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2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: A IMPLEMENTAÇÃO DAS LEIS FEDERAIS N.º

4.4 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Como já indicamos na introdução, em 2019, a parte relativa à formação da equipe multidisciplinar no Colégio ficou prejudicada porque por um lapso da secretaria da escola, foi perdido o prazo de inscrição da escola junto a SEED.

Contudo, como já explicamos e os técnico-pedagógicos da Secretaria de Educação ressaltaram em suas entrevistas, a política pública Equipe Multidisciplinar tem duas funções: a formação de professores e funcionários da escola, com pontuação para subir na carreira e, também, a atuação como órgão colegiado para auxiliar e embasar as ações da escola no combate ao racismo e na divulgação da cultura e histórias indígena, africana e afro- brasileira. Durante o ano de 2019, entre os meses de fevereiro a novembro, observamos a participação dos membros da Equipe Multidisciplinar nos trabalhos concernentes a EM e sua atuação junto a equipe diretiva e pedagógica. Existe, conforme plano de carreira dos professores do Estado do Paraná, dois momentos de formação na escola, um antes do início do ano letivo, sempre no mês de fevereiro, com três dias de duração e outro logo após o recesso de julho, com dois dias de duração.

Acompanhamos e participamos dessas formações em 2019 e não vimos uma participação efetiva e direta da equipe multidisciplinar, apenas um lembrete das pedagogas para que os professores em seus planejamentos incluíssem as ações de valorização da

história e cultura indígena e afro-brasileira conforme determina a legislação vigente. Também observamos que a equipe pedagógica e diretiva não instiga e fomenta a participação de membros da Equipe Multidisciplinar no cotidiano da escola ou em campanha permanente de valorização da história e cultura indígena e afro-brasileira.

Não soubemos nem vimos casos de racismo na escola durante a observação participante. Vimos uma participação no Conselho Escolar de membros da Equipe Multidisciplinar e uma participação numa proposta/projeto de combate permanente ao racismo e à intolerância que por falta de recursos acabou não sendo efetivada.

A grande participação, com muita efetividade ocorreu durante a semana do dia do índio e na semana da consciência negra. Nestes dois momentos houve um trabalho conjunto da Direção da escola e Pedagogos com a Equipe Multidisciplinar para fomentar uma grande reflexão sobre estes temas.

Na semana do dia do índio, de 15 a 19 de abril de 2019, ocorreu no Ensino Médio e Fundamental um grande trabalho sobre a diversidade de nações indígenas que habitaram e algumas que ainda habitam o território que atualmente é o Estado do Paraná. A mobilização aconteceu com atuação forte dos professores de ciências humanas e letras, tanto dos que participavam como dos que não participavam da Equipe Multidisciplinar. Todos se empenharam muito para quebrar paradigmas românticos sobre nossos indígenas, bem como para a quebra de clichês preconceituosos de que o indígena não gosta de trabalhar ou de que índio é tudo igual, por exemplo.

Na semana da Consciência Negra, de 18 a 22 de novembro de 2019, também observamos uma união da Equipe Diretiva e Equipe Pedagógica com a Equipe Multidisciplinar, conseguindo mobilizar no Ensino Médio e no Fundamental todos os professores, sendo que, os que mais se destacaram, foram os professores de Ciências Humanas e Letras. Ocorreu uma conversa em sala de aula realizada pelos professores voluntários, isto é, não foram todos, sobre o combate ao racismo e a importância de uma sociedade plural e inclusiva. Também houve a exposição de cartazes, tipo painel, nos corredores da escola, no pátio coberto e em sala de ambientação, como a sala dos professores.

Notamos que nessa semana, alguns alunos voluntários, expuseram danças africanas ou de cultura afro-brasileira e afro-americana, tais como axé, pagode, afro-reggae,

rap. Ocorreu um grande momento de reflexão sobre diversidade cultural e contribuição da cultura africanas e afro-americanas em nossa vida artística.

Também vimos uma conscientização de se adotar o discurso antirracista como meta objetivo na comunidade escolar do Colégio Estadual Leôncio Correia.

Contudo, ainda fica evidente que, como apontaram os técnicos da SEED em suas entrevistas, a equipe multidisciplinar, mesmo nas escolas em que recebe apoio para trabalhar, como é o caso do Colégio Estadual Leôncio Correia, a formação e a ação da equipe durante o ano letivo acontecem de maneira padrão, isto é, como uma divulgação e conscientização de se adotar um discurso de combate ao racismo e de se valorizar uma sociedade plural e inclusiva, por meio de uma abordagem histórica e cultural do indígena e do negro. Não se realiza os passos para além disso, como perceber nas estruturas escolares a presença do próprio racismo, nos componentes curriculares, na relação entre professores negros, indígenas e brancos no próprio quadro da escola e, também sua presença na elite social e governamental. Enfim, não se aprofunda o debate para as áreas que estão fora da cultura e nas quais o racismo estrutural se torna também sinônimo de desigualdade, conforme Botelho e Schwarcz (2012).

Deste modo, a observação participante nos trouxe evidências de que a Equipe Multidisciplinar do Colégio Estadual Leôncio Correia tem o apoio formal da Direção e Pedagogos, realizando o trabalho que entende ser sua função ou seja, destinado a ela dentro da escola, propondo eventos dentro do calendário oficial de conscientização, proporcionando ambiente para se refletir sobre a necessidade do combate ao racismo no Brasil, bem como procura estabelecer o pluralismo da sociedade democrática e estimula o discurso para uma sociedade mais inclusiva como um padrão educacional para a comunidade escolar em questão. Contudo, não consegue ainda, estabelecer junto à comunidade escolar as relações existentes nos conflitos que acontecem no Brasil com as questões envolvendo relações étnico-raciais, o preconceito, a discriminação racial, a cidadania e os direitos humanos.

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