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3. FUNDAMENTAÇÃO DA PROPOSTA

3.2 OBJETIVOS

A elaboração de uma sequência didática deve antecipar os resultados do processo de ensino. Para tal, é necessário definir objetivos gerais e específicos. Libâneo (1994) afirma que Objetivos Gerais expressam propósitos mais amplos acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências postas pela realidade social e do desenvolvimento da personalidade dos

53 estudantes. Os Objetivos Específicos expressam as expectativas do professor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do processo de ensino e têm sempre um caráter pedagógico, porque explicitam a direção a ser estabelecida no trabalho escolar, em torno de um programa de formação.

Em uma sociedade democrática, com escolas democráticas e plena discussão com a comunidade escolar, os objetivos gerais do ensino seriam elaborados pelo conjunto da sociedade através do currículo, que por sua vez teria componentes específicas a serem debatidas localmente pela comunidade escolar, reunindo pais, estudantes e profissionais de educação. Em uma sociedade com pouca tradição democrática como a brasileira, a definição de objetivos gerais torna-se um grande desafio do professor. Deve-se seguir a documentação como uma espécie de obediência? Deve-se seguir a determinação da direção da escola? É correto que um profissional de educação elabore os objetivos gerais de acordo com seus próprios valores? Não há uma resposta bem definida. Libâneo (1994) pontua que:

“Na sociedade de classe, como é a brasileira, os objetivos da educação nacional nem sempre vão expressar os interesses majoritários da população, mas, certamente, podem incorporar aspirações e expectativas decorrentes das reivindicações populares” (LIBÂNEO, 1994, p. 136).

Qual o critério para definir essas aspirações e expectativas? Aqui fica bastante clara a necessidade de agregar cada vez mais pessoas ao processo de ensino, de construir uma escola democrática e de estabelecer diálogo com outros professores. Fica claro que é importante estimular a organização política dos estudantes. Disso depende a própria atuação do professor sem que seus objetivos gerais sejam autocráticos (definidos por si) ou mera reprodução dos documentos. Libâneo (1994) apresenta seis objetivos gerais para a educação: (1) colocar a educação escolar no conjunto das lutas na democratização da sociedade; (2) garantir a todas as crianças, sem nenhuma discriminação de classe social, cor, religião ou sexo, uma sólida preparação cultural e científica, através do ensino das matérias; (3) assegurar a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de suas potencialidades, tendo em vista auxiliá-las na superação das desvantagens decorrentes das condições socioeconômicas desfavoráveis; (4) formar nos alunos a capacidade crítica e criativa em relação às matérias de ensino e à aplicação dos conhecimentos e habilidades em tarefas teóricas e práticas; (5) atender a função educativa do ensino, ou seja, a formação de convicções para a vida coletiva; (6) instituir processos participativos, envolvendo todas as pessoas que direta ou indiretamente se relacionam com a escola: diretor, coordenador de ensino, professores, funcionários, alunos e pais (LIBÂNEO, 1994).

54 Pesquisadores em Educação em Ciências têm desenvolvido objetivos para suas perspectivas. Assim, uma boa forma de orientação pode ser buscar nos objetivos definidos pelos autores que propõem abordagens como CTS e QSC.

A proposta CTS agrega um conjunto de objetivos que podem ser delimitados como objetivos gerais do ensino de ciências. De acordo com Auler e Bazzo (2001), os objetivos do CTS podem ser resumidos em: promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciência com as aplicações tecnológicas e os fenômenos da vida cotidiana; abordar o estudo dos fatos e aplicações científicas que tenham uma maior relevância social; abordar as implicações sociais e éticas relacionadas ao uso da ciência e da tecnologia; adquirir uma compreensão da natureza da ciência e do trabalho científico.

A tarefa de delimitar objetivos específicos depende mais do professor em seu processo de organização do ensino. Para atingir os objetivos gerais, delimitam-se estratégias, conhecimentos e habilidades a serem desenvolvidas. Por exemplo, através do ensino da física, estudantes poderão compreender melhor o funcionamento de aparatos tecnológicos, interpretar melhor gráficos, tomar uma decisão sobre o planejamento da rede elétrica de uma casa, se orientar sobre direção defensiva e necessidade da manutenção de carros, interpretar gráficos e tabelas etc.

A perspectiva QSC, por sua vez, objetiva o desenvolvimento de outros conjuntos de habilidades por meio do ensino de ciências. Destaco aqui o aumento da capacidade de Raciocínio Informal, a identificação de componentes morais e éticas em uma decisão sobre ciência e tecnologia, relacionar questões culturais com o desenvolvimento científico, promover a capacidade argumentativa e dialógica dos estudantes, assim como saber se organizar socialmente.

Nota-se na comparação dos objetivos de CTS e QSC que a primeira perspectiva parece ter grande foco em objetivos gerais da educação científica enquanto o QSC dá mais atenção à promoção de habilidades específicas dos estudantes. Talvez por isso Bernardo (2015) identifique as QSC como uma perspectiva com grande potencial para realizar intervenções em sala de aula, inclusive de forma pontual em uma sequência tradicional. Talvez por isso Zeidler e colegas (2004) apresentem a perspectiva QSC como mais completa ao dizer que agrega os objetivos do CTS, e ainda desenvolvem habilidades argumentativas, morais e éticas nos estudantes.

Por fim, encontram-se os conteúdos a serem utilizados para atingir os objetivos. Estes são delimitados – muitas vezes – em livros didáticos e currículos mínimos. O ensino

55 tradicional quase sempre faz com que o professor organize o seu ensino pela sequência de conteúdos. Aqui talvez seja onde o professor tenha a menor liberdade de trabalho, visto as avaliações externas e as pressões sociais. Os estudantes perguntam “pra que?” e os professores, imersos na educação tradicional, raras vezes sabem responder. Organizar uma disciplina ou parte do curso em QSC pode ser uma estratégia libertadora. Os conteúdos passam a ganhar sentido, pois são meios para a tomada de decisão sobre um problema prático enquanto busca-se atingir objetivos educacionais bem definidos.

Os objetivos gerais e específicos são atingidos por meio da mobilização de conteúdos em um ensino sistematizado por diferentes métodos. A próxima seção trata da método como forma de organizar o ensino e atingir objetivos definidos mobilizando conteúdos selecionados.

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