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2. Aterros de resíduos

2.2. Aterros convencionais versus aterros de resíduos

2.2.3. Controlo e monitorização – Método observacional

2.2.3.8. Observação

A inspecção visual tem como principal objectivo a detecção de alterações significativas ou anomalias na superfície ou no comportamento estrutural do aterro de resíduos ou lixeira. Deve ser dada importância a este tipo de observação, dado que, no caso de barragens de aterro, sensivelmente, 70% das situações de emergência podem ser identificadas visualmente. Deste modo, as inspecções visuais permitem a detecção e monitorização da evolução temporal de eventuais anomalias detectadas anteriormente. No caso específico de aterros de resíduos ou lixeiras, as anomalias podem materializar- se como abertura de fendas no topo da infra-estrutura, bem como, junto às cristas dos taludes, assentamentos diferenciais, ressurgências de lixiviados, sistemas de drenagem danificados, presença de vegetação arbórea de grande porte ou escorregamentos maior ou menor dimensão (Tavares, 2011). No caso específico das lixeiras, comummente, este é o único modo de obtenção de informação acerca do comportamento geotécnico da infra-estrutura. Quando praticada de modo sistemático, a inspecção visual identificar áreas de intervenção, controlo da eficácia da de medidas correctivas aplicadas ou a prescrição de estudos de detalhe.

A inspecção visual apesar de ser algo que não implique a realização de ensaios, não significa que dispense preparação prévia ou que possa ser menosprezado. Como tal, carecem de preparação prévia, nomeadamente, a elaboração de fichas-tipo de inspecção visual de rotina específica para tipo de estrutura geotécnica. As fichas-tipo tomam um papel preponderante na inspecção visual por facilitarem

in situ a observação dos diferentes aspectos a ter em consideração. Nas inspecções visuais, para além

da verificação da conformidade dos demais aspectos a observar, é fundamental a análise da evolução temporal dos diversos aspectos previamente inspecionados, como tal, é indispensável a consulta dos registos das inspecções anteriores.

A observação pode ainda ser realizada com recurso a instrumentação geotécnica que, toma um papel fundamental no que diz respeito ao controlo e monitorização das obras de engenharia civil, uma vez que fornece informações que auxiliam os engenheiros em todas as fases de um projecto. Serão expostas as grandezas que há necessidade de quantificar e o tipo de equipamentos a instalar. De salientar que as grandezas a monitorizar e os equipamentos são comuns para ambos os tipos de aterro

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Os aterros construídos com recurso a solos são obras geotécnicas nas quais há um controlo estreito dos materiais e propriedades admissíveis para os materiais de construção, rigor no controlo da compactação de cada camada de aterro e uma pequena margem de folga para desvios dos valores determinados como adequadas para a infra-estrutura. A construção de um aterro com solos é um processo faseado, em que a geometria final da obra é conseguida através da construção de camadas de solo compactado onde, em cada camada, se procede à aferição do teor em água e baridade seca respectiva com que foi compactada. A camada deverá ser rejeitada se o teor em água estiver mais de 2% abaixo do teor óptimo em água, ou, mais de 1% acima e, a baridade seca deverá ser pelo menos 90% do valor máximo determinado pelo ensaio de Proctor modificado, em função da posição da camada e dos materiais que a constituem (Das, 2010).

Os aterros de resíduos são obras nas quais os materiais que os constituem, pouco ou nenhum controlo têm, do ponto de vista geotécnico, nem mesmo os solos de cobertura diária. A única exigência para os solos de cobertura diária é que não estejam contaminados.

Na situação em que o aterro serve um propósito de uma infra-estrutura viária, é pertinente proceder-se à monitorização de três grandezas: pressões intersticiais, deformações laterais e deformações verticais (Castro, 2008).

A medição das pressões intersticiais serve diversos propósitos: i) permite determinar a velocidade a que o aterro pode ser construído com segurança; ii) constitui uma informação vital para a avaliação da estabilidade de taludes e o projecto e execução de estruturas de suporte; iii) e é importante para a monitorização dos sistemas de drenagem. Os valores das pressões intersticiais pode ser monitorizada com recurso a piezómetros hidráulicos, elétricos e pneumáticos.

As deformações laterais têm significado na avaliação global do aterro e dos seus taludes em particular, determinam a necessidade e urgência de aplicação de medidas correctivas e verificam o desempenho e segurança dos aterros. O inclinómetro é um equipamento mais apropriado para a medição de deformações laterais em aterros, apesar de existirem outros equipamentos.

A medição das deformações verticais contribui para a verificação de que, se a taxa de consolidação do solo é a prevista, a verificação do desempenho da fundação e tal como as deformações laterais permite determinar a necessidade e urgência de aplicação de mitigação. De entre os equipamentos disponíveis para a medição de deformações verticais destacam-se os inclinómetros horizontais, células de assentamento e uma rede de marcas superficiais (Indicator, 2004).

No caso dos aterros de resíduos, do ponto de vista geotécnico não há nada a acrescentar ao que foi acima exposto referente ao controlo e monitorização. No entanto, há que salientar a importância da instrumentação neste tipo de obras geotécnicas, uma vez os RSU são materiais muito deformáveis, em que as condições de rotura só são atingidas para grandes níveis de deformação e, portanto, a monitorização da deformação é dos aspectos mais críticos para o adequado funcionamento dos aterros de resíduos. Acrescenta-se ao desconhecimento das propriedades geotécnicas dos RSU o facto deste tipo de materiais ter um comportamento evolutivo, em que as suas propriedades e composição variam ao longo do tempo, como função da degradação e composição (Gomes, 2008).

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Aspectos adicionais a monitorizar nos aterros de resíduos são especificados no Decreto-Lei nº 152/2002, de 23 de Maio e no Decreto-Lei nº183/2009 de 10 de Agosto.