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3.1. OBJETIVO GERAL

Identificar os dilemas éticos e bioéticos referidos pelos enfermeiros

obstetras e avaliar como os mesmos interferem na sua qualidade de vida

relacionada à saúde e na sua capacidade para o trabalho.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar os dilemas éticos e bioéticos referidos pelos enfermeiros obstetras;

 Avaliar como esses dilemas éticos e bioéticos interferem na sua qualidade de

vida relacionada à saúde;

 Avaliar como esses dilemas éticos e bioéticos interferem na sua capacidade

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4. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de método misto, qualitativo e quantitativo. A pesquisa de

método misto oferece uma terceira alternativa alicerçada na dupla contribuição entre as

duas abordagens metodológicas (TEDDLIE; TASHAKKORI, 2011). De acordo com

Jonshonet al. (2007), o método misto consiste em:

A pesquisa de método misto é o tipo de pesquisa na qual o pesquisador ou grupo de pesquisadores combinam elementos de abordagem qualitativa e quantitativa (ponto de vistas, coletas de dados, análises, inferências e técnicas qualitativas e quantitativas) no propósito de maior entendimento e compreensão (JONHSON et al., 2007, p123).

A utilização de método misto é caracterizada pelo paradigma do pluralismo, tendo

em vista: 1- considerar a posição alternativa de paradigma; 2- buscar a alternativa mais

próxima às perspectivas do estudo (TEDDLIE; TASHAKKORI, 2011).

A respeito da combinação de metodologias, a antropologia permite abordagens

mais complexas com as seguintes regras: documentação estatística, observação do

campo de estudo, desenvolver o olhar para diferentes fenômenos sociológicos e

desenvolver a escuta na busca de compreender o objeto de estudo no seu contexto social

(MINAYO, 2010).

A complexidade da pesquisa de método misto envolve questões epistemológicas

da objetividade e subjetividade, tendo-se como entendimento que os fenômenos sociais

podem ser categorizados em sua análise qualitativa inserida em um contexto social.

Na presente pesquisa, procurou-se identificar se os dilemas éticos e bioéticos

vivenciados pela equipe de trabalhadores da enfermagem interferem em sua qualidade

38 O método utilizado para análise qualitativa dos dados foi análise temática. O

referido método considera a totalidade do texto na análise, passando-o por uma crítica

de classificação e de quantificação, segundo a frequência de presença ou ausência de

itens de sentido. É um método de gavetas ou de rubricas significativas que permitem a

classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem (BARDIN,

2011).

Para análise quantitativa foi desenvolvido um instrumento de coleta de dados

sociodemográficos (Apêndice 1), aplicado o questionário Short Form Health Survey

(SF-36), versão Brasileira (CICONELLI at al, 1999), e o questionário de Índice de

Capacidade para o Trabalho (TUOMI et al, 2005).

A pesquisa foi realizada em uma maternidade pública da cidade de Salvador-BA.

Participaram do estudo 10 enfermeiros que atuavam em diversos setores da

maternidade. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser enfermeiro atuante de

qualquer setor da maternidade e que voluntariamente desejassem contribuir com o

estudo. Foram excluídos do estudo os enfermeiros que estavam de férias e/ou licença,

bem como aquelas que exerciam cargos administrativos.

A coleta de dados ocorreu nos meses de maio e junho de 2014. Foram realizadas

entrevistas, utilizando-se um roteiro para entrevista semiestruturada, com tópicos

norteadores para identificar se os dilemas éticos e bioéticos podem interferir no trabalho

e na sua qualidade de vida. O instrumento semiestruturado teve como referencial teórico

o Código de Ética do enfermeiro, a Bioética Principialista, segundo Beauchamp e

Childress, a Bioética Personalista, como descreve Sgreccia, assim como questões do

SF-36, instrumento que avalia qualidade de vida em saúde, com medidas de resumo de

39 Após a gravação e transcrição das entrevistas, seguiu-se a técnica de análise

temática, como descreve Bardin (2011), constituída por três etapas: a pré-análise,

realizada com a leitura flutuante, obtendo um contato exaustivo com o material; a

exploração do material, possibilitando a determinação das unidades de registro

codificação e recorte das falas; e na última fase procedeu-se ao tratamento dos

resultados obtidos e a interpretação, além da reflexão das temáticas identificadas com a

literatura científica.

