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OBRIGATORIO CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Nº 29 E Nº105 DA OIT

Publicações brasileiras sobre Direito das Artes Visuais

OBRIGATORIO CONVENÇÕES INTERNACIONAIS Nº 29 E Nº105 DA OIT

A Organização Internacional do Trabalho adotou em 1998, a Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no trabalho e seu seguimento, instituindo oito Convenções de cumprimento obrigatório para os Estados Membros. Atualmente, 187 (cento e oitenta e sete) países integram a OIT, incluindo o Brasil, com o dever de implementar políticas públicas para tornar efetivo o arcabouço mínimo sobre o trabalho decente9.

A saber, a declaração priorizou as seguintes matérias, a liberdade de Associação/ Sindical10 e o Reconhecimento Efetivo do Direito de Negociação Coletiva; Férias; Idade Mínima para admissão ao Trabalho; Efetiva Abolição ao Trabalho Infantil, Eliminação da discriminação sobre os aspectos da igualdade de remuneração entre homens e mulheres no trabalho, bem como a eliminação de condutas discriminatórias em qualquer fase da relação contratual, e a matéria que trata da eliminação do Trabalho Forçado ou Obrigatório, objeto do nosso estudo, disposto nas Convenções nº 29 e nº 105 da OIT.

Para maior analise da questão é importante destacar que o Brasil é signatário das referidas Convenções antes da Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho de 1998, e antes mesmo da Promulgação da Constituição Federal de 1988, que trouxe no bojo de seu texto a garantia da ordem social e do valor do trabalho, como um limite para a ordem econômica.

No Brasil, os tratados internacionais de direitos humanos aprovados com quórum especial de 3/5 de cada Casa do Congresso, em dois turnos, terão status de emenda constitucional11, e os tratados internacionais aprovados sem esse quórum possuirão

9 Trabalho Decente consiste no instrumento para promover a vida digna não só no aspecto do direito da

personalidade, quanto nos de natureza econômica, social, cultural e pessoal. Para maior aprofundamento do tema sugiro a leitura da obra: DELGADO, Gabriela Neves. Direito Fundamental ao Trabalho Digno. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2015.

10 Dos oito eixos temáticos, o Brasil não ratificou a convenção de nº 87, que trata do pluralismo sindical,

todavia mantem a obrigação de cumpri-lo por enquadrar-se em um dos princípios estrutural e universal da Organização Internacional do Trabalho, sendo o seu cumprimento obrigatório para os Estados Membros. Atualmente os sindicatos brasileiros possuem a característica da unicidade, tendo a sua base mínima territorial a de um município.

ANAIS DO VICIDIL V.1, P.583-602, SET.2019

status de norma supralegal. Quanto aos demais tratados que não versem sobre direitos humanos integram o ordenamento como lei ordinária. (Delgado, 2017). Nota-se com isso o reconhecimento dos Direitos Humanos no nosso ordenamento.

5.1 CONVENÇÃO Nº 29 DA OIT

A Convenção nº 29 da OIT entrou em vigor no plano internacional em 1932, composta de 33 artigos, norteada com o trabalho decente, liberdade e dignidade do trabalhador, foi ratificada pelo Brasil em 1957, demonstrando a resistência dos empregadores e a complacência na exploração da mão de obra na época, marcado pela forte desigualdade social, para Rúbia Zanottelli Alvarenga:

Esse hiato temporal (de quase vinte e cinco anos) explica a razão de tanta complacência diante dos abusos impostos pelos empregadores aos empregados brasileiros sem que houvesse a aplicação de medidas legais para coibir a prática do trabalho forçado país adentro (2018, p. 49)

Soma-se a isso a situação de pobreza e vulnerabilidade que se encontravam milhões de brasileiros, assim como na obra, que se submetem às variadas formas de exploração do trabalho, excluídos da perspectiva da dignidade da pessoa humana, reforça ainda que o problema em questão não foi erradicado no Brasil, segundo Rúbia Zanottelli Alvarenga:

Assim sendo, a partir da data de ratificação de cada uma das convenções em foco até a efetivação de suas Leis, houve grande retardo no reconhecimento e na “aceitação” na nova concepção trabalhista que até hoje, causa “estranheza” – tomando-se por empréstimo intertextual uma personagem emblemática da literatura brasileira- aos “Paulos Honórios” (APÊNDICE A) ainda existentes Brasil afora que insistem em burlar as leis visando, exclusivamente, ao cálculo do maior lucro com o menor custo e que, para tanto, infligem incalculável sofrimento aos trabalhadores sob as suas rédeas (por que não dizer sob o jugo ou sob os seus grilhões?) (2018, p. 49)

É verdade que o trabalho em condições análogas às de escravo, encontra-se presente no mundo contemporâneo, precarizando não apenas o trabalho, mas criando uma nova classe de humanos, os sub-humanos, que não desfrutam do princípio norteador dos demais, que é o da dignidade da pessoa humana.

No tocante a dignidade da pessoa humana, Ingo Wolgfang Sarlet explica:

É a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de

OLIVEIRA;SIQUEIRA – “A fantástica fábrica de chocolate” de Roald Dahl...

direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano (2015, s.p)

Desse modo, a antítese do trabalho escravo, qual seja o trabalho decente, só pode ser desenvolvido com liberdade, condições justas, igualdade, proteção dos riscos sociais. Afinal, são as desigualdades e a vulnerabilidade que alimentam o sistema desenfreado de exploração do trabalho humano, preservação da saúde e segurança do trabalho.

