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O presente estudo tem como objetivo principal, comparar a reprodutibilidade dos resultados da avaliação de riscos de uma atividade, utilizando três métodos (Método integrado de Avaliação de Riscos (MIAR), William T. Fine e a NTP 330) aplicados por 16 técnicos superiores de segurança ocupacional. De modo a alcançar o objetivo principal deste estudo, foram definidos os seguintes objetivos específicos:

 Caracterizar as condições em que a atividade em estudo é executada;

 Identificar os perigos e os fatores de risco;

 Adaptar os três métodos no contexto de indústria automóvel;

 Analisar e comparar os resultados obtidos por diferentes métodos;

 Propor algumas medidas para melhorar a aplicabilidade e aumentar a fiabilidade do método a validar.

3.2 Materiais e Métodos

Para presente trabalho, foram estabelecidas etapas de condução de forma garantir a objetividade do estudo, onde podemos verificar no diagrama processual presente na Figura 14.

Figura 14 – Diagrama processual do estudo desenvolvido

Análise bibliográfica

Identificação dos perigos na atividade em estudo

Filmagem do processo avaliar pelos métodos

Adaptação dos parâmetros MIAR

Elaboração das avaliações de riscos dos métodos selecionados pelos

avaliadores

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3.2.1 Contexto

O processo em estudo foi a mudança do molde nas máquinas de injeção de plástico, na área de produção de uma indústria de fabricação de componentes de equipamentos elétricos eletrónicos para veículos automóveis. Para garantir a homogeneidade de dados a fornecer aos avaliadores, o processo foi filmado na sua totalidade, sendo que posteriormente foi feita a edição do mesmo vídeo de modo a sintetizar o conjunto das operações desenvolvidas.

3.2.2 Riscos

Para identificação dos perigos presentes no processo foi necessário recolha de seguintes informações:

 Procedimento da mudança do molde (fornecido pela empresa);

 Instruções de trabalho das máquinas de injeção;

 Condicionantes da envolvente;

 Equipamentos utilizados;

 Condições de trabalho.

Após recolher as informações acima referidas, foram identificadas os aspetos que pudessem ser risco para o trabalhador, tais como:

 Queda de objetos - aspetos relacionados com material/objetos transportados em locais elevados e que possam originar queda em altura.

 Choque com ou contra - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de ocorrer choque com ou contra pessoas ou objetos durante o trabalho.

 Esmagamento - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de esmagamento de qualquer parte do corpo por peças móveis de máquinas ou entre objetos ou materiais.

 Entalamento - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de entalamento de qualquer parte do corpo por peças móveis de máquinas ou entre objetos ou materiais.

 Queda ao mesmo nível - aspetos relacionados com a existência de obstáculos ou substâncias no solo que possam provocar uma queda ao mesmo nível.

 Queda em altura - aspetos relacionados com trabalho efetuado em locais elevados ou nos seus acessos e que não tenham a proteção adequada e que possam originar queda em altura.

 Contactos com superfícies quentes - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de ocorrer contactos com superfícies quentes e originar queimadoras.

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 Lesão muscular - Risco de lesões músculo-esqueléticas - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de ocorrerem sobre esforços, posturas inadequadas ou movimentos repetitivos.

 Projeção de fluidos a alta pressão e temperatura - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de ocorrer projeções de fluidos a alta pressão e temperatura.

 Intoxicação - aspetos relacionados com a realização de trabalhos onde existe a possibilidade de exposição a poeira ou substâncias nocivas ou tóxicas, devidos à inalação.

3.2.3 Materiais utilizados

Para efeito do presente estudo foram utilizados os seguintes materiais:

 Camara de filmar;

 Caneta, lápis e papel;

 Inquérito com os 3 métodos avaliar;

 Procedimento de mudança de molde da empresa em estudo;

 Computador.

3.2.4 Métodos utilizados

Método de Avaliação William T. Fine

Este método permite calcular a gravidade e a probabilidade relativas de cada risco, associando a cada risco a ação preventiva a efetuar e o custo associado à implementação da mesma, ou seja permite considerar também o tempo de implementação, o esforço e a previsão de investimento (Mandarini, 2005). A fórmula de cálculo, usado por este método, é dada pela equação 3.