A discussão dos aspectos éticos e bioéticos foi baseada na teoria principialista de

Beauchamp e Childress (2002), no manual de Bioética de Elio Sgreccia (v.1 2009 e v.2

2014) e na Carta Universal de Direitos Humanos da UNESCO (2005).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina

da Bahia da Universidade Federal da Bahia, com número CAAE

26032313.3.0000.5577. Foram respeitadas as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde na sua Resolução

nº 466/12, com utilização do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

As entrevistas foram realizadas pela mesma pesquisadora em ambiente reservado.

Foram utilizados vários locais da própria maternidade, com a finalidade de ser um local

reservado e confortável para o entrevistado, respeitando a privacidade dos participantes.

Os locais utilizados foram a sala da coordenação de enfermagem, o conforto de

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Aproximação com o campo de pesquisa

A realização da presente pesquisa representou um desafio para a pesquisadora,

sendo necessário, antes do início do estudo, sua aproximação com o campo de estudo.

Inicialmente, a pesquisa seria realizada numa instituição privada/ filantrópica. No

entanto, houve uma negação da referida instituição, alegando que a mesma estava em

momento delicado com a categoria de trabalhador a ser estudada, inviabilizando a

submissão do projeto no CEP da mesma. A negativa institucional foi acompanhada da

justificativa de que a pesquisa poderia fomentar um comportamento indesejado na

equipe de enfermagem.

Por essa razão, a pesquisa foi realizada no serviço público, sendo o campo de

trabalho definido após reunião com Diretora da Maternidade Albert Sabin. O projeto foi

avaliado pela instituição antes de receber anuência para submissão ao CEP FMB-

UFBA.

No processo de avaliação do projeto pela instituição, foi realizado um encontro

presencial para apresentação do mesmo e esclarecimento de dúvidas. Após recebimento

de anuência da Maternidade Albert Sabin, o projeto foi avaliado e aprovado pelo CEP

FMB-UFBA. Tendo havido a aprovação pelo CEP, comunicamos à Direção da

Maternidade Albert Sabin, a fim deiniciarmos o trabalho de campo. Minha participação

foi marcada por um período de conhecimento institucional, inclusive com participação

de reunião na maternidade, que objetivou melhor condução do processo, sendo feitos os

ajustes de horários de permanência na unidade.

O trabalho começou a ser realizado com grandes expectativas: a experiência do

41 de estudo no qual a pesquisadora se encontrava inserida como enfermeira atuante. Para

facilitar o acesso aos colegas, o projeto foi divulgado pela coordenação de enfermagem

e registrado no livro de ocorrência local. Antes de iniciar a coleta de dados, os

enfermeiros foram informadas sobre os objetivos da pesquisa, sua metodologia, da

voluntariedade em participar ou não, bem como o direito e liberdade de se retirar o

consentimento em qualquer fase da pesquisa, independente do motivo, e sem nenhum

prejuízo.

A pesquisa somente foi iniciada após a adaptação e aproximação da pesquisadora

com o campo, de forma que a mesma incorporou-se ao espaço, havendo tranquilidade

em sua circulação no campo de estudo. Apesar de a pesquisadora ser enfermeira, não

pertencia à equipe de enfermeiros da instituição da pesquisa. As entrevistas foram

diariamente gravadas e transcritas, sendo realizada leitura exaustiva, ainda na fase de

coleta, determinando o ponto de saturação dos dados e encerramento da coleta.

