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A história é a tentativa de conseguir uma perspectiva filosófica através do estudo dos acontecimentos no tempo.

Will Durant (2002:11)

Há registros sobre existência no Desterro anteriores ao primeiro Hospital de Caridade de pelo menos mais dois Hospitais, um militar e outro dos Jesuítas. Preciso é esclarecer que se tratavam mais de enfermarias do que nosocômios propriamente ditos. Poderiam ser instituições não medicalizadas, mas há relatos de que pelo menos no Hospital Militar havia um cirurgião-mor. Para se ter uma

idéia do porte da Enfermaria Militar retro citada, em fevereiro de 1777 esta acomodava quatrocentos enfermos, ano em que foi destruída pelos invasores espanhóis. Quanto ao Hospital Jesuíta, este foi extinto com a expulsão destes clérigos das terras da coroa portuguesa por determinação do Marquês de Pombal em 1759.

No seu início o Hospital em foco chamava-se de Hospital da Caridade

dos Pobres, constituíndo-se então em uma instituição filantrópica que foi criada

para atendimento aos pobres, idosos e enfermos, mas, já na segunda década do século XIX, por imposição governamental, só atendia aos militares da guarnição de Desterro. Desde sua fundação sofreu muitas dificuldades para a sua manutenção. Ao longo de sua vida atravessou crises constantes para manter suas portas abertas; isto sempre foi conseguido pela generosidade de alguns Catarinenses, desprendimento de seus provedores ou dirigentes e, geralmente, insuficientes subvenções governamentais. Está localizado na Rua Menino Deus, nº. 376, Praínha, Florianópolis, SC.

A partir da Carta Magna Brasileira de 5 de outubro de 1988, sedimentada com a Lei Orgânica de Saúde de 1990, o princípio da integralidade da ação de saúde foi definido como norma legal. O processo de implantação do SUS - Sistema Único de Saúde, em todo o país, tem sofrido adequações e “aperfeiçoamentos” cujos resultados não são ainda de todo cognoscíveis ou previsíveis. Contudo, a partir de novembro de 1988, os hospitais brasileiros, principalmente os que têm como cliente maior o SUS, sofreram perdas financeiras apreciáveis, algumas irreparáveis, em especial as Santas Casas de Misericórdia do Brasil, as quais sofreram duro golpe em suas combalidas finanças, seja pelo pagamento de diárias hospitalares em valores irrisórios, seja pelo atraso de vários meses e em época de inflação galopante, era mais um calote da União. Isto tudo resultou em gradativa deterioração da maioria dos edifícios hospitalares. Alguns hospitais cerraram suas portas, outros buscaram avançar pelos caminhos da tecnologia, do investimento em novos “produtos” e do

cliente que pode pagar sua estada, reduzindo a oferta de leitos aos que não têm tal possibilidade. Assim, os serviços hospitalares ou de saúde para o proletariado em nosso país, que estão garantidos pelo Constituição, não são os que deveriam acontecer. O Governo destaca verbas gigantescas para a saúde, as quais são desperdiçadas em procedimentos altamente sofisticados e pontuais, beneficiando os poucos de alta complexidade ou o grande dreno da corrupção as consome.

Os objetos arquitetônicos, isto é, os edifícios devem ser construídos para abrigar e produzir espaços adequados aos fins a que se destinam. Para desenvolver nosso estudo pensamos que a estrutura lógica do indício precisa do apoio de uma explicação teórica que passe pelo crescimento do conhecimento, pela natureza e pela função dos textos, pelos conceitos de cultura, ideologia e estrutura de Estado.

A moderna arquitetura define-se como arte de organizar o espaço para a vida humana.

Como arma de transformação do mundo, a arquitetura tem os seus métodos próprios, que não se confundem com os da ciência ou os da própria tecnologia. Restaurá-los é a proposta contida nas atitudes de Le Corbusier e Niemeyer.

(VILANOVA ARTIGAS).

Segundo Walter Benjamin, “o caráter cultural da arte, com a experiência

destes anos, tende a ser substituído pelo caráter político, o que por certo lhe acresce como forma de crítica da realidade em todos os seus aspectos”. O

mesmo autor, em sua obra: Sobre o conceito da história afirmava: “Todos

aqueles que até agora têm vencido, na história, participam de um cortejo triunfal, no qual os dominadores de hoje caminham sobre os corpos daqueles que permanecem estendidos no chão. O butim resultante da pilhagem ficou,

como é usual, marcado pela vitória: é o que se chama de ‘patrimônio cultural”.

