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7. Panorama Específico

7.1 Objeto das Ações

No decorrer das análises de conteúdo conclui-se que o objeto das ações variou entre dois nortes: o desrespeito aos princípios constitucionais voltados para programação indicados na Constituição Federal e a Classificação Indicativa desses programas.

O primeiro condiz com o desrespeito, por parte da produção e programação televisiva, aos princípios constitucionais da Comunicação Social constantes, principalmente, no artigo 221, incisos I e IV. Os objetos das ações versam sobre cenas, quadros, programas e declarações de apresentadores que não estivessem consonantes às finalidades educativa, artística, cultural e informativa e os valores éticos e sociais da pessoa e da família. O Parquet, a partir das situações de fato, concluía que a emissora ré fazia mau uso da concessão pública valendo-se da prerrogativa legal de sua utilização para cometer abuso à liberdade de expressão e informação jornalística. Neste sentido, as Ações Civis Públicas buscavam cessar o abuso de direitos cometido e reparar as lesões sofridas.

85 Já o segundo trata-se exclusivamente da desobediência à classificação indicativa constantes nas Portarias publicadas pelo Ministério da Justiça que estivessem em vigor na ocasião. As infrações encontradas foram em torno da não associação da indicação etária do programa ao horário permitido para veiculá-lo e da exibição de cenas dentro do programa que destoaram do horário e da classificação indicada. As classificações etárias que tiveram o maior número de questionamentos judiciais foram, pela própria proteção à criança e ao adolescente a que se destinam as portarias, as faixas indicadas até 14 anos de idade, que concentraram 88% das discussões69. No entanto, tal padrão não corresponde necessariamente à realidade das demandas tendo em vista que 18% das ações foram impetradas contra diversos programas da grade da emissora sem que as informações de classificação indicativa estivessem disponíveis no corpo da inicial70. Veja-se um desses casos:

Em 02 de fevereiro de 2006, este órgão ministerial expediu ofício ao Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação – Ministério da Justiça, solicitando informações sobre todos os casos pretéritos em que houve o descumprimento da classificação indicativa pela emissora SBT (doc. 07). Em resposta (doc. 07), informaram que há diversos procedimentos administrativos abertos naquele órgão, registrando (até aquela data) um total de 119 programas exibidos em horário inadequado. (PROCURADORIA DA REPÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006, p. 5).

Ainda que o objeto de todas as ações tenha como causa, em linhas abrangentes, a ineficiência de concessionárias públicas para o fornecimento de um serviço dentro dos limites legais impostos, a diferenciação é necessária porque a causa de pedir das ações é diferente. No primeiro caso as ações são voltadas pela desobediência das emissoras principalmente quanto ao dispositivo IV do art. 221 da Constituição Federal, do “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”. Já no segundo, pretende proteger as crianças e os adolescentes quando ocorre desvios ou não ocorre a Classificação Indicativa. Com a divisão, pudemos também nos debruçar melhor sobre resposta jurídica dada ao Ministério Público sobre cada fim. Neste sentido, toda a análise do Panorama Específico dividiu-se em duas partes:

(a) Desrespeito aos valores éticos e sociais; (b) Classificação Indicativa.

69 38% - 14 anos, 27% - livre, 23% - 12 anos, 8% - 16 anos, 4% - 12 anos.

70Os dados acima mencionados foram os possíveis de localizar nas peças indicando a classificação de 27

86 A separação contribuiu para que inserções comparativas fossem realizadas no decorrer do trabalho enriquecendo a análise. Dentre as 26 ações estudadas, 15 se referem a Desrespeito aos valores éticos e sociais (a) e 11 a Classificação Indicativa (b) com percentuais de 57,6% e 43,4%, respectivamente.

7.2 Polo Ativo

Todas as ações que foram impetradas tendo como polo ativo o Ministério Público e outras fundações privadas e associações sem fins lucrativos enquadram-se na demanda de Desrespeito aos valores éticos e sociais (a). Acredita-se que nas ações de Classificação Indicativa, devido a Portaria 1.220 de 2007 ter trazido a obrigatoriedade de comunicação ao Ministério Público de qualquer inadequação ou descumprimento da classificação, o referido órgão tornou-se naturalmente mais vigilante nesta questão não necessitando de outra provocação além da oferecida pelo Estado71. Enquanto que nas ações do tipo “a” por serem, inclusive, mais subjetivas e generalistas o Ministério Público age mais quando provocado pela própria sociedade.

Entretanto, verificou-se que o fato de as entidades não figurarem como polo ativo das ações não elimina a possibilidade de outros tipos de participações das mesmas na lide. Não se pode mensurar, por exemplo, quantas destas petições decorreram de representações promovidas por entidades da sociedade civil organizada ou mesmo a quantidade de contribuições espontâneas destas instituições ao órgão. Encontrou-se, no texto de algumas iniciais que só tinham como polo ativo o Ministério Público, o exemplo de um desses casos, a ver “foi devidamente apurado pelo Ministério Público Federal, a partir de representação veiculada pelo Instituto de Defesa do Telespectador (TVBEM), estabelecida nesta Capital...” (PROCURADORIA DA REPÚBLICA DE MINAS GERAIS, p. 3, 2003).

Quanto à atuação de cada Ministério Público nas lides, na demanda “a” o Ministério Público que mais atuou em torno da causa foi o de São Paulo, impetrando 73,3% das ações. Na Classificação Indicativa (b), a atuação do Ministério Público foi mais diversificada entre os estados com o MP-RJ e MP- MG com 36,3% cada, o MP – CE com 9,3% e o MP – SP com 18,1%.

71 “Art. 22. A constatação de inadequações ou qualquer outro caso de descumprimento da classificação

indicativa pela exibição de obra audiovisual serão comunicados ao Ministério Público e demais órgãos competentes” (Portaria 1.220 de 2007).

87 7.3 Polo passivo

Nas ações do tipo “a”, a Record e RedeTV! empataram na quantidade de ações com um total de cinco demandas ajuizadas contra si. Em segundo lugar, a Band e a Globo também tiveram o mesmo número de ações com duas cada e, por último, a SBT com uma ação.

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