Durante a coleta de dados, foi possível perceber que o momento da entrevista

funcionava como um desabafo profissional. Os enfermeiros demonstravam interesse

pessoal em participar da pesquisa. A aparência das participantes era de esgotamento

físico mental e até mesmo, aspecto apático. Ainda que houvesse uma negação verbal

desse estado, o mesmo era visível e inquestionável ao observador. Muitos participantes

se esforçavam para dar respostas positivas aos questionamentos. Parecia que algo ou

alguma situação estava sendo encoberta pelos enfermeiros entrevistadas. Após início da

pesquisa, os murais da unidade ganharam um renovo, com mensagens falando sobre o

comportamento ético das pessoas e incentivando as boas práticas.

No ambiente de trabalho, puderam-se observar momentos saudáveis e tensos entre

as equipes multiprofissionais. Esses momentos funcionavam como estimulante ou

42 No que tange às reações frente aos dilemas profissionais, foi observado que os

enfermeiros com menos tempo de exercício profissional apresentavam discursos

contraditórios sobre sofrimento no trabalho; já os enfermeiros com mais tempo de

serviço referiram mais frequentemente e abertamente sobre traumas na vida social e

emocional como também na saúde, vinculados ao trabalho. As mesmas manifestavam

sentimentos de ansiedade pela aposentadoria como forma de livramento do sofrimento

no trabalho.

Os discursos das participantes da pesquisa durante as entrevistas foram marcados

com frases impactantes que englobam os mais diversos conteúdos desse estudo. As

principais frases foram: “Enfermagem por amor, sem prazer” (I2), “Enfermagem por amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno” (I3), “O trabalho é um refúgio... só tenho alegria para o trabalho” (I4), “Eu era mais feliz antes de ser enfermeira” (I8), “É melhor fazer, né?! Não é meu dever? Então vou fazer, sim” (I10), “Existe sofrimento, não sei se propriamente isso, sofrimento mental, mas um massacre mental para o

profissional enfermeiro sim” (I8), entre outras.

Durante o desenvolvimento do trabalho de campo pude experimentar a

dificuldade em garantir a confiabilidade e legitimidade da pesquisa, tendo que exercer a

capacidade de dominar a técnica de saturação dos dados coletados conforme a técnica

de Bardin (2011). Por ser enfermeira, tive o cuidado de manter distanciamento

necessário para não interferir no estudo, disponibilizando mais tempo para coletar os

dados. A pesquisadora absteve-se de realizar comentários sobre os relatos durante as

entrevistas para não influenciar o objeto de estudo. No processamento e análises dos

43

Caracterização da amostra

Foram estudados 10 indivíduos, sendo nove do sexo feminino e um do sexo

masculino. A idade média foi 41,1 anos e o desvio padrão de 8,3. Todos eram não

fumantes e dois indivíduos referiram consumo de álcool.

Tabela 1 - Características do trabalho de dez enfermeiros de uma maternidade, Salvador, 2014.

Característica Média ± DP Mínimo - Máximo

Carga horária semanal 44,2 ± 12,3 30 - 66

Renda (reais) 4.130 ± 1.625 3.000 – 8.000

Tempo na função 16,2 ± 8,1 8 - 31

ICT (Pontos totais) 35,4 ± 6,5 25 - 46

Capacidade para o trabalho (avaliação subjetiva)a 7,7 ± 1,4 5 - 9 Capacidade Física (avaliação subjetiva)b 4,1 ± 1,0 2 - 5 Saúde Mental (avaliação subjetiva)b 3,9 ± 0,9 2 - 5 Fonte: Questionário sociodemográfico e ICT.

a

– Numa escala de 0 a 10. b

– Numa escala de 1 a 5.

Uma pergunta do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)

possibilita a avaliação subjetiva da saúde individual atual, comparada há um ano. Seis

dentre os dez profissionais entrevistados afirmaram a manutenção do estado geral de

saúde (Tabela 2).

