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4.3.1 – Observação e cooperação educativa

O estágio foi realizado em grupo de dois alunos, as responsabilizações eram efetuadas individualmente. Antes de cada responsabilização realizamos sempre a observação das aulas dos professores cooperantes e também dos colegas.

A observação caracteriza-se por um trabalho em profundidade, mas limitado a uma situação (no sentido lato do termo) e a um tempo de recolha de dados. Na recolha, o trabalho de organização da informação é feito à posteriori, através de uma análise rigorosa dos dados recolhidos. Esta metodologia constitui uma ferramenta de trabalho que permite tornar operacional uma nova perspetiva pedagógica. Parte do princípio de que não há ciência (mais propriamente experimentação) se não houver observação. (Estrela, 1994: 18)

A observação é uma técnica privilegiada na recolha de informações sobre os processos de aprendizagem dos alunos, uma vez que o professor identifica e responde às necessidades de cada aluno, sendo mais fácil realizar a planificação, pois esta é adaptada à realidade (Pais e Monteiro, 1996, citado em Ferreira, 2007: 130). Esta é uma técnica de avaliação muito flexível e facilita a recolha direta de informações, permitindo uma melhor adequação das atividades propostas em função das características de aprendizagem dos alunos.

A observação permite o levantamento de uma informação muito diferente da que normalmente se obtém através de outras técnicas. (Estrela, 1994: 18)

A observação especializa-se na obtenção de informação sobre as condutas (manifestações, atividades, situações que reflitam a forma de ser e de atuar dos alunos) e os eventos que normalmente ocorrem na aula. (Zabalza, 1992: 251)

74 A precisão da situação é um dos objetivos principais da observação. Esta fixa-se na situação em que se produzem os comportamentos, de modo a obter dados que possam garantir uma boa interpretação desses comportamentos. (Estrela, 1994: 18)

Através da observação o professor adquire informações sobre os percursos efetuados, as estratégias e os raciocínios utilizados pelos alunos, permitindo-lhe diagnosticar as suas dificuldades, bem como as suas causas, verificando o seu ritmo de aprendizagem e necessidades. (Bélair, 2000 citado em Ferreira, 2007: 130)

Uma vez que não é possível ao professor observar ao mesmo tempo todas as aprendizagens em todos os alunos, é necessário que a observação seja estruturada. Assim, é necessário planificar a observação – decidir sobre o quê, quem, como, quando e porquê observar. Ao saber isto, o professor identifica os procedimentos necessários a tomar ao observar e seleciona os instrumentos orientadores e de registo das informações obtidas. Os registos devem ser feitos de forma neutra e objetiva e de imediato, ou logo a seguir aos acontecimentos (Cortesão, 1993; Hadji, 1994 citado em Ferreira, 2007: 131). A partir dos objetivos de aprendizagem, o professor constrói os instrumentos para a observação, que podem ser: listas de verificação, escalas de classificação ou de graduação e grelhas de observação. O professor pode ter ainda, para complementar, um diário de bordo onde lhe é possível anotar os acontecimentos ou situações que ocorrem na aula. Ao optar por um dos instrumentos deve-se ter sempre em atenção as características de cada instrumento, a finalidade avaliativa e o objeto de avaliação em causa, assim como quem o vai utilizar (o professor ou o aluno). A orientação da observação o e registo das informações obtidas, através destes instrumentos, possibilitam uma melhor regulação do processo de ensino aprendizagem.

“A escolha de um destes instrumentos é feita pela relação entre as características de cada instrumento, a finalidade avaliativa e o objecto de avaliação em causa.” (Ferreira, 2007: 131)

As listas de verificação são instrumentos de recolha de dados de observação, composta por um conjunto de itens que permitem uma avaliação contínua do aluno numa determinada tarefa. As listas de verificação que elaboramos para o nosso estágio são constituídas por três colunas “escuta atentamente o professor”; “adere às atividades propostas” e “intervém oralmente e de forma adequada à situação de comunicação”, cujo objetivo era avaliar a participação individual dos alunos na aula. Tem a vantagem de ser de fácil e rápida utilização, devido à sua simplicidade de registo.

75 O facto de não ser possível a avaliação da frequência e da qualidade dos comportamentos constitui, assim, a desvantagem da utilização deste instrumento. Ainda assim, apesar deste inconveniente, é um instrumento aconselhável para o professor e para o aluno no processo de aprendizagem Trata-se de um instrumento aconselhável para o professor e para o aluno na avaliação contínua do aluno numa determinada tarefa, a facilidade com que é manuseado, as informações que proporciona e a deteção de dificuldades e dos erros dos alunos.

Relativamente ao diário de bordo, este é um instrumento usado para o registo de situações, ocorrências, comportamentos, diálogos, gestos, etc., observados e trata-se de um instrumento que o professor deve ter sempre consigo. Contribui para o estudo pormenorizado e aprofundado de atuações significativas dos alunos, uma vez que são registados incidentes críticos do aluno e da sua relação com os colegas e/ou da sua aprendizagem. Estes registos devem ser efetuados logo após a ocorrência. Este instrumento tem como vantagem o facto de poder completar as informações obtidas através de outros instrumentos.

