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Obras complementares – Breve comentário

4 HORA DO CONTO: UMA NOVA PERSPECTIVA

4.1 RELATO DAS PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO

4.1.1 Produções comentadas

4.1.1.1 Obras complementares – Breve comentário

Importante observar e ressaltar que durante o período de aplicação e desenvolvimento da proposta didática os alunos levaram outros contos para casa a fim de contribuir com o hábito da leitura e familiaridade com o gênero estudado, intensificando com mais essa prática nosso trabalho de letramento literário. São eles: A Cuca vem pegar, A raposa e Vovô virou árvore, de Regina Chamlian; O rei que não sabia ser feliz, De como o macaco pagou suas dívidas e Façanhas de Zé Burraldo, retirados dos livros Contos e lendas de um vale encantado e Bichos do mato, do autor Ricardo Azevedo; e A mulher que matou o peixe, O mistério do coelho pensante e Doze lendas brasileiras-como nascem as estrelas, de Clarice Lispector. As obras selecionadas são um passeio pelo tradicional, pela cultura popular e pelo moderno em consonância com as obras trabalhadas em sala. São obras também riquíssimas, e poderiam estar contempladas para o trabalho na sala também, no entanto a escassez do tempo não nos permitiu, no entanto necessário foi também oferecer bons textos para casa para que nosso objetivo viesse a ser melhor alcançado. Houve não só a leitura em casa, mas momentos de partilha em sala sobre as obras lidas, promovendo a exposição e troca de ideias e sentimentos. Apresentamos a seguir alguns comentários breves sobre cada uma das obras relacionadas.

As obras de Regina Chamlian para leitura em casa são: A cuca vem pegar, A raposa e Vovô virou árvore. A narrativa A cuca vem pegar faz misturam feitiçaria, sonho. Luisinho que não acreditava em assombração se vê envolvido agora no universo da bruxa. A história que retoma as canções de ninar, da infância, é uma retomada aos costumes de nossa cultura, trata-se sem dúvida de uma história bem encantada!

A raposa é uma narrativa que conta o sonho musical de uma menina que tem como amiga uma raposa. A obra é cheia de lirismo, a amizade das personagens é marcada pela busca de um sonho, ao som do violino.

Vovô virou árvore é um convite à reflexão sobre a importância de resgatar nossa cultura popular, nessa narrativa a netinha mais nova, da família das tartarugas, tem uma relação de amizade com o avô envolvida pelas histórias que dele ouve. O vínculo que se estabelece entre os dois, movido pela contação, vai além da morte. Quando seu avô se vai, ela continua contando as histórias que dele ouviu aos seus familiares. O avô vira árvore e floresce ainda por meio de sua neta, que cultiva e leva histórias alimentando os demais.

Os contos selecionados de Azevedo são de esperteza, como a obra O rei que não sabia ser feliz. Tratando ainda com personagens e cenário dos contos tradicionais, como o rei, o

camponês e o castelo, aborda o tema do valor ao que temos. Por ser de adivinhação, vai prendendo o pequeno leitor, que quer logo ver o desfecho. Não é um conto mirabolante, nem de grandes façanhas, ao contrário, o que permite observar como esse gênero brinca com o trivial, não deixando de perder o efeito de interesse e surpresa do leitor.

De como o macaco pagou suas dívidas, um conto de esperteza envolvendo animais de nossas matas. Os alunos nessa idade estão muito acostumados a ouvir parlendas, nelas os animais geralmente são os personagens. Por pouco conhecerem ainda dos contos, os alunos, na maioria, pensam que se a narrativa envolve animais é logo uma parlenda com fundo moralista. Momento para mostrar que o conto envolve animais também. Esse conto costuma prender muito a atenção dos alunos, o macaco sendo bicho esperto, apronta mil e uma e se safa do pagamento usando de sua inteligência.

Personagens estereotipados na sociedade, retirado do livro de Azevedo, Histórias de bobos, bocós, burraldos e paspalhões, Façanhas de Zé Burraldo quebra com o esperado, é o personagem comum, que podemos reconhecer no cotidiano e que se torna o anti-herói. Essa história engraçada e surpreendente pode gerar muitas discussões a respeito de atitudes, aparências, sobre as diferenças, e levá-los a perceber como o escritor usou de pessoas do cotidiano para engrandecê-las em sua narrativa, ou seja, o inesperado que surge nos contos.

As outras obras são de Clarice Lispector. A mulher que matou os peixes, diálogo constante de Clarice com o leitor, trata de temas como a morte, a culpa e o perdão. Relembra também de outros animais que ela teve: uma macaca e outros dois cachorros, reafirmando seu amor pelos animais, aproxima-se do jovem público e ao mesmo tempo justificando o esquecimento em alimentar seu peixinho a fim de obter o perdão das crianças pelo ato involuntário. Atraente estória, ao mesmo tempo em que faz os pequenos viajarem pensando nos seus animais os leva a inúmeras situações semelhantes talvez. O tema possibilita uma boa discussão em roda com os alunos, proporcionando troca de ideias e experiências.

O mistério do coelho pensante foi a primeira obra de Lispector para o público infantil, dedicado a seu filho Paulo. Conta uma história cheia de ideias de um coelho que vivia preso e desejava além de alimento para o físico, ele queria a liberdade e vivia pensando como se libertar da gaiola. Obra aberta a imaginação, cheia de espaços vazios, inovando a escritora na literatura infantil, carregada de intimidade com a criança, de perguntas, o que aparece também nas suas demais obras infantis.

Fazem parte da obra Como nasceram as estrelas as narrativas: Como nasceram as estrelas, Alvoroço de festa no céu, O pássaro da sorte, As aventuras de Malazarte, A perigosa Yara, Uma festança na floresta, Curupira, o danadinho, O negrinho do pastoreio, Do que eu

tenho medo, A fruta sem nome, Como apareceram os bichos, Uma lenda verdadeira. São doze lendas do folclore brasileiro das diversas regiões do nosso país. Essa obra foi escrita a pedido da empresa “Estrela” para confecção de calendário, cada lenda destinada a um mês do ano. A autora reescreve essas histórias conferindo-lhes seu traço de diálogo com o leitor, marcadas por espaços em que a subjetividade deste pode sempre entrar em cena.

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