O objeto deste estudo é composto por quatro empresas do Rio Grande do Sul que atuam no segmento de bolsas ou calçados. A amostragem para coleta de dados foi estipulada de forma intencional. Segundo Prodanov e Freitas (2013), este tipo de amostragem intencional consiste em selecionar um grupo, a partir de informações prévias, que possa ser considerado representativo da população que se deseja investigar. A principal vantagem deste tipo de amostragem está na assertividade da seleção da amostra, desde que haja o conhecimento prévio dessa população. Pelo tema desta pesquisa ser a área de atuação da pesquisadora, a amostragem foi selecionada pela mesma, de maneira intencional, para representar a realidade da área em questão.
Para melhor compreensão do cenário atual, as empresas foram selecionadas pela sua representatividade no mercado e tempo e atuação, de forma a tentar compreender nesta amostragem marcas de sucesso neste segmento:
- Empresa A: Marca criada em 1995, trabalha com sapatos sociais femininos que estão disponíveis em pontos de venda presentes em todos os estados brasileiros. Atua com franquias e lojas próprias e, em 2002, iniciou a expansão internacional, além das lojas on-line. A marca lança 12 coleções de produtos por ano, focadas no mercado nacional e internacional.
- Empresa B: Empresa fundada em 1976, tem atualmente 12 mil colaboradores e trabalha com desenvolvimento, produção e comercialização de sapatos femininos e infantis no mercado brasileiro e sul-americano. A empresa possui seis marcas de nichos diferentes e a marca participante deste projeto é focada em tênis casual e esportivo feminino. Como estratégia, a empresa lança 10 coleções de produtos por ano.
- Empresa C: Fundada em 1972, a marca atua em segmento de calçados e bolsas femininas. A empresa tem uma rede de distribuição, que inclui franquias, lojas multimarcas, lojas próprias e e-commerce. Para o projeto, o foco da pesquisa nesta marca ficou no segmento de bolsas. A marca cria e desenvolve, por ano, 14 coleções de bolsas destinadas ao mercado feminino.
- Empresa D: Com 20 anos de mercado brasileiro, a empresa também tem pontos de vendas nos EUA e, em 2019, iniciou suas vendas on-line. A marca atende o público feminino, com bolsas e calçados casuais, sendo que os dois produtos são desenvolvidos pela mesma
equipe criativa. Esta equipe trabalha para contemplar os 8 lançamentos de coleção por ano previstos pela marca.
O Quadro 9 sintetiza o perfil do objeto de estudo desta pesquisa. Para ter um entendimento mais amplo deste segmento, foram selecionadas empresas que trabalham com nichos diferentes de produtos, contemplando calçados e bolsas, que são a delimitação desta pesquisa.
Quadro 9 – Perfil do Objeto de Estudo
EMPRESA TEMPO DE MERCADO SEGMENTO / NICHO DE PRODUTO ANALISADO LANÇAMENTOS POR ANO
ALFA 25 anos Sapatos sociais femininos 12 coleções BETA 44 anos Tênis casual e esportivo feminino 10 coleções GAMA 48 anos Bolsas sociais e casuais femininas 14 coleções DELTA 20 anos Calçados e bolsas casuais femininos 8 coleções
Fonte: Elaborado pela autora (2019)
Todas as empresas selecionadas trabalham com a estratégia de lançamento de produtos em formato de coleção, sendo que, em média, lançam 11 coleções por ano. Este número é superior ao que foi visto historicamente, quando os lançamentos de moda começaram a ser realizados por estações de primavera/verão e outono/inverno (MATHARU, 2011), contemplando o intuito desta pesquisa de analisar empresas que trabalham com moda de comércio rápido. A entrevista foi realizada com um designer por empresa, por ser o profissional responsável pela criação e desenvolvimento de produtos (Figura 19).
Figura 19 – Perfil dos Entrevistados
A amostragem dos entrevistados é composta por três designers mulheres e um homem, todos com mais de dez anos de experiência na área. O designer é considerado o principal membro da equipe de criação de moda e envolve-se desde a idealização do produto até a aprovação dos protótipos desenvolvidos (RENFREW; RENFREW, 2010), por isso, o
designer foi o profissional designado para representar as empresas nesta pesquisa. Todos
responderam as mesmas questões, sendo o conteúdo destas entrevistas a base para discussão dos resultados no capítulo a seguir.
Neste capítulo, evidenciam-se os dados coletados por meio das entrevistas com os
designers participantes desta pesquisa, sendo que os quatro entrevistados responderam as
mesmas questões para possibilitar a comparação dos resultados. Baseando-se no conceito de
design como um processo que deve contemplar, a partir de uma visão sistêmica, todo projeto
de criação e desenvolvimento de um produto (CARDOSO, 2013), a pesquisa destinou-se a mapear as práticas projetuais utilizadas na indústria de acessórios de moda.
Apesar do design ser considerado pertencente à indústria criativa, onde utiliza-se da criatividade e do capital intelectual como o principal insumo para criação produtos (UNCTAD, 2010), a organização de uma indústria da moda é baseada na criação, produção e vendas de produtos, o que significa que o designer precisa utilizar dos conceitos de metodologia de projeto de design para aplicá-los (TREPTOW, 2013). Neste sentido, buscou- se conhecer a visão do designer como indivíduo criativo dentro deste meio industrial.
Desta forma, a intenção deste estudo de campo é compreender, analisando empiricamente, como este processo de criação e desenvolvimento ocorre nas empresas selecionadas. A partir das entrevistas, procurou-se entender as principais dificuldades e vantagens dos métodos utilizados na indústria atualmente, com intuito de complementar os dados coletados na revisão teórica, possibilitando a proposição de um método adequado para o cenário atual.
A discussão dos resultados inicia-se pela análise dos processos de criação e desenvolvimento de produtos, para entendimento do trabalho realizado pelos designers dentro das empresas investigadas. Posteriormente, realiza-se a análise sobre a gestão de coleção, buscando entender como os designers organizam as etapas de trabalho, e, por último, investiga-se quais são os incentivos e obstáculos à criatividade encontrados pelos designers durante este processo. As análises tem o objetivo de construir um método compatível com o cenário atual do setor, apresentado no capítulo seguinte.