Tabela 2 - Avaliação subjetiva da saúde geral há um ano, por dez enfermeiros de uma maternidade de Salvador, 2014. Saúde há 1 ano N Muito melhor 2 Um pouco melhor - Quase a mesma 6 Um pouco pior 2 Muito pior - Total 10 Fonte: Questionário SF-36

44 A qualidade de vida relacionada à saúde, medida por meio do SF-36, revelou

escores particularmente baixos para os domínios Aspectos Emocionais (41,7 ± 14,9) e

Aspectos Sociais (43,0 ± 14,3), que contribuíram substancialmente para o baixo escore

do Componente de Saúde Mental (43,3 ± 15,8). (Tabela 3)

Os escores normalizados do SF-36 devem ser interpretados como comparações

com os escores para a população padrão dos Estados Unidos, que assumem média igual

a 50 e desvio padrão igual a 10.

Tabela 3 – Escores brutos e normalizados dos domínios e componentes sumários do SF-36 em dez enfermeiros de uma maternidade de Salvador, 2014.

Domínio / Componente Sumário Escore Bruto Escore Normalizado

Capacidade Física 84,0 ± 17,9 50,4 ± 7,5

Aspectos Físicos 72,5 ± 41,6 48,5 ± 11,8

Dor 73,3 ± 27,5 51,3 ± 11,8

Estado Geral de Saúde 68,7 ± 23,1 49,4 ± 10,8

Vitalidade 61,0 ± 24,0 51,9 ± 11,4

Aspectos Sociais 67,5 ± 32,9 43,0 ± 14,3

Aspectos Emocionais 56,7 ± 47,3 41,7 ± 14,9

Saúde Mental 69,2 ± 22,3 46,6 ± 12,7

Componente Saúde Física _ 52,7 ± 9,7

Componente Saúde Mental _ 43,3 ± 15,8

Fonte: Questionários SF-36

Seis indivíduos apresentaram níveis baixos do escore do Componente Saúde

Mental, segundo o SF-36, e, destes seis, apenas um reconheceu ter baixa capacidade

mental, segundo a questão 3 do ICT, que avalia subjetivamente a capacidade mental.

Apesar de 60% das participantes apresentarem baixos escores do Componente

Saúde Mental, no escore do Componente Saúde Física apenas dois informantes

45 Na avaliação subjetiva de capacidade física, baseada na questão 1 do ICT, 80%

dos entrevistados se consideraram com capacidade física boa e muito boa; 10%,

moderada; e 10%, baixa.

Os escores normalizados do SF-36 dos Componentes Saúde Física e Saúde Mental, a classificação do Índice de Capacidade para o Trabalho e os relatos dos participantes foram correlacionados no Quadro 5.

46 Quadro 5 - Escores normalizados do Componentes Saúde Física e do Componente Saúde Mental do SF-36; Pontuação e Classificação do ICT; Comentários e Depoimentos de dez enfermeiras de uma maternidade de Salvador, 2014.

SF – 36 ICT COMENTÁRIOS DEPOIMENTOS E nfe rm ei ro/ a Saú de Fís ica Saú de Me n ta l Pon tuação C lass if icaç ão C apaci dad e A tual Pa ra o T rabal ho * C apaci dad e Me nta l Pa ra o T rabal ho* * 1 48,66 24,48 27 B ai xa 5 3

CSF abaixo da média, CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Análise subjetiva: considerou-se com qualidade de vida mediana. Demonstrou sofrimento com ausência de normas e protocolos no trabalho.

Por falta de parâmetros padrões na equipe, em determinado plantão a equipe conduz daquela forma; em outro plantão, a equipe entende que é de outra forma... Isso desgasta... O que pode em um, não pode no outro?!

2 50,90 34,75 33

Mode

rada 7 4

CSF com valor médio, CSM muito abaixo da média e ICT moderado. Análise subjetiva: Demonstrou ansiedade para se livrar do trabalho. Informou trauma social, emocional e familiar. Relatou que se encontra em tratamento multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas, psiquiatra, acupuntura e educador físico. Informa arrependimento por ter priorizado o trabalho.