(Equação 3): R = Fc x Fe x Fp Em que:  R - Magnitude do Risco;  Fc - Fator consequência;  Fe - Fator Exposição;  Fp - Fator Probabilidade.

O fator consequência define-se como os resultados mais prováveis de um acidente, resultando do risco em análise, considerando-se quer os danos pessoais, como também os materiais. O fator exposição traduz um índice associado à frequência com que se apresenta a situação de risco,

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sendo que o primeiro acontecimento indesejado seria o ponto de partida da sequência que conduziria ao acidente. O fator probabilidade traduz um índice associado à probabilidade de uma vez iniciado a sequência de acontecimentos, ela se desenvolver e terminar no acidente e suas consequências. Na Tabela 4, indica a consequências dos danos corporais e danos matérias, pela que Tabela 5 indica a frequência de ocorrência da situação de risco e Tabela 6 o fator de exposição.

Tabela 4-Consequências de danos corporais e danos materiais

Consequências (Fc)

Danos Corporais Danos Materiais Valor

Grande Numero de Mortes Danos> 1.000.000€ e quebras importantes na atividade. 100

Varias Mortes De 500.000€ a 1.000.000€ 50

Mortes Danos de 100.000€ a 500.000€ 25

Lesões Graves, Amputações, Invalidez permanente De 1000 a 100.000€ 15

Incapacidades Temporárias Até 1000€ 5

Ferimentos Ligeiros Pequenos Danos 1

Tabela 5-Frenquência de ocorrência da situação de risco

Fator de exposição (Fe)

Frequência de ocorrência da situação de risco Valor

Continuadamente, varias vezes ao dia. 10

Frequentemente, aproximadamente uma vez por dia. 6

Ocasionalmente, de uma vez por semana a uma vez por mês. 3

Irregularmente, de uma vez por mês a uma vez por ano. 2

Raramente, sabe-se que já ocorreu. 1

Remotamente possível, não se tem conhecimento que já tenha ocorrido. 0.5

Tabela 6-Fator de exposição

Fator de exposição (Fp)

Probabilidade da sequência de acontecimentos, incluindo as consequências Valor

Resultado mais provável se a situação inicial de risco ocorrer 10

É completamente possível, a probabilidade é de 50 % 6

Seria uma coincidência remotamente possível; sabe-se que já ocorreu 3

Seria uma sequência ou coincidência rara 1

Extremamente remota mas concebível; nunca aconteceu em muitos anos de exposição 0.5 Sequência praticamente impossível; possibilidade de 1 em 1000000 0.1

A componente económica faz-se introduzindo na fórmula de cálculo mais duas variáveis, Fator Custo (Fc) e Grau de Correção (Gc) aplicando a seguinte equação:

(Equação 4): Justificação (J) = Fc x Fe x Fp / (Fc x Gc)

A Tabela 7 classifica o grau de perigosidade, através da magnitude do risco obtido, a Tabela 8 indica o fator de custo e a Tabela 9 grau de correção.

Tabela 7-Grau de perigosidade

Grau de perigosidade (GP)

Magnitude do risco Classificação Medidas

≥400 Grave Iminente Suspensão imediata da atividade perigosa

200 a 400 Alta Correção imediata

70 a 200 Notável Correção logo que possível

20 a 70 Moderado Deve ser eliminado mas não é uma emergência

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Tabela 8-Fator de custo

Fator de custo (FC)

Valor esperado do custo da ação corretiva Valor

Mais de 2500€ 10 1250€ a 2500€ 6 675€ a 1250€ 4 335€ a 675€ 3 150€ a 335€ 2 75€ a 150€ 1 <75€ 0.5

Tabela 9-Grau de correção

Grau de correção (GC)

Diminuição do risco por aplicação da ação corretiva Valor

Risco totalmente eliminado 1

Risco reduzido pelo menos 75% 2

Risco reduzido de 50% a 75% 3

Risco reduzido de 25% a 50% 4

Ligeiro efeito sobre o risco de menos de 25% 6

NTP 330

O método espanhol NTP 330 Sistema Simplificado de Avaliação de Riscos de Acidente, quantifica a gravidade dos riscos detetados, de modo estabelecer prioridades de intervenção, para a minimização, eliminação e controlo dos mesmos (ISHT, 2010).

