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Observações realizadas

No documento FATORES ESTRESSORES NA ATIVIDADE DOCENTE (páginas 94-98)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Eixos de análise

4.1.3 Práticas de ensino adotadas nas escolas pesquisadas: análise da observação das aulas, dos diários de classe e das narrativas

4.1.3.1 Observações realizadas

Com relação ao processo de observação das aulas, foram consideradas todas as ações dos professores relacionadas ao dia a dia da sala de aula. Foi um momento meio conturbado no início, pois a presença de uma pessoa estranha na sala de aula criou alvoroço entre os alunos, mas, com o passar dos dias, os acontecimentos foram seguindo seu rumo normal e natural.

O dia na escola do campo começa como qualquer dia de aula normal. Vários alunos pelo caminho dirigindo-se à escola. Muitos se locomovem a pé, outros por meio da bicicleta, carregando nas mãos os instrumentos que irão lhes proporcionar um futuro promissor. Alguns com livros, cadernos e lápis. Outros sem livros, sem cadernos e sem lápis. No rosto de cada um, o sorriso para quem passa na estrada. A chegada na escola é algo festivo. Todos correm para pegar suas carteiras nos lugares que cada um tem definido, desde o início do ano.

As professoras, assim como seus alunos, saem de suas casas nas primeiras horas da manhã. Precisam percorrer alguns quilômetros de estrada de chão até a escola. Às vezes, não dá para chegar no primeiro horário de aula. Mas, é que o esforço e a dedicação ao

trabalho são motivos mais fortes. Lá está a escola, os professores e os alunos. Nesse momento, cabe ao professor tomar a direção da aula e pôr em prática seu planejamento para aquele dia de atividades.

Zabala (1998, p. 16-17) defende que:

Entender a intervenção pedagógica exige situar-se num modelo em que a aula se configura como um microssistema definido por determinados espaços, uma organização social, certas relações interativas, uma forma de distribuir o tempo, um determinado uso dos recursos didáticos, etc., onde os processos educativos se explicam como elementos estreitamente integrados neste sistema. Assim, pois, o que acontece na aula só pode ser examinado na própria interação de todos os elementos que nela intervêm.

Corroborando com o autor, Campos (2007, p. 26) contribui dizendo que o “docente age e, ao agir, elabora saberes produzidos pela sua prática como sendo um reconhecimento do conhecimento docente como autoconhecimento”, ou seja, em toda ação está submerso um pensamento que substancia a prática. Neste caso, o saber docente se substancia nas crenças que o professor internaliza, advindas de suas experiências construídas nas mais diversas situações da vida.

Conforme observado, as professoras procuram adaptar as práticas que foram sugeridas nos microcentros, que compõem a formação continuada do PEA à sua realidade. Elas utilizam o livro didático do aluno da Escola Ativa e fazem aportes com outros livros didáticos.

Para os períodos da educação infantil, o mais utilizado são as atividades escritas pelo professor nos cadernos dos alunos. Já para as séries inicias do Ensino Fundamental, o mais utilizado é o livro didático do PEA. Os alunos desenvolvem suas atividades nos cantinhos de aprendizagem distribuídos na sala, onde constam as atividades do dia, por assuntos comum, quando possível, a todas as séries que compõem a classe multisseriada..

Observou-se que as professoras, de forma geral, recorrem ao quadro de giz para repassar atividades que possam ser realizadas coletivamente por todos da classe, ou às vezes, as atividades contemplam as séries iniciais do Ensino Fundamental, voltadas para aqueles que sabem ler e escrever, e as professoras chamam na mesa os alunos não alfabetizados para realizarem atividades individuais e fazem atividades nos cadernos, para em seguida realizar leituras com aqueles que necessitam.

As docentes também formam grupos, juntando alunos e mesclando por séries, para que os que sabem ler auxiliem os que ainda não sabem ler a palavra escrita, seguindo as orientações descritas no Programa. Essa distribuição em grupos ajuda os alunos a ficarem mais solidários, participativos e cooperativos entre si. Zabala (1998) esclarece que essa

formação de grupo leva os professores a atender aqueles que mais necessitam, sendo possível distinguir as tarefas a serem realizadas, levando os grupos a trabalharem autonomamente.

