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2. OS PERCURSOS TRILHADOS PARA A TESSITURA DESTA PESQUISA

2.3. Objetivos da investigação

Minayo (2012) se refere ao verbo "compreender" como a principal ação em pesquisa qualitativa, em que questões como a singularidade do sujeito, suas experiências e vivências no âmbito social ao qual pertence, são fundamentais para contextualizar a realidade na qual está inserido. Ao buscar responder uma questão em um determinado contexto histórico-social, em determinado espaço-tempo, as pesquisas qualitativas não são generalizáveis. Isso não significa que os pesquisadores que a utilizam não se preocupam com o rigor e com a credibilidade científica, mas sim que abordam e tratam os fenômenos de outra forma.

2.4. Definição do perfil e seleção das Professoras Colaboradoras

Definimos o perfil das professoras que seriam as colaboradoras da pesquisa, com base em nossas experiências anteriores de pesquisador sobre as boas práticas de professores, a partir de um trabalho de campo realizado junto à Cesgranrio48, sendo que as professoras para poderem participar da investigação, deveriam atender à condição 1 ou à condição 2, conforme apresentamos a seguir:

 Condição 1:

 Ser professor polivalente atuante nos anos iniciais da educação básica;  Estar entre os 20% (vinte por cento) dos professores polivalentes

aprovados na prova de mérito da SEE/SP, de determinada Diretoria de Ensino do Interior, no ano de 2010;

 Que a escola sede na qual o professor esteja vinculado tenha obtido resultados acima da média estadual no SARESP em Matemática nos anos 2009, 2010 e 2011.

 Condição 2:

 Ser professor polivalente atuante com os anos iniciais da educação básica;

 Estar entre os 20% (vinte por cento) dos professores polivalentes aprovados na prova de mérito da SEE/SP, de determinada Diretoria de Ensino do Interior, no ano de 2010;

 Estar atuando como professor coordenador pedagógico do Núcleo Pedagógico junto aos professores dos anos iniciais em determinada Diretoria de Ensino do Interior, exercendo a função de formador de professores dos anos iniciais.

Para selecionarmos as professoras colaboradoras, primeiramente fizemos o levantamento dos nomes dos professores polivalentes aprovados na prova de mérito do ano de 2010 de determinada Diretoria de Ensino do Interior do Estado de São Paulo, mais especificamente, aqueles que estavam entre os 20% (vinte por cento) melhores classificados, para o qual identificamos 120 (cento e vinte) nomes.

Depois disto, levantamos os nomes das escolas-sede de cada um deles, e neste caso, eles estavam distribuídos entre 18 (dezoito) escolas.

Na sequência, fizemos o levantamento dos dados das notas obtidas por estas escolas no SARESP49 de Matemática nos anos de 2009, 2010 e 2011, comparando com os dados da média do SARESP- Matemática do Estado de São Paulo. A partir da comparação destes dados, identificamos 05 (cinco) escolas que haviam atingido resultados acima da média estadual em Matemática por três anos consecutivos, atendendo ao perfil estabelecido para a pesquisa.

Após o levantamento e cruzamento destas informações, identificamos 31 (trinta e um) nomes de professoras, que estavam vinculadas a 05 (cinco) escolas dos anos iniciais da região que estabelecemos como recorte da investigação.

Identificados os nomes das professoras e as escolas-sede de cada uma delas, passamos a levantar informações junto à secretaria de tais escolas sobre as educadoras, e se estavam atuando em sala de aula; e em caso negativo, confirmamos as informações sobre a função que exerciam naquele momento e o local de trabalho, isto tendo em vista a época da coleta de dados da pesquisa ter acontecido um tempo depois, mais especificamente no segundo semestre do ano de 2012.

Outra informação que levantamos junto à determinada Diretoria de Ensino do Interior, foi a confirmação dos nomes das professoras que exerciam a função de

professoras coordenadoras do Núcleo Pedagógico e que atuavam como formadoras de professores dos anos iniciais.

Naquele período, depois do levantamento oficial de informações sobre as possíveis professoras colaboradoras junto à secretaria das escolas e da Diretoria de Ensino, das 31 (trinta e uma) professoras selecionadas inicialmente que atendiam a opção 1, 10 (dez) delas tinham se afastado pela municipalização50, 02 (duas) tinham se aposentado, 01 (uma) estava readaptada para atuar na sala de leitura e 03 (três) foram designadas para atuar na gestão escolar. Frente a isto, o número de professoras que potencialmente seriam convidadas como nossas colaboradoras na pesquisa foi reduzido para 14 (catorze). Foram identificadas 02 (duas) professoras que atendiam à condição 2.

No sentido de obtermos as autorizações indicadas para a pesquisa, fizemos um ofício solicitando autorização para a Dirigente de Ensino da Região selecionada para a investigação, para contatarmos os diretores das escolas, com o objetivo de que estes autorizassem a comunicação com as professoras51.

Tendo sido autorizada a pesquisa pela dirigente, passamos a fazer contato com os diretores das escolas, agendando horários para o primeiro encontro. Fizemos isto inicialmente por telefone e depois do agendamento feito, realizamos o primeiro diálogo de forma presencial.

Na sequência, passamos a fazer os convites oficiais às possíveis professoras colaboradoras, que aconteceram a partir de março de 2013. Entre as professoras selecionadas como colaboradoras, 02 (duas) delas estavam, à época da investigação, designadas como formadoras de professores, atuando como professoras coordenadoras no Núcleo Pedagógico de determinada Diretoria de Ensino do Interior, para as quais também obtivemos autorização para a investigação.

