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2. Enquadramento da prática profissional

2.3. Macro-contexto – Observação e Análise do Jogo no Futebol

2.3.3. Observação e Análise do Jogo: um pré-requisito no desenvolvimento

“Conhece o adversário e conhece-te a ti próprio. No que diz respeito às forças do adversário e às tuas próprias, investe num conhecimento tão aprofundado quanto possível nas respetivas potencialidades e vulnerabilidades – os pontos fortes e os pontos fracos” Sun Tzu citado por Pires e Cunha (2015)

Segundo Ventura (2013), a observação nos jogos desportivos coletivos teve início na modalidade de Basquetebol sendo hoje uma prática comum em diversas modalidades coletivas, fundamentalmente no Futebol. No Futebol, não sendo uma prática recente, a análise de jogo teve a sua origem na década de 30 nos Estados Unidos, com os primeiros estudos a serem realizados por Lloyd Lowell Messersmith em 1931, onde o foco incidiu sob a análise dos fatores físicos, mais precisamente as distâncias percorridas pelos jogadores (Garganta, 2001).

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Enquanto ponto de partida, para uma abordagem ao tema da observação e análise de jogo, torna-se importante esclarecer por definição, conceitos relativos ao mesmo. Numa primeira instância de forma dissociada, e numa segunda instância de forma associada, tanto de forma generalista como de uma forma especifica. Posto isto, em contexto generalista, observação é definida, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (2011) como “ato ou efeito de observar; consideração atenta de um facto para o conhecer melhor, exame; observância, cumprimento; comentário, geralmente à parte, para esclarecer; nota de esclarecimento; reparo, advertência, repreensão, conselho amigável; (ciência dos factos) momento preliminar da investigação científica (Do lat. observatione, «id.»)”. Enquanto, a análise segundo o mesmo autor é definida como “ação ou efeito de analisar; exame de uma coisa, parte por parte; crítica de uma obra; decomposição de um todo nos seus elementos”. De forma associada (observação e análise) e específica, Carling et al. (2005) e Lago (2009) definem a observação e análise do jogo como um processo, que objetiva a gravação e a análise de comportamentos, decorrentes da competição providenciando informação sobre o desempenho coletivo e individual, facilitando uma posterior intervenção técnica. Para Vázquez (2012, p. 17) o processo de observação e análise do jogo é “um processo que consiste em recolher e examinar comportamentos coletivos e individuais desenvolvidos por equipas e jogadores durante os jogos, tratando de identificar certas regularidades nas mesmas, com o objetivo de reconhecer a estrutura organizativa predominante (aspetos morfo- funcionais) e avaliar a eficácia operativa da mesma (aspetos atitudinais), através da edição de relatórios técnicos”. Especificamente, importa ter em consideração, segundo uma revisão efetuada por Garganta (2001), acerca da análise do jogo a existência de diferentes denominações que se destacam, sendo elas observação do jogo (game observation), análise do jogo (match analysis) e análise notacional (notacional analysis). Importa assim referir que destas denominações mencionadas, a mais utilizada é a análise do jogo (Garganta, 1997). Relevante também, e de forma especifica, a literatura aponta para outro conceito relativo à área, que se torna importante esclarecer, denominado de Scouting. Segundo Ventura (2013, p. 22) o Scouting “trata de um processo que

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto João Pereira

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envolve uma observação de algo, tendo como objetivo conhecer mais pormenores sobre esse facto”. Enquanto para Pedreño (2014) o Scouting é um processo desempenhado pelos analista que permite recolher informações e manipular os dados de diferentes parâmetros, obtidos durante os jogos e durante os treinos da própria equipa ou da equipa adversária, mediante utilização de ferramentas específicas para posterior elaboração de um plano de atuação criado pelo treinador principal. Para Sanchez (2015, p. 28)“(…) a figura de Scouting está mais orientada ao seguimento de jogadores e posterior captação. A análise está mais desenvolvida e é mais uma função dos analistas táticos e pessoal destes departamentos que centram o seu trabalho em seguimentos e posterior análise de adversários e das próprias equipas”. Para o mesmo autor, o Scouting realiza-se sobre uma perspetiva de análise individual dos jogadores e realiza-se pelos denominados scouters. Perante estes autores, facilmente percebemos a distinção entre os conceitos de observação e análise do jogo e Scouting.

Silva (1999), refere que inúmeros estudos quer descritivos quer comparativos de parâmetros observáveis têm contribuído para a evolução e entendimento do jogo. Posto isto, a observação e a compreensão do jogo de Futebol devem ter o contributo da ciência mediante uma perspetiva científica com o objetivo de identificar aspetos relevantes interligados com a qualidade da sua prática (Garganta, 2002). Torna-se então necessário a realização de investigações que permitam aos investigadores encontrar respostas às inúmeras perguntas existentes relativas à modalidade, com análises objetivas que demonstrem parte desta complexa realidade, que abarca uma grande quantidade de fatores e variáveis de natureza e proporção diferente (Paulis & Mendo, 2002). Sendo este processo de avaliação e análise difícil, devido à multiplicidade de variáveis a ter em conta por parte dos participantes para tomar decisões (Vázquez, 2012). Para Castelo (1994) torna-se assim necessário, as variáveis sejam desenvolvidas, de uma forma correta e coerente com o processo de observação e análise e do conteúdo do jogo de Futebol. Para o mesmo autor, os processos de observação e análise devem ser o mais ajustado à realidade competitiva, referindo que

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previamente à análise, o método de análise, diga-se ‘código de leitura’, deve ser decidido para que a estrutura do jogo de futebol possa ser analisada de forma sistematizada.

Definidos alguns dos vetores, que regem o conceito de observação e análise, torna-se então necessário considerar e mencionar quais os métodos de observação, formas de análise, fases do processo, períodos de intervenção, os seus intervenientes e os domínios de intervenção.

2.3.4. Observação e Análise do Jogo: métodos de observação, formas de