A atividade utilizando giz e lousa não faz parte da proposta pedagógica que compreende o PEA, mas, quando necessário, a professora recorre a esse instrumento, pois nem sempre é possível a utilização do livro didático e do caderno de ensino e aprendizagem por todos os alunos, visto que nem todos da classe têm livros, pois a SEMED não forneceu em quantidade suficiente.

Nesse sentido, “a realização de ações deve ser precedida, em termos gerais, da observação de modelos indicados pelos professores, adequados às possibilidades reais de cada menino e menina”, por isso que o professor utiliza os instrumentos que lhes são disponíveis para a realização das atividades e para o acompanhamento dos alunos (ZABALA, 1998, p. 105).

Ressalte-se que essa falta de livros não acontece em todas as classes que fizeram parte desta pesquisa. Em duas escolas, os alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental têm livros. Eles utilizam seus livros, seguindo apenas a orientação das professoras para a realização das atividades. Observou-se, porém, a falta de livros em todas as escolas para os alunos da educação infantil. Nesse caso, a metodologia utilizada é a realização de atividades nos cadernos dos alunos pelas professoras.

Nos dias das atividades de matemática, o mais comum para todos é a realização de operações aritméticas, envolvendo problemas, no quadro de giz e nos cadernos dos alunos. Os alunos com melhor desempenho na realização das operações podem realizar as atividades contidas no livro do aluno, ou provenientes de outros livros didáticos, enquanto a professora auxilia aqueles com menor desempenho. Assim, as disciplinas com suas particularidades são trabalhadas, quando possível, de forma coletiva e individualizadas, de acordo com o desenvolvimento dos alunos.

Foi possível perceber nas observações a inquietação dos professores em relação à aprendizagem dos alunos. Isso ocorre principalmente nas escolas em que a maioria dos alunos não possui livros e realizam as atividades em grupo. Na maioria das vezes, só um aluno realmente utiliza esse material, enquanto os outros ficam usando o caderno e fazendo rabiscos com o lápis e só realmente se voltam para o grupo sob a supervisão da professora. Esse fato provoca certa inquietação nos alunos como, por exemplo, conversas paralelas, desentendimentos entre si, movimentação pela sala de aula, levando as professoras a falarem

em tom mais alto para que tenham um pouco de concentração e realizem seus deveres de classe.

Uma das maiores dificuldades encontrada para realizar o trabalho é a adequação do tempo pedagógico que o professor tem para realizar as atividades às quais se propôs no planejamento, porque, nas classes multisseriadas, todos os alunos necessitam da atenção do professor, e ele precisa dividir sua atenção para assistir a todos e promover atividades diferenciadas.

Esse tempo fica ainda mais precário nos dias em que não há merenda escolar, porque as professoras liberam suas classes mais cedo, devido às grandes distâncias percorridas pelos alunos até chegarem em suas casas e, com fome, esse trajeto fica ainda mais difícil. Para muitos alunos, a merenda escolar é a primeira refeição do dia. Como falta merenda quase todos os dias, o tempo de aula fica muito prejudicado. A falta da merenda escolar afeta a grande maioria das escolas do campo, ficando evidenciada a falta de compromisso para com os alunos.

Para Zabala (1998, p. 130), apesar de serem pouco destacados, o espaço e o tempo são fatores muito importantes para o desenvolvimento das atividades em sala de aula, pois é nesse espaço e tempo que acontecem as “diferentes formas de intervenção pedagógica.” O autor ainda destaca que “as características da escola, das aulas, a distribuição dos alunos na classe e o uso flexível ou rígido dos horários são fatores que não apenas configuram e condicionam o ensino, como ao mesmo tempo transmitem e veiculam sensações de segurança”, tanto aos alunos, como aos professores, que necessitam desse momento para que a aprendizagem aconteça.

Sendo assim, não se pode afirmar que os alunos das classes pesquisadas não aprendem, para tanto, seria necessário uma pesquisa mais detalhada em relação aos resultados dos processos de ensino e do rendimento escolar. Entretanto, é possível perceber que, apesar dos esforços dos professores, as dinâmicas pedagógicas observadas nas classes multisseriadas refletem a falta de apoio e de condições favoráveis para um fazer pedagógico que de fato contribua para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos que fazem parte desse contexto.

No documento FATORES ESTRESSORES NA ATIVIDADE DOCENTE (páginas 94-98)