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5. A COMISSÃO NACIONAL DE INCENTIVO À CULTURA

5.1. Objetivos e funções da CNIC

A CNIC tem como principal objetivo analisar os projetos culturais apresentados ao Ministério, avaliando se estes estão de acordo com o que dispõe a lei, para que, uma vez aprovados, possam concorrer ao patrocínio incentivado.

Com base no seu regimento interno, podemos destacar suas principais funções:

I. Subsidiar o Ministério da Cultura no enquadramento de projetos culturais nas finalidades e objetivos previstos na Lei nº 8.313;

II. Fornecer subsídios para avaliação do Pronac, propondo medidas para seu aperfeiçoamento;

III. Apresentar subsídios para a elaboração de plano de trabalho anual de incentivos fiscais;

IV. Elaborar seu regimento interno e outras normas internas que se façam necessárias para regular seu funcionamento.43

Quanto às funções específicas, destaca-se que aos integrantes do Plenário cabe analisar os projetos que envolvam planos anuais de atividades e apreciar, também, pedidos de aprovação ou revisão de súmula administrativa.

Já os membros dos grupos técnicos tem a função de analisar, de acordo com suas respectivas áreas, os projetos que se enquadrem em súmula administrativa da CNIC e,

79 também, aqueles que envolvam apenas discussões específicas do setor, ainda que não sumuladas.

Tendo em vista que essa pesquisa se propõe a compreender a relação entre o trabalho da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura e a política cultural federal, uma das questões que mais importam aqui é a maneira como é feita a apreciação dos projetos culturais. Quanto a isso, o regimento da CNIC estipula que a avaliação deve ser feita com base nos seguintes critérios:

a) Enquadramento do projeto em um dos segmentos culturais estipulados pela lei (relacionados nos artigos 18 e 25), bem como em pelo menos um dos objetivos da mesma (descritos no artigo 3º);

b) Contrapartidas oferecidas pelo projeto voltadas tanto para a acessibilidade (de pessoas com necessidades especiais), quanto para a democratização do acesso da sociedade aos produtos, bens e serviços resultantes do apoio recebido, quando aplicáveis;

c) Definição das despesas;

d) Adequação do orçamento apresentado aos valores de mercado; e) Viabilidade técnica e financeira da execução do projeto apresentado; f) Adequação da proposta ao Plano Anual do Pronac; e

g) Inocorrência de outras vedações legais.44

Deve-se observar ainda que, segundo a Rouanet, a CNIC não deve analisar subjetivamente os projetos quanto ao seu valor artístico ou cultural (art. 22 da Lei nº 8.313/91). A proximidade desses critérios de análise da CNIC com os objetivos da Lei demonstram claramente que a análise de projetos vai além de uma análise técnica. A

80 Comissão deve sim avaliar condições subjetivas, pois não há um critério claro para julgar, por exemplo, se um projeto atende a democratização de acesso da sociedade. Nessa avaliação entram subjetividades como: o valor do ingresso para cada tipo de evento em cada região do país, o espaço de realização do projeto se razoável ao público e etc. Portanto, o próprio regimento da CNIC coloca itens de avaliação que fogem de critérios puramente objetivos. Isso ocorre porque, na verdade, a vedação à subjetividade na análise de projetos se refere à impossibilidade de um comissário julgar o projeto pelo valor do seu conteúdo artístico cultural, porém, conforme vemos nos critérios de análise estabelecidos pelo regimento da CNIC, é cabível (e necessária) uma análise da proposta cultural e sua relação com os objetivos da política de incentivo.

De forma a evitar favorecimento aos projetos, reforçando a imparcialidade que a Lei busca alcançar, o regimento da CNIC, em seu artigo 20, impede seus membros de participarem da apreciação de projetos em que tenham interesse direto ou indireto; de cuja elaboração tenham participado ou concorrido; projetos propostos por instituições das quais eles próprios ou seus cônjuges ou parentes tenham participado nos últimos dois anos; cujo proponente do projeto seja seu cônjuge ou parente; e projetos cujo proponente ou seu cônjuge esteja litigando judicial ou administrativamente com o membro da CNIC.

O caráter da CNIC enquanto instituição política ressalta-se, principalmente, pelo seu poder de criação de súmulas administrativas. Segundo o artigo 23 de seu regimento, a Comissão poderá editar essas súmulas estabelecendo critérios tanto para aprovação ou rejeição de projetos, quanto para dispensa dos procedimentos ordinários de análise dos mesmos. Com isso é possível que a CNIC formule exigências sobre o que pode ou não receber patrocínio através de incentivo fiscal, direcionando a Lei de incentivo na sua fase de execução. Um exemplo dessa discricionariedade é a súmula n°7, que define o

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que será considerado como “projeto de preservação do patrimônio cultural imaterial” no que concerne à análise de projetos.

Súmula nº 7 - Para efeitos de enquadramento na alínea “g” do § 3º do artigo 18 da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, no que tange ao Patrimônio Cultural Imaterial não registrado na forma do Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, serão considerados como projetos de valorização ou de salvaguarda aqueles relativos a bens culturais imateriais transmitidos há, pelo menos, três gerações, que digam respeito à história, memória e identidade de grupos formadores da sociedade brasileira, que contenha a anuência comprovada e a participação de representação reconhecida da base social detentora, e que apresentem proposta de geração de benefícios materiais, sociais ou ambientais para esta base, devendo ainda ser enquadrados em tipologia de projetos e produtos estabelecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) 45.

Quanto ao processo de edição de súmulas, o regimento define que “as súmulas administrativas deverão ser aprovadas por maioria absoluta de seus membros e referendadas pelo Ministro de Estado da Cultura”46. O artigo 25 do regimento diz, ainda, que “a elaboração de súmula pode ser suscitada por qualquer dos membros da CNIC, por seus respectivos suplentes, quando no exercício da titularidade, ou pelo Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura”, o que ressalta o fato de todos os integrantes da CNIC terem participação na decisão política da instituição.

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Súmula aprovada da 180° reunião ordinária, em 3 de setembro de 2010.

82 Por último, acho interessante ressaltar entre as tarefas da CNIC a elaboração do Plano de Trabalho Anual de Incentivos Fiscais, o que também reforça o seu viés político. Os artigos 30 e 31 colocam que devem estar previstas no calendário anual da Comissão ao menos duas reuniões destinadas à elaboração deste Plano, que deve ser posteriormente apresentado à Secretaria Executiva do Ministério da Cultura. Tal projeto integra o Plano Anual do Pronac. Dessa maneira, percebe-se que o trabalho da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura extrapola a simples aprovação de projetos.

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