50 A Municipalização da Educação no Estado de São Paulo iniciou em 1995, com base nos preceitos

constitucionais definidos na Constituição Federal de 1988, que define no artigo 211, parágrafo 2º, a obrigatoriedade dos Municípios atuarem com prioridade no Ensino Fundamental e na Educação Infantil. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo estabeleceu várias medidas norteadoras para a fomentação do Ensino Fundamental, dentre elas, a reorganização das Escolas Públicas, separando as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental (antigo primário), já com a intenção de que fossem assumidas pelos Municípios. Como a maioria das Escolas Públicas de Ensino Fundamental era de responsabilidade Estadual, foram instituídas Leis e Decretos para regulamentação da Municipalização das mesmas, pois desde o quadro de professores, direção, funcionários, o patrimônio público (prédios, móveis, equipamentos), bem como a responsabilidade da educação de qualidade e a gerência de recursos, seriam trocados de poder público.

Para saber mais sobre a municipalização da Educação no Estado de São Paulo acesse

No diálogo presencial com os diretores das escolas, apresentamos nosso pedido por meio de um ofício, constando os objetivos e os procedimentos da investigação, bem como, socializamos um modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que seria assinado pelas professoras convidadas, caso aceitassem ser colaboradoras na pesquisa.

O acesso a essas escolas e professoras favoreceu a implementação da pesquisa, e tanto os diretores das escolas como as próprias professoras selecionadas como colaboradoras, sinalizaram reconhecer a importância da participação delas na investigação, o que contribuiu na concretização das relações que estabelecemos com elas.

De posse da autorização dos diretores das cinco escolas, sendo 02 (duas)de um município e 03 (três) de outro, iniciamos o agendamento via coordenadores pedagógicos para contato com as professoras, levantando o interesse e a disponibilidade delas em participar da investigação como nossas colaboradoras.

Marcamos horários com as professoras, inicialmente nas ATPC – Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo das escolas selecionadas. No primeiro encontro, apresentamos para cada uma delas o projeto de pesquisa, destacamos os objetivos e os procedimentos que seriam realizados. Junto às professoras que aceitaram participar da investigação, coletamos assinatura no TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e preenchemos uma ficha cadastral na qual levantamos informações pessoais como endereço, telefone, e-mail e possíveis horários para futuros contatos com cada uma delas.

As 2 (duas) professoras que atuavam na época como coordenadoras do Núcleo Pedagógico foram convidadas presencialmente, as quais aceitaram o convite e também assinaram e preencheram os documentos necessários para sua efetiva participação.

Das outras 13 (treze) professoras oficialmente convidadas, 02 (duas) não tiveram interesse em participar, porque nos próximos meses entrariam em licença-prêmio, o que as dificultaria colaborar no processo; e 11 (treze) aceitaram o convite, assinando o TCLE, ficando então, um total de 13 professoras oficialmente convidadas que aceitaram o convite.

Neste primeiro contato, pudemos sentir que os horários das professoras eram bem limitados, principalmente porque elas tinham muitos compromissos domésticos, familiares e profissionais; algumas acumulavam função, com dois turnos de trabalho, um na Rede Estadual e outro na Municipal.

Frente a isto tivemos de pensar em estratégias para a produção dos dados que potencializassem a participação de todas, e mesmo após termos estabelecido prazos em comum acordo, para que algumas delas enviassem por escrito suas narrativas ou marcassem horários para gravação das entrevistas narrativas de forma oral, tivemos dificuldades na participação de 04 (quatro) delas, ficando efetivamente como colaboradoras da pesquisa 09 (nove) professoras.

A seguir, apresentaremos o percurso que realizamos para a produção dos dados.

Com base em Josso (2002), fizemos a opção por desenvolver esta pesquisa tomando as narrativas como percurso para produção dos dados. Optamos mais especificamente por narrativas autobiográficas sob o aporte teórico-metodológico das histórias de vida, pois estas se tornaram, há mais de vinte anos, objetos de investigação muito utilizados nas ciências humanas. Entendemos por autobiográficas, porque são narrativas que os sujeitos, no caso, as professoras colaboradoras desta investigação, é que escrevem ou narram oralmente sobre suas próprias histórias.

Esta proposta alinha-se aos trabalhos que vêm sendo realizados no campo de formação de professores, pois, muitas das discussões que temos acompanhado em congressos52 e em publicações53, resultado de investigações mais recentes, têm focalizado categorias como identidade, conhecimentos profissionais, saberes da prática, aprendizagem, desenvolvimento e socialização profissional. Há uma reconsideração do agente-sujeito, do cruzamento de sua história pessoal e profissional, com predominância ao uso de procedimentos interpretativos, com deslocamento da preocupação das questões estruturais para as culturais (SANTOS,1995; PEREIRA,2000).

Também nos embasamos nas obras de Goodson (1992, p.71-75), quando o autor declara que “[...] o trabalho sobre as vidas e carreiras dos professores está cada vez mais a dominar as atenções nos seminários e cursos destinados ao desenvolvimento profissional”.

O trabalho, centrado em narrativas autobiográficas, adotam além do aspecto da reflexividade, outros aspectos e questões relativas à subjetividade e à importância de se

52Anped-Sudeste, CIPA e Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores.

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