2.9. Segurança contra incêndios em fachadas de madeira
2.9.1. Objetivos da segurança contra incêndios
Os princípios mais pertinentes que formam a base para os regulamentos europeus de
segurança de edifícios contra incêndio são os seguintes:
Os ocupantes devem ser capazes de deixar o edifício ou serem resgatados;
A segurança das equipas de socorro deve ser tida em conta;
As estruturas de suporte de carga devem resistir ao fogo durante o mínimo período
de tempo necessário;
A geração e propagação do fogo e do fumo devem ser limitadas;
A propagação do fogo para prédios vizinhos deve ser demarcada.
Segundo o Guia de Orientação Técnico Europeu de Segurança Contra Incêndio em
Edifícios de Madeira (Östman et al, 2004), a legislação que se aplica no caso de fachadas em madeira passa pela aplicação do Eurocódigo 5, no entanto, alguns países têm ainda requisitos adicionais. No que se refere a estes requisitos adicionais a aplicar no caso das fachadas de madeira, não existe ainda normalização que permita avaliar e quantificar as suas implicações no desempenho destes elementos sob ação do fogo. No entanto, está em preparação uma ETAG (European Technical Approval Guideline) com vista a preencher este vazio legislativo.
2.9.2. Cenários de incêndio em fachadas
Para Kotthoff et al (2001), a propagação de um incêndio na fachada de um edifício é influenciada pela intensidade e pela localização da sua deflagração.
Em princípio, a fachada pode ser exposta aos três cenários de incêndio (Figura 13) que se
seguem:
Cenário A - incêndio no edifício localizado junto à fachada; Cenário B - incêndio no exterior do edifício em frente da fachada;
Cenário C - incêndio no interior do edifício, numa divisão ao lado da parede exterior com pelo menos uma abertura na fachada.
Figura 13 - Possíveis cenários de incêndio na fachada de um edifício Kotthoff et al (2001)
Alguns incêndios reais e ensaios efetuados mostram que todas as partes de uma fachada reagem, dirigindo o impacto da chama para a área da faixa central do edifício, dependendo da inflamabilidade da fachada. A existência de janelas ou aberturas nas fachadas na faixa central do edifício, que não apresentam nenhuma proteção contra incêndio, é considerada como pontos fracos, estejam estes abertos ou fechados. Com base nos resultados dos
diversos estudos ensaios já realizados, é possível afirmar-se que:
Em cenários reais de incêndio, os revestimentos para fachadas ventiladas reagem
visivelmente melhor do que o esperado;
O efeito de autoproteção da madeira, através da carbonização da superfície, inibe a
rápida propagação do fogo na vertical, sendo quase insignificante na lateral.
A propagação do fogo por detrás do revestimento, na zona ventilada, é controlável
através de barreiras estruturais contra incêndio;
Não foram observados problemas no combate a incêndios utilizando água. Além
disso, não se verifica a ocorrência de queda/derrocada de partes da estrutura que constituem a fachada que coloquem as pessoas em perigo;
O isolamento exterior inflamável pode acelerar a propagação do fogo;
Os revestimentos normais testados não têm qualquer efeito significativo sobre a
inflamabilidade do revestimento de madeira.
Contudo, com base nos mesmos resultados, é possível concluir-se que o comportamento de uma fachada de madeira exposta a uma carga de incêndio depende de diferentes fatores tais como:
Capítulo 2 – Considerações bibliográficas
O tipo e caraterísticas arquitetónicas das fachadas;
O tipo e alinhamento do revestimento;
A subestrutura, incluindo a abertura de ventilação traseira.
No Quadro 2, é apresentada a classificação dos revestimentos tendo em conta a sua influência na propagação do fogo em edifícios de vários pisos, de acordo com o guia de orientação técnica de segurança contra o fogo europeu (www.lignum.ch).
Quadro 2 - Classificação dos revestimentos em relação a propagação do fogo (www.lignum.ch)
Influência da propagação do fogo Parâmetros
de influência Excelente Bom Mau
Tipo de revestimento
2.9.3. Medidas estruturais e barreiras de incêndio em fachadas
Östman et al (2010) refere a utilização de barreiras para limitação da propagação do fogo
nas fachadas. Estas podem estar suspensas e salientes na fachada ou podem encontrar-se por trás dos painéis, ajudando a restringir a propagação de fogo atrás de fachadas, reduzindo a difusão do fogo ao longo de vários pisos. Estas barreiras que ajudam a limitar a propagação do fogo podem funcionar, em alguns casos particulares, como palas de
a) b) c)
Figura 14 - Barreiras suspensas contra incêndios: a) Placa de aço; b) Placa de madeira ou de derivados de madeira não combustível; c) Placa de madeira ou derivadosÖstman et al (2010)
Estas barreiras de propagação do fogo em fachadas têm os seguintes efeitos:
Prevenção de efeito chaminé na ventilação traseira;
Desvio de chamas a partir da superfície das fachadas;
Redução da penetração do fogo no interior da zona de ventilação.
As barreiras que se situam por trás dos painéis de revestimento em madeira contra a
propagação de fogo (Figura 15), tal como as barreiras apresentadas anteriormente, tem como finalidade evitar a rápida propagação do incêndio ao longo da sua altura (www.lignum.ch).
a) b) c) d)
Figura 15 - Princípios básicos das barreiras por trás dos painéis contra o fogo Östman et al (2010) a) Fachada com ventilação traseira; b) Fachada com ventilação traseira com barreira contra o fogo, não
Capítulo 2 – Considerações bibliográficas
A principal ameaça de um incêndio, que se espalha na abertura de ventilação das fachadas,
é a de que o fogo se possa espalhar através da fachada para outros espaços, como
apartamentos ou sótão/telhado. O fogo pode espalhar-se para apartamentos através de varandas ou de janelas abertas. O problema técnico mais importante relativamente ao fogo, que incorpora a zona de ventilação por detrás das fachadas, é o da exigência que a estrutura tem de proteger o edifício contra a humidade. A criação de uma solução que funcione como barreira ao fogo e, simultaneamente, seja funcional na parte da ventilação, requer um compromisso entre a proteção contra incêndio e os requisitos de proteção do edifício em relação à humidade.