Para Zabalza (1992: 252), a observação apresenta como vantagens o facto de permitir avaliar aspetos do processo didático que não são observáveis por outros meios e permite também complementar a informação obtida através de outras técnicas de avaliação. Contudo, existem inconvenientes, pois nas suas formas mais complexas, exige uma forte preparação do observador e nas menos complexas exige um grande empenho e dedicação de tempo.

Avaliar é uma característica intrínseca do ser humano, do seu conhecimento e das suas decisões práticas, não é, simplesmente, atribuir notas obrigatórias à decisão de avanço ou retenção em determinada disciplina, é uma necessidade vital, porque é através dela que o ser humano orienta, de forma válida, as decisões individuais e coletivas.

A observação educativa é um excelente recurso para ficarmos a conhecer a realidade da escola, da turma e os métodos de ensino usados pelos professores. Através da observação conseguimos conhecer melhor a turma, os seus problemas, o seu comportamento e ajudar os professores cooperantes na sala de aula. A nossa experiência pessoal foi bastante gratificante, na medida em que fomos tomando contacto com a realidade da escola e dos alunos.

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4.3.2 – Projeto curricular de turma (PCT)

O Projeto Curricular de Turma foi-nos cedido aprazivelmente pelo Diretor de Turma do 6ºB. O PCT decorre da articulação coerente entre o Projeto Educativo do Agrupamento (PEA) e o Projeto Curricular de Escola (PCE), adequando, assim, o currículo nacional e o Projeto Curricular de Escola ao contexto da turma. É nesta perspetiva, que o PCT assume “a forma particular como, em cada turma, se reconstrói e se apropria um currículo face a uma situação real, definindo opções e intencionalidade próprias, e construindo modos específicos de organização e gestão curricular, adequados à consecução das aprendizagens que integram o currículo para os alunos concretos daquele contexto.” (Roldão, 1999: 44) orientando, assim, à diferenciação pedagógica cuja elaboração e gestão compete ao Conselho de Turma. Com ele pretende-se definir uma linha de atuação comum e em equipa de professores da turma no que concerne ao trabalho pedagógico, à definição de critérios de atuação e aos modos e instrumentos de avaliação a privilegiar. Deste modo, o PCT, insere-se na gestão curricular que deverá ser desenvolvida no Conselho de Turma no 2º ciclo do Ensino Básico, de forma a adequar as aprendizagens ao grupo turma, às necessidades dos alunos e deve ser adequado aos recursos existentes.

“O Projecto Curricular de Turma pretende assegurar que o Currículo Nacional, centrado em competências essenciais e em experiências de aprendizagem/actividades, contribua para que os alunos desenvolvam as competências gerais que estão definidas para o ensino básico.” (Macedo, s/d: 2)

Este Projeto intitulado “Mais Cidadania Melhores Atitudes e Comportamentos” envolve os contributos dos professores, alunos, encarregados de educação e outros parceiros solicitados pelo Conselho de Turma. É um documento vivo e, por isso, poderá ser reformulado ao longo do ano letivo.

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4.3.3 – Caracterização da turma de Ciências da Natureza

A caracterização da turma está presente no Projeto Curricular de Turma que, como já referimos, foi-nos cedido pelo Diretor de Turma do 6º B. Esta caracterização incide fundamentalmente em quatro aspetos mais significativos que podem interferir na melhoria das situações de aprendizagem: enquadramento socioeconómico e cultural; aquisição de aprendizagens anteriores; problemas de inserção ou de relações dentro da turma e identificação de centros de interesse. Esta foi realizada através de inquéritos feitos aos alunos ou Encarregados de Educação que depois de analisados foi feito o tratamento dos dados obtidos e a caracterização da turma pelo Conselho de Turma.

A turma do 6º B é constituída por 19 alunos, 11 alunos do sexo feminino e 8 alunos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos de idade. É uma turma com capacidades cognitivas e ritmos de aprendizagem lentos. Para além disso, o historial psicológico de alguns alunos requer uma atenção e um acompanhamento constante por parte dos professores. Alguns alunos têm problemas de saúde/doenças, tais como: alergias; equizema dermatite atópica; problemas de visão, nomeadamente miopia; problemas de audição, nomeadamente hipoacústica mista moderada de grau 1 bilateral, com uso de aparelho auditivo. No que diz respeito ao nível socioeconómico e cultural é de referir que os alunos têm pais com baixo nível de escolaridade sem condições de apoio aos educandos e um meio socioeconómico muito desfavorável. Mais de metade da turma tem apoios económicos (Escalão A e B). É uma turma que está a beneficiar das medidas “TurmaMais”. Para que esta turma obtenha melhores resultados ocorre a realização de atividades que vão de encontro aos interesses dos alunos; o reforço do controlo sobre a organização e métodos de trabalho; a promoção da autoestima dos alunos, motivando-se deste modo a sua participação nas aulas.