A metodologia implica identificação dos riscos “in loco” dos locais de trabalho, para determinar:

 Nível de deficiência (ND);

 Nível de exposição (NE);

 Nível de probabilidade (NP);

 Nível de consequência (NC).

A determinação de Nível de Risco (NR) é calculada pela equação seguinte:

(Equação 5): NR=NP x NC

Nível de deficiência – Corresponde o nível da magnitude da relação esperada entre o conjunto de fatores de risco considerados e sua relação causal direta com o possível acidente. Para determinação do ND é utilizada as escalas apresentada na Tabela 10.

Tabela 10-Nível de deficiência

Nível de deficiência ND Significado

Muito deficiente (MD) 10 Deteção de fatores de risco significativos que podem gerar com muita probabilidade acontecimentos de falha. O conjunto de medidas preventivas existentes é ineficaz.

Deficiente (D) 6 Deteção de alguns fatores de risco significativos que precisam ser corrigidos. O conjunto de medidas preventivas existentes é pouco eficaz.

Melhorável (M) 2 Deteção de fatores risco de menor importância. Existe alguma eficácia do conjunto de medidas preventivas existentes, face ao risco.

Aceitável (A) --- Não foram detetadas anomalias. O risco está controlado.

Nível de exposição – É medida da frequência de exposição ao risco, isto é, o tempo que um trabalhador está exposto. Para determinação do NE é utilizada as escalas apresentada na Tabela 11.

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Tabela 11-Nível de exposição

Nível de exposição NE Significado

Continuada (EC) 4 Continuada. Várias vezes no dia de trabalho com tempo prolongado.

Frequente (EF) 3 Várias vezes no dia de trabalho, com tempos curtos.

Ocasional (EO) 2 Alguma vez no dia de trabalho e com períodos de tempo curto

Esporádica (EE) 1 Irregularmente.

Nível de Probabilidade – É função do Nível de Deficiência e do Nível de Exposição, a sua determinação é expressa pela equação.

(Equação 6): NP= NE x ND

A Tabela 12 mostra o nível de probabilidade obtida através da função entre os valores do nível de exposição com o nível de deficiência e a Tabela 13 significado dos diferentes níveis de probabilidade.

Tabela 12-Nível de probabilidade

NP Nível de exposição

4 3 2 1

Nível de deficiência

10 MA-40 MA-30 A-20 A-10

6 MA-24 A-18 A-12 M-6

2 M-8 M-6 B-4 B-2

Tabela 13-Significado de diferentes níveis de probabilidade

Nível de probabilidade NP Significado

Muito Alta (MA)

[24 - 40] Situação deficiente com exposição continuada ou situação muito deficiente com exposição frequente. Normalmente a concretização do risco ocorre com frequência.

Alta (A)

[10- 20]

Situação deficiente com exposição frequente ou ocasional, ou situação muito deficiente com exposição ocasional ou esporádica. O risco pode-se ocorrer várias vezes no ciclo laboral.

Media (M)

[6 - 8] Situação deficiente com exposição esporádica, ou situação melhorável com exposição continuada ou frequente. É possível a ocorrência do dano.

Baixa (B)

[2 - 4] Situação melhorável com exposição ocasional ou esporádica. Não é esperado a ocorrência de danos, mas ainda que possa acontecer.

Nível de consequências – São considerados os quatro níveis de classificação das consequências. Eles classificam os danos físicos e materiais independentemente, tanto que os danos pessoais prevalecem com maior peso do que danos materiais. A escala numérica das consequências pode ser observada na Tabela 14, a Tabela 15 indica o nível de risco e a Tabela 16 o nível da intervenção.

