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CAPÍTULO III METODOLOGIA

4.2 Objetivos dos professores

Os professores manifestaram vários objetivos no ensino de piano que condizem com a abordagem abrangente de ensino do piano, conforme discutido à p.34 do presente trabalho: formação musical do pianista-ouvinte- apreciador, que não pode prescindir do desenvolvimento técnico

Alguns dos professores entrevistados consideram, por exemplo, que o aluno deve ter a oportunidade de desenvolver uma formação geral, como ouvinte- apreciador musical, com abordagem ampla de estilos e gêneros de música. Uma das consequências desta abordagem, segundo os professores, é o interesse pelas demais manifestações artísticas.

“O professor deve privilegiar uma abordagem mais cronologicamente ampla possível. Acho que, como é a formação de um aluno, ele deve ter uma oportunidade de tocar vários estilos, vários gêneros, tão logo ele seja capaz de executar essas obras”.

“Uma criança de seis anos. Ela em si não quer nada. Às vezes é a gente... os pais é que querem. Eu acho que ela tem que conseguir o máximo de familiaridade com o som, para ela no futuro ser uma boa ouvinte, uma boa apreciadora de música, consequentemente vai gostar de uma pintura, vai apreciar uma exposição. Acho que uma coisa vai levando à outra. Tratar da sensibilidade daquela pessoa que muitas vezes está escondida, colocar aquilo à flor da pele.”

“Desenvolver uma formação artística tal que ele tenha capacidade de tocar o repertório mais variado de uma maneira adequada, consciente, sabendo que aquilo ali não é apenas algo técnico ou algo mecânico, que tocar piano é uma arte e que está num contexto maior, que é a arte como pintura, como arquitetura, como todas as outras artes. A pintura tem técnicas específicas, a literatura, tem a gramática, uma série de coisas, os instrumentos em geral têm uma técnica específica, têm uma maneira, ou maneiras melhores de se tocar, de se fazer.”

Houve, entretanto, manifestações de entrevistados indicando a direção por uma formação musical específica. Neste ponto, foram identificados dois aspectos muito importantes no processo de aprendizagem do aluno, que estão interrelacionados entre si. Um é o desenvolvimento musical e o outro é o desenvolvimento instrumental especificamente e toda a técnica correspondente (incluindo-se o domínio da leitura musical).

Um entrevistado acredita que a técnica do instrumento e o conhecimento dos fundamentos da música vêm em primeiro lugar.

“É importante o aluno aprender primeiro a técnica do instrumento, conhecer o instrumento profundamente, conhecer as qualidades, as limitações, saber das possibilidades sonoras do instrumento. E os fundamentos da música, como organizar uma obra, como identificar uma obra, sob os aspectos estéticos. Isso eu acho fundamental, que você pode passar desde a primeira aula. Claro, em doses proporcionais ao desenvolvimento do aluno, ao período que ele está estudando.”

Outro entrevistado também considera a parte técnica como um objetivo importante a ser desenrolado durante as aulas de piano, chamando a atenção, neste ponto, para a leitura.

“A criança deve ir adquirindo aos poucos o domínio da parte técnica. O que implica também a leitura. A criança tem que saber a leitura.”

Um relato, no entanto, corrobora o que a literatura e estudos vêm descrevendo como o ideal do aprendizado de música: a técnica e a compreensão como essencialmente complementares (v. p.20 e 26 do presente estudo).

“Basicamente duas coisas que se interrelacionam.

Uma: ele tem que aprender música, todos seus recursos, toda sua semântica e ele tem que aprender piano, porque é através do instrumento dele que ele vai poder se expressar musicalmente. Então acho que isso é um cuidado que o professor tem que ter desde a primeira aula, ele não pode ter o descuido de deixar de enfatizar a questão musical, mas a questão que às vezes pode parecer chata, por exemplo, o como sentar, porque ele tem que aprender a se relacionar intimamente com o instrumento, desde o começo. Não pode ser uma coisa à parte dele. Então ele tem que estar se familiarizando com o instrumento, familiarizando com o instrumental desta técnica, com a questão do gesto, com a questão do toque, e como que isso vai ajudá-lo a expressar determinada idéia musical, porque sem isso ele pode até entender uma frase, mas se o professor não o orienta para isso, ele não vai conseguir fazer nunca. Então são duas coisas que têm que caminhar muito juntas.

O professor tem que estar com essa atenção. O gesto é fundamental na técnica pianística, é o que vai possibilitar o aluno se expressar musicalmente. O professor tem que estar atento a estes detalhes mínimos desde os conceitos mais elementares que mais tarde vão fazer a grande diferença.”

Além destes objetivos mais amplos, também foi citada a independência do aluno em relação ao professor:

“E coisas que dêem independência, tocar sozinho, tocar junto, fazer improvisação.” “Eu acho importante num primeiro momento aprender a lidar com o instrumento, a técnica básica do instrumento e poder se desvencilhar um dia do professor. Poder ter uma técnica apurada a tal ponto que ele não precise passar a vida inteira tendo aula.”

Neste último relato percebe-se preocupação do professor em desenvolver atividades que possam atingir o objetivo de independência.

Mas todos estes objetivos explicitamente colocados pelos professores só serão atingidos caso o aluno se sinta motivado para tanto, envolvido, disposto ao contínuo aprendizado. Para os professores a motivação constitui ferramenta essencial para atingir os objetivos. Um dos professores entrevistados, partindo desse pressuposto, declarou que o seu primeiro objetivo é cativar o aluno.

Segundo seu relato, a forma como se introduz o aluno à música é crucial na sua motivação, pois já pode direcionar o valor que aquilo pode ter para ele.

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