresa e na tarifa de energia elétrica do consumidor.

A primeira etapa foi a identificação de iniciativas capitaneadas por entidades engajadas em criar mecanismos que estimulem as empresas a adotar ações de enfrentamento as mudanças climáticas. A participação nessas iniciativas demonstra engajamento das empresas, além de impulsionar discussões internas sobre o tema emissões de GEE. A segunda etapa constituiu-se na identificação das fontes de emissões e elaboração do inventário de GEE. Com essas informações a empresa possui um diagnóstico que permite adotar ações de mitigação das suas emissões e/ou ações de compensação. Com a finalidade de identificar os impactos da internalização das emissões de GEE, a quarta etapa fez uma análise econômico- financeira utilizando-se do conceito de precificação interna do carbono.

A Figura 1 representa graficamente as fases que compõem esta pesquisa: Figura 1 – Fases da Pesquisa

Fonte: Elaboração própria

1.3 JUSTIFICATIVA

De acordo com Kotler e Armstrong (2000), existe uma exigência cada vez maior para que as empresas se responsabilizem pelo impacto social e ambiental de suas atividades. Dentre as diversas interações entre desenvolvimento e meio ambiente, a mudança do clima e o

consumo de energia são questões mais desafiadoras da atualidade, tanto para a ciência quanto para a política (MENDES, 2012). Este trabalho contribui nesse sentido, pois dá subsídio para que as empresas identifiquem os seus reais impactos e adotem medidas para mitiga-las, a partir da experiência de outras empresas.

Diante de um cenário em que as nações também precisam tomar medidas para redução das emissões de GEE, Martinov-Bennie e Hoffman (2011) consideram a precificação do carbono, seja através de um sistema de comércio de emissões ou de um imposto sobre o carbono, como um passo fundamental para a redução dos níveis de emissão de gases com efeito de estufa nacionais e aumento da responsabilização de negócios.

Podem ser citados os casos da Noruega, que utilizou em 1990, como principal ferramenta para a mitigação dos gases de efeito estufa, uma taxa de carbono sobre a indústria de produção de petróleo (SUMNER; BIRD; DOBOS, 2009); a Austrália que impôs em 2012 um imposto de carbono pago por tonelada sobre indústrias com excessivas emissões de gases de efeito estufa (DCCEE, 2011), dentre diversas iniciativas em países como China, México e Chile.

O Carbon Disclosure Program (CDP, 2016) alerta que com um número maior de países taxando gases de efeito estufa, é provável que no futuro alguns imponham barreiras à importação de produtos com alta pegada de carbono. Não adotar uma taxa, num cenário assim, poderia prejudicar até a balança comercial do país. Os resultados dessa pesquisa também podem contribuir para atendimento dessa demanda, pois demonstra o processo de internalização das emissões geradas a partir de um preço voluntário, com o intuito de que as empresas possam se antecipar a regulamentações futuras de taxa de carbono.

O CDP publicou em 2013 um relatório sobre as empresas norte-americanas do índice S&P 500 que demonstrava que empresas de setores com altas emissões de GEE já consideram um preço significativo de carbono no seu processo de decisão de investimento, antecipando-se a uma política preferencial para orientar a transição para uma economia de baixo carbono que pode ser adotada pelos governos (CDP, 2015).

O Banco Mundial convidou países, cidades, empresas e investidores a assinarem uma declaração em apoio à ampla adoção da precificação de carbono na Cúpula de Clima das Nações Unidas em Nova Iorque que aconteceu em 2014. Mais de 1000 empresas e investidores assinaram essa declaração (CDP, 2015).

GEE e elaboração de planos setoriais, é importante que os estados e empresas se antecipem. Os estados São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, exigem a apresentação de inventários de GEE como um requisito para processos de licenciamento ambiental.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio de instrumentos regulatórios, tem incentivado cada vez que as empresas do setor elétrico adotem medidas sustentáveis. Um dos instrumentos é a aplicação anual obrigatória da receita operacional líquida (ROL) das empresas em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e em projetos de Eficiência Energética (ANEEL, 2016a).

Outro ponto que pode influenciar as futuras decisões do setor elétrico está relacionado à matriz energética altamente concentrada em fonte hidrelétrica, aumentando a sensibilidade às eventuais mudanças nas ocorrências de chuvas e secas. A principal dificuldade no uso desse recurso provém da variabilidade das afluências às usinas, podendo provocar variações na produção de energia (EPE, 2014).

Há uma perspectiva que o setor de energia seja o mais importante em termos das emissões de GEE. As emissões relacionadas às atividades desse setor têm aumentado nos últimos anos devido às condições hidrológicas desfavoráveis (EPE, 2014).

Assim, visando contribuir na gestão das emissões do setor de distribuição de energia elétrica, este trabalho propõe a realização do inventário de emissões de GEE das atividades da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia, identificação de ações de mitigação e posterior internalização a partir da adoção de um preço interno do carbono.

Ainda que a literatura já traga muitos estudos sobre inventário de GEE, não foram identificadas contribuições relacionadas ao setor elétrico. Já o tema precificação de carbono, é abordado em artigos internacionais, entretanto, é um tema bastante recente e foco de discussões atuais em empresas e no Governo brasileiro.

Adicionalmente, esta tese demonstra o passo a passo da construção de um inventário evidenciando informações necessárias para o cálculo e dificuldades existentes em uma empresa no levantamento dessas informações, além do detalhamento da internalização das emissões a partir de um modelo de planejamento empresarial.

A realização de um trabalho acadêmico que considera o dia a dia de uma empresa contribui nas evidenciações que serão demonstradas no decorrer desse trabalho. Ressalta-se que essa experiência só foi possível, pois a pesquisadora faz parte do quadro de colaboradores da Coelba e tem acesso ao sistema de gestão integrado e às áreas que controlam informações

fundamentais para a o cálculo das emissões e internalização das mesmas.

Ressalta-se, também, que devido a representatividade da Coelba no segmento de distribuição de energia elétrica, terceira maior distribuidora de energia elétrica do país em número de clientes e a sexta em volume de energia fornecida, ocupando a primeira posição entre as concessionárias do Norte – Nordeste, este trabalho representa um ótimo

benckmarking para as demais empresas do setor relacionados aos objetivos propostos. Além

disso, de forma imediata, pode ser replicado para as demais empresas do Grupo Neoenergia, que possui mais três distribuidoras de energia (Celpe, Cosern e Elektro), além da Coelba.

Outro ponto a ser considerado é a participação que a Coelba possui do grupo espanhol Iberdrola. A Iberdrola (ver Apêncide A) é uma referência mundial no setor elétrico no enfrentamento das mudanças climática, possui uma meta de uma redução de 50% das emissões em 2030 e deseja ser classificada como carbono neutro em 2050 (IBERDROLA, 2017). Com este cenário, este trabalho também pode ser utilizado como benchmarking internacional, visto que não foram identificados estudos com a abrangência teórico x prática evidenciada aqui.

Adicionalmente, esta pesquisa ocupa duas lacunas existentes:

 Ausência de estudo detalhado no Brasil sobre as fontes de emissão de uma

distribuidora de energia elétrica e os respectivos cálculos de estimativa de emissões;

 Ausência de estudo no Brasil sobre impacto da internalização das emissões de GEE tanto para empresa quanto para consumidor final.

A pesquisa limita o seu campo de investigação ao setor de distribuição de energia elétrica brasileiro, apesar de trazer algumas informações de empresas internacionais. Entretanto, é possível utilizar o mesmo estudo em empresas que pertencem a qualquer outro segmento de mercado.