Tabela 14-Nível de consequência

Nível de consequência NC Significado

Danos Pessoais Danos Materiais Mortal ou

Catastrófico (M) 100 1 Morto ou mais.

Destruição total do sistema (dificilmente renovável).

Muito Grave (MG) 60 Lesões graves que podem ser irreparáveis. Destruição parcial do sistema (reparação complexa e custosa).

Grave (G) 25 Lesões com incapacidade laboral temporária.

Exige paragem do processo para efetuar reparações

Leve (L) 10 Pequenas lesões que não requerem hospitalização.

Reparação sem necessidade de paragem do processo.

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Tabela 15-Nível de Risco

NC x NP Nível de Probabilidade [40-24] [20-10] [8-6] [4-2] Nív el d e co n se q u ên cia s 100 I 4000-2400 I 2000-1200 I 800-600 II 400-200 60 I 2400-1440 I 1200-600 II 480-360 II 240 III 120 25 I 1000-600 II 500-250 II 200-150 III 100-50 10 II 400-240 II 200 III 100 III 80-60 III 40 IV 20

Tabela 16-Nível de Intervenção

Nível de intervenção NR Significado

I 4000-600 Situação Crítica. Correção urgente.

II 500-150 Corrigir e adotar medidas de controlo.

III 120-40 Melhorar caso possível. Seria conveniente justificar a intervenção e a rentabilidade.

IV 20 Não intervir

MIAR

O método MIAR foi desenvolvido pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), adota os princípios da “Abordagem por Processos” baseada em vários referenciais, de entre os quais, NP EN ISO 9001:2000. De acordo com esta abordagem, as atividades da organização são detalhadas identificando as entradas, as funções e as saídas de cada processo, desta forma, todas as saídas de um processo devem ter uma correspondente entrada no seguinte, o que garante que não haverá elementos que não sejam adequadamente tratados. (Antunes, Baptista, e Diogo 2010). A metodologia tem como o objetivo identificar o Índice de Risco (IR) segundo a equação 7.

(Equação 7): IR= G x E x F x PC x C Onde :

IR- Índice de risco;

G - Gravidade;

E - Extensão do impacte;

F - Exposição/frequência de ocorrência do aspeto;

PC -Desempenho dos sistemas de prevenção e controlo

 C - Custos e complexidade técnica das medidas de prevenção / correção do especto. Na versão original os valores variam entre 1 e 1800 dentro de 4 níveis de risco, como se mostra na Tabela 17.

Tabela 17-Níveis de riscos

Índice de risco

Menor 1-90

Médio 91-250

Elevado 251-500

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No decorrer do trabalho foi testada uma versão com 5 níveis de risco, pela redefinição dos limites dos níveis mais baixos (Figura 18).

Tabela 18-MIAR 5 níveis de riscos

Índice de risco Base 1-45 Menor 46-120 Médio 121-250 Elevado 251-500 Muito Elevado 501-1800 3.2.5 Avaliadores

Todos os avaliadores tiveram acesso ao vídeo referido no ponto 3.2.1 e uma folha Excel com os perigos, fatores desencadeadores e riscos. Cada um dos riscos foi avaliado pelos 3 métodos (William-Fine, NTP330 e MIAR). Para garantir uma amostragem significativa que garantisse a fiabilidade e reprodutibilidade dos métodos, as diferentes situações foram avaliadas por 20 sujeitos, dos quais foram validadas as respostas de 16. Todos os avaliadores são Técnicos Superiores de Segurança (TSS) com experiencia média de avaliação de risco de 3 anos. Para garantir a confidencialidade da empresa o vídeo foi visualizado em ambiente controlado.

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4 RESULTADOS

O presente estudo de avaliação de riscos foi realizado numa indústria transformadora, nomeadamente fabricação de equipamentos elétrico e eletrónico para veículos automóveis. A atividade em estudo consiste na mudança de molde da máquina de injeção de plástico, sendo que os trabalhadores desta atividade, ocupam aproximadamente 80% do tempo de trabalho nestas tarefas.

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