(Tese nº 7).

Os espaços do Hospital de Caridade foram estudados visando descobrir se atendiam, na concepção da época, as necessidades então surgidas pela evolução do saber médico. A construção especial de enfermarias para atender determinadas endemias ou outras carências da população atendida, também foi objeto de nosso estudo.

Desde a Antiguidade, no oriente e no ocidente, antes e depois de Cristo, existem registros de hospedarias, hospitais e hospícios, vocábulos com a mesma raiz latina “hospes”, do qual também derivam hóspede e hotel. Nos estabelecimentos assim denominados, pessoas piedosas patrocinavam e cuidavam de peregrinos, velhos, crianças e enfermos. Na verdade, alguma espécie de hospital, asilo ou outro nome que tenham dado, desde que a humanidade atingiu uma certa complexidade ou começou a ter algum sentimento de solidariedade para com o desvalido, existiu para acolher o enfermo.

No início da colonização brasileira, os portugueses trouxeram o modelo das chamadas “casas de misericórdia”, as nossas Santas Casas. Nestas, sob a direção de religiosos, abrigavam-se os indigentes, enfermos e os próprios membros de suas ordens religiosas. No século XIX, as Santas Casas cedem paulatinamente espaço para os hospitais gerais, sendo nestes instalado o ensino médico. As Santas Casas de hoje são verdadeiros hospitais, alguns são complexos hospitalares, mantendo o nome por tradição e, em outros casos, por aspectos jurídico-patrimoniais que as vinculam às suas respectivas ordens religiosas. Todavia, o Hospital de Caridade de Desterro, no seu início, não era administrado por uma ordem religiosa específica, apesar da fortíssima vinculação da Igreja Católica com seus Fundadores e Mantenedores.

O período a ser abordado remete-nos à época em que se iniciavam as construções de hospitais e dispensários no mundo ocidental, final do século XVIII e início do século XIX. No Brasil, nosso conterrâneo Irmão Joaquim, promove a criação de Santas Casas em diversas cidades brasileiras, motor principal que foi da construção do Hospital de Caridade e de sua manutenção em seus primeiros lustros.

O Hospital da Caridade dos Pobres de Desterro foi inaugurado em 1o de janeiro de 1789, já que até então, isto é, durante sete anos a Irmandade do Senhor dos Passos atendia seus pobres doentes em casas de pessoas caridosas da Vila. A construção do Hospital da Caridade dos Pobres é obra da Irmandade, portanto de pessoas da Comunidade Desterrense.

Para a concretização do Hospital da Caridade dos Pobres de Desterro, o Poder Público da Província participou, no início, com a doação do terreno em que está situado. Entretanto, constatamos que a prática de doações e heranças era comum entre os Brasileiros, movidos pela influência e poder da Igreja e fortemente embasados no Evangelho de Jesus. O Irmão Joaquim, admirável e portentosa figura da Vila Nossa Senhora do Desterro, exemplo de amor e solidariedade para com todos, caminhou algumas vezes descalço desde a Colônia de Sacramento até o Rio de Janeiro arrecadando esmolas do povo piedoso para a construção do Hospital de Caridade e, em seguida, para a sua manutenção e depois procedeu da mesma forma para com outras Santas Casas de Caridade. Durante sua existência foi até Lisboa diversas vezes para, com muito sacrifício e humilhações pessoais, obter na Corte as licenças de funcionamento, recolher donativos e proteções do reino, as quais viabilizaram a existência do Hospital de Caridade e de outras Santas Casas do Brasil, desde as suas origens até meados do século XIX. No entanto, constatamos que as doações testamentárias foram perdendo força nas últimas décadas do século passado. Especulamos que tal fato decorreu da construção de outros Estabelecimentos Assistenciais de Saúde na nossa Capital. Porém, as

instituições filantrópicas de Florianópolis têm se mantido graças às contribuições da sua sociedade, a qual demonstra ser generosa mesmo para aquelas que não têm vínculo religioso de qualquer espécie.

4.2 A IRMANDADE SENHOR JESUS DOS PASSOS E O SEU