O trabalho escravo contemporâneo possui como característica a perda da liberdade, seja de forma direta ou indireta, seja através de imposição física ou moral, do trabalho degradante. Na obra ficcional, os umpa-lumpas além de terem cerceados seu direito de locomoção, eram submetidos a situações degradantes, além do risco a saúde e a segurança conforme narrado em várias passagens. Nesse contexto, o livro passa a ser uma denúncia ao mundo do trabalho, indiferente à situação do ser humano, tão atual hoje quanto na época.

Nesse diapasão, o direito do trabalho busca a proteção e preservação da dignidade do ser humano em todos os níveis, seja econômico, social, cultural e familiar, político, pessoal ou individual, integridade física, psíquica, mental, intelectual e a integração social do trabalhador, voltando-se para o bem-estar do trabalhador e do direito humano e fundamental do trabalho decente. (Alvarenga, 2018).

5.2 CONVENÇÃO Nº 105 DA OIT

A Convenção nº 105 da OIT, entrou em vigor no plano internacional em 1959, composta de 10 artigos, está ligada à matéria trazida na Convenção nº 29 da OIT, que proíbe o uso de do trabalho forçado ou obrigatório como meio de coerção política, vantagem econômica, forma de disciplina, punição ou discriminação, sendo ratificada pelo Brasil em 1965. (Alvarenga, 2018).

A erradicação do trabalho obrigatório apresenta dificuldades para sua concretização, uma vez que a estrutura para a fiscalização é insuficiente diante da dimensão continental do Brasil, aliado à crença da impunidade e exploração do trabalho humano. Dessa forma, são ainda comuns notícias de novos resgates, inclusive nos grandes centros urbanos como São Paulo. Percebe-se com isso que a exploração não estaria limitada ao ambiente rural, promovida por grandes fazendeiros em lugares de

ANAIS DO VICIDIL V.1, P.583-602, SET.2019

Nota-se hoje a exploração dos imigrantes, que por vezes chegam ao país de forma irregular, fugidos ou ludibriados pela promessa de melhores condições de trabalho. Assemelha-se à obra a realidade de imigrantes peruanos, resgatados em 2015, em São Paulo. Esses, movidos pela condição vulnerável que se encontravam no seu país, viajaram para o Brasil iludidos pela promessa da possiblidade de trabalho digno em uma fábrica, sendo surpreendidos ao chegar no local com uma situação de trabalho escravo contemporâneo12. No tocante aos peruanos e umpa-lumpas, ambos se deslocam para outro país em busca de uma condição digna para viver. São impulsionados a migrarem diante da vulnerabilidade econômica e social que se encontram.

Aparentemente os umpa-lumpas (personagens da obra ficcional) e os peruanos (triste realidade), submetem-se a viver por “segurança, teto e comida”, em renúncia ao direito de locomoção.

Atualmente, os peruanos podem ser facilmente substituídos a título de exemplo não ficcional, com os cidadãos do nordeste e norte do país, que em busca de condições de vida digna, deslocam-se de suas cidades, com falsas promessas de trabalho.

Nesse prisma surge importante a discussão acerca dos direitos humanos dos trabalhadores, que trazem em seu bojo a caraterística da historicidade, sendo frutos de um embate social e decorrentes de um processo histórico, que se firmaram ao longo dos anos, surgindo em momentos diferentes (Alvarenga, 2016). Ainda que os direitos humanos sejam direitos fundamentais, são lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, nascidos de forma gradual, assim o que parece fundamental numa época histórica, não é fundamental em outras épocas e outras culturas. (Bobbio, 1992).

Não passa desapercebido o fato de o livro ser publicado em 1964, após a vigência das Convenções de nº 29 e nº 105 da OIT. No período em questão, havia uma crescente luta pela solidificação das dimensões dos direitos humanos, e seu processo de universalização, que permitiu num plano internacional um sistema integrado de proteção, e sobretudo a consciência ética contemporânea. (Piovesan, 2017).

12 Rúbia Zanottelli Alvarenga apresenta na sua obra a matéria de Isabela Leite, em 2015, que descreve o

resgate pela polícia de peruanos vítimas de trabalho escravo em confecção de São Paulo. Na época, foi dado aos resgatados a possiblidade de retornarem para os seu país ou regularizar a situação no país. Assim como os umpa-lumpas, que saem de Lumpalópolis, movidos pela promessa de condições melhores em outro país.

OLIVEIRA;SIQUEIRA – “A fantástica fábrica de chocolate” de Roald Dahl...

Destaca-se ainda os crescentes movimentos sociais que corroboram para a efetivação dos direitos humanos de segunda dimensão, apesar do mundo discutir já os de terceira, quarta, e quinta13.

Dessa feita, as convenções em apreço, das quais o Brasil é signatário, devem para sua efetivação estar aliadas a políticas públicas, no combate sistemático ao trabalho forçado e obrigatório

6 OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AS

CONTRIBUIÇÕES PARA O COMBATE DO TRABALHO ESCRAVO