No que concerne ao percurso escolar e aprendizagens, a turma tem dois alunos com um plano de recuperação.

Em relação aos valores e atitudes (relações interpessoais, responsabilidade, autonomia, etc.) não são percetíveis graves problemas de integração e /ou de relação aluno/aluno.

Relativamente à assiduidade/pontualidade quando os alunos apresentam uma assiduidade ou pontualidade irregular às diferentes disciplinas, tenta-se através do

78 Diretor de Turma intervir junto dos Encarregados de Educação, para que se obtenham resultados significativos.

No que diz respeito a comportamentos desadequados ou desviantes dentro e fora da sala de aula, em geral a turma apresenta um bom comportamento, mas por vezes em algumas atividades são um pouco barulhentos, não sendo esta situação um problema. “De facto é importante para os alunos falar uns com os outros enquanto aprendem novas competências e conceitos e ajudar-se entre si em tarefas importantes da sala de aula. O ruído da sala de aula por si só não é um problema. Apenas certos tipos de ruído feitos em alturas inadequadas devem ser vistos como um problema da sala de aula…” (Arends, 1995: 96)

Relativamente à aquisição de aprendizagens anteriores a turma tem três alunos que foram retidos mais do que uma vez no ciclo anterior. Estes mesmos alunos têm dificuldades educativas especiais e/ou necessidades de apoio pedagógico, reforço das aprendizagens durante este ano letivo. Os alunos possuem adequações no processo de ensino aprendizagem, foi elaborado um Programa Educativo Individual (PEI) para cada um dos alunos com apoio direto por parte da Professora de Educação Especial.

Medidas aplicadas (PEI):

a) Apoio pedagógico personalizado; b) Adequações Curriculares individuais;

c) Adequações no processo de avaliação. Apoio direto por parte da professora de Educação Especial.

d) Adequações no processo de avaliação.

“O PEI é um programa de aprendizagem sem conteúdo específico, pois não visa a aquisição de uma técnica precisa ou de um novo saber. O seu objectivo não é a adaptação a um modelo preciso, mas preparar o indivíduo para a mudança, ou seja, torna-lo adaptável. Mais que adaptar, o PEI visa optimizar o funcionamento cognitivo de cada criança, jovem ou pessoa, proporcionando-lhe um método de aprendizagem em que ela aprenda a aprender. Com o PEI o indivíduo torna-se mais perceptivo, mais preciso e mais motivado, uma vez que passa a ser portador de um melhor conhecimento das suas possibilidades.” (Fonseca, 1996: 123)

Alguns dos problemas globais da turma identificados foram:

- Deficiente domínio da Língua Portuguesa, na comunicação oral, escrita e na leitura.

79 - Dificuldades no cálculo numérico, mental e no raciocínio lógico matemático. - Falta de hábitos e métodos de trabalho.

-Falta de concentração nas atividades letivas.

- Fraco sentido de responsabilidade, iniciativa e criatividade.

- Desrespeito por algumas normas de conduta, dentro e fora da sala de aula.

- Alunos com N.E.E., repetentes e alguns alunos com necessidade de apoio educativo individualizado e adequações Curriculares Individuais.

-Falta de concentração e organização.

Segundo a DGIDC (Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular), o modelo «TurmaMais» é um modelo organizacional cujo propósito é conseguir a integração absoluta e a permanência escolar de todos os alunos para que assim ocorra um maior sucesso escolar. Os resultados têm mostrado que se trata de um percurso difícil, mas que é possível alcançar.

A experiência «TurmaMais» baseia-se no uso de combinatórias geradoras de novas dinâmicas e potenciadoras de melhorias significativas dos resultados escolares.

No plano organizativo pedagógico, a «TurmaMais» é uma turma sem alunos fixos que agrupa temporariamente alunos provenientes das várias turmas do mesmo ano de escolaridade. Assim, nesta condição de movimento giratório cada grupo de alunos fica sujeito a um horário de trabalho semelhante ao da sua turma de origem, com a mesma carga horária e o mesmo professor por disciplina. Cada grupo específico de alunos continua a trabalhar os conteúdos programáticos que a sua turma de origem está a desenvolver, podendo beneficiar de um apoio mais individualizado e harmonizado em termos de ritmos de aprendizagem e sem sobrecarga de horas semanais para os alunos.

O modelo pode abranger a totalidade do currículo escolar ou apenas parte dele. Pode apenas integrar as disciplinas mais complicadas em termos de resultados escolares e só nestas disciplinas se realiza o movimento giratório dos alunos. Esta identidade organizativa inspira-se e alicerça-se no princípio do primado das soluções inclusivas e integracionistas em contexto escolar no quadro das finalidades da educação escolar básica.

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