Enfermagem por amor, sem prazer. Vamos pensar em cuidar do cuidador também... Vamos pensar nisso.

3 67,78 18,80 39

B

oa 7 2

CSF com valor acima da média, CSM muito abaixo da média e ICT bom. Análise subjetiva: Demonstrou indignação com a profissão, desânimo com a pouca valorização do trabalho e falta de autonomia profissional.

Enfermagem por amor, com sacrifício de vida pessoal e sem retorno.

47 4 54,35 62,93 34

Mode

rada 9 4

CSF com valor médio, CSM acima da média e ICT moderado. Análise subjetiva: Considerou-se com excelente capacidade física. Relatou Abandonou tudo pelo trabalho. Informou depressão quando está em casa.

O trabalho é o meu refúgio. Só tenho energia para o trabalho.

5 60,03 58,67 46 Ó ti m a 9 5

CSF e CSM acima da média e ICT ótimo. Análise subjetiva: Considera-se com ótima capacidade física e mental. Demonstrou esforço em dar respostas corretas (tentativa de camuflagem?), relatou situações de sofrimento no trabalho.

Depende muito do plantão, da situação que agente vive... se você vive uma situação de superlotação, você vê a necessidade do seu paciente... você se vê numa emergência sem leito para atender esse paciente, isso leva ao sofrimento mental...

6 43,36 44,83 32

Mode

rada 8 5

CSF e CSM abaixo da média e ICT moderado. Análise subjetiva: Aparentou calma, porém apresentou-se deprimida com as exig6encias do trabalho.

Agora ficar sempre essa coisa: tudo é a enfermagem. Aqui tem muito esse problema.

7 33,11 29,68 25

B

ai

xa 6 4

CSF e CSM muito abaixo da média e ICT baixo. Análise subjetiva: Discursou com oscilação de comportamento, ora com disposição, ânimo e aparência de felicidade no exercício profissional e por vezes deprimida, abalada emocionalmente e desiludida. Relatou sobre-esforço no trabalho.

Com todas as restrições, eu sou a primeira a carregar para disponibilizar aquele equipamento na hora. A vida do outro é sempre muito importante, e a gente até esquece da nossa em prol da vida do outro.

8 57,68 57,48 40

B

oa 9 4

CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise subjetiva: Na avaliação subjetiva relatou excelente capacidade para o trabalho. Relatou satisfação para exercer a profissão, mas cobrança desigual de responsabilidade no trabalho.

A todo o momento nós somos cobrados, não só da clientela, como também dos outros profissionais... a assistência de enfermagem está 24 horas, então tudo de certo que acontece os médicos recebem as palmas e tudo de errado que acontece o

48 enfermeiro é responsabilizado.

9 51,64 58,76 41

B

oa 9 4

CSF e CSM com valores médios e ICT bom. Análise subjetiva: Relatou satisfação com vinculo estatutário, mas aparentou sofrimento mental no discurso sem autopercepção do mesmo.

A gente tem que aprender a se fazer de maluca mesmo (risos) para sobreviver.

10 58,00 41,04 37

B

oa 8 4

CSF mediano, CSM abaixo da média e ICT bom. Análise subjetiva: Aparentou desânimo, abatimento e apatia. Evidenciou desgaste físico e mental, fala fraca e andar arrastado.

É melhor fazer, né?! Não é meu dever?! Os riscos ergonômicos, sobrecarga de trabalho, as noites perdidas, entendeu? A gente tem que ter dois vínculos para poder realmente ter qualidade de vida. A gente tem um ambiente sem ventilação, aumento de pessoas... tudo isso é risco.

*AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE TOTAL PARA O TRABALHO/ Questão 1 do ICT – Escala: 0(incapaz para o trabalho) a 10(melhor capacidade para o trabalho). ** AVALIAÇÃO SUBJETIVA CAPACIDADE MENTAL / Questão 2b do ICT – Escala: 1(muito baixa) a 5 (muito boa).

