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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 OBSERVAÇÕES E ATIVIDADES REALIZADAS NA ESCOLA

Como mencionado, a Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser é uma instituição voltada ao atendimento de alunos surdos e deficientes auditivos. Desse modo, as observações basearam-se em como esses alunos conseguem compreender os conteúdos do ensino de Geografia, especialmente os de Cartografia Escolar, o uso da Língua Brasileira de Sinais neste contexto, as relações interpessoais em sala de aula, e os materiais utilizados como instrumento de apoio às aulas, a exemplo dos livros didáticos, usa da sala de informática, entre outros.

Ao todo foram vinte e três alunos observados. Destes: o sexto ano com cinco alunos; o sétimo ano (turma 7) com dois alunos; o oitavo ano com quatro alunos; o nono (turma 91) com sete alunos; e o primeiro ano do ensino médio com cinco alunos. Desses alunos, dezenove são surdos e quatro são deficientes auditivos.

Essa variabilidade de turmas e idades se deu por duas razões. A primeira é o fato de algumas turmas possuírem pouquíssimos alunos, como o sétimo ano, o que seria insuficiente para fazer uma observação consistente sem uma quantidade limitada de integrantes. O segundo motivo foi que apesar do sexto ano ser indicado como fase de iniciação à alfabetização cartográfica, as turmas estavam atrasadas em seus conteúdos, inclusive estavam com alunos novos vindo de escolas convencionais, o que segundo a professora comprometeu o aprendizado dos alunos, sendo necessária a recuperação de conteúdos e a socialização com o novo ambiente escolar.

Ainda assim pudemos ter uma boa noção da dinâmica das salas de aula. Foi percebido que os alunos acompanham com certa dificuldade os conteúdos presentes nos livros didáticos, e que quando atentos às explicações do professor em Língua Brasileira de Sinais, eles conseguem compreender melhor. Entretanto, registramos que houve dificuldades para o docente encontrar termos para alguns temas importantes, não apenas em Cartografia, mas em

outras áreas da Geografia. Infelizmente, nem todas as palavras em português têm ainda o seu equivalente em Libras, sendo necessária, por vezes, uma adaptação informal das palavras.

Outra questão importante foi a constatação de que grande parte dos alunos não se sentiam motivados em realizar tarefas escolares em casa. Esse fato pode parecer comum em todas as escolas, entretanto, cabe destacar que no contexto da Educação Especial os alunos têm grande necessidade de constante mediação docente. Além disso, para atividades em que sejam necessárias pesquisas em outros meios de comunicação, os alunos surdos e deficientes auditivos se deparam com o obstáculo de encontrar poucos recursos voltados para sua língua, incluindo os livros didáticos utilizados em sala de aula.

Observamos também o que pareceu ser uma maior dificuldade de atenção por parte dos alunos surdos nas tarefas da sala de aula, quando comparados aos alunos deficientes auditivos. Isso ocorreu nos sextos e sétimos anos. Pareceu-nos que os discentes com surdez total tendiam a distribuir sua atenção entre diversos estímulos - periféricos e não periféricos - dentro e fora da sala de aula (colegas, roupas dos professores, cor dos mapas, etc), o que por sua vez acarretava dificuldades maiores ao professor. Isso pode ser apontado como tema pertinente a outros e novos estudos.

Quanto às atividades práticas realizadas com as turmas, interagimos em dois momentos da pesquisa. A primeira foi por meio da realização de uma oficina de alfabetização cartográfica como forma de revisar os conteúdos, além de vivenciar através da experiência como a comunicação com os alunos surdos ocorre. Isso foi feito mesmo sem o domínio completa da Língua Brasileira de Sinais. Também tivemos como propósito dar apoio teórico a professora da classe, que não possuía formação de licenciatura em Geografia. A segunda interação foi a aplicação do jogo digital no laboratório de informática da escola.

Na primeira atividade, utilizamos materiais variados, como o uso de slides (sem projeção, diretamente no computador), mapas temáticos e um globo terrestre, que serviram para exemplificar os conteúdos que versaram sobre os elementos que constituem os mapas. Mostramos nas figuras 20 a 22 como foi a realização desta oficina, sendo possível perceber a quantidade alunos e estrutura física da sala de aula. A figura 21 mostra duas alunas do sétimo ano interagindo com um colega durante o intervalo. A figura 22, por sua vez, apresenta os alunos do oitavo ano no transcorrer da aula de Geografia, enquanto na figura 23, mostramos a mesma turma reunida durante a aplicação da oficina de introdução a alfabetização cartográfica, que antecipou a realização prática da atividade em que aplicamos o jogo digital no laboratório de informática da escola.

Figura 21- Oficina na turma de sétimo ano Figura 22- Aula da turma de oitavo ano

Fonte: Autores. Fonte: Autores.

Figura 23- Realização da oficina na turma de oitavo ano

Fonte: Autores.

Na segunda atividade prática, fomos ao laboratório de informática para aplicar o jogo digital e obter os resultados referentes ao uso do recurso na perspectiva dos alunos. Esta etapa está melhor descrita no capítulo sobre a avaliação do jogo digital. Destacamos, por fim, que para realização destas práticas contamos com mediadores na comunicação: a professora da classe, para sinalizar os conteúdos na medida em que estavam sendo explicados, e os monitores da escola, que organizaram as turmas para a realização de ambas as atividades.

4.2 PERFIL DOS ALUNOS SURDOS E DEFICIENTES AUDITIVOS DO MUNICÍPIO DE