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Categorias temáticas

Foram identificadas sete temáticas que serão apresentadas a seguir: Representação

das questões éticas e bioéticas no trabalho da enfermagem; Percepção da qualidade de

vida relacionada à saúde; Aspectos éticos e bioéticos para ter qualidade de vida;

Influência do trabalho na vida pessoal; Capacidade para o trabalho; Descrição do

processo de trabalho e Principais dilemas éticos e bioéticos identificados na prática da

enfermagem.

1) Representação das questões éticas e bioéticas no trabalho da enfermagem Os sujeitos da pesquisa, ao se referirem às questões éticas e bioéticas no trabalho

da enfermagem consideraram de fundamental importância o cumprimento normas e

diretrizes do exercício profissional e o respeito do direito à vida do outro. Constituindo-

se como aspectos deontológicos em detrimento dos aspectos humanísticos; apesar de

alguns momentos ficarem em segundo plano em nome da política de sobrevivência no

ambiente de trabalho, conforme explicitado nas falas seguintes.

[...] Eu vejo como as normas morais que eu sigo para estar direcionando minha profissão e todo processo de trabalho. E a bioética são diretrizes éticas, morais as normas que a gente institui em relação à vida do outro que está sob os nossos cuidados. (I3)

[...] A bioética ainda em alguns momentos vem sendo colocada em segundo plano e as pessoas, às vezes para satisfazer o ego, esquecem. (I8)

Esse comportamento ético se estabelece com a finalidade de garantir o equilíbrio

biopsicossocial do enfermeiro para prestação de uma boa assistência.

O Conselho Federal de Enfermagem enfatiza que o aprimoramento do

comportamento ético do profissional de enfermagem passa pelo processo de construção

de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e profissional,

50 campos técnico, científico e político. O decreto nº 94.406 de 1987 traz a incumbência de

todo pessoal de enfermagem cumprir o Código de Deontologia da Enfermagem

(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

Por ética deontológica entende-se toda concepção ética, que compreende certos

deveres categóricos e certas proibições que têm precedência incondicionada sobre

outras preocupações morais e sobre considerações de índole finalística e funcionalista

(SGRECCIA, 2009).

Oliveira (2011) concluiu que, embora com dificuldade para reconhecer os

conflitos e dilemas éticos, os enfermeiros tomam decisões, e essas são fundamentadas

na deontologia e na bioética. Ao fazê-lo, procuram manter o equilíbrio emocional da

equipe e a harmonia no ambiente de trabalho.

2) Percepção da qualidade de vida relacionada à saúde

Esta categoria, que refletiu a expressão qualidade de vida no trabalho, trouxe

consigo contradições pelo fato de possuir conceito subjetivo dependente de vários

fatores sociais, psicológicos, emocionais, espirituais e até mesmo éticos.

Neste estudo, a percepção dos indivíduos sobre sua qualidade de vida, revelou que

os mesmos a consideram como comprometida, regular, em decorrência de uma carga

horária de trabalho excessiva. A maioria dos profissionais tinham dois vínculos

empregatícios, por necessidade de melhorar a remuneração a fim de atender suas

Necessidades Humanas Básicas (NHB), como moradia, alimentação, bens e conforto,

bem como a garantia da sustentabilidade da família.

Foi possível observar, na descrição das falas citadas abaixo, a diversidade das

definições de qualidade vida dos participantes, como: a) ter tempo; b) bem-estar na

saúde, lazer, trabalho; c) cuidar de si mesmo, viver e não sobreviver; d) estar perto da

51 biopsicossocial; g) garantir o sustento familiar; h) ter satisfação no trabalho, conquistas

e conforto.

[...] Qualidade de vida são as formas que você escolhe para ser feliz. Eu estava péssima, porque eu tinha uma sobrecarga de

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